Senhora da Peneda
O
Santuário de Nossa Senhora da Peneda foi construído entre os finais do
Séc. XVIII e os meados do Séc. XIX, pelo que o caracter neoclássico
predomina no conjunto, embora haja ainda em certas partes mais antigas
algumas reminiscências barrocas. Erguido junto de um morro alcantilado e
agreste em frente de um vale estreito fértil. Deste vale rompe para o
Santuário uma escadaria de dois lanços e 300 metros, em linha recta. No
cimo existe um pórtico que dá acesso a um terreno octogonal, que tem ao
centro uma coluna com a data de 1787 e que suporta a figura do anjo da
guarda. A rodear o pórtico e circundando o terreno, estão as primeiras
capelas. São de planta quadrangular, ou hexagunal com telhado em forma de
pirâmide, encerrando no interior grupos escultóricos - alusivos à vida de
Cristo.
De
salientar ainda a existência dos designados quartéis (destinados a
albergar os peregrinos) e as casas da confraria.
A Virgem da Peneda, padroeira deste excelso oásis
sertanejo de piedade e bucolismo, pela afluência de romeiros e fama de
milagres, é uma verdadeira senhora de Fátima do Alto Minho. Recua-se a sua
aparição aos tempos medievais, talvez ao período tormentoso das guerras
da reconquista, feita a uma virtuosa pastorinha da Gavieira, segundo uns,
concedida, segundo outros, a um terrível criminoso evadido à acção da
justiça, para o converter.
Para a romaria da Senhora da Peneda ainda descem, de
vários pontos, através da serra, muitos peregrinos a pé, para os quais
só assim a romagem resulta. No entanto, com as vias de penetração abertas
pelos serviços florestais, a romaria foi perdendo o original pitoresco de
outrora, com caminhadas nocturnas pelo deserto pedregoso e agreste,
espreitadelas de lobos, dormidas ao relento e colações improvisadas à
beira dos regatos. Era então, dias e noites seguidas, por todo o mês de
Setembro, uma áspera continua e estafante peregrinação, verdadeira
avalanche de devotos, vinda dos quatro pontos cardeais, no seio de uma
paisagem austera e inóspita - pedregulhos informes, desfiladeiros
íngremes, tojos, carrascos, urzes, - a qual, por si só, já constituía
uma dura penitencia.
As
águas batidas e revoltas humedeciam e esfriavam ainda mais a atmosfera
inclemente. Os romeiros caminhavam durante horas intermináveis de abnegado
esforço de noite à luz de lanternas e de gasómetros, de dia, quando a
aurora de fazia anunciar sobre os raios dum sol impertinente, de farnéis
ás costas, escasseando as concorridas sombras proporcionadas pelos
penedões e pelas centenárias árvore. Os que partiam de Melgaço, pelas
duas horas da madrugada detinham-se, ao nascer do sol, em Lamas de Mouros,
pitoresca povoação nas cercanias de Castro Laboreiro, onde tomavam o
café. Era aqui que se concentravam as burriqueiras para alugarem os
jumentos ás pessoas idosas que viessem cansadas. Aglomerados de portugueses
e de galegos, a cada passo se encontravam e juntavam, acamaradando na folia,
com os seus descantes e bailados regionais.
Nas encruzilhadas apareciam as castrejas, embiocadas nas
suas típicas capas escuras, também com burros para alugar. Ofereciam-nos:“-
alugue o meu geriquinho é mansinho e não deixa cair ninguém”.
A romaria realizada a 7 de Setembro segue a
tradição das grandes peregrinações marianas da Época Moderna, onde a
envolvente paisagística, nomeadamente a proximidade de um grande elemento
rochoso natural e forte visibilidade, favoreceram o desenvolvimento de uma
ambiência própria com maior liberdade festiva e um isolamento espiritual
mais próximo das necessidades dos romeiros.
Lenda - Aparição da Senhora da Peneda
Conta-se que a Senhora da Peneda apareceu em cinco de
Agosto de 1220 a uma serraninha que pastoreava por entre aquelas penedias,
algumas cabras. A Senhora apareceu-lhe em forma de uma pomba branca voando
ao redor dela e, pediu-lhe que dissesse aos do seu lugar da Gavieira para
lhe edificarem naquele lugar uma ermida; a pastorinha falou aos seus pais,
da Senhora, mas sem efeito, porque não lhe deu crédito.
Noutro dia, voltando a pastorinha com as suas cabras por
aquelas mesmas paragens, lhe tornou a aparecer a mesma Senhora na mesma
lapa, não como na primeira vez, em forma de pomba (como ela referia) mas na
forma em que hoje se vê, e lhe disse: filha, já que te não querem dar
crédito ao que eu mando, vai ao lugar de Roussas (que fica na mesma
freguesia de Gavieira, no mesmo termo do concelho de Soajo) onde está uma
mulher entrevada há dezoito anos e diz aos moradores do lugar que tragam à
minha presença, para que ela fique de perfeita saúde, e assim te darão
crédito ao que eu te ordeno. Assim o fez a venturosa pastorinha, e trouxe a
mulher que se chamava Domingas Gregório. Tanto que esta chegou à vista
daquela Sagrada Imagem da Rainha dos Anjos, logo alcançou uma perfeita
saúde e ficou livre e sã de todos os males que padecia, louvando a Virgem
Senhora pelo singular benefício que lhe havia feito.