Projecto Vercial

Luís Costa Pires


Luís Costa Pires

Luís Costa Pires nasceu em Moçambique, no ano de 1976. Em 1977, viajou para Portugal, onde vive desde então na cidade das Caldas da Rainha. Estudou Gestão de Empresas mas dedica-se profissionalmente ao jornalismo e à escrita. Foi jornalista de imprensa escrita durante três anos e, actualmente, é Assessor de Imprensa e Relações Públicas da Câmara Municipal de Peniche.

Publicou o primeiro romance em 1998, com o título A Rainha de Copas, e venceu o prémio "Prosas de Estreia". No ano 2000, publicou Depois da Noite. Mandrágora, publicado em Setembro de 2002, é o seu terceiro romance, também pela Editorial Notícias.

Tem ligações ao teatro, com uma peça já estreada, pelo grupo de teatro “Criaturas”, chamada Meu Querido Jorge, e outra a estrear brevemente, denominada Quando Voltares.

Em 1998 foi condecorado com a medalha da cidade das Caldas da Rainha, pelo contributo dado à cultura no concelho. Mais recentemente, em 2001, foi-lhe atribuída uma bolsa de criação literária pelo Centro Nacional de Cultura para a escrita do seu quarto romance, que se denominará O Animatógrafo.

O mesmo projecto mereceu uma menção especial na acta de atribuição de bolsas de criação literária do Ministério da Cultura, com o comprometimento do apoio à edição do livro. Tem participado em diversas palestras e conferências sobre literatura e em júris de prémios literários.

Está, juntamente com o também escritor premiado Paulo Ferreira Borges, a escrever a novela A Praça dos Artistas, publicada em capítulos no Boletim de Cultura Urbana da Câmara Municipal das Caldas da Rainha, "Cidade Termal".

É cronista da revista alternativa 365, do semanário Gazeta das Caldas e do portal de internet Oeste Online (www.oeste.online.pt).

É vice-presidente do Atelier Arte e Expressão, uma associação que desenvolve projectos na área da cultura e da solidariedade social. É embaixador da Associação Humanitária "A Quinta".

MANDRÁGORA

Mandrágora, é, segundo o autor, "um livro violento que luta contra todos os fanatismos. Sejam religiosos, sociais ou de outra ordem. É um livro que apela à liberdade de pensamento, de acção e de expressão, à individualidade, à capacidade de criar e seguir caminhos, à liberdade de inventar mundos, à sabedoria de conseguir olhar para os outros e percebê-los, sem julgamentos de valor". No entanto, é também "uma história de amor, em que duas pessoas se apaixonam em circunstâncias adversas, como acontece em todas as histórias de amor, e que lutam pelo seu desejo, independentemente das consequências futuras."

Mandrágora é nome de uma planta fabulosa, supostamente tendo virtudes fecundantes e afrodisíacas; Mandrágora é também nome de mulher, a protagonista deste romance que, vítima de abusos paternos, é raptada de casa ainda em tenra idade, prosseguindo depois um caminho complicado e cheio de desafios, até encontrar o caminho de regresso a casa e, ironicamente, à sua própria redenção, nas mãos e na filosofia de um jovem padre de nome Rafael.

É um livro passado no norte do País, numa aldeia antiga e retrógrada, num ambiente cheio de misticismo e de erotismo, de violência psicológica, onde a tensão está sempre presente, quer seja no difícil percurso de vida da personagem principal, quer nos conflitos interiores de Rafael, no mistério por trás do vilão Mateus ou na desgraça que se abateu sobre o sacristão, que se viu privado, de um dia para o outro, da sua capacidade de falar e de ouvir.

Segundo o escritor Fernando Campos, autor do texto da contracapa do livro, Luís Costa Pires é "o eco da sociedade que o rodeia, dos anseios, problemas, dores e alegrias, diferenças e injustiças. Logo se vê nos temas que escolhe. Nem sempre para agradar ou divertir o leitor, mas para o tomar consciente das realidades e, se possível, participante na caminhada para um mundo melhor. Ao riso sucedem quantas vezes as lágrimas e não será de estranhar que, pelo meio, se evole um pouco de mistério e sonho, de solicitações da carne — sempre metafisicamente angustiantes, tanto mais se... tanto mais se existir voto que as pretenda jugular,

Mandrágora é a planta fabulosa, de virtudes fecundantes e afrodisíacas. Um bom título para um romance que repõe o velho tema, sempre actualíssimo, dos embates e debates, crises de escrúpulos e de consciências, do celibato católico."


DEPOIS DA NOITE

(excerto)

"Agora sim, Pedro hesita um pouco. No entanto, esta é a noite dele, ouve os gritos da lua que chegou já ao céu depois de uma pequena ausência, ouve o sussurro do vento e vê, à sua frente, aquele rosto branco, tão pálido, e aquele cabelo macio e comprido, negro, e o nariz, aquilino e arrebitado, os lábios finos e o olhar doce. Que coisa é esta que ele sente dentro de si, um tremor maior que os outros que já sentiu alguma vez, mas que desta vez não é de medo, nem de angústia, mas sim de algo bom, na qual tem confiança e seguirá até ao fim.

"Escolhi-te porque és uma mulher a preto e branco", responde.

"Como assim?"

"Tens duas cores, o preto e o branco. As outras cores não existem em ti. Ou és límpida ou és negra. Não tens meio termo. Isso fascina-me. És uma mulher verdadeira, onde até as contradições se explicam. Acho que foi isso que me atraiu desde o início."

Sandra levanta-se e dirige-se para o banco que está em frente a uma tela vazia. Senta-se e espera que Pedro se instale no cavalete. Segue as instruções que ele lhe dá e levanta ligeiramente o rosto, como se olhasse para o céu, como o pintor a imaginou no quadro que pintou de improviso. A vida dá voltas e voltas mas acaba sempre por voltar ao mesmo, é como se fosse o ano que passa ciclos de Verão e Inverno, e pelo meio tem o Outono e a Primavera, mas acaba sempre por ser circular. Sandra olha para o tecto, mas é como se olhasse mesmo um outro mundo, o infinito talvez, e sente-se em paz, melancolicamente a ouvir o ruído suave do pincel a passear pela tela. E deste que faz o pincel viajar, o que posso dizer, se está também a cumprir um sonho, o de pintar a mulher que ama, mesmo sabendo que irá embora daí a horas?

Acaba de pintar o esboço e levanta-se, agora para ficar pronto, vai precisar de retocar os seus traços. Aproxima-se de Sandra e agradece-lhe. Depois sente o respirar dela no seu pescoço, e é com um tremor ainda maior que o que sentira momentos antes, que sente os lábios dela a chegarem-se ao seus. E a partir desse momento, é apenas uma frase que fica, "Amo-te, Sandra", o resto é nada."



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