A Caverna de José Saramago
«Ao fundo, na altíssima parede cinzenta que cortava o caminho, via-se um enorme cartaz, branco, rectangular, onde, em letras de um azul brilhante e intenso, se liam de um lado a outro estas palavras, VIVA EM SEGURANÇA, VIVA NO CENTRO. Por baixo, colada no canto direito, distinguia-se ainda uma breve linha, só duas palavras, a preto, que os olhos míopes de Cipriano Algor não conseguem decifrar a esta distância, e no entanto elas não merecem menos consideração que as da mensagem grande, poderemos, se quisermos, designá-las por complementares, mas nunca por meramente sobrevenientes, PEÇA INFORMAÇÕES, era o que estavam a aconselhar.»
José Saramago, A Caverna, Editorial Caminho, Lisboa, 2000, p. 92.
A Arte da Grammatica da Língua Portugueza
Porfessor de Linguística na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Carlos Assunção dedicou-se durante vários anos ao estudo da obra A Arte da Grammatica da Língua Portugueza de António José dos Reis Lobato. Esta gramática, com mais de quarenta edições e reedições ao longo de 200 anos, é de fulcral importância para os estudos lingúisticos em Portugal. O volume agora publicado, com a chancela da Academia de Ciências de Lisboa, além da edição crítica, contém um estudo introdutório e vários textos subsidiários.
Carlos Assunção: "A Arte da Grammatica da Língua Portugueza" de António José dos Reis Lobato, Lisboa, Academia de Ciências, 2000 (Estudo e ed. crítica).
A Casa de Bragança: – 1560-1640 de Mafalda Soares da Cunha
Esta obra constitui um bom exemplo de como a nova historiografia pode renovar temas tradicionais. O seu objecto de estudo é a Casa de Bragança, uma grande casa senhorial da época moderna, a maior de todas de onde viria a sair a última dinastia reinante em Portugal. Aqui ela é encarada, não tanto como um pólo de grande política do reino, mas antes como um modelo de construção e exercício do poder típico das sociedades modernas. Este livro, que não aborda expressamente a alta política peninsular, acaba por ser uma outra forma de contar a «Restauração».
Mafalda Soares da Cunha: A Casa de Bragança: – 1560-1640 – Práticas Senhoriais e Redes Clientelares, Lisboa, Editorial Estampa, 2000.
Retórica e Sociedade de José Esteves Rei
Como arte da persuasão através do discurso (ars bene dicendi), a Retórica existe desde a cultura democrática dos gregos. O império da Retórica estende-se ao longo de cerca de 25 séculos, como é bem historiado por Esteves Rei, docente da UTAD e da UFP. Por isso, Roland Barthes exclamaria: "O mundo está incrivelmente cheio de Retórica". No sistema de ensino, nas relações sociais, de trabalho ou de lazer, no funcionamento das mais relevantes instituições (Política, Religião, Justiça, etc.), nas novas formas de comunicação (imprensa, rádio, televisão, publicidade, marketing), a Retórica está omnipresente, cada vez mais influente e insinuante.
Além de arte ou técnica multissecular, a Retórica tem sido também uma disciplina central do sistema de ensino, desde os gregos, passando pela longa Idade Média, até aos nossos dias. A Retórica constitui-se ainda como prática social, uma forma peculiar de usar o discurso em situação comunicacional. Como demonstra o autor deste motivador trabalho, desde a Grécia que o uso da língua assenta num triângulo unificador: Sociedade – Retórica – Escola.
Este interessante e actualizado estudo centra-se justamente sobre as virtualidades da Retórica como técnica da comunicação verbal, desde a Antiguidade clássica, passando pela sua literaturização até à profissionalização actual. A comprovar a sua importância e indiscutível actualidade está a assombrosa quantidade de bibliografia que, sobretudo nas últimas décadas, tem reabilitado esta antiga e renovada ciência do discurso, e de que esta investigação apresenta elucidativa demonstração.
José Esteves Rei: Retórica e Sociedade, Lisboa, Instituto de Inovação Educacional, 1998.