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O desenvolvimento da sintaxe nas crianças

INTRODUÇÃO

A aquisição e o desenvolvimento da sintaxe por parte das crianças, embora seja uma temática muito específica no âmbito da Psicolinguística, é, todavia, de suma importância o seu estudo e reflexão, para procurar compreender processos, estratificar fases de desenvolvimento e remediar problemas de adequação.

No nosso estudo, procuraremos dar uma visão acerca das principais questões que se colocam a respeito da sintaxe nas crianças, desde o seu nascimento até à idade dos seis anos, idade esta aceite pela maioria dos investigadores como o términos da aquisição das estruturas primárias e fundamentais da linguagem.

Num primeiro capítulo, falaremos do lugar que a sintaxe ocupa no contexto da linguagem humana e da sua importância para o desenvolvimento lógico e linguístico, sublinhando a opinião de alguns investigadores que a consideram a parte fundamental da gramática. No segundo capítulo, apresentaremos as várias fases da aquisição da sintaxe e opiniões diversas acerca das mesmas, em especial o problema das palavras-frase e do estilo telegráfico.

No terceiro capítulo, trataremos da problemática da imitação, por parte da criança, da fala do adulto e o contributo que este tem para o desenvolvimento da linguagem dos mais novos através do seu contacto directo. No quarto e último capítulo, exporemos algumas teorias acerca do desenvolvimento da sintaxe.

1. SINTAXE E LINGUAGEM

Renzo Titone, na sua obra Psycholinguistique Appliquée, pergunta como é que se poderá definir a linguagem. Apresenta várias definições: Une première définition pourrait être la suivante: le langage est un instrument de communitation verbale entre les êtres humains. C'est là évidemment une définition d'ordre général et fonctionnel. Une définition plus précise, de nature analytique, qui met en relief les composantes dynamiques du langage, pourrait être formulée ainsi: le langage est une habilité complexe, ou mieux un ensemble d'habilités de nature physiopsychologique fonctionnellement organisées et destinées à la transmission de messages verbaux. Il s'agit donc d'un ensemble de capacités au niveau neurophysiologique et au niveau psychologique, réciproquement articulées, destinées à produire des signes qui ont valeur de symboles à caractère sensoriel et nantis de conscience.» (1)

Michael Studdert-Kennedy, num artigo crítico ao livro Language and species de Derek Bickerton, comenta: «Bickerton argues, we must recognize that language is primarily not a means of communication, but "a system of representation, a means for sorting and manipulating the plethora of information that deluges us throughout our waking life" (p. 5). Before we can talk, we have to have something to say and language is, in the first instance, a means of representing to ourselves what we have to say. If this is so, the history of language is a history not of animal communication, but of animal systems of representation. More broadly, the history of language is the history of consciousness.» (2) E acrescenta: «every creature with a nervous system from earthworm to human, has a representation of the world. Representations are normally veridical (if they were no, how would the creature survive?), but incomplete adequate to their function, but not optimal.» (3) Para Derek Bickerton, a parte mais importante da linguagem, aquilo que faz com que se distingam os seres humanos dos restantes animais, é a sintaxe: «Not all paths across a terrain are passable, and not all strings of words form sentences. Permissible strings are shaped by structural principles (predictability, grammaticization, syntax) of which the most important, and the one that "most decisively separates us from other species" (p. 51), is syntax.» (4)

Diz Renzo Titone que a sintaxe «précède la morphologie dans le développement grammatical, ce qui signifie qu'elle est étudiée en priorité par les psychologues et les linguistes (la langue comme système est avant tout une structure globale). L'étude du langage infantile notait Leopold révèle rapidement que les moyens morphologiques sont le luxe des langues pleinement développées. L'enfant tout jeune peut s'en passer, sans qu'il en résulte de graves inconvénients.» (5) Ángel López García define a sintaxe como «un mecanismo de combinatión de símbolos». (6)

Para A. R. Luria, a palavra é o elemento fundamental da linguagem. Na sua obra Conciencia y lenguaje, considera haver alguns psicólogos e linguístas que opinam que a unidade básica da língua, e talvez da linguagem, não é a palavra isolada mas a alocução verbal ou a sua forma mais simples, a oração. (7) Argumenta, no entanto, que uma palavra isolada ainda não expressa um juízo completo, uma ideia completa. Pelo contrário, a frase, ainda que seja simples («a casa arde», «o cão ladra») não só designa algum objecto ou fenómeno, mas também um determinado pensamento, um determinado acontecimento. Precisamente por isto, uma série de psicólogos e linguístas desde Humbolt e Saussure, passando por Potebnia, afirmam que não é a palavra mas a frase ou a oração a unidade fundamental da língua viva, a unidade fundamental da comunicação. Se a palavra é o elemento da linguagem, a frase é a unidade da língua viva. (8)

Sendo a linguagem a articulação lógica de sons, palavras, regras gramaticais e significados, é uma das habilidades mais difíceis de interiorizar por parte dos seres humanos recém-nascidos. Por isso leva, em boas condições, cerca de seis anos a adquirir. A capacidade metalinguística, isto é, o reconhecimento de sons, regras gramaticais, significados e expressões ambíguas, coincide com o fim do processo de aquisição da linguagem, o qual tem lugar por volta dos seis anos; depois desta idade, a criança não faz mais do que aperfeiçoar as suas estruturas linguísticas e desenvolver o seu vocabulário. Nessa tenra idade, já se pode considerar a criança um falante competente. (9)

