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Os Passeios do Sonhador Solitário de Almeida Faria

O conto de Almeida Faria Os Passeios do Sonhador Solitário está dentro da linha de, por exemplo, O Conquistador. Este conto parece-me uma espécie de História Geral do Animal em Sonho, para parafrasear o Jorge Luis Borges. Surgem referências à mitologia clássica (Parcas, Circe, Ulisses, Cerbero), aos autores gregos e latinos (Sócrates, Aristóteles, Lúcio Apuleio, Virgílio), aos textos bíblicos (Arca de Noé, Expulsão do Paraíso, J. Cristo), ao Orlando Furioso, a Jean-Jacques Rousseau, a Wundt, a Fitzgerald, a Warhol, a Jorge Luis Borges, etc. Verifica-se que a maior parte destas referências tem a ver por um lado com a relação do homem com os animais e a natureza, e por outro com a metamorfização humana e animal através do sonho e do maravilhoso mítico-literário. Circe transformou os companheiros de Ulisses em porcos e estes sentiram-se bem na sua nova condição. Mas afinal não nos transformou a sociedade em animais quase selvagens e nós, sem darmos conta, regalamo-nos no esterco que produzimos? (Rosseau).

O sonhador solitário do conto, e daí o paradoxo do título, não consegue estar sozinho. Visitam-no os espectros de homens ilustres, ou pelo menos descendentes de homens ilustres, como é o caso do senhor com cara de cão que tinha sido filho de Rousseau e que aparece a contar histórias do arco da velha ao turista em Nova Iorque.

José Leon Machado, 06-10-1997







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