Letras & Letras

Notas de apresentação


Suplemento ao Dicionário de Eça de Queiroz de A. Campos Matos

A obra de um escritor com a grandeza de Eça de Queirós suscita sempre novos temas e renovados ângulos interpretativos. E um dicionário literário sobre a sua escrita é naturalmente uma obra em aberto. Por isso, não surpreende que depois de, em 1988, A. Campos Matos ter organizado a 1ª ed. do Dicionário de Eça de Queiros (646 págs.), tenha publicado, em 1993, uma 2ª edição substancialmente aumentada (1050 págs.), para suprir lacunas e alargar horizontes críticos. Agora, com a colaboração 52 autores, este prestimoso dicionário tem continuação num segundo volume, a que o coordenador chamou Suplemento (647 págs.). Enquanto prosseguem os importantíssimos trabalhos de edição crítica da obra de Eça, este volume complementar traz novas reflexões para os estudos sobre a recepção do escritor pelos coevos, a leitura de certos críticos queirosianos, a aproximação a outros escritores, a fortuna literária em autores contemporâneos, entre tantos outros artigos dignos de interesse.

Cândido Martins

A. Campos Matos (coord.), Suplemento ao Dicionário de Eça de Queiroz, Lisboa, Editorial Caminho, 2000.


O Grande Maia de António Apolinário Lourenço

A história de uma obra literária é a história dos seus leitores, a começar pelos coevos. Em ano de centenário de Eça de Queirós, publica-se uma importante recolha dos primeiros textos críticos que se pronunciaram sobre o romance Os Maias (1888). São reacções críticas diferenciadas, da autoria de Fialho de Almeida, Guiomar Torresão, Moniz Barreto, Mariano Pina, Luís de Magalhães, Silva Gaio e Bulhão Pato. É um conjunto de textos dificilmente acessível aos leitores e nem sempre devidamente valorizado pela crítica queirosiana. Com outros tantos silêncios comprometedores (de um Teófilo Braga, por ex.) e algumas excepções valorizadores, o que sobressai desta colectânea de textos publicados na imprensa do tempo é a ideia do grande falhanço da crítica, que não conseguiu ver neste romance a obra-prima do escritor, já em fase de superação do paradigma estético do realismo-naturalismo. Trata-se, por isso, de um relevante contributo para os estudos queirosianos.

Cândido Martins

António Apolinário Lourenço (ed.), O Grande Maia (A Recepção Imediata de «Os Maias» de Eça de Queirós), Braga-Coimbra, Angelus Novus, 2000 (Col. Documenta, 1)


Teu Amor Fez de Mim Um Lago Triste (Ensaios sobre "Os Maias") de Maria Manuel Lisboa

A melhor homenagem que se pode prestar a um escritor cujo I Centenário da Morte ainda a celebramos, é ler e interpretar a sua obra, como o faz esta jovem ensaísta. Maria Manuel Lisboa (n. 1963) é docente de Literatura Portuguesa e Brasileira na Universidade de Cambridge, tendo em Eça de Queirós um dos seus objectos hermenêuticos de eleição (cf. entrevista à Livros, nº 16, Jan. de 2001, pp. 12-13).

Neste livro, reúnem-se cinco ensaios sobre a grande obra-prima da ficção queirosiana, Os Maias (1888). Quatro já tinham sido editados previamente, mas são agora objecto de profunda revisão e ampliação, além de apresentados pela própria autora em nota introdutória: "uma longa meditação acerca de uma série de temas díspares, mas interligados em Eça: narcisismo e incesto, maternidade e origem, nacionalidade e identidade". Depois das várias tentativas de compreensão do tabu do incesto, há ainda lugar para uma renovada e abarcante interpretação. Sublinham-se aqui, entre outros aspectos, a natureza narcísica da atracção incestuosa de Carlos da Maia e o seu valor alegórico como tragédia da Pátria, afundada num sentimento de finitude e decadência.

Com este interessante livro, Maria Manuel Lisboa convida-nos a uma releitura do opus magnum de Eça. A partir sobretudo de um enfoque teórico psicanalítico, estes ensaios cativam pela originalidade e coesão das suas fecundas propostas interpretativas — sobre os vários significados do incesto, da amizade masculina, do anti-semitismo, do relevante papel das mulheres ou da genial utilização ao riso sem a catarse trágica.

Cândido Martins

Maria Manuel Lisboa, Teu Amor Fez de Mim Um Lago Triste (Ensaios sobre "Os Maias"), Porto, Campo das Letras, 2000, 411 págs. (Col. Campo da Literatura/Ensaio, 50).


Voltar à página inicial das Notas de Apresentação

Colaboradores | Coordenação | Contactos | © 1997-2015 Letras & Letras