2. ETAPAS NA AQUISIÇÃO DA SINTAXE

Paule Aimard, na obra Le langage de l'enfant, defende que a criança compreende o que ouve antes mesmo de saber falar: a partir dos seis, sete meses ela sabe bem que a repreendem, que lhe proíbem qualquer coisa. Por volta de um ano, ela compreende imediatamente se o adulto fala de passeio, de dormir ou de chocolate. O carácter particular da linguagem que o adulto dirige à criança fornece-lhe indícios que lhe permitem progressivamente compreender o discurso de outrem: ela compreende indiscutivelmente algumas palavras, as palavras mais simples e mais repetidas na vida quotidiana (comer, passeio, dormir, etc.), as que designam os objectos mais familiares (biberão, ursinho, boneca, etc.), os alimentos correntes, a roupa que veste. Estas palavras são aquelas que ela ouve constantemente, aquelas que lhe interessam, nas situações que ela conhece. Ela compreende também, e talvez mais precocemente, as entoações de voz. J. Mehler verificou que bebés de algumas semanas reagiam diferentemente à voz materna, com ou sem entoação. (10)

A criança constrói a sua linguagem a partir daquilo que ouve, isto é, a partir das formas orais. A divisão em unidades está longe de ser evidente: na oralidade marca-se apenas o fim das frases, mas raramente o fim das palavras. Ora, a criança ignora que existam frases e palavras. Utiliza durante certo tempo palavras isoladas ou enunciados de uma só palavra, denominados palavra-frase ou holofrase. (11)

As palavras isoladas com as quais se inicia o desenvolvimento da linguagem na criança, diz-nos Luria, são na realidade «orações de uma só palavra», estão ligadas a uma acção real. Assim, a palavra «boneca»» pode significar na criança «dá-me a boneca», «quero a boneca», etc. (12)

Fala-se de palavra-frase para os enunciados de uma só palavra, porque nós temos muitas vezes necessidade de uma frase inteira. A criança não é capaz de produzir um enunciado da dimensão de uma frase; a forma está ainda reduzida à expressividade mínima, deixando um grande lugar para o não-dito, e daí à interpretação do interlocutor. Através da entoação, da mímica e do gesto, a criança tenta tornar o seu enunciado explícito. Todos os meios de comunicação não linguísticos vêm em socorro da linguagem ainda insuficientemente organizada para veicular o que a criança ainda não sabe transmitir pela fala. É assim que, segundo o contexto e as informações não linguísticas, dói-dói pode significar: «olha, estou ferido na ponta do dedo»; ou ainda: «olha o dói-dói, isto é, a marca vermelha que eu tenho na ponta do dedo»; ou ainda, acompanhando-se de um gesto agressivo: «eu bato nesta porta que me fez um dói-dói há bocadinho, ela é a culpada de eu ter um dói-dói». Segundo o caso, dói-dói pode ser uma frase, uma palavra, pode qualificar um objecto, ou até lançar um apelo ao adulto com o recurso à ficção («Eu comporto-me como se... tivesse um dói-dói»). (13)

Diz Renzo Titone que a palavra-frase «est donc aussi une conquête globale, générique, indifférenciée, qui exige une élaboration ultérieure, en se différenciant et en s'articulant, dans l'imitation toujours plus parfaite du discours des adultes. Les premières synthèses expressives supposent les premières analyses: l'usage toujours plus conscient des constructions complètes implique en même temps une conscience toujours plus réfléchie des fonctions de chaque élément de la proposition. Le lien étroit entre le développement de la syntaxe du langage de l'enfant et le développement de sa pensée apparait clairement: l'incorporation conceptuelle de la réalité et l'élaboration logique des données se reflètent clairement dans les structures linguistiques ainsi que dans la fonctionnalité changeante et variée qu'assume le langage durant toute la vie de l'enfant.» (14)

O que é que determina a passagem das palavras isoladas para a frase? Para Luria, se a palavra isolada designa o objecto (a acção ou a qualidade) e o generaliza, a frase é a expressão de um pensamento, de um juízo determinado. Qual o processo de criação da mais curta informação verbal? A psicologia clássica, partindo das concepções do associacionismo, limitou-se a afirmar que a frase ou oração são o resultado da associação de palavras isoladas, cada palavra evocando uma série de associações, isto é, de outras palavras, cuja união costitui a oração completa. É evidente que tais intentos de compreender a origem da alocução completa a partir dos significados isolados da palavra são inconsistentes. (15)

Luria entende a frase como um sistema organizado serialmente. Certas palavras são apenas elementos de um grupo de palavras mais complexo. Assim, por exemplo, a palavra amar exige uma outra palavra que a complemente, que responderia à pergunta a quem?; a palavra comprar evoca necessariamente a palavra que corresponde à pergunta o quê?. Tais uniões sintácticas elementares aparecem na criança enquanto a palavra, que se encontra numa ligação indissolúvel com as intenções práticas, as acções ou os gestos da criança, começa a adquirir independência. (16)

Com a passagem da palavra a oração, aparece um novo princípio de organização da linguagem e um novo princípio de organização da fala. Em linguística denomina-se princípio sintagmático. Consiste em que, na base da organização dos enunciados verbais não se encontra uma hierarquia de contraposições, mas a passagem fluida de uma palavra a outra e, se examinarmos uma oração mais simples, por exemplo «a casa arde» ou «o cão ladra», vemos que não se trata aqui da contraposição entre a palavra casa e a palavra arde ou entre cão e ladra. É sabido que as orações, tanto simples como complexas, não aparecem repentinamente na criança, mas formam-se através de um processo de prolongado desenvolvimento. Nas primeiras etapas, a criança possui só palavras isoladas e se lhe pedirmos para que descreva um quadro, enumerará os objectos que aí estão representados. Só muito mais tarde se observará a utilização, não já de palavras isoladas, mas de uma série de palavras, as quais não se subordinam ao princípio paradigmático de estruturação, mas entram num sistema de séries verbais ou de encadeamentos sintagmáticos sucessivos. Estes sistemas constituem a unidade de expressão da ideia. (17)

