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José Marmelo e Silva novelista: 50 anos depois...

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Para muitos, certamente, se equacionará hoje o mesmo tipo de perplexidade que a nós próprios atingiu quando, há mais de trinta anos, «descobrimos» José Marmelo e Silva numa colectânea de autores portugueses. Então, praticamente como agora, foi em vão que peregrinámos pelas livrarias em busca da obra do autor, tanto quanto pesquisámos resenhas críticas ou simples apontamentos biográficos sobre o mesmo.

Vítima de um estranho ostracismo, ainda que por via de alguma culpa própria, quer se entenda esta afirmação como decorrente da ética pessoal do autor ou do seu contumaz isolamento, quanto de uma visão novelística que o distanciava, pelo vanguardismo, de toda uma estilística temporal que, então, centralizava no neo-realismo as suas teses, José Marmelo e Silva, posto que bem acolhido, aqui e além, aquando do lançamento das suas obras, escasso proveito tirou disso, já que nunca foi «celebrado» pelos intelectuais promotores de êxitos.

Verdadeiro «underground» da literatura portuguesa, teve como primeira fatalidade a atitude estética de demarcar-se completamente da problemática nascente do neo-realismo, ainda que dela, em rigor, não se ausente; e, por segunda, admitimos, o de ser celebrado pelos homens da «Presença», que nele viram um «psicólogo de almas», continuador das suas teses, o que provavelmente lhe acarretou a desconfiança dos que pretendiam fazer da literatura uma arma de combate social. Parte deste drama, aliás, o autor o denuncia no prefácio da 3ª edição de «Adolescente Agrilhoado» (1967). Em todo o caso, porém, o facto é que José Marmelo e Silva nesta situação se tem mantido, década após década, apesar de o interesse da sua obra não se ter esgotado na temporalidade genesíaca que lhe cabe.

Cinquenta anos depois da elaboração de «Sedução», sua estreia literária, cremos ser altura de a celebrar à luz da visão actual.

Sedução! A ambiguidade do termo possui conotações diversas, que vão desde a dependência ao sentimento amoroso, enamoramento, até ao calculismo que visa sobretudo o desfrute sexual. Quero dizer, a palavra sedução tanto identifica o artifício serventuário do amor, quanto o disfarce conducente ao usufruto da imensa variedade de emoções e paixões ligadas ao sexo.

Centro dominante das preocupações humanas, quer se encare numa ou noutra perspectiva, cremos não haver tema na literatura mais vulgar e complexo do que este: vulgar, porque é a sedução amorosa que está na base de tudo quanto se move, tanto no âmbito da vida humana como no quadro da própria existência do universo; complexo, porque o amor e tudo quanto o envolve – enamoramento ou calculismo – mais não visa do que o acto de domínio ou de sujeição a alguém. Repare-se, dizemos alguém e não o seu oposto, porque o «pecado original» da natureza não existe, e, menos ainda, a questão do «masculino-feminino», dualidade também ambígua, cujos limites e situações se perdem nas brumas da antiguidade. De facto, desde a criação dos deuses hermafroditas que a inconsistência do sexo se confronta com a necessidade social de definir-se, existência que facilmente se comprova em qualquer época pela tendência que a juventude revela na utilização promíscua de símbolos contrários ao sexo de cada um. Nesta perspectiva, a ideia que hoje nos (in)forma sobre o assunto, não passa de uma moral normativa que pretende condicionar o amor – ao fim e ao cabo, caracterizado pelo «prazer em si» - às leis da natureza, esquecendo que essa mesma natureza não o respeita, pois não só o homossexualismo não é uma atitude exclusivamente humana, como o acto canibalesco, após a prática sexual, constituem comportamentos facilmente identificáveis e praticados nas espécies animais, devendo-se o subtil escamoteamento deste assunto à moral ascética do cristianismo.

Que uma e outra situação subsistem no nosso inconsciente ou subconsciente, se prova ainda pelo facto de, no quadro patológico da psicologia desses subterrâneos da existência humana, verificarmos que as neuroses mais comuns tanto provêm do «conflito erótico» quanto da «integridade da personalidade», que, o mesmo é dizer, do impulso do poder que exige se fique por «cima». Isto mesmo reflecte a personalidade do sedutor, qualquer que seja o seu sexo, pois que o seu objectivo primário é apoderar-se do objecto que seduz. Cremos que este conceito, baseado no princípio do poder, se ficou a dever a Alfred Adler, do mesmo modo que o anterior se ficou a dever a Freud, de quem, aliás , Adler foi discípulo.

Em todo o caso, o que importa realçar no âmbito do que nos motiva, é que toda e qualquer tentativa de obtenção de uma submissão do sujeito é sempre respondida por uma forma de «protesto masculino».

