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Sant'anna Dionísio e a não-cooperação da inteligência ibérica na criação da ciência – Uma revisitação

ROMAN – Inventen, pues, ellos y nosotros nos aprovecharemos de sus invenciones.

Miguel de Unamuno, Ensayos, II, (1945: 493)

Summary

Sant'Anna Dionísio's explanation for the Iberian peninsula's lack of participation in the advancement of science ofter the XVI century attempts to go beyond Antero de Quental's proposed «Causes of the Decline of the Iberian Peoples». Dionísio suggests that psychological traits prevailing in Portugal and Spain in the last three centuries have fostered attitudes not conducive to scientific enterprises. His views are scrutinized against the background of a two-hundred-year history of debates in Spain on this issue.

Há mais de uma dúzia de anos tenho vindo a ocupar-me da questão da identidade nacional portuguesa, essa obsessão recorrente na história da nossa cultura a partir dos finais do século passado. A grande pergunta que emerge de entre as linhas dos estudiosos e pensadores, do problema é a do porquê da grande diferença entre o lugar de vanguarda ocupado por Portugal no século XVI, e o retrocesso quase contínuo em que o país entrou a partir daí.

Tem-se exaltado devidamente – e não raro até ao exagero – a nossa liderança no campo científico nesse já longínquo século. Mas, curiosamente, em comparação com o espaço concedido ao estudo das razões económico-sociais da nossa decadência, tem sido dada muito pouca atenção ao estudo específico do nosso declínio nesse campo. Que eu saiba, apenas um breve estudo lhe foi dedicado em Portugal. Trata-se do ensaio A Não-Cooperação da Inteligência Ibérica na Criação da Ciência, de Sant'Anna Dionísio, publicado em 1941 na série «Cadernos da Seara Nova», na secção de Estudos Filosóficos.

Qualquer português medianamente culto já ouviu pelo menos falar na decadência portuguesa. Aos conhecedores da história da nossa cultura, o tema parecerá mesmo tratado à exaustão. A partir de Antero de Quental, não faltam alusões e estudos sobre o problema. E, no entanto, essa bibliografia é ínfima quando comparada com a que sobre o assunto a Espanha produziu (1). O mesmo se pode dizer a propósito da questão do declínio científico, subsidiária daquela, mas ambas intimamente relacionadas de modo tão óbvio que não é necessário justificar a afirmação. Se, na vizinha Espanha, é com a reacção de Menéndez y Pelayo que tal questão se torna verdadeiramente nacional já em 1876 – após a publicação da sua obra La Ciencía Española em resposta às críticas de D. Gumersindo de Azcárate publicadas na Revista de España (2) nem é sequer aí que ela tem início. Quase um século antes, em 1782, Masson de Morvilliers assinava o artigo «Espagne» na Encyclopédie Méthodique (3) em que a situação geral do país era descrita em termos pouco favoráveis. Embora a ênfase seja posta na parca contribuição intelectual de Espanha em termos globais, o debate veemente que se lhe seguiu tocou várias vezes a esfera científica particularmente. Mas a abordagem da questão no país vizinho surgiu mais cedo ainda. Ela remonta a 1745, com a publicação das «Causas del atraso que se padece en España en orden a las ciencias naturales», de Benito Jerónimo Feijoo (4). É verdade que os portugueses Luís António Verney e Ribeiro Sanches também tocam o problema, mas ficam muito aquém da frontalidade dos críticos espanhóis neste sector.

Antes de Sant'Anna Dionísio, o caso português foi analisado de modo indirecto num ensaio de Garção-Stockler, Ensaio Histórico sobre a Origem e Progressos das Mathemáticas em Portugal, publicado em Paris no ano de 1819. Escreveu-o «para fazer sentir aos homens despreocup,ados a utilidade das ciências, tantas vezes caluniadas». Apoiada em boa documentação, a análise é ponderada e serena e tanto sublinha os aspectos positivos – no século XVI – como os negativos – nos dois séculos seguintes. A situação na segunda metade do século XVIII é descrita nestes termos:

O estudo da navegação estava reduzido à ultima decadencia, basta dizer que o cargo de cosmographo mór do Reino estava reduzido a oficio hereditario: como se os talentos e as sciencias se transmitissem depois (5) a filhos, à maneira de bens allodiaes em virtude das leis civiz. Toda a sciencia (...) se reduzia ao conhecimento da sphera, e dos diversos meios geographicos, e trigonometricos de determinar no mar a situação do navio pela derrota estimada; isto he pela medida da velocidade avaliada pela barquinha, pelo angulo do rumo determinado pela agulha de marear, e pela mais grosseira e arbitraria estima do abatimento. (Garção-Stockler, 1918: 69).

É apenas numa nota, ainda que longa, que Garção-Stockler propõe uma explicação para esse atraso. A ela se fará referência adiante.

Debrucemo-nos então um pouco sobre a análise levada a cabo por Sant'Anna Dionísio, em texto que, tanto quanto eu saiba, não provocou qualquer reacção assinalável no meio cultural português e é, por sinal, bem pouco, citado, inclusivamente como mera referência bibliográfica. Estamos talvez perante um caso prático de prova inerente à própria tese, em que o silêncio sobre um problema levantado parece altamente significativo como achega de prova. Mas trata-se apenas duma questão de grau. O lugar clássico da reflexão portuguesa sobre a nossa decadência – a conferência do Casino, de Antero de Quental, sobre «As Causas da Decadência dos Povos Peninsulares» – não recebeu até hoje, e por incrível que possa parecer, a atenção dum estudo crítico (6). Não é de estranhar, por isso, que o ensaio de Sant'Anna Dionísio tenha tido sorte proporcional. Sem mais delongas, passemos então um olhar de relance sobre o conteúdo do escrito de Sant'Anna Dionísio.

Com um total de apenas 59 páginas, só quase a meio (a páginas 25) e que o autor entra directamente na sua tentativa de explicação da carência de iniciativa científica na península. Na primeira parte do opúsculo, espraia-se em considerações preambulares e globais sobre «o significado da investigação científica», que constitui mesmo o título genérico desta primeira parte. Subdivide-a, depois, em secções com títulos ambiciosos, nomeadamente «1. O homem e o seu destino», «2. A aspiração de sentido», ou ainda «5. A ciência e a metafísica». Mesmo quando finalmente parece que irá entrar no tema anunciado no título da publicação, na II Parte, intitulada «A Inteligência Ibérica e a Ciência», ela abre afinal com uma primeira secção sobre temática ainda genérica e suficiente para ocupar um grosso volume: «A ciência como obra colectiva». Só depois de sublinhar que nem mesmo após a reforma universitária – resultante das críticas e sugestões de Sanches e Verney –, «os interesses pela investigação científica original se radicaram» (Dionísio, 1941: 27), é que acrescenta:

O espírito de província da inteligência dos portugueses não se alterou. A ciência continuou a ser, entre nós, como era desde o desaparecimento da geração de Pedro Nunes, de segunda mão, e mesmo assim, por vezes, bastante atardada. (...) Por seu lado, a inteligência dos vizinhos espanhóis, a despeito do estremecimento recebido da revolução francesa, não se mostrou mais ciosa de iniciativa indagadora. (1941: 27 s.).