As palavras que entram na oração formam a alocução, a formulação da ideia ou do acontecimento e são, em consequência, a unidade do juízo. Tais grupos de palavras são constituídos por elementos sintácticos isolados e, nos casos mais simples, limitam-se apenas ao sujeito e ao predicado («a casa arde»). Nos casos mais complexos, incluem o sujeito, o predicado e o complemento («a menina toma chá»). Sobre esta base formam-se enunciações que podem expressar, praticamente, qualquer ideia ou pensamento. Em todos estes casos, a ideia, expressa pelo sistema de palavras, submete-se, não ao princípio de contraposição e de organização hierárquica, mas ao princípio da organização sucessiva sintagmática. (18)

A organização sintagmática da alocução verbal inclui na sua composição pelo menos duas palavras: o sujeito e o predicado, o substantivo e o verbo. Esta organização sintagmática da oração pode ter distinta complexidade. Nos casos mais simples, limita-se a duas palavras; nos casos mais complexos, a estrutura de sujeito e predicado conserva-se, mas cada um dos componentes divide-se em grupos complementares. Exemplo destas frases mais complexas pode ser a construção do tipo: «a menina toma chá», na qual, além do sujeito e do predicado, se distingue também o complemento. A frase adquire aqui um carácter mais complexo. (19)

As estruturas sintácticas desempenham uma importante função na memória, porque as sequências de palavras recordam-se melhor dentro de uma estrutura do que em forma de lista. A partir dos 18/20 meses aparecem os enunciados de duas ou mais palavras. Não se trata de um círculo evolutivo. A criança produz simplesmente pedaços de ligações faladas um pouco mais longas. (20)

O fenómeno de produção linguística pode representar uma inversão do fenómeno da compreensão verbal nos domínios morfológico e semântico-léxico, mas dificilmente nos outros dois, a fonologia e a sintaxe. Os psicolinguístas colocam dois tipos de questões a propósito do processamento: a) Quando começa o processamento?; b) Existe retro-alimentação de informação? Inicialmente, acreditou-se que o processamento coincidia com a fronteira da oração, isto é, que ao falar se vão escolhendo palavras e se inserem numa estrutura sintáctica que chega até à fronteira oracional. (21)

Quando é que se poderá falar de sintaxe? Não existe nenhum dado acerca do momento exacto em que a criança começa a utilizar as palavras isoladas. Nós verificamos que muitas vezes a palavra tem valores, sentidos e funções múltiplos. Pode-se tentar, por conseguinte, não tomar de um modo isolado os enunciados de uma só palavra, mas de os situar no desenrolar do discurso. Tudo se passa como se a criança, incapaz de combinar duas palavras, utilizasse uma estrutura vertical, isto é, uma série ou uma sucessão de enunciados de uma palavra, para exprimir o que o adulto teria dito com muitas palavras. Fala-se habitualmente de sintaxe logo que começa a aparecer uma combinação, o que implica pelo menos um enunciado de duas palavras, tendo em atenção que os signos combinados pela criança por volta dos dois anos têm analogias com o que produziria um adulto para exprimir a mesma coisa. (22)

É por volta dos 18/20 meses que a criança começa a aproximar duas unidades ou dois signos que se apresentam muitas vezes sob a forma de unidades de duas sílabas: CVCV + CVCV (consoantes-vogais) ou outras combinações menos frequentes: VCV + CVCV, etc. Estas unidades dissilábicas são geralmente simplificações das palavras correntes: popó papá (o carro do pai), pota mamá! (mãe, batem à porta,). A tendência infantil de redobrar as sílabas explica a frequência das produções do tipo: dodo, dada, gugu, papa, mamá, etc. (23)

A técnica sintáctica mais utilizada pela criança é a sucessão: popo papá, pota mamá, ó-ó bebé. A ordem de ocorrência não permite geralmente atribuir uma função particular a cada unidade: pota mamá ou mamá pota parecem designar a mesma realidade, sendo ambas as variantes produzidas pela criança na mesma fase de desenvolvimento. Nada permite traduzir os dois enunciados com absoluta certeza. Podem significar: mãe, batem à porta; mãe, fecha a porta; a mãe abriu a porta; mãe, abriram a porta; mãe, deixa-me abrir a porta. Quanto à ordem do enunciado, os adultos podem atribuir-lhe valores e funções diversas. No entanto, para a criança, os dois enunciados são iguais. A maior parte dos enunciados de duas palavras resultam sem dúvida de uma simples justaposição. A ordem do enunciado não é, talvez, significativa e não parece ter qualquer relação com as funções, ou pré-funções, sintácticas. (24)

Uma característica da sintaxe precoce é o número de simplificações que caracterizam as produções da criança em relação à linguagem que ela ouve. Estas simplificações não afectam unicamente a sintaxe, mas todos os níveis estruturais das produções. As modificações formais são de tal modo gerais e constantes que os primeiros enunciados não têm quase nada a ver com o que diria um adulto nas mesmas circunstâncias. (25)