Precisamente, de «protesto masculino» trata soberbamente «Sedução». Assim, logo nas primeiras páginas desta novela somos confrontados com o verdadeiro móbil da mesma: o antagonismo entre Eduardo e Noémia, dois irmãos remetidos para uma ruralidade por despromoção social e histórica – o pai morreu-lhes louco, depois de desbaratar somas enormes na política, em favor da nobreza. Mas, enquanto Eduardo, mais novo dez anos, fica confinado à função de amorfo caixeiro numa lojeca adquirida com o que se salvou da herança, prisioneiro do horizonte de que desfruta em companhia da mãe, Noémia forma-se em direito, e, apesar da sua crescente posição social, limita-se somente a ajudar economicamente a família, sem nunca, todavia, a chamar para a sua companhia.

E eis que, numas ferias, Noémia as vem passar à aldeia, com uma amiga, Marta. Eduardo, que tem veleidades de ser escritor, e que é dominado por uma imaginação febricitante, julga que a companheira da irmã lhe é destinada como noiva, fantasia que igualmente se instala no espírito de sua mãe. Apresta-se, então, ao papel que julga lhe estar destinado, o que não é difícil, pois não só é um amoroso nato, sempre disponível para uma aventura amorosa, como logo se apaixona – pelo menos assim o crê.

Um dia, aproveitando a breve ausência de sua irmã, que vai visitar uma condiscípula, Eduardo declara-se a Marta. Esta aceita-o, mas no preciso momento em que se declara, Eduardo nota-lhe, inopinadamente, uma anomalia na irradiante beleza: um canino acavalado!

Pormenor bizarro este, que não serve somente para a fixação do imaginário no real, conduzindo o leitor a uma (re)criação da personagem, como, paralelamente, ele se revela um subtil apontamento da crise que se vai instalar, perfeitamente integrada na lógica dos diálogos e situações anteriores, espécie de pré-anúncio da modificação do perfil romanesco que todas as personagens vão sofrer, porque, num repente, todas elas se irão modificar. E, assim, tão-logo Eduardo anuncia ir comunicar à irmã o amor que desabrochou entre eles, Marta cai desmaiada, de susto e de aflição, implorando-lhe que não o faça. Depois, tudo segue num «crescento», entre o pesadelo e a alucinação de Eduardo que, pouco a pouco, vai descobrindo o que de verdadeiro se esconde por de trás das amizades de Noémia...

Partindo da subalternização em que se situa, Eduardo, aparentemente, posto que já confrontado com os sinais reveladores sobre a verdadeira índole da irmã, não lhes atribui, contudo, outro significado que não o decorrente do seu feitio despótico e masculinizado, retratando-lhe a figura seca, as «tíbias tortas, descarnadas», decorada mesmo com «algum bigode...».

A denúncia do real, que ele não ousa ainda formular, vem-lhe do exterior, de um tal Carneiro, que se atreve a dirigir-se à irmã, em requerimento de uma «cunha», e que esta expulsa de casa por o conhecer como difamador da sua pessoa.

Perseguindo-o e travando-se de razões com ele, Eduardo é confrontado com a injúria;

«- Em Braga tem quantas queira, ouviste agora? Até as leva para o Porto, uma por cada vez. Ainda te há-de roubar a Celeste, a Júlia, essas de quem tens a mania de te gabar. Lembra-te que to digo eu... Mas tu não abres os olhos, não queres, andas cego, és um pedaço de asno. Porque estais vós aqui, tu e a tua mãe, vivendo uma vida estúpida? Porque vos não leva ela para Braga e te não dá a ti uma posição decente?»

Depois, de arrebatamento em arrebatamento, e após verificar que Noémia lhe arrebanha, uma a uma, todas as namoradas e amantes, Eduardo acaba por ser confrontado com o cenário lésbico que assinala o festejo de aniversário da irmã:

«Desvairado, perdido, vi imediatamente o inacreditável: elevada num tronozinho, Noémia, lasciva e embriagada, aspirava o fumo azulino dum cigarro. As eleitas rojavam-se-lhe aos pés, semi-nuas. Esta, enrolada até à sua ilharga; aquela, até à cinta delgada; as restantes, estendidas pelo soalho, de cabeças estateladas. E todas gemiam carícias, oferecendo a boca à sua taça e os peitos nus às suas mãos...»

Perante um tal espectáculo, Eduardo, por três vezes, rugindo violento, as invectiva: «Bêbedas!» - insulto a que Noémia responde de forma bem mais superior: «Abaixo os homens!»

O epílogo, que aliás estabelece a circularidade da novela, não passa de uma pseudo explicação moral do autor (agora na pele de Eduardo) sobre as causas da desordem, que, entretanto, conduzem Noémia ao delírio, possuída por grave enfermidade.

