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Notas de apresentação


A Paisagem Interior de José Fernando Tavares

Infelizmente, são consabidas as difíceis condições de trabalho em que vários críticos, mais ou menos profissionais, vão exercendo o seu ofício. Apesar disso, fica-se sempre surpreendido com a dedicação e persistência de muitos, bem manifestas no volume de textos produzidos no momento da sua recolha. Isso mesmo acontece neste volume, onde se reúnem 80 textos breves, editados previamente, na sua maioria, em várias publicações periódicas (jornais e revistas).

A autoria é de um jovem crítico, José Fernando Tavares (n. 1965), que já publicou outros trabalhos ensaísticos e literários (no Inst. Piaget e na Universitária Editora), além de dirigir o jornal Artes & Artes. Esta recolha é precedida de um texto introdutório, onde se reflecte sobre a natureza da actividade crítica. É o momento onde o autor apresenta brevemente algumas suas concepções teóricas sobre a Crítica. Desde a epígrafe inicial, passando por vários outros textos, ficamos a saber que João Gaspar Simões é um dos modelos críticos de José Fernando Tavares, cuja formação permite que se alargue frequentemente ao campo filosófico.

Privilegiando claramente a literatura lírica e ficcional dos nossos dias, sem esquecer a escrita ensaística, as oito dezenas de textos críticos breves estão agrupadas por três secções (Poesia Contemporânea, Ficção Portuguesa Contemporânea e Ensaio sobre o Ensaio). É certamente uma oportunidade para ler conjuntamente textos que já conhecíamos, enquanto se aguardam nova recolha de textos da imprensa e outros trabalhos do prometedor crítico.

Cândido Martins

José Fernando Tavares: A Paisagem Interior, vol. I (Crítica e Estética Literárias), Lisboa, Instituto Piaget, 2000 (Col. Teoria das Artes e Literatura, 9).


O Padre António Vieira e outros poetas de Mário Garcia

Esta obra reúne cerca de 40 textos crítico-ensaísticos, publicados nos últimos anos, sobretudo nas páginas da revista Brotéria. Mário Garcia, S. J. (n. 1947), é professor de Literatura Portuguesa no Curso de Humanidades da Faculdade de Filosofia (Braga). Tem outros relevantes estudos publicados, particularmente sobre a obra de Teixeira de Pascoaes. Também se tem dedicado à escrita poética, tendo até ao momento três livros publicados.

A presente recolha de estudos críticos tem várias particularidades merecedoras de destaque, como o realce concedido à obra de António Vieira, apresentado como poeta, ao lado de autores tão diversos como: Antero de Quental, Cesário Verde, António Nobre, Eça de Queirós, Camilo Pessanha, Mário de Sá-Carneiro, Raul Brandão, Teixeira de Pascoaes, Fernando Pessoa, Anrique Paço d'Arcos, Sebastião da Gama, Carlos de Oliveira, Miguel Torga, António Franco Alexandre, Luís Filipe Castro Mendes, Fernando Guimarães, Nuno Júdice, Herberto Helder, Fiama H. Pais Brandão, Pedro Tamen, António Osório, António Ramos Rosa, Fernando Echevarría, João Cabral de Melo Neto e (a terminar) o poeta inglês Gerard Manley Hopkins.

A abordagem crítica destes autores maiores da Literatura Portuguesa, desde a modernidade oitocentista até à contemporaneidade, demonstra vários traços unificadores, como a manifesta preferência pela escrita poética e a assumida escolha de uma certa tradição romântico-simbolista. Como pórtico de entrada, o ideário crítico do autor, de matriz estético-simbólica e fundo humanista, está traçado no texto inaugural — "O horizonte da beleza no ensino da literatura".

Cândido Martins

Mário Garcia: O Padre António Vieira e outros poetas, Braga, Univ. Católica Portuguesa/Faculdade de Filosofia, 2000 (Col. Estudos Humanísticos, 2).


História da Filosofia de Nicola Abbagnano

Quando se dão os primeiros passos para apresentar uma sistemática e actualizada história do pensamento filosófico no nosso país, não surpreende que o panorama editorial das histórias gerais da filosofia ocidental, elaboradas por autores nacionais, seja reconhecidamente um deserto. As únicas excepções que vão suprindo essa clamorosa ausência são constituídas pelas traduções de autores italianos, espanhóis e outros. Durante muitos anos, a obra de Nicola Abbagnano constituiu um estudo de referência para alunos e demais interessados numa panorâmica do pensamento filosófico ocidental, desde os autores gregos até aos contemporâneos.

Metodologicamente, o historiador apresenta de um modo cronológico as várias correntes de pensamento e respectivos autores nucleares. Neste vol. 12 e último volume, a atenção principal centra-se na Fenomenologia, exposta a partir dos antecedentes e dos maiores pensadores, como Husserl e Hartmann. O capítulo seguinte delineia a formação e desenvolvimento das várias tendências do Existencialismo, com realce para Heidegger, Jaspers ou Sartre. Ambas as correntes conheceram uma profunda influência sobre a cultura e a própria criação artística deste século.

A necessidade deste tipo de obras, complementares dos manuais escolares, é um dado incontestável, potencializado pelo seu cariz eminentemente informativo e didáctico. A melhor demonstração do interesse desta História da Filosofia de Nicola Abbagnano está no número de edições que ela já conheceu em Portugal. De salientar neste última reedição o renovado e bem mais atraente aspecto gráfico da obra.

Cândido Martins

Nicola Abbagnano: História da Filosofia, vol. 12, 4ª ed., Lisboa, Presença, 2001 (trad. de Conceição Jardim, Eduardo Lúcio Nogueira e Nuno Valadas).


Surrealismo de Fiona Bradley

Não é fácil, em escassas oito dezenas de páginas, apresentar sínteses bem informadas e atraentes sobre os mais fecundos movimentos artísticos contemporâneos. Mas é justamente esse o objectivo conseguido por uma pequena e bela colecção, com a chancela da prestigiada Tate Galery, em boa hora editada entre nós pelos atentos responsáveis editoriais da Presença.

Depois dos volumes consagrados ao Pós-Impressionismo e Cubismo (entretanto já surgiram mais dois dedicados ao Minimalismo e ao Modernismo), este pequeno volume sobre o Surrealismo estrutura-se em meia dúzia de capítulos, antecedidos por uma adequada nota introdutória e encerrados por uma reflexão final sobre o importante legado surrealista, dentro e fora do campo artístico-literário, fora dos limites cronológicos da vanguarda histórica.. Da estética surrealista, teorizada por Breton a partir do primeiro Manifeste do Surréalisme (1924), apresentam-se: as suas relações com o Dadaísmo; a revolução da imagem surrealista e o automatismo psíquico; a relevância dos fantásticos mundos oníricos; o importante papel das musas femininas; ou as manifestações surrealistas no teatro e no cinema.

Várias qualidades seduzem nesta brevíssima introdução ao Surrealismo, com destaque para a abrangência expositiva, que situa este movimento de vanguarda no seu contexto e vai delineando sedutoramente as grandes linhas temáticas de criação artístico-literária. Mas também atrai a cuidada apresentação gráfica da obra, desde o design da capa às múltiplas reproduções de pintura e de escultura que acompanham e ilustram adequadamente o texto.

Cândido Martins

Fiona Bradley: Surrealismo, Lisboa, Presença, 2000 (Tradução de Conceição Pacheco; Col. Movimentos de Arte Contemporânea, 3).


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