Como característica geral, comum a todas as etapas da sintaxe infantil, explica Ángel López García, destaca-se o seu "estilo telegráfico", o qual, inevitavelmente, conduz a ambiguidades: perante mamá sapato não sabemos se interpretar mamá põe-me o sapato, mamá tem um sapato, este é o sapato da mamá, quero que a mamá me dê o sapato, etc. (26)

Quando das primeiras articulações orais, a criança serve-se de qualquer palavra que ouve. Essas palavras que a criança utiliza são geralmente indispensáveis à comunicação. Elas veiculam uma significação, às vezes ambígua, necessitando que o interlocutor opere uma transposição se quiser descodificar a mensagem. A maior parte são palavras com conteúdo semântico que corresponde mais ou menos a verbos, substantivos, adjectivos. São indispensáveis e veiculam um máximo de informação segundo um princípio de economia que recorda os telegramas, razão pela qual a expressão estilo telegráfico tem servido para qualificar as produções deste período. Com efeito, como nós faríamos ao enviar um telegrama, a criança negligencia, ignora as palavras ditas funcionais, aquelas que marcam a relação existente no interior do enunciado: os pronomes, os artigos, as preposições, etc. O estilo telegráfico é corrente nas produções da criança. Dura mais ou menos tempo conforme as crianças e a atitude dos adultos que o podem ou não encorajar. No entanto, ele não intervém nas estratégias de compreensão. A maior parte das investigações mostra que a criança compreende melhor o enunciado gramaticalmente correcto do que o mesmo em estilo telegráfico. (27)

Por volta dos dois anos, produz-se na criança uma explosão extraordinariamente rápida e produtiva de uma capacidade difícil de qualificar: uma dinâmica verbal ou linguística, que terá talvez analogias com o que determinados autores chamam competência. Ao mesmo tempo que a criança adquire novas palavras, é posta à sua disposição uma quantidade de modelos de funcionamento que lhe permitem num tempo record na ordem de um a dois anos construir simultaneamente todos os sistemas e subsistemas graças aos quais a língua funciona. (28)

A criança que começa a falar ignora as dimensões e o nome das unidades linguísticas que utiliza. Não sabe se o que importa no enunciado é a ordem do léxico ou a ordem dos elementos sintácticos. O que importa para a criança é produzir um enunciado que lhe permite fazer-se compreender. Ela não coloca a questão do sentido. Embora nós o reduzamos ao léxico onde a tradição o confina muitas vezes, a verdade é que o sentido na criança está em todo o lado: na sintaxe, na entoação, no gesto. (29)

Renzo Titone, na sua obra Psycholinguistique Appliquée, refere os vários estádios apresentados pelo investigador M. M. Nice já em 1925: «les phases par où passe l'enfant pour la formation de la phrase: 1º stade de la phrase consistant en un seul mot (de 4 à 12 mois); 2º stade de la première phrase (de 13 à 27 mois, avec une moyenne de 17,5 durant 4 à 7 mois), caractérisée par la prépondérance des noms, l'absence d'articles, de verbes auxiliaires et copulatifs, de prépositions et de conjonctions; 3º stade de la phrase brève et incomplète, formée de 3 4 mots, avec les mêmes caractéristiques que le stade précédent ou presque, tout au moins en mesure mineure, sans maitrise des flexions et avec seulement une ou deux phrases composées sur cinquente; 4º stade de la phrase complète (à 4 ans environ), avec 6 à 8 mots, caractérisées pour la plupart par une grande compléxité et élaboration qui s'explique par l'usage de termes relationnels et par une grande maitrise des flexions.» (30) Refere também algumas descobertas de outros investigadores, nomeadamente de Frontali: «Frontali avait noté que jusqu'à 15 mois la phrase n'était composée généralement que d'un seul mot. [...] Après 16 mois, il existe des phrases de deux mots, puis les premières propositions composées de sujet-verbe-object ("ouve Noa!", "ouvre Nora!"). Vers de dix-huitième mois, il existe déjà des phrases de deux propositions coordonnées entre elles ("la viande oui, maman chocolat": "la viande oui, maman m'a donné aussi du chocolat"); peu de temps après apparait aussi l'hypostase ("minou viens, maman chocolat": "minou viens, maman te donne du chocolat"). Frontali notait que le caractère de la proposition dépendante dépendait de la modulation de la voix. C'est vers 24 mois qu'apparaissent les interrogatives construites avec le conjonctif et les premiers exemples de phrases hypothétiques ("si je me fais mal au pied, je mets un décament", "médicament").» (31)

Ángel López García propõe quatro etapas na aquisição da sintaxe por parte da criança: Num primeiro momento, a criança usa holofrases, isto é, palavras que correspondem a uma oração e que têm um valor dependente do contexto. E explica que os primeiros enunciados da criança são sempre expressões de uma só palavra: mamã, cama, água, etc. Tem havido linguístas que consideram que estas palavras são simplesmente rótulos das coisas presentes no momento da fala. Todavia, a maioria pensa que se trata de holofrases, isto é, de enunciados equivalentes a uma oração em que a palavra que os expressa vem a representar a ideia presente na consciência da criança. Estas palavras-frases com que se inicia a linguagem são sempre substantivos, isto é, pertencem justamente à classe de elementos que, por poder aparecer em qualquer posição da estrutura sintáctica (como sujeito, complemento e modificador), são capazes de representá-la em qualquer situação contextual: daí que um autor como McNeil tenha comparado o desenvolvimento da oração a partir da holofrase com o crescimento dos organismos a partir de uma só célula inicial, o zigoto. (32)