Trata-se de um texto perfeitamente desnecessário, obviamente permissivo a efeitos moralizantes, espécie de explicação psicológica do acontecido, na peugada do exemplo filosófico (também ele lamentável) de Tolstoi em «Guerra e Paz». De facto, o que se nos depara, agora, é uma pretensa explicação de raiz determinista, que visa basicamente reconverter o retrato de Noémia, dando-a como vítima duma sociedade que lhe recusou a sua «pungente humanidade» de mulher, até ao ponto de a levar a confundir, aos trinta anos, o pairar de um morcego à sua volta com o «respirar de um homem», por quem, no fundo, ansiaria a sua específica natureza feminina...

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No âmbito do que antecede, procurámos, na medida do possível, reproduzir o mais objectivamente que soubemos o realismo do trama de "Sedução", o qual corresponde, mais ou menos, ao que dele se tem escrito.

Acontece, porém, não ser essa a nossa leitura, donde resulta o que agora se vai seguir. Nesta perspectiva, avançamos com a ideia, antes de mais, de esta novela ser construída sob o signo do maniqueísmo entre os dois principais personagens, e onde Eduardo se revela como a parte «boa» da história e Noémia a parte «má». Ora o verdadeiro real não é bem este. Vejamos Eduardo: toda a sua naturalidade é falsa – isto é, a sua colocação no lado «bom» corresponde a uma deturpação do seu carácter, o que logo nos é revelado no início da novela, mormente pelo cuidado com que se apresta para a chegada da suposta noiva, aperaltando-se, de forma enfatuada e ridícula, com um cravo na lapela, brilhantina perfumada no cabelo, revista cinéfila na mão e um cigarro que consome por extravagância... Perante o fiasco, reveste-se duma superioridade mental que não engana ninguém senão ele próprio. Desta forma, verificando o fracasso da impressão primeira que pretendia causar na amiga da irmã, o objectivo de Eduardo não é mais o de apaixonar-se por ela, mas de «endoidecê-la», segundo uma «problemática amorosa calculada», pois isso é o que «importa». E nisto é ele um «expert», a fazer fé nas suas confissões amorosas, um verdadeiro «usufruidor» das belezas femininas, enfim, um «sedutor», que manipula descaradamente as suas vítimas, importando-lhe somente a satisfação dos seus apetites sexuais intimamente ligados aos de posse. A consciência deste seu «poder» é tamanha, que ele mesmo declara, ousado e cinicamente, que «todas as tentativas lhe são favorecidas ou toleradas», pelo que conclui, sem margem para dúvidas: «Eu sei-o.»

Por outro lado, Noémia, a mulher feia, masculinizada, cuja «sedução» não tem os homens como destinatários, mas as mulheres novas de que se rodeia e que industria contra aqueles, não é mais do que a imagem, o retracto que dela nos dá Eduardo. É o seu depoimento de confiança? Julgamos que não, pois toda a sua perspectiva sobre a mulher é obra de uma consciência tipicamente machista, e, portanto, algo inocente, já que não alcança conjecturar outros valores que não os que a (in)formam, ou seja, não consegue raciocinar fora do quadro erótico-sensual-romanesco em que se situa. Podemos, assim, pensar que o retracto de Noémia mais não reflecte do que o próprio retracto de Eduardo. Ora Eduardo, desde o início, se nos apresenta como um ser sacrificado ao triunfalismo da irmã: ele não lhe perdoa nem a diferença de idade, que lhe rouba a primogenitura, símbolo de direitos consuetudinários, nem o espaço intelectual que desfruta, a cidade em oposição ao campo, nem a sua qualificação de doutorada, tanto quanto a sua independência económica, a qual o remete para o papel de indigente. Nesta perspectiva, a própria ideia a que Eduardo nos conduz, de ser um escritor falhado, é inegavelmente uma acto de compensação, mero desforço sobre o objecto ou sujeito que o «paralisa», sobre Noémia que

«... não sei à custa de que sacrifícios, cursava a Normal Primária, com uma tenacidade e um talento estranhos. Admiravam-na os mestres, as colegas disputavam a sua companhia...

Enfim, um belo dia veio o dilecto ordenado que nos desafogou. Eu, que já tinha produzido alguns versos tristes e construía um romance grande com o fim de ganhar dinheiro, desisti...»

Repare-se no sentido megalómano deste texto, bem evidenciado na ideia da construção de um romance que de imediato daria fortuna (e fama) ao seu autor...

Por tudo isto, bem podemos conjecturar a hipótese de Eduardo ser um neurótico – e aqui, recordamos: «o pobre pai morreu louco, era eu criança...»

Com base neste raciocínio, podemos aceitar, igualmente, que o quadro existencial da irmã que nos é relatado não passa da projecção dos traumas que enfermam Eduardo. Assim sendo, a sua invectiva ao «visionar» (adiante virá a explicação do vocábulo) a cena luxuriante - «Bêbedas! -, mais não reflecte do que um acto de ciúme ao invés de um acto de condenação. Por sua vez, a resposta de Noémia - «Abaixo os homens! -, transfigura-se, por metempsicose, num grito de liberdade do próprio Eduardo contra a sujeição moral, económica e social, a que se admite remetido.