Ao entrar finalmente na análise das causas, Sant'Anna Dionísio fá-lo numa secção intitulada «Causas exteriores, religiosas e políticas e sua insuficiência». Ele filia a sua reflexão exactamente no ensaio de Antero de Quental sobre a decadência peninsular. Para Sant'Anna Dionísio, «nas suas linhas gerais» a explicação de Quental «incontestavelmente» «acerta e esclarece, como ninguém ainda tinha ousado, as fatalidades exteriores que determinaram a apatia peninsular». Com imensa delicadeza ele prepara deste modo a sua participação na reflexão sobre o tema:

Maravilha seria, porém, que uma explicação de um facto tão complexo, e tão sobriamente exposta, como foi, indicasse todos os factores interferentes. O travejamento discursivo da conferência, fortemente preocupado com a fundamentação concreta (como é verificável prestando atenção à invocação incessante de factos históricos) não era favorável à indagação dos factores de decadência intrínsecos no ibérico. (1941: 30).

É aqui, pois, que tem de facto início o contributo de Sant'Anna Dionísio, infelizmente reduzido a umas magras nove páginas. Com efeito, Quental só brevemente aludira ao atraso científico ibérico em relação à Europa, embora tenha chegado a afirmar, na primeira parte da sua conferência – antes de sintetizar as causas nas conhecidas três grandes áreas – que «foi sobretudo pela falta de ciencia que nós descemos, que nos degradámos, que nos anulámos» (Quental, 1970: 188). Depois, já nas páginas de análise das três áreas onde se manifesta o nosso atraso, de novo Antero se refere uma vez mais à ciência, desta vez nestes termos: «as nações modernas estão condenadas a não fazerem poesia, mas ciência» (Idem: 208). Sant'Anna Dionísio acha que a explicação para o fenómeno da falta de ciência na Península Ibérica, não fica abrangida pela que fora proposta por Antero para o, atraso geral peninsular (7). O título da primeira das três secções dedicadas ao desenvolvimento do seu ponto de vista é particularmente directo e revelador: «Inibições íntimas dos ibéricos para a ciência».

Sant'Anna Dionísio não usa de rodeios quando entra na detecção do que ele supõe ser a causa fundamental. Na sua opinião, «uma deficiência de actividade ou interesse espiritual nunca se justifica plenamente alegando uma causa, ou concerto de causas exteriores», e por isso «convêm sempre inquirir se a deficiência não provirá, também, de dentro» (p. 32). Ele prossegue na seguinte passagem, longa para uma citação, mas que é fundamental para entendermos correctamente o seu ponto de vista:

As hostilidades ambientes, até certo ponto, podem ser vencidas pelo espírito, se no mesmo espírito existe alguma tendência profunda (no sentido de isenta e sincera) para alguma ocupação ou interesse. O estudo da biografia dos homens excepcionais, tanto no pensamento especulativo como na investigação científica, mostra que, dum modo geral, todos tiveram de lutar, não só com a incompreensão dos meios em que viveram, como ainda por vezes, em luta declarada ou surda com as mais broncas animosidades. (...) [S]e o investigador, nessa Europa, concebe, experimenta, trabalha e reflecte, é porque, apesar de tudo, tem em si próprio a coragem para viver no silêncio ascético das suas preocupações, alimentando-se exclusivamente da consciência de que a sua missão é, precisamente, a de trabalhar apesar de tudo.

Esta firmeza de ânimo é, infelizmente, um dos elementos raros na compleição humoral do homem ibérico. O castelhano, o andaluz, o catalão, o basco, o galego, o português não são seguramente menos dotados de imaginação nem de capacidade de relacionação abstracta do que os seus vizinhos europeus; não são, porém, tão perseverantes. A decepção cansa-os facilmente. E cansa-os porque, negligentes e volúveis, os ibéricos raras vezes são acompanhados da consciência do valor do princípio de que o mais importante para quem tem a aspiração de atingir alguma coisa de novo nas ciências, não é ter o espírito brilhante e rápido mas concentrado. O hispânico excepcionalmente é dotado do que poderemos chamar a capacidade de viver, em silêncio, no meio da indiferença, para qualquer tarefa especulativa. Carece, enfim, bastante das virtudes de isenção e coragem oculta que definem as personalidades exemplarmente ascéticas da história da investigação livre. (Dionísio. 32s.)

Antes de passarmos aos outros dois pontos da sua tese, convém fazermos aqui um parêntesis para observarmos algumas incongruências e uma circularidade na explicação de Sant'Anna Dionísio. Se os ibéricos não são perseverantes e a decepção os cansa facilmente, o que necessita de ser explicado aqui é exactamente o porquê desse fenómeno psicológico do cansaço pela decepção. Ao propor essa causa mais profunda, o estudioso acrescenta inesperadamente dois outros traços do perfil psicológico dos ibéricos: que são «negligentes e volúveis». Ora, sobretudo o primeiro traço não, se percebe que relação pode ter com o cansaço provocado pela decepção. Além disso, é problemática a causa mais profunda que nos é sugerida. Se é verdade que os ibéricos «raras vezes são acompanhados da consciência do valor do princípio de que o mais importante para quem tem a aspiração de atingir alguma coisa de novo nas ciências, não é ter espírito brilhante e rápido, mas concentrado», há aqui, em primeiro lugar, uma oscilação indecisa entre um estado de consciência que, segundo o autor, está ausente, e uma outra atitude psicológica – a concentração. Mais ainda, Sant'Anna Dionísio faz-nos concluir que, quando existir a primeira, a segunda se seguirá automaticamente, o que precisa de ser demonstrado. Depois, está também implícita nesta passagem a ideia de que a ciência resulta não do «espírito brilhante e rápido», mas do «concentrado». Ora todos sabemos que não é bem assim. Toda a concentração do mundo não é suficiente para uma descoberta; e o brilho e a rapidez não são inimigos da ciência. A rapidez é que poderá ser perigosa na medida em que não permite a observação demorada (por isso, talvez, a oposição entre ela e a concentração). Daí que essa atitude do investigador leve geralmente a conclusões apressadas e mal fundamentadas.

Se prosseguíssemos na análise minuciosa da explicação de Sant'Anna Dionísio, continuaríamos a deparar com enormes dificuldades de toda a ordem. Os seus conceitos não parecem devidamente definidos nem hierarquizados, nem tão pouco logicamente interligados. A única saída possível será a de nos ficarmos pela ideia geral, expressa no título, de que, com raras excepções, os ibéricos não são perseverantes, desanimam rapidamente e não possuem grande capacidade de concentração.

Passemos agora a segunda causa da inibição ibérica para a actividade científica:

Há no seu interior outra corrente não menos desfavorável à limitação e ao aprofundamento; queremos referir-nos às tendências dispersivas do seu viver, normalmente pouco selectivo, traduzindo-se em incuráveis complacências conviventes, em veleidade de compatibilização dos mais divergentes interesses e ocupações, em mil modalidades de compromissos; teremos, enfim, diante de nós o que poderemos chamar as refracções intelectuais do donjuanismo, mórbus que não é, de maneira nenhuma, exclusivamente ibérico, mas que é muito ibérico.