A segunda etapa do desenvolvimento sintáctico caracteriza-se pela aparição de estruturas duais do tipo mamá dá, mamá ali, popó anda, e alcança-se por volta dos 18 meses. Como se pode observar, a oração desdobra-se num substantivo e numa palavra funcional, ou seja, corresponde à regra «oração = classe funcional + classe aberta (substantivos)»; às vezes muda a ordem «classe aberta + classe funcional» ou falta a classe funcional, mas nunca se produzem enunciados sem termos da classe aberta. (33)

A terceira etapa do desenvolvimento sintáctico caracteriza-se por ulteriores subdivisões da classe das palavras funcionais, enquanto que a das palavras abertas permanece mais ou menos estável: primeiramente (por volta dos 21 meses) a classe funcional subdivide-se em artigos, deícticos e noutra subclasse funcional indiferenciada; mais tarde, por volta dos 24 meses, esta subclasse funcional dá lugar a uma tripartidação «adjectivos/ possessivos/ subclasse funcional». (34)

Por volta dos 4/5 anos a criança adquiriu a sua sintaxe básica. A partir daí e até aos 11/12 anos, produz-se um processo de depuração que consiste em eliminar o excessivo número de paradigmas analógicos, ao qual se chega mediante a retenção memorizada de «excepções». A criança que, nas suas primeira etapas, aprendeu fazi (por analogia com comi, parti, senti) mas mais tarde acostumou-se a dizer fiz graças ao que ouvia dos adultos, começa a tomar consciência das excepções. Esta última etapa, ao ser um processo de aprendizagem não automático paralelo à aquisição de outros conhecimentos na escola, não se dá da mesma maneira e com o mesmo grau de perfeição em todas as crianças, marcando o início de uma diferenciação social e cultural que o sociólogo Bernstein chamou «código ampliado vs. código restringido». (35)

Paula Menyuk, na sua obra Language Development. Knowledge and Use, prefere tratar a problemática da aquisição da sintaxe em conjunto com a semântica, pois uma é o complemento da outra, não se podendo, no plano do discurso, estudar cada uma separadamente, visto que a criança não distingue plano do significado e plano do significante. Considera, baseando-se em estudos de autores diversos, que as combinações de palavras têm normalmente início no fim do segundo ano de vida: «word combinations usually begin toward the end of the second year of life (eighteen months plus). There is a growing body of evidence, however, that indicates that the infant is able to comprehend action-object and even actor-action-object relations before he or she can consistently produce two-word utterances.» (36) É por volta dos cinco anos que a criança terá completada a aquisição das estruturas semantácticas: «Although five-years-old children were quite good at producing class extensions, only the seven-years-old were able to consistently judge that these extensions were deviant. The researchers suggest that only children aged seven are able to "inhibit" the generation of these class extensions because they have knowledge of exceptions to the general rule.» (37)

Paula Menyuk considera que a criança começa por pronunciar duas a três palavras relacionadas entre si por volta dos dois/três anos: «From two to three years, the child begins to put together the pieces of utterances that were present in two-word combinations. The child takes pieces, such as actor+action and action+object, and puts them together in actor+action+object utterances.» A criança só começa a tomar consciência das regras gramaticais a partir dos três/quatro anos: «From the period of about three to four years the child begins to acquire the specific rules of the language for generating speech acts.» (38)

A partir da segunda infância, a criança constrói enunciados de duas a três palavras e compreende as relações básicas de sujeito/verbo/complemento: «The child at the beginning of early Childhood is primarily producing two– or three-word utterances and understanding the basic relations of SVO ("boy kiss girl") and modifier plus S, V and modifier plus O ("little boy kiss little girl"). By the end of this development period the child is producing complex utterances that contain all the markers that are needed to modify subjects, verbs, and objects and has intuitive knowledge of the rules of a particular language for combining elements in utterances.» (39)

As suas ideias acerca da aquisição da semantaxe podem resumir-se no seguinte quadro:

PERÍODOCONHECIMENTO
Infânciarelações semânticas básicas

Algumas regras de contexto linguístico

regras de ordem de palavras
Segunda infância Relações sintácticas de SVC

Expansão de tipos de frase

Coordenação e subordinação em certos contextos

Conhecimento consciente da boa aprendizagem das regras
Terceira Infância e adolescência Reorganização das regras de semantaxe

Conhecimento consciente de regras complexas

Excepções à regra e apreensão superficial

Coordenação e subordinação em todos os contextos


3. A IMITAÇÃO


A linguagem do adulto fornece à criança modelos a imitar, (fonemas, certas palavras e expressões) e a actualização de combinações através das quais a criança reconstitui as regras pelos seus próprios meios.

O adulto adopta pouco a pouco para falar ao bebé um registo de língua que utilizado electivamente. As características são bem conhecidas: frases curtas, simplificações sintácticas, vocabulário simples, que estejam em relação com as situações concretas familiares da criança (alimentação, jogos, animais, partes do corpo, roupa, etc.). A maior parte dos enunciados está ao serviço da realidade imediata. As repetições são muito numerosas (repetições de sílabas, palavras ou partes de frases) no discurso do adulto: repetindo o mesmo modelo ou certas variantes deste modelo, o adulto permite à criança repetir aquilo que ele próprio diz. No entanto, se a linguagem do adulto permanecesse nas formas pueris que ele emprega no conversar com o bebé de seis meses, a criança não progrediria mais, a sua linguagem permaneceria num certo nível, sendo-lhe impossível alcançar o fim do processo de transformação. (40)