Como se vê, todas as dúvidas nos são permitidas – dúvidas, aliás, que passam a perseguir a personagem narradora. Será que a cena lúbrica teria mesmo existido? Tal acontecimento é posto em causa pelo próprio Eduardo, no final da novela, ao aventar a hipótese de este ter adquirido «realidade» pela via do mimetismo de um quadro a óleo que pendia da parede do seu quarto. Por outro lado, a sua imaginação erótico-sensual condu-lo amiudadas vezes a «sonhos orientais», qual sultão preocupado em distribuir equitativamente a sua pessoa pelo harém de que dispõe:

«Laida, Berta, Helena, Julinha, Leonor ou outras – que eu sempre amei e continuo a amar de harmonia com os seus dotes, visto que sou justo. A todas distribuo a minha ternura, a todas acaricio, se mo permitem – de todas gosto humanamente.»

Esta generosa partilha da sua pessoa leva-o ainda à bizarra convicção de estar rodeado de «um invisível círculo de bondade, como esse que os santos usam luminosamente à volta da cabeça».

Do exposto se pode, pois, admitir que Eduardo se julga um instrumento de prazer (de amor) de natureza quase deífica. O que se esconde por de trás de tudo isto nos parece óbvio: Eduardo procura substituir a irmã, quer no papel que lhe cabe de entidade protectora da família, quer na capacidade que ela possui de angariar amizades (e êxitos) desinteressadas – o que ele não consegue, obsesso como está pelo desejo de domínio... – devendo-se somente à tortuosidade doentia dos seus raciocínios o retrato e o relato dos acontecimentos em que ela é intérprete. Até que ponto, todavia, não estará soterrada na sua mente uma outra obsessão: o desejo de incesto com Noémia? Pois que pesquisa ele, na alcova da irmã, senão o encontro com o arquétipo que se origina no complexo materno?

«Ao passar pelo quarto da minha irmã, a porta escancarada tentou-me. Eu queria (e nesse instante nenhuma voz se opôs), queria encontrar o segredo de Noémia, da sua poderosa, inevitável sedução; queria revolvê-lo, palpá-lo, observá-lo, pô-lo a nu e, finalmente, desfazê-lo nas minhas próprias mãos...

Estava ali, naquela obscuridade de alcova, pairando embora oculto, o mistério do sexo de Noémia...

A correspondência, em pequenos magotes perfumados, inundou-me de gozo, ao tocá-los...»

Repare-se na expressão, entre parênteses, «e nesse instante nenhuma voz se opôs...» Que voz é esta? E porque lhe dá o manuseio da correspondência da irmã gozo e não asco? Pois não cedeu ele às conotações da perfídia (ou da moral), riscando «com o lápis encarnado, a cal da parede, em grandes parangonas: deboche!», seguido de uma seta na direcção de sua casa?

Sem dúvida Eduardo é um ser possuído de um estado neurótico de tentação; ele quer e não quer, ou seja, está em desunião consigo mesmo, entre o ideal moral a que a sua consciência o conduz e o lado imoral que lhe é imposto pelo subconsciente.

Obviamente que esta leitura de «Sedução» é tão válida como qualquer outra, especialmente aquela a que o realismo do autor nos procura conduzir – e que fez escola -, sendo esta a verdadeira «sedução» da novela de José Marmelo e Silva. E isto, afinal, nos identifica com o verdadeiro êxito da novela e do escritor, que logo no seu livro de estreia nos fornece um tal potencial de ilações. Não é este, porém, o único encómio que lhe registamos: orientando-se por uma forma romanesca finamente clássica, redigindo um discurso marcado tanto por derrames de ternura sentimentalista e romântica, como de exaltada ressonância de erotismo sensual (composição que virá igualmente servir a construção de «Desnudez Uivante», sua última obra, datada de 1983), entre a pureza e a lascívia, a ternura e a brutalidade, não sabemos o que mais admirar; se o seu perfeito domínio sobre o material a que recorre, se o originalíssimo estilo que daqui resulta, se, finalmente, o modo de construir as alternâncias constantes de opostas conclusões, que o mesmo é dizer a sua subtil ironia e ambiguidade.

Em tudo isto, sobrevive ainda hoje algo que não compreendo bem: o facto de «Sedução» ter escapado incólume à fúria dos censores ao longo das suas quatro edições, 1937, 1948, 1960 e 1972!

 

ADOLESCENTE AGRILHOADO

 

 

«O meu desejo era que este livro pudesse agora denominar-se Adolescente Liberto e Portador de Fogo. Os jovens que no momento presente se afirmam e consciencializam, libertando-se da afronta duma prolongada ignorância – sobretudo os que entram na fase dos interesses éticos e sociais e dela recebem seu influxo poderoso – mereciam em absoluto o desenvolvimento progressivo duma acção (refiro-me à vida deste adolescente) aqui interrompida justamente no limiar do heroísmo.»

