Projecto Vercial

António José Queirós


António José Queirós

António José Queirós nasceu em Vila Meã, concelho de Amarante, no dia 4 de Maio de 1954. Doutor em História pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto, é professor do Ensino Secundário.

Fundador e director das revistas literárias Cadernos do Tâmega (Amarante, 1989-1995), Anto (Amarante, 1997-2000) e Saudade (em curso de publicação desde 2001, em Amarante), fez parte do Conselho de Redacção da revista Nova Renascença (Porto). De Dezembro de 1999 a Dezembro de 2003 foi director do Jornal de Vila Meã.

É autor de dois livros de poesia: Memória do Silêncio (1ª ed., Editora Justiça e Paz, Vila Nova de Gaia, 1989; 2ª ed., Amarante, Edições do Tâmega, 1994; 3ª ed., Editora Labirinto, Fafe, 2007) e Os Meninos e Outros Poemas (Amarante, Edições do Tâmega, 1993).

Tem colaboração em diversas revistas literárias portuguesas e estrangeiras. Para além das que fundou, refiram-se as seguintes: Portugal – Nova Renascença (Porto), Palavra em Mutação (Porto); Gazeta de Poesia (Lisboa); Brasil – Correio da Poesia (Bahia), Literatura (Brasília), Panorama da Palavra (Rio de Janeiro); Espanha – Dolmen (Ourense), Calandrajas (Toledo), Anfora Nova (Rute, Córdoba), Turia (Teruel), Revista Atlántica (Cádiz), El Hurón de los Caños (Barbate, Cádiz), Cármenes (Barcelona); França –  Arpa (Clermont-Ferrand); Itália – Nuove Lettere (Nápoles).

Poemas seus estão incluídos na antologia Os Outros (Vila Nova de Gaia, 2004) e em volumes de carácter colectivo, designadamente: Poesia de Amarante – Anos 80 (Amarante, 1984); Rosalírica (A Coruña, 1985); Poesía dos Aléns (Ourense, 1993); Junto às Águas Velhas (Braga, 1999); Vejo-te como se pode ver através desta chuva oblíqua (Porto, 2001); Eternamente Nós (Vila Nova de Gaia, 2001); Homenaxe Poética ao Trobador Xohán de Requeixo (Chantada, Galiza, 2003); Afectos (Fafe, 2006 e 2007); Um poema para Fiama (Fafe, 2007).

Alguns dos seus poemas estão traduzidos em espanhol, italiano e francês.

É membro da Associação Portuguesa de Escritores e da Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto.


POEMAS

Eurídice

Traíram-te os deuses quando adormeceste

entre urzes e ciclames cor-de-malva.

Era teu sono mais profundo que o mar,

esse tranquilo e luminoso mar Egeu

que olhavas abandonada e frágil

enquanto ouvias a música de Orfeu.

Levaram-te em segredo na barca de Caronte

para um mundo de sombras e de silêncio.

Doce ilusão a tua quando ouviste o som da lira

e um íntimo rumor de passos conhecidos.

Como sombra impaciente teu amor seguiste

de regresso à luz da pátria estremecida.

Mas no Estige, nesse rio de névoa e solidão,

esqueceu Orfeu o que a Perséfone prometera:

para trás olhou, e a sombra que já eras

entre sombras para sempre se perdeu.


Pascoaes

Sempre que caem as sombras

sobre a serra que ao longe se avista,

vagueia pela casa como um espectro,

penitente da saudade sempiterna.

Recorda Eleonor, senhora da noite,

deusa saxónica do eléctrico da Foz,

e a súbita viagem a bordo do Augustine.

Depois de Liverpool, surgia Londres,

outonal, misteriosa e fria,

fantástica canção de névoa fugidia.

O nº 2, de Hall Road, em Saint John's Hood,

paraíso de Eleonor, era terra proibida.

Poeta lusíada, foi seu canto indeciso.

Para trás deixou a boardinghouse de miss Bool,

Trafalgar Square e os discursos de miss French,

Victoria Station e Southampton

E o I don't know, I don't know, de Eleonor.

Até ao solitário Cabo Finisterra

o tempo esteve sempre very bad, very bad,

mas lia-se o Times e cantava-se o God Save the King.

Empecido, regressou à sua aldeia,

elegia infinita de amor e solidão.

Ficou-lhe a saudade, virgem da tristeza,

e uma voz que, lá longe, não parava de dizer:

I don't know, I don't know...


Saudade

Há um mistério escondido no teu nome,

nesse nome fecundo e magoado

que convoca a incurável lembrança

gangrenada pela ausência de quem parte.

Numa íntima e infinita melancolia

(que às vezes se prolonga até às lágrimas)

a noite amanhece sofrida e impaciente

à espera que o tempo se cumpra na memória.

Do que resta, fica a ruína do silêncio,

a liturgia torturada e muda do remorso.


A divina imperfeição

Caminho sem pressa pelas veredas

de um labirinto que parece não ter fim.

Ouço o som dos meus passos solitários

e sinto as fragrâncias de um jardim que se perdeu.

Entre ser livre ou ser feliz, escolhi

a liberdade de construir outro destino.

Sei agora que a minha vocação

é o silêncio íntegro das sementes

em campos tranquilos e lavrados.

É tarde. Do pó vim, ao pó quero regressar,

liberto, enfim, da geometria cruel do labirinto.

Dia após dia, procuro a secreta passagem

para a morada longínqua do mundo inicial.

Se Deus projectou em mim a sua imagem

em mim negou a sua divina perfeição.



Voltar à página inicial

Site apoiado pelo Alfarrábio da Universidade do Minho | © 1996-2015 Projecto Vercial