A compreensão depende muito da capacidade de fazer a síntese de informações múltiplas que permitem atribuir um sentido ao enunciado. A significação atribuída pela criança depende muito mais de uma avaliação global do contexto do que de uma descodificação dos detalhes: a criança escolhe a intenção do adulto graças à mímica, aos gestos, à entoação, ao contexto e a uma ou duas palavras de referência. (41)

Nas condições de aquisição normal, a imitação leva a criança a isolar os modelos que têm por vezes a dimensão de uma palavra. A dinâmica da aquisição resulta do compromisso entre a imitação de formas escutadas globalmente e a mobilização dos elementos variáveis. A criança percebe no discurso certos elementos fixos, regulares, e outros variáveis. Ela dá-se conta da permanência de certas variáveis e estabelece uma relação entre marca superficial e as suas condições de ocorrência. (42)

Entre os dois e os três anos, a criança descobre e aplica um grande número de regras de funcionamento que coincidem com as transformações ou as marcas relacionais mais correntes. A criança copia, utiliza modelos, mas ela não os copia fielmente. A aquisição depende de estratégias que ela emprega para compreender, extrair, agrupar, opor, reproduzir, generalizar, empregar o que ela respiga no discurso dos outros. Cada criança reutiliza, reestrutura, recria à sua maneira, em função das suas capacidades perceptivo-motoras aquilo que ouve. Cada uma reutiliza os modelos numa linguagem que lhe é própria. (43)

Peter A. Reich, na obra Language Development, diz que «the total amount of adult speech that children between the ages of two and three a half hear is about one million words. They produce half a million words themselves (Suppes et al. 1974). Since the amount heard is from all sources, by the time they are three, children are talking at least as much as adults.» (44) E acrescenta que as crianças não necessitam de nenhum pessoa presente para ter alguma coisa para dizer.

Renzo Titone refere, na obra atrás citada, que os investigadores Guillaume e Carrol colocaram a hipótese de que a criança aprenderia a sintaxe através da imitação daquilo que ouve do adulto: «l'enfant apprend la syntaxe tout d'abord en imitant des énoncés entiers ou de phrases entendues dans les discussions d'adultes, et ensuite en liant les composantes de ces phrases au fur et à mesure qu'il réussit à en saisir les fonctions. Bien que l'on tende aujourdihui à insister sur le rôle de l'induction et de la discrimination perceptive au lieu de la simple imitation, il est néanmoins vrai que l'imitation prise comme processus interactif par lequel l'enfant réagit par son moyen d'expression individuelle (mots) au système linguistique (langue) de la communauté, doit encore être considérée comme le premier stade de l'acquisition linguistique. La stabilization des structures de base du discours est le résultat de la répétition et de la mémorisation; elles appartiennent au côté mécanique de la langue. D'autre part, les expressions libres, le langage créatif sont le résultat de la discrimination inductive, ou bien d'un choix et d'une recombinaison des éléments déjà repérés auparavant.» (45)

Segundo Bever (1968), para que a criança tenha possibilidades de emitir uma oração é necessário que antes a tenha ouvido. Ora, tal concepção, na opinião de Paule Aimard, não é aceitável, pois dela se depreende que um indivíduo teria de estar toda a sua vida a ouvir 3x1020 orações por segundo antes de poder repetir um enunciado. (46)

4. TEORIAS SOBRE O DESENVOLVIMENTO SINTÁCTICO

São várias e, em certos casos, contraditórias as teorias sobre o desen-volvimento sintáctico. Para os partidários das posições condutivistas como Skinner (1957), a sintaxe adquire-se simplesmente à base de "reforços" dos adultos que procuram a eliminação das ambiguidades e rejeitam a sua frequência. No entanto, esta ideia, ainda que intuitivamente razoável, é contrariada pelos factos: os adultos não só não corrigem os erros gramaticais, mas também os potenciam ao dirigirem-se às crianças num suposto código infantil cfr. O meu filhinho ter soninho? O meu pacanino qué chupinha, qué?, etc. realmente só parece preocupá-los a verdade dos enunciados e, por acaso, a sua textura fonológica, mas não a sua sintaxe perante a expressão bebé qué buçado a reacção habitual do adulto deveria ser não se diz buçado, diz-se rebuçado. (47)

Diz Ángel López García que não é de aceitar a teoria inatista proposta por Noam Chomsky e segundo a qual a criança aprende a sua sintaxe da mesma forma que os cientistas verificam as suas hipóteses, lançando regras derivadas do seu conhecimento inato e confrontando-as com o que ouve, pois, como se disse, os adultos, em geral, não costumam corrigir as construções sintácticas desviantes, de forma que tanto as regras correctas como as incorrectas passariam a ser incorpora-das no código. (48)

À vista dos dados disponíveis, considera este autor que a hipótese mais aceitável parece ser a do armazenamento passivo defendida por Braine (1971). Segundo este autor, a criança possuiria um analisador e uma componente memorizadora com duas fases: ao receber passivamente os enunciados dos adultos, o analisador procederia a uma análise sintáctica, e as categorias e regras assim encontradas se armazenariam na primeira fase temporal da componente memorizadora; quando esta subcomponente recebeu uma informação codificada o número suficiente de vezes, passa-a à segunda fase da componente memorizadora permanente , onde fica armazenada. Assim se explicam duas coisas: por um lado, que primeiro se aprendam as propriedades mais gerais e frequentes, e só mais tarde as excepções; por outro, que os erros ocasionais dos adultos, que poderiam dar origem a regras anómalas, não sejam armazenados. (49)