(...) [P]or donjuanismo entenda-se toda a expressão de incapacidade de aceitação, de uma «limitação», tarefa ou «destino».

(...) Em grande número, as mais prometedoras inteligências hispânicas falham devido à inepta e dispersiva existência dos que as possuem. (...) Tais homens nada realizaram de duradoiro porque lhes faltou a dedicação a um assunto. (Dionísio: 34s.).

Afinal, esta causa não é mais do que um desenvolvimento, sob uma perspectiva diferente, da mesma característica psicológica apontada na secção anterior. Na verdade, dizer que os ibéricos têm uma inibição «de dentro» para a concentração e quase equivalente a dizer que eles têm uma tendência para a dispersão.

Na secção seguinte, Sant'Anna Dionísio retoma uma ideia esboçada na primeira. Segundo ele, «o peninsular tem reconhecidas vocações» «para. a 'experiência' ascética, de tonalidade religiosa» (p. 32). Ele explica nos seguintes termos esta sua terceira «causa»:

A divergência interior, particularmente aguda nas personalidades hispânicas, entre a tendência religiosa e a tendência prática é vivente.

(...) A par da queda para o universalismo vago de tonalidade mística, nos peninsulares existe, em suma, uma propensão crassa para o excessivo culto das missões de circunstância. O culto da verdade pura, desinteressada, especulativa ou experimental, não encontra, por consequência, no seu espírito, ara propícia (p. 37s.).

Evidentemente que, ainda que aqui se encontre parte da explicação do fenómeno, estamos longe de uma formulação coerentemente articulada, teórica e empiricamente fundamentada. Mas fica bem claro que a proposta de Sant'Anna Dionísio pretende ir mais longe, na hierarquia das causas, do que a sugerida por Antero. Caso nos restassem dúvidas, é o próprio autor que reforça e desenvolve a sua crítica a Antero, esboçada antes da sua proposta. Sob o título de «Esclarecimento Sant'Anna Dionísio inicia uma nova secção da II Parte do seu opúsculo, confessando esperar que o leitor veja agora melhor as razoes por que atrás dissera que, neste ponto, «a tese geral de Antero, não deveria ser tida como uma explicação completa». O autor prossegue explicitando o seu ponto de vista:

Da reacção tridentina resultou, sem dúvida, um retraimento de funestas consequências para a actividade intelectual dos ibéricos; não é de crer, porém, que essa reacção tivesse o efeito mortal que o pensador-poeta lhe atribui, se o interesse dos peninsulares pela ciência fosse mais apto a viver por si, isento de solicitações ocasionais. (...)

Reconheçamos, por conseguinte, aproximando-nos da tese anteriana, que a passividade e espírito de província dos nossos estudos científicos nos tempos modernos resultou, em boa parte, da privação do elemento fecundante por excelência, a atmosfera de liberdade civil; reconheçamos que a retórica e o academismo, o culto formal do latim e da enfática erudição, tão peninsular, foram, em grande parte, uma derivação da actividade espiritual impossibilitada de se exercer sobre o que mais lhe importaria; não aceitemos, porém, tais explicações senão como indicações dos factores ambientes, e não dos mais profundos, da não-cooperação dos ibéricos na obra científica realizada nos tempos modernos. Galileu, Pascal, Torriceli, Descartes, Harvey, Copérnico não fizeram o que nos legaram em ambiente mais nem menos favorável. Se o embaraço frenedor da investigação original estivesse capitalmente no constrangimento político e religioso, a Península ibérica nas duas últimas terças partes do século XIX deveria ter naturalmente feito um visível esforço de participação na tarefa criadora da ciência. Ora tal esforço não se revelou. E podemos acrescentar que nos melhores momentos mesmo do século em que vivemos persiste em não se revelar. (Dionísio: 44 s.).

É óbvio que, apesar de vaga e desconcertadamente expressa, a visão de Sant'Anna Dionísio pretende ser uma explicação cultural mais profunda na qual se entroncariam as «causas» anterianas. As suas palavras são, a esse respeito, isentas de qualquer ambiguidade:

Entendamos discursivamente o que em visão institucional é tão evidente: que nos povos o interno se projecta, pela acção, no «meio», modelando-o, e que o proveniente deste se infiltra e assimila, por seu turno, na maneira íntima de ser do povo, aparecendo no indivíduo como particularidade aparentemente constitucional (p. 48).

A ser assim, ficam deslocadas para um nível mais profundo as «causas» da decadência peninsular. Existem características comportamentais dominantes nas culturas ibéricas que permitiram o nosso atraso e o alargamento do fosso entre a modernização levada a cabo pelos países do norte da Europa e a nossa permanência no antigo regime, apesar de um período fátuo de glória.

Faço questão de observar que, neste momento, não estou a defender nem a rejeitar a tese de Sant'Anna Dionísio. As críticas que lhe fui fazendo ao longo desta análise limitaram-se a pormenores decorrentes de dificuldades de interpretar e harmonizar o seu ponto de vista. Importa aqui destrinçar apenas as posições do estudioso em relação às de Antero e delas extrair as implicações teóricas. Assim, há uma dúvida que naturalmente surge na mente de qualquer leitor atento. É sobre a natureza dessas supostas inibições culturais ibéricas, obstáculos ao nosso envolvimento na actividade científica, que Sant'Anna Dionísio, em passagem atrás citada, sugeriu que provinham «de dentro», como «tendência[s] profunda[s]» (p. 31), e próprias da «índole humoral do ibérico» (p. 34). A pergunta é irreprimível: serão então genéticas essas inibições? A resposta do estudioso aparece-nos logo de seguida e de modo indirecto:

Um factor que no presente concerto de determinantes não é lícito atribuir exclusivamente ao meio nem ao tipo espiritual étnico, pois foi gerado em ambos pelas circunstâncias, é a carência de uma tradição de pensamento especulativo (p. 48).

Sant'Anna Dionísio evita o dilema natureza/cultura, ou, colocado noutros termos, biologia/ideologia, optando por uma relação de interdependência e interpenetração de ambos os níveis. É possível mesmo, sem termos de ser generosos na hermenêutica do texto, reconhecer na proposta dele uma alternativa que evita a questão da biologia, ou mais precisamente, da genética. Sant'Anna Dionísio afirma que «o tipo espiritual étnico foi gerado pelas circunstâncias» daí se inferindo que esse tipo, vindo de tempos recuados, seja eventualmente uma aquisição cultural alterável. A confirmação dessa hipótese vem-nos do facto de o opúsculo terminar com duas outras secções em que o autor propõe sugestões concretas para a alteração desse estado de coisas. A última delas intitula-se mesmo: «Como criar ambientes de dedicação científica» (p. 52). Quer isto dizer portanto que, quaisquer que sejam os problemas imbricados na tese de Sant'Anna, Dionísio, não se poderá apodá-lo de proponente de qualquer determinismo genético. Todavia, já se fez alusão a inconsistências e circularidades na tese. É na própria explicitação da sua posição neste domínio que ele cai num círculo vicioso:

Por impossibilidade, de momento, de aprofundar esta questão [da carência de tradição de pensamento especulativo] não interroguemos. «A que atribuir esta carência? a nós próprios, peninsulares, ou ao meio em que nascemos? ao ambiente físico, ou à estrutura do nosso espírito? Serão os ibéricos, por natureza, incapacitados para a reflexão pura?» Estas perguntas, depois do que afirmamos sobre a igualdade virtual dos povos, são ociosas. O essencial é acentuar que a incapacidade transitória, historicamente incontestável, dos peninsulares para a investigação científica deve filiar-se, em boa parte, na ausência tradicional de cultura especulativa (p. 48).

