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Notas de apresentação


Introdução à Mitologia Grega de David Belligham

Um dos segmentos editoriais da Estampa tem sido o de publicar obras de divulgação nos sedutores e formativos campos temáticos da Mitologia e da Simbologia. Esta é mais uma interessante obra, assumidamente introdutória, sobre a vasta e influente mitologia grega. É com obras desta natureza pedagógica e interdisciplinar que se contribui para a formação básica de um cidadão com razoáveis horizontes culturais.

Inicia-se por alguns considerações introdutórias sobre questões conceptuais (distinções entre mito, lenda e fábula), e estudos da mitologia comparada. Assumindo uma postura simultaneamente didáctica e narrativa, seguem-se cinco capítulos, começando pelo nascimento dos deuses, a partir da Teogonia de Hesíodo. Continua com a apresentação das principais divindades do panteão olímpico. Não se esquecem as lendárias aventuras de grandes heróis, como os doze trabalhos de Héracles (Hércules) ou as lutas de Teseu; e ainda as histórias de seres monstruosos e de fantásticas metamorfoses, envolvendo até trágicos amores. A influência da mitologia grega estendeu-se ainda às designações das cartas celestes.

A terminar, surge a indicação genérica das fontes gregas usadas, de outras leituras sobre o tema, um breve quadro comparativo das grafias grega e romana das mesmas divindades (e dos seus equivalentes romanos), além de um útil índice remissivo. Uma obra que cativa pela sua qualidade gráfica e pela profusa quantidade de ilustrações, quer de obras de arte grega ou de quadros de grandes pintores europeus inspirados no riquíssimo thesaurus da mitologia grega.

Cândido Martins

David Belligham, Introdução à Mitologia Grega, Lisboa, Estampa, 2000 (Trad. de Isabel Teresa Santos).


Popper: Filosofia, Política e Método Científico de Geoffrey Stockes

O pensamento filosófico de Karl Popper (1902-1994) marcou profundamente a especulação epistemológica a partir da I Guerra Mundial. O seu interesse pela fundamentação do conhecimento, que distinguisse a ciência da pseudo-ciência, foi despertado pelo prestígio das teorias de Einstein, bem como pelas teorias psicológico-freudianas e pelo pensamento marxista. A influência das ideias de Popper, visível ao longo de décadas, caracterizou-se ora pelo reconhecimento do seu contributo, ora por diálogos mais ou menos polémicos em torno da sua obra.

A filosofia de Popper tem sido perspectivada sobretudo a partir do ângulo epistemológico, já que o conhecimento e a sua metodologia tinham sido a área privilegiada do pensamento popperiano. Para o autor do presente estudo, Geoffrey Stokes, docente e investigador da Univ. de Queensland (Austrália), há outros valores e implicações na teoria do racionalismo crítico de Popper. Por isso, o seu objectivo declarado é "demonstrar o modo como os seus valores sociais e políticos estabelecem o carácter e os limites do seu projecto epistemológico, como o carácter e os limites de grande parte do resto da sua filosofia".

O principal contributo de G. Stokes é o de aprofundar os valores morais e as concepções políticas, objectivos não epistémicos da filosofia popperiana, indissociáveis da visão de uma sociedade aberta, liberal e democrática. Outro mérito deste estudo é o de salientar a evolução da filosofia de Popper, abarcando a totalidade da obra deste pensador contemporâneo.

Cândido Martins

Geoffrey Stockes: Popper: Filosofia, Política e Método Científico, Lisboa, Temas & Debates, 2000 (Col. Memórias do Mundo; trad. de Rui Cabral, Pedro Galvão, Clara Joana Martins e Desidério Murcho).


A Leitura em Voz Alta de Georges Jean

Os primeiros exercícios de aprendizagem da leitura pela criança fazem-se com base na repetição mais ou menos mecânica das palavras. Uma vez assimilada a técnica da leitura, quase esquecemos o papel do ouvido. Na fruição da Literatura, há hábitos que se foram perdendo ou desvalorizando e que constituem perdas quase irreparáveis. Um é (era) o saber de cor alguns textos dos manuais escolares ou de outras leituras (etimologicamente, significa: saber pelo coração, através de uma memória afectiva). O outro hábito quase perdido é o da leitura em voz alta, cada vez mais substituída pela rápida leitura silenciosa.

Este livro de Georges Jean, linguista francês autor outros trabalhos, alguns traduzidos entre nós, dá um inestimável contributo para a reflexão, não para uma teoria englobante da leitura, mas antes sobre essa prática tão rica, e hoje em renovação, que é a leitura em voz alta. Num primeiro momento, o autor traça-nos uma convidativa história dos hábitos de leitura (silenciosa, murmurada ou em voz alta), da Grécia clássica à Europa moderna. Segue-se-lhe a apresentação das várias e sedutoras modalidades de leitura oral. Na contínua preocupação pedagógica, termina reflectindo sobre a educação da voz para o acto de leitura.

Decididamente, é preciso reflectir sobre as enormes vantagens da prática da leitura em voz alta, dentro e fora do sistema escolar. Se a dicção é metade do pensamento, a leitura em voz alta actualiza dimensões textuais (musicalidade, ritmo, etc.) e potencializa a nossa capacidade compreensiva. Através da convocação de vários sentidos, tem um poder verdadeiramente iluminador e até de sedução.

Cândido Martins

Georges Jean, A Leitura em Voz Alta, Lisboa, Instituto Piaget, 2000 (Col. Horizontes Pedagógicos, 70; trad. de Isabel Andrade).


A Sociologia da Arte (Do Museu Tradicional à Arte Multimédia) de Anna Lisa Tota

Depois de Etnografia da Arte (1997), esta investigadora italiana propõe-nos uma abordagem da Arte enquanto objecto de consumo. Através desta perspectiva, visa estudar a "relação entre arte e memória, entre arte e discurso público, entre produtos sociais e identidade". Perspectivada como fábrica de sentido, a Arte é interpretada como forma influenciadora do quotidiano, meio poderoso de construir a memória colectiva e instrumento de redefinição do próprio passado.

O olhar sociológico centra-se na relação entre as Poéticas da arte e as políticas do consumo. A recepção artística é indissociável dos contextos sociais em que a produção artística aparece, orientados por uma maior ou menor dose de convenções estético-culturais. O sistema artístico engloba necessariamente o papel das instituições, da formação do cânone, da flutuação dos gostos ou o impacto recente das sociedades mediáticas. Seguidamente, a investigadora detém-se na importância da memória concebida como construção colectiva. Como construção social pós-moderna, na instituição artística cristalizam-se o passado cultural de uma sociedade e as suas formas presentes de diálogo inter-cultural e interpretação de identidades, como acontece paradigmaticamente no espaço museológico.

Finalmente, partindo do desconstrucionismo romanesco de Calvino e de manifestações artísticas contemporâneas, aborda o tema do desconstrucionismo social, vendo a Arte como prática e colecção de textos, imbuídos de natural influência, mais ou menos provocatória, sobre o discurso público.

Cândido Martins

Anna Lisa Tota, A Sociologia da Arte (Do Museu Tradicional à Arte Multimédia), Lisboa, Estampa, 2000, 231 págs. (trad. de Isabel Teresa Santos; col. Temas de Sociologia, 12).


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