As teorias sobre a aquisição da sintaxe oscilam entre o tratamento de dois aspectos externos a teoria do reforço de Skinner e o que se orienta em direcção ao metalinguístico, isto é, à categorização Chomsky ou Braine . Para Ángel López García, controlar a imitação é ir superando a fase autista e egocêntrica mediante um afastamento da distorção sintáctica indiscriminada; controlar a catego-rização vem a ser tanto como adquirir a metalinguagem. (50)

Paula Menyuk, no seu livro Language Development. Knowledge and Use, apresenta algumas das concepções teóricas mais conhecidas a este respeito: Chomsky e a gramática generativa tradicional (1966): «This theory suggested that syntax was the basis for semantic interpretation.» A revisão de Chomsky publicada em 1980, que defende: «Children would first acquire what is known as the "core", knowledge of how to express basic relations in the language. They then would acquire the "periphery", the particular constrints that exist in their native language.» A teoria de Pinker (1981), que considera: «either basic lexical and syntactic knowledge are acquired simultaneously». A teoria de Maratsos (1983), que defende que as «semantic categories are precursors to syntactic development». (51)

Ela própria criou o termo semantax, partindo das concepções teóricas de Maratsos. É da seguinte forma que ela explica o termo por si utilizado: «The term semantactic development is used here to describe the changes in structural knowledge that occur over time and that appear to be the product of both lexical and syntactic development.» (52)

Ann M. Peters estudou a aquisição da sintaxe por parte das crianças e escreveu, entre outros, um trabalho intitulado Early Syntax. Nesse trabalho, esta autora começa por dizer que iniciará o seu estudo «with the period just prior to the first word, but I will only attempt to cover early syntax, specifically productions up to several words in length. Moreover, my focus will be on how the learner approaches the problem of the acquisition of syntax, rather than on comparison of children's stages with adult norms. To this end, we will be looking at learners' strategies as well as at identifiable processes and transitions in syntactic development. Before proceeding, I must first introduce some basic themes that will underlie this approach to early syntax.» (53)

Em geral, os estudos e as descrições da aquisição da sintaxe costumam ser organizados pela exposição de etapas, ou estádios, separados entre si, um pouco como aqueles que atrás já referimos. Ann M. Peters, no entanto, considera que esse método não é o mais indicado para o estudo de tal problemática. «If, diz ela, however we are to understand how language develops, we must try to describe what sorts of processes are going on and how the learner is able to move from one stage to the next. This is the motivation for organizing this presentation of early syntax in terms of transitions rather than stages, although we will have to begin by describing some aspects of the stages, which is the basis for the first transition of interest to us.» (54)

E procura explicar a aquisição sintáctica do seguinte modo: «although the child must be born with certain innate mechanisms for processing linguistic data (mechanisms such as ability to make certain phonetic discriminations), many of the processes that we infer the child to be using seem to be indistinguishable from those we infer far other aspects of cognitive development. These processes include: paying attention to perceptually salient stimuli (e.g. those that are frequent, loud, or occurring together with vital activities such as feeding); remembering such stimuli, making discriminatory judgements about these stimuli along a number of biologically salient dimensions (e.g. whether they are the same or different with respect to loudness, pitch, rhythmic patterning, situation of occurrence); and(cross-) classifying these stimuli according to the results of these judgements. Moreover, I see the child as actively using these innate abilities to try to make sense of linguistic stimuli in the same ways that she tries to make sense of stimuli in other cognitive domains.» (55)

O problema das holofrases é por ela colocado nos seguintes termos: «should children's first word combinations be described in terms of their ultimate target, i.e. in terms of adult syntax? Or should they be described in such terms as semantics, case relations, or pragmatics? The argument against using adult grammatical constructs (e.g. noun phrase, subject of sentence) as a descriptive framework is basically that much grammatical machinery is not needed, and is in fact much too powerful at the early stages, and that semantic relations or case categories fit the data much better (see Brown, 1973: 74-147, for a lengthy discussion; also Ewing 1983). On the other hand, the need for the full syntactic machinery to describe adult speech poses the following problem for the semantics / case approach: how can we explain the shift from semantically to syntactically organized word combinations?» (56)

Para tentar responder a algumas destas questões, cita o investigador Nelson: «the child usually has been speaking only a few words for a number of months (3 to 12) and within the space of a month or so – at around 17 to 20 months accelerates the rate of acquisiton of new words from a rate of around 3 or 4 per month to 30-50 per month. [But] individual differences are the rule here [since] some children spurt very early... and some children never spurt at all (1981b: 151-2).»57 Defende que se deve adoptar uma orientação do estudo situado exclusivamente na fala da criança e não pressupondo as regras gramaticais próprias da linguagem adulta. De facto, «trying to adopt a child-oriented perspective has given us some insights into the nature of the linguistic and cognitive problems that the learner must solve, and it has also pointed up how little we actually know about the development of syntax, i. e. what kinds of hypotheses children make about how words can be combined; what sorts of information trigger their revision; what is the balance between minor revisions and major reorganizations; and how individual preferences in mode of processing affect these developmental processes.» (58)

CONCLUSÃO

A sintaxe não é, como verificámos, um problema estanque, exigindo uma constante reformulação de conceitos e concepções. A pergunta que se coloca ao falar-se de sintaxe nas crianças é a de quando começa uma criança a produzir enunciados verbais estruturalmente lógicos. Após o nosso estudo, concluímos que a fronteira entre uma mera palavra pronunciada e uma extensa frase, com vários elementos coordenativos e subordinativos, é muito relativa, pois uma só palavra, mesmo fonologicamente incorrecta, que uma criança pronuncie, pode ser tomada como um enunciado completo.

