tonalidade: Ré m Karaoke: 228.kar
Estando a D. Infanta,
no seu jardim assentada,
com pente de ouro na mão,
seu cabelo penteava.
Deitou os olhos ao mar,
viu de lá vir uma armada,
capitão que nela vinha,
muito bem ele a guiava.
- Diga-me lá capitão,
diga-me por sua alma,
um lindo homem que eu tinha,
se me lá ficou na armada?
- Diga-me, minha senhora,
os sinais que ele levava?
- Levava cavalo branco,
espada de ouro ao lado.
- Esse homem lá o vi,
com mil pontos de facada;
a mais funda delas todas
era a cabeça degolada.
- Ai de mim, triste viúva,
ai de mim, triste coitada!
ainda hoje era infanta,
e amanhã serei criada.
- Quanto dáveis vós senhora,
a quem o trouxera aqui?
- Dava-lhe tanto dinheiro
sem ter conto nem fim.
- Esse dinheiro não quero,
que não me pertence a mim;
sou soldado, vou prá guerra,
não posso viver aqui.
- Quanto dáveis mais senhora,
a quem o trouxera aqui?
- As três filhinhas que tenho,
todas três lhe dava a si.
Uma é para o vestir,
outra é para o calçar;
a que for mais a seu gosto,
para consigo deitar.
- Suas filhas não lhas quero,
não me competem a mim;
sou soldado, vou prá guerra,
não posso viver aqui.
- Quanto dáveis mais senhora,
a quem o trouxera aqui?
- De três moínhos que tenho,
todos três lhe dava a si.
Um mói cravo e canela,
outro, ouro e marfim;
e outro mói farinha branca,
que foi sempre a que eu comi.
- Quanto dáveis mais senhora,
a quem o trouxera aqui?
- Não tenho mais que vos dar,
e o senhor que me pedir.
Vá-se embora seu magala,
não me esteja a maltratar,
que eu vou chamar os meus manos,
que o venham degolar.
- Não tenho medo aos teus manos,
nem eles o têm de mim,
que eles são os meus cunhados,
e tu meu anjo, meu serafim.
O anel de sete pedras,
que eu contigo reparti,
mostra-me a tua metade,
que a minha vê-la aqui.
- Se tu és o meu marido,
pra que me falas assim?
- Era pra ver se a D. Infanta
me era leal a mim.
© 2001 Domingos Morais & Alfarrábio