Afinal, em face desta última afirmação, a pergunta não é «ociosa», como pretende Sant'Anna Dionísio. Então a «índole ibérica» e as «inibições de dentro» provêm da «ausência tradicional de cultura especulativa»? Toda a proposta de Sant'Anna Dionísio não visava precisamente explicar a ausência tradicional de actividade científica? Sant'Anna Dionísio acaba infelizmente numa explanação circular: A é causa de A. Mais ainda, ele prossegue reincidindo exactamente numa das «causas» propostas por Antero, que Dionísio apontara já como insuficiente. Vejamos:

O influxo de uma atmosfera de pensamento filosófico livre tem, sempre, com efeito, por virtude exercer uma acção verdadeiramente catalizadora na informação do espírito de indagação concreta (p. 49).

Ainda que se esteja de acordo com a afirmação supra, não deixa de ser estranho que a análise do estudioso, complete e confirme aí a sua circularidade.

Tentemos, então, um balanço e esbocemos alguns comentários finais à problemática acima abordada:

1. Não se poderá com legitimidade acusar Sant'Anna Dionísio de cair na malsinada teoria do carácter nacional, nem sequer de fazer generalizações absolutas ou mesmo apenas universalizantes. Fica bem claro que ele fala de tendências, embora as considere bastante generalizadas (8).

2. Por outro lado, é óbvio que se poderá discordar dos pressupostos empíricos e dos dados históricos de Sant'Anna Dionísio no que respeita à actividade científica na Península Ibérica. Não faltará quem, do lado português por exemplo, contra-argumente com nomes como Egas Moniz e os de muitos valiosos cientistas que Portugal teve e tem. Esta iniciativa da Academia das Ciência tem mesmo por objectivo fazer o levantamento da actividade científica em Portugal nos últimos quatro séculos, e demonstrar que ela existiu e a um nível de modo algum desdenhável. De facto, à força de repetirmos o cliché da nossa frágil tradição científica, chegamos, por vezes, a supor que ela não existiu, ou que não teve qualquer importância. Todavia, por mais discutíveis que sejam os critérios utilizados na avaliação da actividade científica da Península, e na sua comparação com a dos outros países da Europa do Centro e do Norte, é muito difícil nessa matéria negar a superioridade destes, ao menos nos últimos três séculos (9).

Em Espanha, a própria recorrência insistente do debate sobre a questão é significativa; tanto mais que os defensores da ciência espanhola nem sequer procuram negar a falta de um alto nível da sua tradição científica. Em geral, limitam-se a atenuar as críticas exageradas, ou a sugerir que se deixe de criticar e se faça algo para mudar o rumo da tradição. Outros ainda preferem acentuar a participação hispânica na actividade científica em áreas onde tradicionalmente o espírito espanhol brilhou, como o Direito, por exemplo. A crítica aparece com traços veementes já em 1730, pela pena do P. Benito Feijóo, no discurso «Glorias de España», do seu Teatro Crítico Universal:

Física y Matemáticas. – Así como es deuda vindicar nuestra nación en los puntos en que nos agravian los extranjeros, es también justo condescender con ellos en lo que tuvieren razón. En esta consideración, es preciso confesar que la Física y Matemáticas son casi extranjeras en España. Por lo que mira a la Física, nos hemos contentado con aquello, poco o mucho, bueno o malo, que dejó escrito Aristóteles. De Matemáticas, aunque han salido algunos escritos muy buenos en España de algún tiempo a esta parte, no puede negarse que todo, o casi todo, es copiado de los extranjeros. (Vera, 1935: 10) (10)

Já no seu tempo, mais precisamente nas primeiras décadas de 1700, Feijóo tinha uma noção nítida das diferenças entre a Espanha e outros países, dos quais a Inglaterra sobretudo, em matéria de Ciências Naturais:

En las cosas físicas dio Inglatierra más número de autores originales que todas las demás naciones juntas. Y así los Franceses, con ser tan celosos del credito de los ingenios de su nación, confiesan a los Ingleses la ventaja del espíritu filosófico. Sin temeridad. se puede decir que cuanto de un siglo a esta parte se adelantó en la física, todo se debe al Canciller Bacon. Este rompió las estrechas márgenes en que hasta su tiempo estuvo aprisionada en filosofía; este derribó colunmas, que con la inscripción Non plus ultra habían fijado tantos siglos a la ciencia de las cosas naturales. (Feijoo, 1986: 40).

A sua defesa da ciência moderna é também explícita e peremptória:

Es cierto, que la Filosofia moderna, como más pegada a la naturaleza sensible, no puede lograr tan superior uso; pero por el mismo caso que está alejada de los Divinos misterios, se considera más apta para registrar de cerca sus fenómenos. Los Aristotelicos desde la alta atalaya de sus abstracciones metafísicas miran de lejos, y sólo debajo de razones comunes la naturaleza de las cosas, con que están bien. distantes del conocimiento real y físico de ellas, y aunque los modernos no nos hayan dado hasta ahora el hilo, con que se pueda penetrar seguramente este laberinto, al fin dan algunos pasos hacia la puesta de el. (Idem: 27).

Mas os escritos de Feijóo terão apenas aberto o debate que ainda continua. Bastaria consultar uma boa colectânea de textos como essa organizada por Ernesto y Enrique García Camarero (1970), para nos apercebermos da intensidade e recorrência da preocupação do país vizinho com o seu atraso nesse sector. Até um prémio Nobel. espanhol, Santiago Ramón y Cajal, reconhece a situação:

La imparcialidad obliga, empero, a confesar que, apreciado globalmente, dicho rendimiento ha sido pobre y discontinuo, mostrando, con relación al resto de Europa, un atraso y, sobre todo, una mezquindad teórica deplorable. (Camarero, 1970: 375).

Nem o próprio Menéndez y Pelayo, que levou a cabo o mais exaustivo levantamento bibliográfico da ciência espanhola (no sentido latíssimo em que ele usou este conceito, incluindo até a teologia e as humanidades, e as obras dos árabes que viveram em Espanha), nega essa tese. Colocando-se, embora, na posição de defender que a história científica espanhola «dista mucho de ser un páramo estéril e inclemente» (Pelayo, 1953, II: 431), Menéndez y Pelayo chega a admitir que

[L]o que más ha faltado a nuestra ciencia en los tiempos modernos es desinterés (11) científico. Libri tiene razón en decir que la única gloria que Dios ha negado a España hasta la hora presente es la de producir un grán geómetra, y tiene razón si por grán geómetra se entiende, como debe entenderse, un émulo de Euclides, de Leibnitz o de Newton. (Pelayo, 1953, II: 434).

