Projecto Vercial

Afonso X


Afonso X, o Sábio (1221-1284), foi rei de Leão e Castela. Era avô do rei D. Dinis. É considerado o grande renovador da cultura peninsular na segunda metade do século XIII. Acolheu na sua corte e trovadores, tendo ele próprio escrito um sem número de composições em galaico-português que ficaram conhecidas como Cantigas de Santa Maria. Promoveu, além da poesia, a historiografia, a astronomia, o direito, etc., tendo sido elaboradas com o seu apoio a General Historia, a Cronica de España, Libro de los Juegos, Las Siete Partidas, Fuero Real, Libros del Saber de Astronomia, entre outras. Muitas das suas composições poéticas foram recolhidas no CBN, CV e CBA.

Bibliografia: Marquês de Valmar, Cantigas de Santa Maria, 2 vols., Madrid, 1889.Walter Mettmann, Afonso X, o Sábio: Cantigas de Santa Maria, 3 vols. (1959-1964). Mário Martins, “Lendas Portuguesas de Aparições de Nossa Senhora nas Cantigas de Santa Maria”, em Brotéria, tomo 67, 1958. J. Filgueira Valverde, “Lírica Medieval Gallega y Portuguesa”, em Historia General de las Literaturas Hispánicas, Barcelona, vol. I, 1949. D. C. Clarke, “Versification in Alfonso el Sabio's Cantigas”, em Hispanic Review, XXIII, 1955. Luís Filipe Lindley Cintra, “Sobre uma tradução galego-portuguesa da General Estoria de Afonso X”, em Boletim de Filologia, tomo XII, 1951, pp. 184-191. Azevedo Ferreira, “Subsídios para uma edição da Terceira Partida de Afonso X”, em Boletim de Filologia, tomo XXIX, 1984.




CANTIGAS DE AFONSO X

I

Non me posso pagar tanto
do canto
das aves nen do seu son,
nen d'amor nen de mixon
nen d'armas – ca ei espanto,
por quanto
mui perig(o)sas son,
– come dun bon galeon,
que mi alongue muit'aginha
deste demo da campinha
u os alacrães son;
ca dentro no coraçon
senti deles a espinha!

E juro par Deus lo santo
que manto
non tragerei nen granhon,
nen terrei d'amor razon
nen d'armas, por que quebranto
e chanto
ven delas toda sazon;
mais tragerei un dormon,
e irei pela marinha
vendend' azeit' e farinha;
e fugirei do poçon
do alacran, ca eu non
lhi sei outra meezinha.

Nen de lançar a tavolado
pagado
non sõo, se Deus m'ampar,
aqui, nen de bafordar;
e andar de noute armado,
sen grado
o faço, e a roldar;
ca mais me pago do mar
que de seer cavaleiro;
ca eu foi já marinheiro
e quero-m' ôi-mais guardar
do alacran, e tornar
ao que me foi primeiro.

E direi-vos un recado:
pecado
nunca me pod'enganar
que me faça já falar
en armas, ca non m'é dado
(doado
m'é de as eu razõar,
pois-las non ei a provar);
ante quer' andar sinlheiro
e ir come mercadeiro
algûa terra buscar,
u me non possan culpar
alacran negro nen veiro.


II

CANTIGAS DE SANTA MARIA


Cantiga C (de loor)


Esta é de loor.

Santa Maria,
Strela do dia,
mostra-nos via
pera Deus e nos guia.

Ca veer faze-los errados
que perder foran per pecados
entender de que mui culpados
son; mais per ti son perdõados
da ousadia
que lles fazia
fazer folia
mais que non deveria.
Santa Maria...

Amostrar-nos deves carreira
por gãar en toda maneira
a sen par luz e verdadeira
que tu dar-nos podes senlleira;
ca Deus a ti a
outorgaria
e a querria
por ti dar e daria.
Santa Maria...

Guiar ben nos pod'o teu siso
mais ca ren pera Parayso
u Deus ten senpre goy'e riso
pora quen en el creer quiso;
e prazer-m-ia
se te prazia
que foss'a mia
alm'en tal companhia.
Santa Maria...


Voltar à página inicial

Site apoiado pelo Alfarrábio da Universidade do Minho | © 1996-2015 Projecto Vercial