Bento Teixeira Pinto terá nascido em Pernambuco, Brasil, em meados do século XVI (põe-se também a hipótese de ele ter nascido na cidade do Porto). Muito pouco se sabe da sua vida, sendo considerado o primeiro poeta brasileiro. É autor de um poemeto heróico em oitava rima intitulado Prosopopeia. A obra é composta apenas por um canto (noventa e quatro estâncias) entoado em louvor de Jorge de Albuquerque Coelho, capitão e governador de Pernambuco. Foi publicado pela primeira vez em Lisboa em 1601 (havendo autores que alegam ser essa a segunda edição, tendo a primeira saído em 1593).
Para a parte do Sul, onde a pequena
Ursa se vê de guardas rodeada,
Onde o céu luminoso mais serena
Tem sua influência, e temperada
Junto da nova Lusitânia ordena
A Natureza, mãe bem atentada,
Um porto tão quieto e tão seguro
Que para as curvas naus serve de muro.
É este porto tal, por estar posta
Uma cinta de pedra inculta e viva,
Ao longo da soberba e larga costa
Onde quebra Neptuno a fúria esquiva,
Entre a praia e pedra descomposta,
O estanhado elemento se deriva
Com tanta mansidão, que uma fateixa
Basta ter à fatal Argos aneixa.
E m o meio desta obra alpestre e dura
Uma boca rompeu o Mar inchado,
Que na língua dos bárbaros escura
Parnambuco de todos é chamado.
De Parana que o Mar; Puca, rotura,
Feita com fúria desse Mar salgado,
Que sem no derivar comete míngua,
Cova do Mar se chama cm nossa língua.
Para entrada da barra, a parte esquerda,
Está uma lajem grande e espaçosa,
Que de piratas fora total perda
Se uma torre tivera sumptuosa.
Mas quem por seus serviços bons não herda
Desgosta de fazer cousa lustrosa,
Que a condição do Rei que não é franco,
O vassalo faz ser nas obras manco.
Sendo os Deuses à lajem lá chegados,
Estando o vento em calma, o Mar quieto,
Depois de estarem todos sossegados,
Per mandado do Rei e por decreto,
Proteu no Céu, com olhos enlevados,
Como que investigava alto secreto,
Com voz bem entoada e bom meneio
Ao profundo silêncio larga o freio.
Canto único, 17-21