Numa tentativa de balanço da Matemática no século XVI no seu país, Julio Rey Pastor procura um juízo equilibrado entre afirmações como a de Echegaray, no seu discurso de ingresso na Academia das Ciências de Madrid («La ciencia matematica nada nos debe; no es nuestra, no hay en ella nombre alguno que labios castellanos puedan pronunciar sin esfuerzo») e as tiradas apologéticas de Menéndez y Pelayo. A sua conclusão é assim exarada:

Para poder explicar la Historia de España en la Edad Moderna, el profesor Onís, en su bellíssimo discurso de apertura, después de estudiar el pasado de nuestras universidades, se veía obligado a proponer una hipótesis. «España no ha sido nunca un pueblo moderno; el estado máximo de su civilización en el siglo XVI es, en su corriente más poderosa, la última floración de la cultura medioeval, sobre la cual flotaron débiles corrientes de la cultura moderna, que no llegaron a produzir una propia, duradera y fecunda de cultura moderna nacional».

Y esta hipótesis, que nuestro orgullo se resistia a admitir, tiene una comprobación plena en el examen histórico que antecede. Repitamos, una vez más, nuestra conclusión, y digámosla crudamente para cauterizar ese injustificado orgullo, que impide nuestro progreso: España no ha tenido nunca una cultura matemática moderna. (Pastor, 1926: 154).

Angel Ganivet, da famosa generación de 98, e Miguel de Unamuno, ao elaborarem a sua visão do casticismo da cultura espanhola, excluem a ciência como parte integrante da «alma, nacional». Tornou-se célebre o repto de Unamuno referindo-se a outros países da Europa: «que inventen ellos!».

Vale a pena, aliás, transcrever a passagem onde a afirmação, se insere pelo que de elaboração ela revela sobre a consciência das diferenças culturais entre a Espanha e a Europa de além Pirenéus. Trata-se de um «diálogo, divagatório» entre Román e Sabino, dois amigos, onde qualquer conhecedor da obra de Unamuno não terá dificuldade em reconhecer o autor representado por Román; enquanto a contra-argumentação do «amigo,» Sabino não passa de um mero, pretexto para o filósofo explicitar o seu próprio ponto de vista:

ROMÁN – Que nada hemos inventado? Y eso, que le hace? Así nos hemos ahorrado el esfuenzo y ahinco de tener que inventar, y nos queda más lozano y más fresco el espíritu ...

SABINO – Al contrário. Es el constante esfuerzo lo que nos mantiene la lozanía y la frescura espirituales. Se ablanda, languidece y desmirria el ingenio que no se emplea ...

ROMAN – Que no se emplea en inventar esas cosas?

SABINO – U otras cualesquiera ...

ROMAN – Ah! Y quien te dice que no hemos inventado otras cosas?

SABINO – ¡Cosas inútiles!

ROMÁN – Y quien es juez de su utilidad? Desengánate: cuando non nos ponemos a inventar cosas de esas, es que no sentimos la necesidad de ellas.

SABINO – Pero así que otros las inventan, las tomamos de ellos, nos las apropiamos y de ellas nos servimos; leso sí!

ROMAN – Inventen, pues, ellos y nosotros nos aprovecharemos de sus invenciones. Pues confío y espero en que estarás convencido, como yo lo estoy, de que la luz electrica alumbra aquí tan bien como allí donde se inventó.

SABINO – Acaso mejor.

ROMÁN – No me atrevía a decir yo tanto...

SABINO – Pero ellos, ejercitando su inventiva en inventar cosas tales, se ponen en disposición y facultad de seguir inventando, mientras nosotros...

ROMAN – Mientras nosotros ahorramos nuestro esfuerzo.

SABINO – Para que?

ROMÁN – Para ir viviendo, y no es poco.

SABINO – Es que, además, la ciencia, no sólo tiene un valor práctico o de aplicación a la vida mediante la industria, sino que lo tiene también ideal puro...

ROMAN – Sí; es zaguán para la sabiduría, ya que por ella nos hacemos un concepto del Universo y de nuestro lugar y valor en. el. La ciencia es el pórtico de la filosofía, no es eso?

SABINO – Sin duda alguna.

ROMAN – Y si el templo de la sabiduría tuviese, mi buen. Sabino, alguna puerta trasera disimulada en el espesor de sus muros, por donde se pueda entrar en el sin necesitar de zaguán ni porche alguno?

SABINO – Acaso el buscar y columbrar esa puerta hurtada y escondida cueste más trabajo que entrar por el zaguán y esperar allí a que se nos abra la puerta maestra.

ROMAN – Más trabajo talvez, cierto, pero trabajo más acomodado a nuestras facultades. Lo que para uno es más costoso, es para el otro lo más llevadero, y a la inversa. Y además, si nos empenamos en entrar en el hogar de la sabiduría por el zaguán de la ciencia, corremos riesgo de quedarnos en este la vida toda, esperando a que aquel se nos abra, y francamente, amigo, de quedarse fuera, vale más quedarse al aire libre, bajo el cielo y las estrellas, donde el aire nos da de onde quiere y sin rebotes. (Unamuno, 1945: 483 s.).

O diálogo prossegue com Sabino apelidando de «pretextos de ociosidad» à atitude e às explicações de Román, acusação de que este procura defender-se.

O pró-europeu espanhol Ortega y Gasset acha mesmo que o espanhol, ao fazer ciência, quando, se europeizar, terá que fazê-lo à espanhola. É importante prestarmos atenção às suas palavras pelo que nelas há de sintonia com afirmações de Sant'Anna Dionísio sobre as características específicas da ciência ibérica:

La ciencia disciplinada, he aquí el tipo de la ciencia alemana y de la francesa.

(...) Pero los que más predican la buena nueva de la ciencia, no han advertido que quieren que tengamos ciencia alemana o ciencia francesa, pero no ciencia española.

(...) Nuestra raza extrema, nuestro clima extremo, nuestras almas extremosas no son las llamadas a dejar sobre la historia el recuerdo de una forma de vida continua y razonable.

(...) Nuestra ciencia será, pues, siempre indisciplinada y como tal fanfarrona, atrevida, irá ganando la certidumbre a brincos y no paso a paso, acordará en un. momento sus andares con la ciencia universal y luego, quedará rezagada siglos. Ciencia bárbara, mística y errabunda ha sido siempre y presumo que lo será, la ciencia española.

(...) Que la ciencia alemana es una ciencia clásica? Convencido: la ciencia española sera una ciencia romántica. (Camarero: 416-419).

Mais próximo de nós, Salvador de Madariaga, que tanto reflectiu sobre, e tanto defendeu o «génio de Espanha», admite que o contributo científico espanhol relativamente ao resto da Europa tem incidido nas ciências aplicadas, não nas teóricas; e que a Espanha, tendo embora dado ao mundo muitos génios menores no campo da filosofia e da ciência, nunca produziu um génio de primeira grandeza nessas duas, áreas (Madariaga, 1923: 16 s.).

Ainda muito recentemente, Pedro Laín Entralgo, num artigo redigido para o Diccionario de Historia de España concluía:

En virtud de poderosas razones históricas, relativas a la génesis de nuestra nacionalidad, la ciencia no se da facilmente en España. Ha debido ser siempre suscitada por ele Estado o por una escasa minoría rectora. (Entralgo, II, 1956: 561).