É ao longo de seis anos que a criança, através do que ouve pelas conversas entre os adultos e os diálogos que estes têm consigo, vai memorizando e reconstruindo as estruturas que lhe permitirão ter um discurso mais ou menos fluente e lógico. Tais estruturas não poderão ser estudadas em relação a uma gramática própria dos adultos, pois a criança nos primeiros anos não tem qualquer consciência das regras. O seu estudo deverá antes ser feito a partir daquilo que a criança é capaz de pronunciar ao tentar fazer-se compreender, abstraindo das regras contidas na gramática normativa da língua materna e residentes no inconsciente dos adultos falantes.

É opinião da maior parte dos investigadores desta matéria que a aquisição e desenvolvimento da sintaxe por parte das crianças não pode ser tida em conta em si mesma, mas em estreita conexão com a fonologia, a morfologia, o léxico e a semântica, formando com elas aquilo que se poderia chamar a linguagem.

NOTAS:

1 Renzo Titone, Psycolinguistique Appliquée, Paris, (traduzido do italiano por Élise Pedri e Claude Darmouni) Éd. Payot, 1979, p. 38.

2 Michael Studdert-Kennedy, Leap of faith: A review of language and species, em Applied Psycholinguistics, 13, 1992, E. U. A. Recensão crítica ao livro Language and species de Derek Bickerton. Chicago; University of Chicago Press, 1990, p. 516.

3 Ibidem.

4 Ibidem, p. 517.

5 Renzo Titone, op. cit., p. 112.

6 Ángel López García, Psicolingüística, Madrid, Editorial Sintesis, 1988, p. 115.

7 Cfr. A. R. Luria, Conciencia y lenguaje, 2ª edição, Madrid, (tradução para o castelhano de Marta Shuare), Visor Libros, 1984, p. 133.

8 Cfr. Ibidem, pp. 133, 134.

9 Cfr. Ángel López García, op. cit., p. 29.

10 Cfr. Paule Aimard, Le langage de l'enfant, Paris, Presses Universitaires de France, p. 62.

11 Cfr. Ibidem, p. 67.

12 Cfr. A. R. Luria, op. cit., p. 134.

13 Cfr. Paule Aimard, op. cit., p. 68.

14 Renzo Titone, op. cit., p. 115.

15 Cfr. A. R. Luria, op. cit., pp. 134, 135.

16 Cfr. Ibidem, pp. 135, 136.

17 Cfr. Ibidem, 137.

18 Cfr. Ibidem, p. 138.

19 Cfr. Ibidem, p. 140.

20 Cfr. Paule Aimard, op. cit, p. 69.

21 Cfr. Ángel López García, op. cit, p. 76.

22 Cfr. Paule Aimard, op. cit., pp. 79, 80, 81.

23 Cfr. Ibidem, pp. 81, 82.

24 Cfr. Ibidem, p. 82.

25 Cfr. Ibidem, p. 84.

26 Cfr. Ángel López García, op. cit., p. 37.

27 Cfr. Paule Aimard, op. cit., pp. 84, 85.

28 Cfr. Ibidem, pp. 85, 86.

29 Cfr. Ibidem, pp. 88, 89.

30Renzo Titone, op. cit., p. 112 (Cfr. M. M. Nice, Lenghth of sentences as a criterion of a child's progress in speech, in J. Educ. Psychol., 1925, 16, p. 370-379).

31 Ibidem, pp. 112, 113 (Cfr. W. F. Leopold, A bibliography of child language, Northwestern University Press, Evanston, Ill., 1952).

32 Cfr. Ángel López García, op. cit., p. 36.

33 Cfr. Ibidem., pp. 36, 37.

34 Cfr. Ibidem, p. 37.

35 Cfr. Ibidem.

36 Paula Menyuk, Language Development. Knowledge and Use, Boston, Scott, Foresman and Company, 1988, p. 167.

37 Ibidem, p. 173.

38 Ibidem, pp. 173, 174.

39 Ibidem, p. 177.

40 Cfr. Paule Aimard, op. cit., pp. 94, 95, 96.

41 Cfr. Ibidem, p. 99.

42 Cfr. Ibidem., pp. 103, 104.

43 Cfr. Ibidem., pp. 105, 106.

44 Peter A. Reich, Language Development, New Jersey, Prentice-Hall, Englewood Cliffs, 1986, p. 106.

45 Renzo Titone, op. cit, p. 195.

46 Cfr. Paule Aimard, op. cit., p. 114.

47 Cfr. Ángel López García, op. cit., p. 37.

48 Cfr. Ibidem, pp. 37, 38.

49 Cfr. Ibidem, p. 38.

50 Cfr. Ibidem.

51 Paula Menyuk, op. cit., p. 161.

52 Ibidem.

53 Ann M. Peters, «Early Syntax», em Paul Fletcher e Michael Garman (editores), Language acquisition, 2ª ed., Cambridge, Cambridge U.P., 1986, p. 307.

54 Ibidem, pp. 307, 308.

55 Ibidem, p. 308.

56 Ibidem, p. 310.

57 Ibidem, p. 312.

58 Ibidem, p. 324.


BIBLIOGRAFIA

AIMARD, Paule, Le langage de l'enfant, Paris, Presses Universitaires de France. Tradução em português do Brasil com o título A linguagem da criança, Porto Alegre: Artes Médicas, (tradução de Francisco Vidal) 1986.

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