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Notas de apresentação


José Saramago: A Luz e o Sombreado de Fernando Venâncio

Neste bem organizado volume, Fernando Venâncio (n. 1944) reúne uma dúzia de textos críticos, de dimensão desigual, publicados previamente na imprensa, tendo em comum a obra de Saramago. Como crítico literário, é sobejamente conhecido nas páginas de algumas publicações (Expresso, Jornal de Letras ou a revista Ler). Os seus interesses estendem-se à escrita de ficção, ao ensaio académico, à crónica e à tradução.

A obra inicia-se com um breve texto onde se justifica a reunião destes trabalhos críticos, apresentados como fonte de sentimentos díspares: "Contra uma concepção asséptica dos estudos literários, aceito que a literatura é uma fonte de prazeres e uma fonte de constrangimentos. A minha leitura de José Saramago foi até hoje, e talvez deva continuar a ser, ocasião de desencontradas sensações". Sem subterfúgios e com uma certa dose de coragem, está patente o espírito que anima os vários textos: salientar claramente as qualidades de um consagrado escritor contemporâneo; mas, quando é caso disso, censurar frontalmente debilidades e salientar aspectos menos conseguidos.

É neste jogo de claro-escuro, de prazer e frustração, que assenta o presente acto crítico. Sem se deixar arrastar por perigosos coros de louvores, o autor dá relevantes contributos à crítica saramagueana, quando, por exemplo, estuda a recepção de romances como o Memorial do Convento ou Levantado do Chão; ou quando traça um balanço crítico da escrita diarística dos Cadernos de Lanzarote. Interessantes ainda as suas considerações sobre o Saramago como crítico da Seara Nova (1967-68); ou ainda sobre a decisiva revalorização do escritor no início dos anos 80.

Cândido Martins

Fernando Venâncio: José Saramago: A Luz e o Sombreado, Porto, Campo das Letras Editores, 2000.


Gil Vicente: Reportório Escolar

Desde muito cedo que o sistema educativo português decidiu que a obra de Gil Vicente deveria integrar os programas de ensino, tratando-a, principalmente, como monumento literário e documento da história das mentalidades.

Neste edição, preparada por José Camões e Helena Reis Silva do Centro de Estudos de Teatro da Faculdade de Letras de Lisboa, são publicadas as obras vicentinas que se encontram nos programas de ensino do Português. A adapção gráfica para o português actual procura dar conta, segundo os autores da edição, da realidade fonética da língua na época do autor.

Além de cinco obras integrais (Auto da Alma, Auto da Barca do Inferno, Auto da Feira, Auto da Índia e Farsa de Inês Pereira), a edição contém uma breve introdução à obra de Gil Vicente, uma secção bibliográfica, infelizmente bastante incompleta, e um glossário.

Gil Vicente: Reportório Escolar: Alma, Barca do Inferno, Feira, Índia, Inês Pereira, Lisboa, Publicações Dom Quixote, 2000. Edição de José Camões e Helena Reis Silva.


Os Narradores da Sobrevivência de Nelson Saúte

«Talvez se contentem estes cidadões a olhar a vida alheados de tudo. Moçambicano de hoje é assim mesmo. Mais se satisfaz com o silêncio. Aceita tudo. Não reclama, não guarda rancores. Destino é destino. Já era assim quando, na falta de repolho para refogar o almoço, encostava o nariz na Loja dos Cooperantes, mais conhecida por Inter-franca, ou via os LADA dos Estruturas se abastecerem nas Lojas dos Dirigentes, vulgo Responsáveis. Aceitava-se moçambicamente. Moçambicano próprio aguenta. Sua profissão é sofrer. Pelo do lado dos que ficarão, existe esta coisa terrível de aceitar tudo como se fosse um fatalismo.

Nelson Saúte: Os Narradores da Sobrevivência, Lisboa, Publicações Dom Quixote, 2000.


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