Idêntico juízo vem de fora, mesmo de hispanófilos como Karl Vossler:

Cuando los españoles, como el cosmógrafo Alonso de Santa Cruz, el botânico Cabanilles, el viajero, e investigador Antonio de Ulloa y el neurólogo Ramón y Cajal se distinguen en sus especialidades, no son más que brillantes excepciones que vienen a confirmarnos la regla de que el español trata mejor con Dios y con sus semejantes, en lugar de confiarse a la Naturaleza, y de que sabe mejor dominar que obedecer, pensar, sofiar y escribir que investigar la callada evolución de la Naturaleza y sus secretos. Y también que en la Naturaleza lo que más le interesa es lo maravilloso que hay en ella, mucho más que lo natural. Por ello ama y busca en el hombre menos lo, que hay en é1 de natural humano que el elemento específico, tal como lo aventurero, lo excepcional, lo surpreendente, lo anormal, lo supra e infrahumano. (Vossler, 1962: 117s.).

3. Terá razão Sant'Anna Dionísio quando aponta a insuficiência de se invocar a Inquisição como explicação do atraso peninsular? Do lado espanhol, já Menéndez y Pelayo o fizera no século passado (mas Don Marcelino é suspeito). Por seu turno, Pedro Sáinz y Rodríguez representa apenas mais uma das vozes que, do, lado espanhol, vêm insistindo nessa crítica:

Con un simplismo ingenuo y delicioso, con una mentalidad de miliciano nacional, se hace de la Inquisición «la clave de nuestra historia», clave mágica y maravillosa, que sirve para explicar satisfactoriamente y sin trabajo, los más contradictorios y complejos fenómenos de la história de nuestra civilización. (Rodriguez, 1919: 38).

Julio Rey Pastor considera que nisso, precisamente reside o cerne da questão. Se ela é posta em termos de se culpar ou não, a Inquisição por esse atraso científico, os dois, flancos de historiadores envolvidos neste debate chegarão obviamente a conclusões opostas. Disposto a encarar tal problemática com a objectividade possível (o seu estudo abrangeu Portugal e Espanha), Pastor também se convenceu da diferença de nível entre a ciência ibérica e a europeia. Sobre as causas desse fenómeno, e particularmente sobre, a Inquisição, escreve ele muito ponderadamente:

La preocupación religiosa que, polarizada en sus dos fanatismos opuestos, dividió siempre a los españoles en dos ejércitos combatientes, aún perdura en nuestros días. De ellas no parece liberarse ni siquiera el ponderado y ecuánime Azorín, al insinuar su adhesion a un de los bandos beligerantes a que aludíamos; aquel que achacaba a la Inquisición la causa de nuestro atraso cultural español. Pero también ocurre preguntar inversamente: el excesivo y duradero arraigo del Santo Oficio en la vida española, respecto de las naciones europeas, más bien que causa no será efecto de ese mismo atraso?

Los fenómenos biológicos son demasiado complejos para encuadrarlos, como la mecánica o la geometría, en el simplicísimo esquema de la lógica aristotélica. Probablemente ejercen entre sí inducciones recíprocas, no expresables mediante el principio elemental de causalidad. (Camarero: 485).

O espanhol Santiago Ramón y Cajal, num discurso de ingresso na Academia Real de Ciências em 1897, passa em revista as diversas teses propostas para explicação do atraso científico espanhol não, se limitando ao rotineiro apontar do dedo à Inquisição. Analisa as teorias físicas, as político-morais (dando especial relevo às hipóteses do, fanatismo, religioso e do orgulho e arrogância espanhóis) e ainda à teoria da segregação intelectual, em termos muito próximos dos de Antero de Quental , terminando por sugerir um método histórico de elevação científica e cultural que teria de começar por uma intervenção do estado na europeização da Universidade (Camarero, 1970: 377-399).

No caso português, em 1819 Garção-Stockler apontara a Companhia de Jesus como causa fundamental do nosso atraso científico, embora tenha ressalvado que não pretendia «criminar de impuras ou de astuciosas as intençoens de tantos homens de solida virtude». Vale a pena citar o seu veredicto:

Nenhuma consideração pode dispensar o historiador literario ou civil de dizer francamente a verdade. O nosso dever exige portanto que digamos sem disfarce, que desde que a mal dirigida piedade do Senhor Rei Dom João III deu uma tão desmedida influencia à ordem eclesiástica sobre o espirito da nação Portugueza, esta decahiu irnmediatamente do seu antigo esplendor. Os entendimentos oprimidos e habituados, desde o seu primeiro desenvolvimento, ao jugo da autoridade; e entretidos, por espaço de tres, ou mais annos em forma dogmatica nas regras de gramatica latina; passando d'hai ao estudo de uma dialectica van, e de um sistema de philosophia aerio e ininteligivel, aonde parecia agudeza o que era verdadeiro embotamento de razão, de tal sorte se acanhavam as escolas, que quasi se tornavam ineptos para progresso algum scientifico: e os animos dos homens ja feitos, (ou d'aquelles que, depois de atravessarem tão vasto pelago de chymeras scientificas, ou futilidades literarias, ainda se achavam com alguma força para dar passos na carreira das verdadeiras sciencias) aterrados pela espada sempre desembainhada, e pelos fachos sempre acesos da Inquisição, sem se atreverem a examinar as producçoens scientificas dos paizes situados alem dos Pirenéos, olhavam todas como fructos envenenados que, debaixo de uma doçura aparente, encobriam os principios da destruição e da morte. A sorte de Galileo fazia temer que até na astronomia, na mecanica, e na physica, se tivesse insinuado a peste antireligiosa; e assim, segregando-nos da comunicação dos povos, que continuavam sem obstaculo a cultura das sciencias, e das artes, em vez de os acompanharmos em seus progressos, passamos a recuar na mesma estrada, em que antes talvez os precediamos, e em que elles continuavam a avançar de dia em dia. (Garção-Stockler, 1819: 155 s.).

Para que em juízo tão severo se não veja excessiva parcialidade anti-religiosa, registe-se o facto de o próprio Garção-Stockler reconhecer que as ordens religiosas tanto como as outras corporações eclesiásticas, «não somente foram as que salvaram da devastadora irrupção dos barbaros os manuscriptos hebraicos, gregos e latinos, que ainda possuimos, e que serviram de base à regeneração das sciencias, e artes; mas foram as que instituiram e dotaram os primeiros estabelecimentos de instrucção publica, em quasi todas as naçoens da Europa civilizada» (Idem: 153 s.).

4. Se a explicação de Antero de Quental é insuficiente, é-o igualmente a de Sant'Anna Dionísio, embora aponte uma direcção que me parece acertada, e que não anda longe da sugerida por Julio Rey Pastor: a da concepção de uma compleição cultural, de, origem indiferenciada (ou simplesmente desconhecida no estado actual das ciências), que terá conduzido os povos peninsulares a deixarem-se ultrapassar pelos acontecimentos onde estiveram envolvidos como actores.