O texto em epígrafe, faz parte do prefácio do autor à terceira edição do «Adolescente Agrilhoado» (Editora Ulisseia, 1967), que agora, nesta quarta ou quinta edição, é sonegado. E dizemos quarta ou quinta edição, porque, uma vez mais, somos confrontados com uma espécie de maldição que persiste em atingir a obra e a personalidade de José Marmelo e Silva.

Ainda bem recentemente, num outro apontamento crítico, tivemos ocasião de referir o estranho ostracismo de que o autor tem sido vítima, mercê da fatalidade que lhe coube em ser vanguardista numa época historicamente datada que tal não lhe permitia.

Profundamente vinculado aos temas de auto-análise progressiva, numa altura em que os «psicólogos de almas» eram fortemente contestados pelos promotores de uma literatura que pretendiam fazer dela uma arma social, José Marmelo e Silva, posto que do neo-realismo nascente não se ausentasse, escassa compreensão encontrou nesses novos arautos que, para mais, se agravaram com a celebração, mais ou menos entusiástica, com que os homens da «Presença» o apreciaram.

A consciência desta fatalidade anatematizante, levou o autor, no já referido prefácio, que mais uma vez recordamos estar omisso nesta quarta ou quinta edição, a expender o seguinte desabafo:

«Há precisamente 30 anos. Uma onda de desaprovação (nem sei bem porquê) levantou-se no coração dos próximos companheiros que eu amava, Foi – vinda exactamente da parte deles! – uma das atitudes menos perdoáveis, por inesperada. E invocaram-se contra mim as mais disparatadas discordâncias...

Fui absurdamente privado dum estímulo e companheirismo que me poderiam ter sido fecundos – e a incompreensão enquistou-se ao longo dos anos.

Tem-me faltado solidariedade...»

Pois bem, hoje, quase quarenta anos passados sobre a primeira edição de «Adolescente Agrilhoado», e exactamente vinte sobre este prefácio, bem podemos afirmar que continua a faltar solidariedade a José Marmelo e Silva, como bem prova o imbróglio que envolve a presente publicação, antecedida de uma outra, destruída, mercê da inserção de um prefácio alheio, cedido anteriormente para outra editora, entretanto contestado por quem o escreveu. Em consequência, dizem-nos, ainda que não o possamos comprovar, o autor teria cedido voluntariamente os seus direitos como forma compensatória ao prejuízo que a editora sofreu, proporcionando assim as condições possíveis para esta quinta edição que, em rigor, é a quarta!

À margem, porém, destas questões, que nos recusamos esmiuçar para além do expendido, tão-só nos interessa, de momento, a análise da obra, a qual nos suscita as seguintes impressões:

Abre a novela com um capítulo denominado «O Clarão da Cidade», onde, muito linearmente, nos é dado o retrato de uma família: casal e três filhos. O pai é carpinteiro-escorador numa mina de volfrâmio, onde trabalha e vive toda a semana, rumando para casa só aos sábados, no fim do dia. Por hábito, ao chegar ao começo da povoação, tem o costume de assinalar a sua presença riscando no ar três círculos com o gasómetro que lhe abre o caminho por entre a serrania. A este sinal corresponde a família com a febre que se imagina: à mãe brilham-se-lhe os olhos e rosam-se-lhe as faces, tomada de súbito nervosismo, reclamando da filha mais velha, Carmen, ajuda dispensável; António, o filho seguinte, acautela-se, memorizando as brincadeiras da semana, sobre as quais corre o risco de não encontrar desculpa; enquanto Luís, o mais novo, pouco mais do que criança, em correria, parte ao encontro do pai, da luz, da sabedoria, do ainda insipiente sonho, que no inquirir dos porquês se aduba e se vai consolidando.

Será interessante notar, antes de mais, quão rapidamente nestas breves páginas iniciais se identificam os vectores mais importantes da futura personalidade e tragédia do pequeno Luís. Assim o seu fascínio pelo clarão da cidade, que ele vislumbra de longe, espécie de Meca ou de Palácio Encantado do seu sonho infantil, e que, para mais, no pai encontra repórter insuspeito, pois, apesar de para ela ter sido conduzido na condição de preso, por via da militância em favor do dia de trabalho de oito horas, acabou por da contenda sair vencedor, tanto bastando o seu querer: «Vale sempre a nossa», lhe responde o pai, ocultando-lhe, todavia, as torturas, «a questão é querer...»

Neste fascínio pelo clarão da cidade, metáfora malsã de sabedoria e de justiça, e na força do querer, metáfora do sonho, se construirá a personalidade do pequeno Luís, pois, se a «cidade é ascensão, vitória, perpetuidade», «o sonho (ou querer) é o grande deus animador».

