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Notas de apresentação


A Arte de Trovar, de Giuseppe Tavani

Em todas as épocas literárias, com maior ou menor intenção orientadora e pendor normativo, os textos ou tratados doutrinários sempre tiveram um interesse primordial, quer quando resultavam de sínteses induzidas a partir do corpus da própria criação poética, quer quando veiculavam programática e vanguardisticamente novos princípios estéticos. No caso do nosso lirismo medieval, é muito interessante conhecer as breves regras integrantes da fragmentária e tardia Poética portuguesa, de autor anónimo, atentando nas suas considerações sobre os géneros, subgéneros e demais procedimentos técnico-compositivos do nosso "trobar" galaico-português e da "gaya ciencia".

Esta pequena publicação compõe-se de três partes: primeiro, o leitor depara-se com um estudo do consagrado medievalista italiano Giuseppe Tavani, "A poética do cancioneiro da Biblioteca Nacional e as artes de trovar catalãs e provençais do século XIII e o início do XIX", como o texto das Leys d'Amors. Numa segunda parte, em apêndice, a reprodução do "Fac-símile do manuscrito (a partir de fotografias do Ms. Colocci-Brancuti realizadas na Biblioteca Nacional de Roma)", texto menos retórico e mais prático do que outras poéticas coevas. Finalmente, a transcrição da incompleta "Arte de Trovar do Cancioneiro da Biblioteca Nacional", redigida já no séc. XIII, e que antecede a referida antologia. É verdade que, com maior ou menor rigor, já fora transcrita por outros autores, oitocentistas e contemporâneos, a começar por Teófilo Braga.

Elaborada por um especialista, catedrático de Filologia Românica da Universidade de Roma, esta é uma edição oportuna, de um texto metapoético muito relevante para a história do lirismo medievo. Bom era que se concretizassem semelhantes trabalhos de edição de tantas outras importantes Artes Poéticas, até pelo menos ao séc. XVIII, como as relevantes obras metapoéticas de Pina e Melo ou de Francisco José Freire. Ao assunto, já o autor consagrara um importante artigo de síntese ("Arte de Trovar"), integrante do Dicionário de Literatura Medieval Galega e Portuguesa (Lisboa, Caminho, 1993, pp. 66-69), dirigido com Giulia Lanciani.

Cândido Martins

Giuseppe Tavani, A Arte de Trovar do Cancioneiro da Biblioteca Nacional de Lisboa, Introdução, Edição crítica e Fac-símile, Lisboa Edições Colibri, 1999 (Col. Viator, nº 2, dir. de Aires A. Nascimento; 56 págs.).


Histórias Literárias Comparadas, org. por Teresa Seruya e Maria Lin Moniz

Neste interessante volume de actas, reúne-se o conjunto de 25 comunicações apresentadas a um Colóquio Internacional, subordinado ao tema geral de Histórias Literárias Comparadas. A sua realização teve na Universidade Católica Portuguesa (Lisboa), em 11 e 12 de Novembro de 1999.

Até pela sua natureza colectiva, trata-se de uma obra com um diversificado leque temático, congregando as várias participações em torno sobretudo de duas grandes áreas, cada vez mais relevantes do ponto de vista comparatístico, hermenêutico e intercultural. Em primeiro lugar, os estudos sobre a Tradução Literária e a sua problemática em diversas épocas. Depois, a problematização da História Literária portuguesa, do seu consabido atraso teórico-metodológico, mas também das suas importantes relações com a castelhana ou as dos países africanos de expressão portuguesa.

Esta obra congrega investigadores de várias instituições universitárias, portuguesas e estrangeiras, oriundos de várias áreas dos Estudos Literários ou de diversas "filologias": Gideon Toury, João Almeida Flor, Philipp Löser, Cristina Almeida Ribeiro, Fátima Freitas Morna, entre outros. O trabalho agora publicado corresponde à realização de uma meritória iniciativa do CLCPB da UCP.

Cândido Martins

Teresa Seruya e Maria Lin Moniz (org.), Histórias Literárias Comparadas (Colóquio Internacional), Lisboa, Edições Colibri / Centro de Literatura e Cultura Portuguesa e Brasileira da Univ. Católica Portuguesa, 2001 (298 págs.).


Sublime. Tradução, de Helena C. Buescu e João F. Duarte (orgs.)

Em tempos de mundialização informativa, de relações interdisciplianares e de reflexão sobre a alteridade, os estudos literários e culturais não podem ficar alheios a estas tendências marcantes da contemporaneidade, em sentidos que nem a Weltliteratur goetheana poderia adivinhar. Neste contexto a presente publicação inaugura um prometedor projecto de estudos comparatistas, inspirado pelos conceitos agrupados na denominação acrónima ACT. Para outras informações sobre os trabalhos e projectos do Centro de Estudos Comparatistas, é recomendável a consulta da sua página "on-line" — http://www.fl.ul.pt/comparat.

