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Notas de apresentação



Política & Polidez, de Américo António Lindeza Diogo

No campo literário, uma das maiores vantagens da celebração das efemérides é contribuírem para a reafirmação ou releitura de determinado escritor. Isso mesmo vem acontecendo com alguns inovadores estudos publicados sobre Almeida Garrett, de quem em 1999 se comemorou o II Centenário do seu Nascimento. Entre os ensaios publicados recentemente sobre as Viagens, destaquem-se: o de Pedro Serra ("Linguagem, Memória e História nas Viagens na Minha Terra, in Ciberkiosk); e o de Victor J. Mendes (Almeida Garrett. Crise na Representação nas "Viagens na Minha Terra", Lisboa, Cosmos, 1999).

A acrescentar ao "novo paradigma nos estudos garrettianos", que Diogo vê inaugurado pelos estudos referidos, como refere oportunamente estes trabalhos no seu texto introdutório, devemos acrescentar esta sua obra, mais aparentada com a de Pedro Serra. Recomenda-se esta crítica culturalista das Viagens, centrada nas temáticas do cânone e património, nação e identidade, quer pelo traz de novo para a interpretação da obra, quer pela novidade da sua metodologia no contexto da crítica portuguesa de finais dos anos 90. Por tradicional inércia, o sistema de ensino da Literatura Portuguesa manter-se-á relativamente alheio a esta e outras aportações hermenêuticas, preferindo acomodar-se na repetição de alguns lugares-comuns da crítica garrettiana.

Ainda sobre algumas das novas tendências da crítica sobre a obra de Garrett, merece especial menção o belo número monográfico da Colóquio-Letras, 153/154 (1999), inteiramente consagrado ao escritor, e onde "dialogam" Victor J. Mendes e Américo L. Diogo. Acrescente-se ainda que o interesse de Diogo pela obra do escritor romântico não é de agora. Na sua considerável obra ensaística, já em 1997 publicara, em parceria com Osvaldo M. Silvestre, o interessante ensaio Rumo ao Português Legítimo. Língua e Literatura (1750-1850).

Cândido Martins

Américo António Lindeza Diogo, Política & Polidez. A Estética em as "Viagens na Minha Terra", Braga/Coimbra, Angelus Novus, 2000 (138 págs.; col. Ensaio Literatura).


Ver. Escrever (José Régio, o Texto Iluminado), de Eunice Ribeiro

No ano em que se celebra o I Centenário do Nascimento de José Régio (1901-1969), Eunice Ribeiro publica uma importante contribuição para os estudos regianos, obra que inaugura a prometedora Colecção Poliedro. A autora é docente e investigadora da Universidade do Minho (Braga), tendo este trabalho sido apresentado originalmente sob a forma de dissertação de doutoramento. Poeta, romancista, dramaturgo e crítico, o irmão de Saúl Dias foi também, consabidamente, no contexto do modernismo presencista, um apreciável artista plástico. Esta faceta da criação plástica de Régio e da sua estética visualista, manifestada pelos desenhos e óleos, ainda não tinha sido objecto de um sistemático estudo crítico.

Neste aprofundado trabalho, Eunice Ribeiro debruça-se sobre o diálogo comparatista entre as artes pictóricas e literárias na obra de Régio, síntese a que não é alheia a ideia regiana e presencista de Arte Total. Para essa abordagem interartística, a obra estrutura-se em três grandes capítulos: "Literatura e Pintura, O Conflito Harmonioso" (Cap. 1); "O Modernismo Português e o Diálogo Interartístico" (Cap. 2); "José Régio e a Procura da Evidência" (Cap. 3). Além de uma criteriosa e exaustiva bibliografia, este estudo é ainda enriquecido, em anexo, por um amplo conjunto iconográfico dos trabalhos plásticos e das ilustrações das obras de Régio. Estamos não só perante um decisivo contributo para a crítica regiana, mas também diante de um inovador estudo no domínio das fecundas relações entre as Artes da Literatura e da Pintura. A partir de agora, além de ler, podemos ver a obra de Régio com outro olhar.

Cândido Martins

Eunice Ribeiro, Ver. Escrever (José Régio, o Texto Iluminado), Braga, Universidade do Minho / Centro de Estudos Humanísticos, 2000 (485 págs.; Col. Poliedro, 1).


Conhecimento de Poesia (Vitorino Nemésio), de Rita Patrício

Vitorino Nemésio (1901-1978) é um nome singular da Literatura e dos Estudos Literários deste século em Portugal. Cem anos depois do seu nascimento, a extensa e multifacetada obra publicada pelo autor, dispersa pelos campos da poesia, do romance, do ensaísmo, da crítica literária, etc., tem sido objecto de crescente interesse e revalorização. A atestá-lo está, por ex., a publicação das volumosas Actas do Colóquio Internacional, realizado em Ponta Delgada, a 18-21 de Fevereiro de 1998, recentemente editadas: Vitorino Nemésio — Vinte Anos Depois (Cosmos, 1998). Para uma visão panorâmica da importante e diversificada obra de Nemésio, veja-se a "Bibliografia" publicada em Miscelânea de Estudos em Honra do Prof. Vitorino Nemésio (Fac. Letras de Lisboa, 1971, pp. xviii-lxviii). Relembre-se que devemos a Nemésio a apresentação de um dos grandes críticos oitocentistas, Moniz Barreto (Ensaios de Crítica, 1944).

O interesse de Rita Patrício, docente da Universidade do Minho, pela obra de Nemésio manifesta-se na publicação de outros trabalhos menores (cf. Ciberkiosk, 2, 1998; e especialmente a comunicação apresentada ao referido Colóquio). No ensaio agora publicado, originalmente apresentado como dissertação de Mestrado, a autora pretende dilucidar a concepção de Crítica literária de Nemésio, tal como é exposto na apresentação do trabalho: "analisa-se qual seja a condição da crítica literária, quais os seus fundamentos e objectivos", sem esquecer a nemesiana "dimensão estética do discurso crítico". O corpus de análise é constituído pelos textos críticos publicados entre 1936 e 1957, que compõem a obra Conhecimento de Poesia (1ª ed., 1958, Bahia), há pouco reeditada pela IN-CM (1997).

Cândido Martins

Rita Patrício, "Conhecimento de Poesia": a crítica literária segundo Vitorino Nemésio, Braga, Universidade do Minho / Centro de Estudos Humanísticos, 2000 (108 págs.; Col. Hespérides — Literatura, 12).


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