Uma e outra coisa se conjugam e o auxiliam nos estudos, nos quais avança rapidamente, motivo pelo qual «o professor não o castiga nunca», falando-lhe «num tom muito bom». Só que, entretanto, um outro sonho se intromete: é que o professor tem uma filha, Isa de seu nome, que «lembra borboletas».

«Isa estava no clarão da cidade como a sua mais viva representação», e o nosso pequeno herói dirige-lhe um bilhete... que o professor descobre. Mal tratado por este e escarnecido pelos companheiros - «Vá ajudar o pai a fazer barrotes!» - eis que o nosso Luís Miguel se encontra, pela primeira vez, «sozinho contra o mundo inteiro», circunstância que mais ainda lhe reforça o sonho - «Vamos a um supor: então eu poderia ir para a cidade, para os estudos, a questão é que tivesse inteligência?» A este quesito não lhe pode o pai responder senão com tristeza e perplexidade, mas bem diversa é a perspectiva do pároco, que lhe «ensina cânticos e latim sagrado», e o envaidece: «Tens o nome do anjo que esmagou a serpente!»

O sonho propaga-se: «Eu já adivinhava, já o sabia, homem! O menino chorou e riu dentro de mim, no Domingo, antes de nascer. No meu ventre, sim, quando o padre levantou na missa a hóstia sagrada», revelação esta que merece o seguinte comentário do pobre carpinteiro: «Este menino não é nosso, não. Ou Deus no-lo leva muito cedo, ou lhe destina algum poder especial na terra.»

Que grande é o poder do sonho! Levado por ele, o pequeno Luís servirá seis anos na «casa incensada», no seminário, até que é expulso, «ludibriado» na sua mais íntima consciência e «ferido nos seus sentimentos». Quem o ludribia?, quem o fere? Primeiro, um mecanismo sócio-económico, que o remete para o seminário como indigente, depois, uma disciplina obsoleta, paradoxalmente ausente de sentimentos cristãos, apesar de neles consolidar a ministrança do ensino, e, finalmente, o poder político que o há-de aprisionar.

Colocando perante a tragédia da expulsão, o adolescente, como se essa exclusiva condição não bastasse, é um ser ignorante dos hábitos do mundo ao qual tem de acolher-se. Recolhe-se, pois, à sua concha, persistindo na figuração de um mundo ideal de justiça e de inocência, recusando a sociedade familiar e humana que naturalmente o interpela. A sua chegada, na calada da noite, bem vistas as coisas, só provoca animosidade - «Estavas no paraíso e abandonaste-o.... Expulso do internato! Expulso dos altares!» - animosidade esta que ele involuntariamente se encarrega de agravar, recusando-se a expor as feridas da alma e do corpo, antes parecendo deleitar-se com elas de forma quase masoquista ou mística. Inconscientemente, ele vai adquirindo a condição de bastardo a que a lógica dos acontecimentos o remete: já não pertence à aldeia e tão-pouco ao seminário...

O leitor, porém, tem de conhecer as causas da expulsão e o adolescente tem de as explicar... O expediente a que o autor recorre contempla as necessidades de um e de outro, da maneira mais eficaz, dotando o herói do sentido do romanesco – o que bem se adapta não só à característica expressão da adolescência, mas também ao grau de cultura de que a personagem dá prova. Desta forma, as tentativas literárias que ela esboça - «Formaria uma espécie de romance...» -, acabam não só por nos sintonizar com a tragédia de que os acontecimentos se revestem, mas igualmente com o drama de uma consciência que deles pretende recolher a significação e a afirmação de ser.

Enredado em si próprio, esgravatando as feridas que o dilaceram, eis-nos perante o capítulo que o autor muito justamente denominou de «monólogo», pois tudo nele são confidências pessoais, sentimentalidades ingénuas, solilóquios mentais, meditações abstractivas – curiosamente, porém, não ausentes de um certo sentido canónico de existência, já que o herói mais não especula senão sobre a reintegração sistemática do Sonho. De facto, apesar da expulsão e da condição de desterrado a que fica submetido, com todo o cotejo de humilhações que experimenta, o seu anseio de servir o próximo, já de si esclarecedor, passa pela causa da religião e da Igreja. Nesta perspectiva, ele é o sofredor inocente do sentido trágico da vida, tal como Cristo crucificado, que resiste e livremente sucumbe, escarnecido.

Em tudo isto, porém, sobrevivem dados subjectivos de outra natureza, que desvirtuam, digamos, a ideia messiânica de que o adolescente se julga revestido. É que, em rigor, a sua tragédia não advém somente das causas primárias que a motivam, mas também da componente amorosa que, por este facto, fica comprometida: a conquista de Isa! - «Era o humilde filho de um carpinteiro e confiava no triunfo futuro para aproximar-se dela, em Cristo. (Oh felicidade suprema, um dia, talvez, até a ouvisse em confissão! Nenhum outro prazer ambicionava cá na terra...)»