De um conjunto mais vasto de publicações, que já conta com, pelo menos, três trabalhos, obra é constituída por quatro estudos: "Crossing to Aesthetics: Revolution, Morality, and the Ideology of de Beautiful" (Oscar Kenshur); "The Enlightenment and Beyond: Kant and the Dilemma of Cultural Theory Today" (Gilbert D. Chaitin); "The Politics of Non-translation: A Case Study in Angolo-Portuguese Relations" (João Ferreira Duarte); e "Native American Literature; Trickster Translations" (Lucy Madox).

Cândido Martins

Helena Carvalhão Buescu e João Ferreira Duarte (orgs.), Sublime. Tradução (ACT 1), Lisboa, Edições Colibri /Centro de Estudos Comparatistas, 2000 (Col. Alteridades, Cruzamentos, Transferências — ACT; 82 págs.).


Futurismo, de Richard Humphreys

O grande e muito meritório desta colecção é divulgar alguns dos mais relevantes movimentos artísticos contemporâneos, através de sínteses panorâmicas, amplamente ilustradas, como já aconteceu com os anteriores sete volumes. Para atestar a qualidade deste volume, informe-se que se trata de uma edição originária da londrina Tate Galery Publishing. Neste caso, trata-se de conhecer o importante movimento de vanguarda, criado historicamente através da publicação pelo poeta, pintor e polemista italiano F. T. Marinetti do Manifesto e Fundação do Futurismo, nas páginas do conservador jornal parisiense Le Figaro, em 20 de Fevereiro de 1909.

Elogio da Máquina, Velocidade, da Modernidade: "A coragem, a audácia e a revolta constituirão elementos essenciais da nossa poesia"; "Destruamos os museus, esses cemitérios; uma obra de arte deve ser agressiva... um automóvel de corrida é mais belo do que a Vitória da Samotrácia". Estética vanguardista e utópica, militantemente provocadora e anti-academicista, o Futurismo revolucionou a Arte, da Literatura à Pintura. Seduzido pelas transformações tecnológicas, o jovem espírito avant-garde do Futurismo contrapunha o Progresso a uma serôdia belle époque, chegando a envolver-se politicamente e a celebrar a eclosão da I Guerra Mundial. À luz deste ideário, apresentou um programa de furor iconolasta, que agressivamente abolia regras e denunciava a decadência e a tradição, em favor do culto do movimento, do efémero e sobretudo do mundo tecnológico.

Nesse espírito de revolta electrizante, julgavam necessário presentear a sociedade burguesa com "A Bofetada no Gosto do Público". Naturalmente, uma obra desta natureza não se refere às manifestações futuristas do nosso Orpheu (F. Pessoa, Sá-Carneio, Almada Negreiros, Sousa Cardoso ou Santa-Rita). Porém, conhecer o desenvolvimento europeu do Futurismo ajuda-nos a entender melhor as suas manifestações modernizantes no seio dos modernistas lusos, quer na Literatura quer nas artes plásticas.

Pela brevidade e interessante estruturação dos capítulos desta obra de Richard Humphreys, pela boa selecção de ilustrações que acompanham constantemente o texto, pela oportuna relação temática entre as artes, pel fundamentada convocação de outros movimentos como o Cubismo, pela clareza da exposição e pelas manifestas preocupações pedagógicas, é muito difícil encontrar uma introdução em Futurismo que se lhe possa equiparar.

Cândido Martins

Richard Humphreys, Futurismo, Lisboa, Presença, 2001 (trad. de Graça Lima Gomes; col. Movimentos de Arte Contemporânea, 8; 80 págs.).


Minimalismo, de David Batchelor

A obra aparece estruturada em três breves capítulos: "1-Da Pintura à Escultura"; "2-Dos Objectos e dos Temas";"3-Dos Textos e dos Contextos", seguidos de uma "Bibliografia Seleccionada". Foi um movimento surgido na década de 60, tendo uma expressão sobretudo americana e nova-iorquina. O Minimalismo ou Arte Minimal (minimal art) é designação (irónica) atribuída a Richard Wollheim. O seu lema pode ser: less is more (o menos é mais), segundo Mies van der Rohe. Manifestou-se em várias artes, da pintura à escultura, previlegiando a simplificação e o abstraccionismo extremos, as linhas e os planos mais objectivos, a simplicidade intensa do cromatismo.

Dentro dos mesmos propósitos e do mesmo formato que orentam os oito livros desta interessante colecção, esta pequena obra de David Batchelor procura fornecer ao leitor interessado uma panorâmica sobre um dos movimentos artísticos contemporâneos. Com informação suficiente, clara e bem organizada; e ilustrações relativamente abundantes e adequadas, os objectos desta síntese parecem-nos amplamente conseguidos. Na capa, um quadro de Dan Flavin, um dos cinco artistas seleccionados para um comentário mais detido, juntamente com Carl Andre, Donald Judd, Sol LeWitt e Robert Morris.

Cândido Martins

David Batchelor, Minimalismo, Lisboa, Presença, 2000 (trad. de Fátima Araújo; col. Movimentos de Arte Contemporânea, 4; 80 págs.).


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