Por exemplo, o problema da identificação das actividades psicológicas requeridas para a actividade científica, parece bem mais complexo do que Sant'Anna Dionísio em certa medida sugere. Do mesmo modo que é complexa a explicação da já aludida tendência formal – letras e artes, na Espanha, e letras, sobretudo poesia, em Portugal. Entre outras omissões, aquele autor nada adianta sobre a fragilidade da nossa tradição analítica, fundamental no processo científico.

Faço questão de sublinhar que nada do que acima fica dito implica a intenção de desmerecer a Estética ou a Literatura. Trata-se apenas de investigar as razões da excessiva predominância das manifestações do espírito emotivo sobre o analítico, particularmente sobre o científico (12).

5. Mais uma vez, neste caso da história cultural ibérica, se constata o quanto reciprocamente se ignoram ambos os países. Se nenhum interveniente espanhol nestes debates cita Antero de Quental, também nem Antero nem Sant'Anna Dionísio referem ou citam qualquer espanhol. Ainda que se queira dar a Sant'Anna Dionísio o benefício da dúvida, admitindo a hipótese de que tivesse conhecimento de algum texto espanhol sobre esta matéria, o facto é que a sua proposta, parecendo embora indicar uma direcção acertada, fica, nalguns aspectos, aquém da elaboração de pontos de vista semelhantes, propostos por espanhóis. No caso de certos ensaios, como o atrás referido de Ramón y Cajal, teria sido proveitosa a sua leitura crítica lado a lado com a do texto de Antero. Com efeito, o objectivo do cientista espanhol não é apenas analisar as causas, da decadência, em geral, mas especificamente as raízes do, atraso científico. Ele di-lo nestes termos,:

Casí todas las siguientes teorias enfocan especialmente nuestra postracién política y social. Pero todas ellas pueden extenderse al terreno de la actividad científica, ya que el poderio militar y político y la prosperidad intelectual e industrial suelen. ser cosas solidarias, como ramas brotadas del mismo tronco cultural. (Camarero, 1970: 377).

Ramón, y Cajal, no seu percurso através das diversas explicações, argumenta com facilidade contra as teorias físicas – a hipótese térmica e a oligohídrica. Ao comentar as teorias político-morais, cita Fernández Navarrete, que escrevera por volta do primeiro quartel do, século XVII, no seu Conservación de Monarquías, que «la despoblación de Castilla, que tanto baldonan los extranjeros, debíase a las guerras incesantes, a los tributos intolerables, a la colonización de America y, sobre todo, a la expulsion de los tres millones de moriscos y dos millones de judíos». Ramón y Cajal prossegue dando razão ao lamento de Navarrete segundo quem «las razas laboriosas e industriosas hubieran sido expatriadas y no los gitanos, pueblo maleante, entregado sistemáticamente al robo e a la despredación» (Camarero, 1970: 383).

O inventário prossegue citando afirmações de J. Costa, entre outras, a de que «el arte de governar declinó en las manos de nuestros estadistas en una rama de la literatura». «Como la Venus de Milo, España es una bella estatua, pero, sin brazos» (Idem: 384).

Ramón y Cajal, ao sublinhar esses aspectos aceitáveis das teorias propostas, não deixa de frisar que não são suficientes para explicar o fenómeno. Acerca da hipótese do fanatismo religioso, que ele diz ser uma explicação nascida no estrangeiro com Hume, G. Le Bon, Buckle, Draper e outros, concorda com os autores que consideram altamente exagerada, apesar de sedutora à primeira vista. Sobre a hipótese do orgulho e arrogância espanhóis, o cientista tem uma atitude muito mais favorável. Ele expressa-se nestes termos:

Las páginas de la Historia de España ofrecen numerosos testimonios de este irritante sentimiento aristocrático, que nos llevó a repudiar, como innobles y propios sólo de judios y de gente servil, la agricultura, el comercio, la industria y las artes mecánicas. La nobleza y la clase media, preocupadas con la limpieza de sangre, sólo podían subsistir vegetando parásitamente sobre una masa de pecheros, comerciantes e industriales. No obstante lo cual, cometióse la monstruosa aberración, de decretar (...) primeramente, la expulsión de los judíos, monopolizadores del comercio, y despues la de los moriscos, en cuyas manos estaban la agricultura y la industria. Nubes de extranjeros voraces, incapaces de nacionalizarse porque nos odiaban cordialmente, vinieron a reemplazar a moriscos y judíos, absorbiendo el oro de America, fomentando la industria de sus países, con dano de la nuestra, y convertiendose en usureros y esquilmadores del Estado. Entristecen las descripciones que extranjeros como Campanella, Mad. d'Aulnoy y otros hacen de la incuria de nuestros hidalgos y del casí total abandono del agro castellano a causa del desprecio suicida del trabajo manual. (Idem: 390s.).

Se até aqui, as coincidências com a explicação de Antero de Quental são muitas, um pouco mais adiante Ramón. y Cajal passa a incidir especificamente no campo das ciências:

La teoria del orgullo explica algo mejor que la hipótese economicopolítica la escassez de nuestra produccián científica e industrial. La Ciencia exige instrumentos, y estos sólo pode proporcionarlos una industria floreciente. Deja, sin embargo, esta concepción en la sombra algunos puntos, entre ellos la pobreza filosófica, astronómica y matemática de la nación, y el gusto casí exclusivo hacia el saber que nuestro ilustre Carracido llama ornamental (literatura, humanidades y filosofía escolástica, etc.), con el consiguiente desprecio de las ciencias de la Naturaleza. Creímos que era bastante dominar, sin reparar que sólo imperan. duraderamente la ciencia, la industria y el comercio. (Idem: 391 s.).

A última teoria analisada é a da segregação intelectual. Cajal crê que todas as teorias anteriores têm um fundo de verdade, mas acrescenta de modo estranho e algo circularmente, que «la causa culminante de nuestro retardo cultural no es otra que el enquistamiento espiritual de la Península». «Cerramos las fronteras para que no se infiltrase el espírítu de Europa, y Europa se vengó alzando sobre los Pirineos una barrera moral mucho más alta: la muralla del desprecio» (Ibidem). Só de entre os expatriados surgiram escritos de interesse:

El terror a lo nuevo, a lo extranjero, obsesionaba a nuestros claustros profesorales, más inquisidores que la Inquisición. misma, que recelaban no sólo de las Ciencias Naturales, sino hasta de las inofensivas Filología, Gramática e Historia.

(...) [N]uestro orgullo aristocrático, secundado por la desdichada posición geográfica de la Península (...) nos condujo a una reclusión mental deplorable. (...) [E]l entendimiento español, no vivificado por la conjugación intelectual ni corregido por la crítica europea, apartóse a viciosa y casi exclusiva vegetación de las sutilezas escolásticas, de los transportes de la mística y de los juegos del conceptismo, y culteranismo. (Idem: 393s.).

Termina infelizmente com esta desapontadora conclusão, deixando-nos como resposta a pergunta de onde se partiu, se bem que Ramón y Cajal aproveite para apontar a abertura e o intercâmbio de ideias como o caminho a seguir. Justiça seja feita a Sant'Anna Dionísio que, pelo menos ao nível de explicação das causas, propôs uma saída do círculo vicioso.