Isa, todavia, é uma figura ambígua, cujo estatuto de personagem não vai além do simples esboço, pois que a sua representação pelo narrador, o adolescente, a condena a uma pré-figuração de sentido metafórico, ou seja, de representação viva de um Ideal, Sonho ou Anseio naturalmente restritivo, donde resulta o seu perfil imaterial: »Isa era como os lírios», «um impalpável borrão aguarelado, não mais do que espiritualidade inacessível».

A este mesmo sentido de metáfora não escapa a cena da tempestade, que engrossa o rio, que tudo leva em turbilhão, e em que a família do adolescente, nada sabendo dele, o visiona já suicida, e que mais não é do que a recriação do mito do nascimento do herói.

De facto, o herói renascerá, qual Prometeu «liberto e portador do fogo», embora, na circunstância, ainda de forma insipiente. Para já, todavia, ele atreve-se a fazer uma serenata a Isa, tal como em tempos idos se atreveu a mandar-lhe um bilhete, a coberto do Queiró, espécie de senhor feudal da aldeia, que se perverteu numa vida de boémia em Coimbra, e que ao distingui-lo, tratando-o quase como um igual, mais não procura do que o seu segredo, a razão da sua expulsão, que admite ser de natureza licenciosa...

Obviamente que a serenata acaba mal: em vez de Isa, que apesar de tudo o espreita escondida, afinal, uma outra adolescente agrilhoada, aparece-lhe à janela o pároco que num olhar o fulmina, e, logo de seguida, caiem sobre o adolescente pedras de neve lançadas não se sabe por quem. Os boémios retiraram-se derrotados, enquanto Luís sangra por um arremesso mais certeiro. Nesta cena, ele é bem um prolongamento do boneco de neve em que se apoia (neve: brancura, pureza, sonho...) que, todavia, também significa palhaço, mono...

Eros, contudo, é já desperto, e à imaterialidade de Isa se sucede agora a materialidade de Helena cunhada do adolescente.

Helena é uma outra personagem ambígua, que tanto se nos afigura satânica pelo desafio da carne que lança ao adolescente, como plena de candura, inconsciente do poder que exerce, predisposta somente a ajudá-lo e a compreendê-lo. Nesta tensão amorosa contínua, propiciadora tanto do desejo incandescente quanto da aversão gélida dos impulsos sexuais, se constróem algumas das páginas mais importantes desta novela, situação esta que, não será demais recordar, é aquela que melhor define as aptidões do autor, bem expressas, aliás, não só na sua primeira novela, «Sedução», mas igualmente no seu último trabalho literário, «Desnudez Uivante».

A novela termina com a hipótese do adolescente ganhar a sua vida como professor dos mineiros, apesar de tudo em situação irregular, pois os administradores da «casa incensada» recusam-lhe o diploma de habilitações sem o pagamento prévio devido à sua formação: 36.000$00! Tal é o montante da factura que lhe apresentam pelos seis anos que passou no seminário! Sem esta verba não lhe passam o diploma! Mas, como logo ficaremos a saber, pouco adiantaria, pois «o Laranjo e o prior naturalmente inquietavam-se. De toda a parte lhes vinham escutas, de toda a parte palavras inéditas que era irritante dizerem-se apoiadas no Evangelho...» Daqui não tardar a sua prisão pela Guarda Republicana, que o algema e o conduz sob escolta para a cidade, renovando assim o ciclo que o seu pai já sofrera...

Exposto que está, a traços largos, o trama narrativo desta novela, importará acrescentar que conotações e concessões demasiado temporais, tanto com a estética neo-realista, quanto com uma espécie de neo-romantismo fim de século, a diminuem perante a visão contemporânea, apesar de lucidamente o autor ter desenvolvido, de forma superior, a componente da realidade interior, paralelisticamente com a realidade social. Nesta perspectiva, bem podemos afirmar que José Marmelo e Silva soube, como ninguém, conciliar dois tipos aparentemente opostos de humanismo, o da «Presença» e o do «Neo-Realismo», propiciando-nos, num tempo único, o exemplo literário da libertação do homem, individual e colectivamente considerado, estabelecendo a coerência psicológica com a relação social afim, já que o drama do adolescente, tal como o drama da gente da aldeia, se revelam dependentes do mesmo sistema ideológico que, na atitude repressiva, atinge todos por igual.

Apesar disto, ambos os vectores fraquejam: o primeiro pela preocupação excessiva duma metafísica ou sede do absoluto que, à falta de suporte adequado, se serve de hipérboles, bem evidenciadas, aliás, nos vocábulos expressos em letras maiúsculas (Sonho, Ideal, Ânsia, Vida, etc.); e o segundo pela ligeireza documental de que se reveste, o que nos conduz, inevitavelmente, para o paralelismo com «Minas de S. Francisco», de Namora, que antecede em dois anos o «Adolescente».

