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Notas de apresentação


Não Entres tão Depressa Nessa Noite Escura de António Lobo Antunes

O meu pai nunca me deixou entrar aqui. Devia sentar-se na cadeira de baloiço e olhar do postigo o jardim lá em baixo, o portão, a rua, eu pequena a brincar às fadas com a minha irmã no rebordo do lago. Aos domingos abria a gaveta da cómoda, remexia papéis até escutarmos o tilintar da argola, subia as escadas do sótão a procurar a chave no meio das outras chaves

(tal como hoje, agora que ninguém me proíbe, abri a gaveta, remexi papéis até escutar o tilintar da argola e subi as escadas a procurar a chave no meio das outras chaves)

António Lobo Antunes, Não Entres tão Depressa Nessa Noite Escura, Lisboa, Publicações Dom Quixote, 2000, p. 15.


A Catedral Verde de João Aguiar

«Quando cheguei a casa era já noite, ou quase. É isso o que me custa mais no Inverno, os dias breves – embora, para ser honesto, deva admitir que tudo me custa no Inverno. Nestes anos mais recentes, tenho bravamente tentado convencer-me de que afinal aprendi o gosto do tempo frio, da lareira acesa. Ainda ontem, ainda hoje, me dizia que a chuva no campo não me incomoda... é verdade, desde que o ar esteja quente, o bastante para me fazer transpirar. Quanto à chuva de Inverno, só gosto de a ver no cinema, e há anos que não vou ao cinema.»

João Aguiar, A Catedral Verde, Porto, Edições Asa, 2000, p. 47.


A Ilha de Nunca Mais de Fernando Aires

«Desde então, começaram a habituar as mãos uma na outra quase sem darem por isso, até que de uma vez, sem combinarem coisa nenhuma, encaminharam-se ao Aqueduto, entraram no Jardim Botânico – e foi num banco da Avenida das Télias, ao som do repuxo do tanque, que ele se voltou, a olhou nos olhos, nos cabelos tão raros. As sombras errantes das tílias com súbitas cintilações. E a ternura – aquilo que foi aprendendo a chamar de ternura –, assim uma coisa intensa a rebentar-lhe dos olhos, e por dentro, sobretudo por dentro. Quase como um choro silencioso. Quase como.»

Fernando Aires, A Ilha de Nunca Mais, Lisboa, Salamandra, 2000 (Ficção).


Versos e Prosa de Novecentos de Ernesto Rodrigues

Uma das tradicionais acusações à crítica literária feita em publicações periódicas denuncia a sua pretensa efemeridade. Para contrariar essa falsa censura, Ernesto Rodrigues recolhe neste livro sete dezenas e meia de textos, sobre outros tantos autores portugueses contemporâneos, publicados originalmente em jornais e revistas ao longo de vinte e poucos anos. A qualidade dos textos, o seu estilo sóbrio, o juízo certeiro sobre muitas estreias, bem como o interesse dos autores apreciados bem merece este tipo de fixação. Além de incursões nos domínios da poesia, ficção e tradução, este professor universitário é autor de outros importantes estudos, de que se destacam os mais recentes: Mágico-Folhetim. Literatura e Jornalismo em Portugal (Ed. Notícias, 1998) e Cultura Literária Oitocentista (Lello, 1999).

Ernesto Rodrigues, Versos e Prosa de Novecentos, Lisboa, Instituto Piaget, 2000 (Col. Teoria das Artes e da Literatura, 10).


Ficção Portuguesa Pós-Abril de Ramiro Teixeira

«Que contributos deu a República, em 1910, para a ficção portuguesa? E a Revolução de 25 de Abril de 1974? Posto, na circunstância, só o último quesito esteja em apreço, recorro ao enunciado do primeiro para estabelecer um certo tipo de paralelismo entre estes dois movimentos revolucionários e, com isso, mais facilmente fazer prevalecer a ideia de que a Revolução de 25 de Abril, tal como a implantação da República, foram acontecimentos bem pouco marcantes no percurso da nossa literatura de ficção.»

Ramiro Teixeira, Ficção Portuguesa Pós-Abril, Lisboa, Escritor, 2000, p. 9.


Para uma Litetura da Poesia Neoclássica e Pré-Romântica

Concebida a pensar no leitor que se inicia no lirismo neoclássico e pré-romântico, esta obra manifesta um cariz marcadamente propedêutico-pedagógico. Paulino Cabral, Correia Garção, Nicolau Tolentino, Filinto Elísio e a Marquesa de Alorna são os autores a merecer maior destaque, pela sua representatividade na poesia portuguesa da segunda metade do século XVIII. A metodologia adoptada, que visa tornar esta primeira incursão elucidativa, cativante e prazenteira, consiste em breves introduções, às quiais se segue o texto, explicações lexicais e comentários estilístico-temáticos. Há ainda uma brevíssima antologia de outros autores deste período. No capítulo final poderá o leitor encontrar alguns textos que muito influenciaram a doutrinação estético-literária deste período. Ao longo de toda a obra são apontadas intertextualidades e recomendadas outras leituras com vista a um aprofundar dos conhecimentos.

J. Cândido Martins, Para uma Litetura da Poesia Neoclássica e Pré-Romântica, Lisboa, Presença, 2000.


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