6. O texto de Sant'Anna Dionísio ressente-se duma insularidade intelectual em relação ao que, já em 1941, se escrevia na Europa de além Pirinéus e nos Estados Unidos sobre a actividade científica. Não é aqui, porém, o lugar apropriado para desenvolver este aspecto. Todavia, deve reconhecer-se que a teoria psicológica de Sant'Anna Dionísio, correcta ou não, tem o mérito de ser inovadora entre as propostas até aqui apresentadas para explicar o atraso científico peninsular.

7. Se não existe uma imediatidade, tão simples como presume Sant'Anna Dionísio, entre a identificação de um problema – «meio caminho andado», na sua opinião (p. 48) – e a solução do, mesmo, não parece contudo restar dúvida de que será impossível alterar qualquer rumo ou tendência cultural, se não se tiver uma ideia clara do que na realidade se passa. Daí o mérito de uma tentativa como a de Sant'Anna Dionísio, por mais deficiente que seja essa tentativa, já que o diálogo sobre ela permitirá sempre algum avanço na compreensão do problema.

8. Tal como Sant'Anna Dionísio, não vejo razões para aceitar qualquer determinismo cultural. Mesmo pretendendo alargar a persistência do tipo comportamental hispânico até bastante antes da Reforma e Contra-Reforma – pondo em causa a interpretação que Max Weber propõe para o surgimento da modernidade – não e possível ignorar que a História da Ibéria se estende por bem mais de quinhentos ou seiscentos anos. A duração de uma característica cultural, ainda que tão prolongada, não é necessariamente eterna. É da psicologia de compêndio escolar que, na ausência de certezas, é preferível acreditarmos na possibilidade de alterar um comportamento, a fixarmo-nos na crença fatalista em imobilidades metafísicas. Quer dizer, pois, que a fixação psicológica no determinismo cultural só garante o seu prolongamento.

E, como sinal empírico de que afinal não estamos condenados a crer em mitos apenas, recordem-se testes recentemente realizados entre estudantes de diversos países, cujos resultados colocaram os jovens da vizinha Espanha em primeiro lugar na área das Ciências. Assim sendo, o bastas vezes referido cientista espanhol, prémio, Nobel Santiago Ramón y Cajal – ainda hoje frequentemente citado em estudos na área das ciências cognitivas – tinha razão no, seu optimismo realista acerca das possibilidades de mudança no rumo da tradição ibérica neste campo. E, salvas as devidas diferenças, razão tinha igualmente o nosso Sant'Anna Dionísio.


NOTAS:

(1) O desenvolvimento comparativo deste ponto está esboçado num outro ensaio (Almeida, 1989).

(2) D. Gumersindo de Azcárate publicara uma série de artigos sob o título «Self Government y la monarquía doctrinária» (que foram depois reunidos em volume, publicado em Madrid em 1877) onde acusava a actividade científica espanhola de estar, há três séculos, afogada quase por completo. A primeira intervenção de Menéndez y Pelayo surgiu na Revista Europea (Tomo VII, correspondente a 30 de Abril de 1876, pp. 330 ss.) e constituiu apenas o início de um imenso trabalho de levantamento histórico em resposta à dita acusação.

(3) O artigo apareceu no primeiro de três tomos dedicados à geografia moderna (71º da obra total) e ocupa as páginas 544-568.

(4) Publicado no Tomo II das Cartas, o texto vem incluído em Camarero, 1970: 2543. Na sua obra La Decadencia Española, Ignácio Olagüe cita, sem precisar exactamente a fonte, uma afirmação de Pedro de Valencia, no início do séc. XVIII: «La ciencia se halla intimamente relacionada con la prosperidad o decadencia política de las naciones» (Vol. IV, Madrid: Editorial Mayfe, 1951, p. 225).

(5) Assim no original, mas deve ser gralha. Pelo sentido deve ser «de pais».

(6) Existem estudos como o de António Salgado Júnior, sobre a História das Conferências do Casino, 1930); sobre a reacção por elas desencadeada no Parlamento (José-Augusto França, As Conferências do Casino e o Parlamento, 1973); sobre a ideologia da iniciativa (João Medina, As Conferências do Casino e o Socialismo em Portugal, 1984); sobre a ideia de decadência (António Machado Pires, A Ideia de Decadência na Geração de 70, 1980). Apenas este último procura ultrapassar a reconstituição histórica e elaborar uma análise de conceitos numa perspectiva crítica. Mas a famosa conferência de Antero em parte alguma recebeu a dissecação crítica que merece, excepção feita à proposta (resposta indirecta) de Oliveira Martins na História da Civilização Ibérica.

(7) Há uma incongruência na explicação de Antero. A afirmação feita nos moldes citados – «foi sobretudo pela falta de ciência que nós descemos, que nos degradámos, que nos anulámos» – colocaria essa «causa» no topo da cadeia de causalidades; e, no entanto, Antero não retoma esta análise nem a incorpora no seu esquema tridimensional: o catolicismo de Trento, o absolutismo, e o espírito de conquista correspondente a uma determinada atitude económica. Sant'Anna Dionísio não se apercebe desta discrepância, mas é curioso que, ao propor uma causa mais profunda para a ausência do espírito científico, esteja inconscientemente a desenvolver essa ideia esboçada mas não retomada por Antero.

(8) Argumentei a favor da legitimidade de se falar em termos de características culturais predominantes em grupos humanos especificando os termos em que é teoricamente defensável fazê-lo, na comunicação «National character or deep cultural structures? – Some comments on the retum of a concept», apresentada ao XX1X Congresso Internacional de Sociologia, Roma, Junho de 1989.

(9) Reconhecendo embora a notável actividade científica e tecnológica levada a cabo pelos portugueses no século XVI, não compartilho dos entusiasmos patrióticos de alguns historiadores. Foi precisamente sobre isso que versou a minha comunicação na primeira parte do presente congresso, que teve lugar há quatro anos (cf. Almeida, 1986). Mas também reconhecendo que, fora de Portugal, os historiadores da ciência, sobretudo, ignoram factos basilares sobre o contributo científico português no século XVI, escrevi igualmente uma espécie de «versão para estrangeiros» dessa minha análise: «On discontinuities of Time and Space in scientific revolutions – the Portuguese case», comunicação apresentada à Society for Iberian and Latin American Thought, no Congresso da American Philosophical Association, Eastern Division, Boston, Dezembro de 1987.

(10) No tempo de Benito Feijóo, a cátedra de Matemática na Universidade de Salamanca esteve vaga durante trinta anos, até ser ocupada por D. Diego de Torres Villarroel, outro crítico do estado de decadência a que haviam chegado as ciências em Espanha (Vera, 1935: 16).

(11) A palavra «desinterés» neste contexto é usada por oposição a «utilidad» que, segundo Menéndez y Pelayo, caracteriza a actividade científica espanhola. Se não tivermos em conta esse uso do vocábulo, ficar-nos-á a impressão de que se está a dizer exactamente o contrário.

(12) Em dois textos jornalísticos abordei superficialmente duas manifestações da preferência portuguesa pela forma literária, sobretudo a poesia – a estética da palavra: «O Fernando Pessoa Tudo-Para-Todos e o Manifesto de Eduardo Lourenço», Jornal de Letras 1-10-1985 e «Os prémios e o luso amor à palavra», Diário de Notícias, 22-3-1989.


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