Mas antecederá mesmo, ou tão-somente se terá adiantado com algum sentido de oportunidade? Eis que, de novo, nos confrontamos com o espectro de uma estranha cabala, dado que, em alguns círculos literários, paira a dúvida sobre a primazia do tema entre os dois autores...

À margem, porém, deste pormenor, o que mais perene se nos figura nesta novela de José Marmelo e Silva, é a personalização da figura do adolescente, plena de fragmentação, entre a revolta e a submissão, a certeza total das suas crenças e a dúvida contumaz, sendo precisamente nestas dicotomias que ela logra uma viva e eficaz identificação.

Nesta perspectiva, a queda do adolescente, quer se relacione com a expulsão que sofre no seminário, ou com a prisão posterior, não pode ser encarada como a mera representação da sua juvenil fraqueza, mas antes com a afirmação de uma consciência plenamente assumida, que se propõe acordar o povo «para a realização heróica», tal como ele a realizou, que o mesmo é dizer acordá-lo para a liberdade. E, assim, o ataque que ele sofre ao ser conduzido para a prisão, pelas costas e pelo guarda republicano, se revela como a metáfora de todos os outros ataques e fatalidades que perseguem o adolescente, pura exaltação do herói, que encontra finalmente o seu caminho, espécie de cordeiro sacrificado ao grupo, ao colectivo…

Ele é, finalmente, o «anquilosado» que se libertou através do «sonho», alcançando o verdadeiro significado da «aventura» da existência humana, entre o «ter e o ser» e a «sedução» constantes, dando-nos de tudo isto o seu «depoimento».

Assim sendo, a questão derradeira que nos fica é a de avaliarmos o grau de resistência que a novela exibe face às coordenadas sócio-existenciais dos dias de hoje. A resposta ao quesito é complexa, pois o conceito temporal que a determina é obviamente divergente pelo grau etário dos testemunhantes chamados à apreciação. Para nós, mais velhos, que bem ou mal representamos uma geração que com José Marmelo e Silva possui largas e profundas afinidades, só podemos testemunhar a veracidade dos factos narrados – a delegação que o Estado concedia à Igreja na educação dos filhos mais válidos da Nação, o sistema castrador e oportunista que tal ministrança implicava, apesar de tudo, porém, relevante, pois outro destino de educação para o povo não existia; a estratificação e petrificação de uma sociedade que, através do nascimento e das condições de fortuna, condicionava as oportunidades de cada um; a castração que todo o assomo de liberdade sofria; a imutabilidade dos valores; a exploração do homem pelo homem, etc. E, nesta medida, afirmar a sua perenidade. Para os mais jovens, todavia, cuja existência e experiência é manifestamente outra, como outras são as perspectivas de vida que se lhes deparam, impondo-lhes outros tipos de provação e de objectivos, fica-nos a dúvida, a quase certeza, de que outra será a apreciação. E aqui sobrevive um bizarro paradoxo, porque o drama deste «adolescente», que data de 1948, deveria colher hoje maior identificação do que na época em que foi escrito. De facto, enquanto que em 1948 o perfil deste «adolescente» constituia, digamos, uma excepção, pois bem escassos eram os que atingiam o grau de cultura de que este se reveste, e, concomitantemente, logravam saídas independentes, de auto-realização (realizar é tornar real), bem mais grave é a situação de hoje, em que milhares de universitários, para não falarmos noutros de mais reduzido nível académico, se debatem perante o desemprego ou utilização laboral incompatível com os seus mais secretos anseios, fazendo deles uns outros adolescentes agrilhoados.

Apesar disto, repetimos, estamos em crer, escassa compreensão colherá «Adolescente Agrilhoado» junto daqueles a quem verdadeiramente se destina. E isto somente se ficará a dever ao envolvimento social que se encontra inexoravelmente ultrapassado, posto que não divergente, e ao tipo de filosofia, ao modo de pensar, de ser e de estar, que é também inexoravelmente outro. Daqui resulta, ainda, o estranho paradoxo que é o de José Marmelo e Silva, especialmente neste «Adolescente Agrilhoado», ter construído uma obra objectivamente dirigida à juventude, mormente com a preocupação de contribuir para a sua afirmação de ser, para a resolução dos seus problemas, e hoje, praticamente, sobreviver à margem deste endereço.

Se assim porventura acontece, teremos de considerar tal acontecimento não como uma fatalidade mais para o autor, mas como um sinal dos tempos, da mudança contínua que tudo devora. Pois como pensar de outra maneira, se justamente este tempo e esta mudança os ajudou ele a construir?

(Jornal de Notícias: 9.6.87; 15.9.87)

Ramiro Teixeira, Além Texto (Ensaios de crítica e de jornalismo literário), Porto, Limiar, 1989, pp. 101-118.

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