O Segredo de Ana Plácido de Teresa Bernardino
A 1ª edição deste belo romance aconteceu em 1995, durante o I Centenário da Morte de Ana Augusta Plácido, fiel amante e mulher de Camilo, nas páginas da revista Gazeta de Poesia, sob o nome de Teresa Ferrer Passos. Agora, aparece-nos uma 2ª edição "revista e aumentada", liberta de algumas marcas históricas.
Estruturada em três dias, esta cativante narrativa conta-nos o drama de uma paixão (de Camilo e Ana Plácido) que, depois das peripécias da denúncia de adultério por Pinheiro Alves e da consequente fuga, prisão e respectivo julgamento dos amantes, no Porto, se transformou no longo drama vivido em S. Miguel de Ceide.
O ponto de vista narrativo é confiado a um dos filhos do casal, Jorge (filho de Pinheiro Alves ou já de Camilo?), jovem meio louco meio artista, figura de dramático visionarismo e de recorte dostoievskiano. É através da sua memória amargurada e do seu olhar acusador que vemos a vida de Camilo e de Ana Plácido, e, sobretudo, se equaciona o destino de uma mulher fatal, que ousou arrostar a mentalidade da época com a sua paixão. Dotada de uma escrita fluida e de uma apreciável perícia técnica, a tessitura romanesca alimenta-se da bibliografia camiliana, quer ficcional, quer epistolográfica.
Em suma, depois de várias outras obras no domínio romanesco, biográfico ou teatral (Alberto Pimentel, Teixeira de Pascoaes, Agustina Bessa-Luís, Luiz Francisco Rebelo, etc.), este romance de romances de Teresa Bernardino vem confirmar, metaficcionalmente e de um modo sedutor, o drama da vida de Camilo.
Teresa Bernardino: O Segredo de Ana Plácido, 2ª ed., Lisboa, Vega Editora, 2000.
A Lua de Bruxelas de Amadeu Lopes Sabino
Residente e funcionário em Bruxelas, Amadeu Lopes Sabino proporciona-nos um conseguido romance sobre a vida privada e pública de João Baptista da Silva Leitão de Almeida Garrett nesta cidade belga, mostrando-nos a alma e o homem que estão por detrás do mito do genial escritor romântico, ainda no rescaldo do I Centenário do seu Nascimento.
Conforme sabemos dos estudos histórico-biográficos e nos é recontado pelo informado narrador do romance, a estada de Garrett em 1834-36, como primeiro representante diplomático do novo Portugal, é perturbada por dois factores principais: pela instabilidade ideológica do regime liberal português e, indirectamente, por motivos sentimentais. Lisboa obriga o encarregado de negócios do reino a passar por apertos financeiros, ainda mais dolorosos para um aristocrático dandy romântico. E a sedutora Luísa Midosi, a jovem esposa de Garrett e uma das maiores belezas do seu tempo, depressa se transforma na sua "estrela funesta", a mais fatal de todas as Amálias que conheceu, segundo o biógrafo Gomes Amorim.
Neste interessante romance, assumem-se claramente as fontes de informação (ver Nota Final) e casam-se bem história e ficção, sobretudo na pena de um narrador que gosta de jogos intertextuais, não prescinde de um oportuno estilo irónico e ainda menos das suas "prerrogativas de autor". Por isso, esta homenagem e crónica imaginada, que desvela a própria construção ficcional, lê-se com agrado, como um retrato de Garrett, do Portugal e da Europa seus contemporâneos, mas também especularmente da Pátria e da Europa comunitária de hoje.
Amadeu Lopes Sabino: O Segredo de Ana Plácido, Porto, Campo das Letras, 2000.
Tudo Sobre o Vinho do Porto de João Paulo Martins
Tudo Sobre o Vinho do Porto é um manual sobre o Vinho do Porto e a sua história, que esclarece o leitor sobre os vários tipos de Vinho do Porto, a forma como são feitos e os melhores momentos para serem apreciados. Mais do que saber todos os pormenores sobre o Vinho do Porto, o mais importante para o consumidor é tirar o máximo de prazer desta bebida única. Este livro sobre o Vinho do Porto contou com o patrocínio e o apoio da Associação de Empresas do Vinho do Porto, com a colaboração do Instituto do Vinho do Porto, da Casa do Douro, do Centro Português de Fotografia e ainda com a colaboração fotográfica de João Paulo Sotto Mayor.
João Paulo Martins: Tudo Sobre o Vinho do Porto, Lisboa, Publicações Dom Quixote, 2000.
A Imagem de Fausto de Fernando Miguel Bernardes
«A própria mulher o vinha estranhando. Fausto, habitualmente lhano e despido de especiais cuidados na indumentária, apresentava-se agora com desvelo no seu fato completo, camisa e gravata impecáveis, os sapatos brilhantes. Até, à mesa, a compostura se lhe vinha alterando. Para muito melhor, notava ela. Como tinha notado, dias atrás, que desenterrara dos fundos da mesa-de-cabeceira o anel que guardava como única herança familiar.».
Fernando Miguel Bernardes, A Imagem de Fausto, Lisboa, Escritor, 1998.