Letras & Letras

Notas de apresentação


Metamorfoses da Escrita de Maria João Reynaud

Estudo aprofundado e inovador sobre Raul Brandão (1867-1930), autor de uma das obras mais singulares e mais complexas da Literatura Portuguesa, da transição do séc. XIX para o novo séc. XX. Este trabalho constituiu a tese de doutoramento da autora, apresentada em 1997 à Faculdade de Letras do Porto. A espantosa modernidade de uma as obras brandonianas, Húmus, tem sido realçada por vários críticos, ensaístas e historiadores literários. Porém, nunca antes se tinha estudado com tanta sistematicidade e rigor teórico-crítico esta narrativa, que simboliza a revolução do velho paradigma do romance realista de oitocentos e a instauração do “romances de ideias” na criação literária portuguesa. Deve-se também a Maria João Reynaud a organização de um importante volume de actas sobre o escritor, sob o título de Ao Encontro de Raul Brandão (Porto, 1999).

A complexidade e sedução deste estudo aumenta com a análise comparativa das três versões que Raul Brandão nos legou da sua narrativa Húmus. Questionando as fronteiras genológicas entre a narrativa e a poesia, o próprio processo de composição desta obra brandoniana é extremamente revelador do pendor revolucionário da sua escrita expressionista. Aliás, articuladamente, devemos a Maria João Reynaud a edição recente dessa três versões do Húmus, em três atraentes volumes (1ª ed. fac-similada; 2ª ed. fac-similada e, a culminar, a edição crítica), num belo trabalho editorial da Campo das Letras (2000).

Cândido Martins

Maria João Reynaud, Metamorfoses da Escrita (Húmus, de Raul Brandão), Porto, Campo das Letras, 2000, 494 págs. (Col. Campo da Literatura, 54).


A Retórica Greco-Latina e a sua Perenidade, José Ribeiro Ferreira

O esclarecido mecenatismo da Fundação Eng. António de Almeida é, desde logo, credor do nosso mais franco elogio e agradecimento, pelo facto de se associar a esta importante publicação das Actas de um congresso, realizado na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Reunindo um alargado conjunto de especialistas portugueses e estrangeiros, esta reunião científica internacional vem comprovar, para quem eventualmente ainda dúvidas tivesse, a enorme actualidade do legado da Retórica clássica, de raízes greco-latinas, a velha ars bene dicendi.

Dos Estudos Literários e da Filosofia às modernas áreas da Comunicação (Publicidade, Marketing, Política) ou do Direito, a riquíssima teoria e praxis da Retórica ou Eloquência continua a apresentar-se, ainda nos dias de hoje, como uma matriz metodológica de natureza argumentativa e comunicacional. A comprová-lo está a crescente e infindável bibliografia crítica que se vai publicando nestas e em outras áreas afins, com destaque para os inspiradores estudos de Chaïm Perelman e de Michel Meyer, de Kurt Spang e de Olivier Reboul, entre tantos outros, no âmbito de uma renovada Retórica, concebida como ciência ou arte da persuasão/comunicação.

Os dois preciosos volumes, oportunamente editados pela Fundação Eng. António de Almeida, congregam algumas dezenas de estudos, apresentados sob a forma de comunicações. Alguns desses trabalhos, pela profundidade e inovação das suas análises e propostas, ultrapassam claramente o género de simples comunicação científica, para se transformarem em estudos aprofundados sobre Retórica clássica e a sua perenidade. Aliás, alguns dos investigadores que assinam estes estudos são também autores de relevantes obras dentro desta área temática.

A coordenação destes volumes pertenceu ao Doutor José Ribeiro Ferreira, conhecido professor da Faculdade de Letras de Coimbra, a quem cabe a apresentação geral da temática, depois de ter exercido a presidência do referido congresso internacional. Definitivamente, é com importantes publicações como esta que podemos falar, com toda a justiça, num verdadeiro e desejado regresso da Retórica.

Cândido Martins

José Ribeiro Ferreira (org.), A Retórica Greco-Latina e a sua Perenidade (Actas do Congresso), 2 vols., Porto, Instituto de Estudos Clássicos (Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra) / Fundação Eng. António de Almeida, 2000 (1002 págs).


Fenomenologia do Discurso Poético de Luís Adriano Carlos

Sendo hoje um dos grandes conhecedores da obra poética de Jorge de Sena, Luís Adriano Carlos é professor da Faculdade de Letras do Porto, onde apresentou este importante trabalho de investigação como dissertação de doutoramento em 1993. Assinale-se ainda que, além de docente e investigador, Luís Adriano Carlos é ainda poeta, com várias obras publicadas nesse domínio. Este facto não é naturalmente irrelevante ou estranho a determinadas tendências fecundas do trabalho hermenêutico do autor. No campo da crítica e do ensaio, entre muitos trabalhos sobre vários autores da modernidade (Fernando Pessoa, Alberto de Oliveira, Saul Dias, José Régio, Luís Veiga Leitão, Políbio Gomes dos Santos, entre outros), foi um dos primeiros universitários de língua portuguesa a dedicar a Jorge de Sena uma dissertação de mestrado: Jorge de Sena e a Escrita dos Limites: Análise das Estruturas Paragramáticas dos “Quatro Sonetos a Afrodite Anadiómena” (Porto, 1986).

Justamente premiado, Fenomenologia do Discurso Poético afirma-se como um dos mais inovadores e bem articulados ensaios literários no recente panorama da crítica portuguesa. Articular e iluminar profundamente a criação poética do multifacetado Jorge de Sena, ao longo de mais de quatro décadas, através da matriz filosófica e epistemológica da Fenomenologia, reconhecida pelo próprio poeta, constitui um dos maiores méritos do arguto ensaio de Luís Adriano Carlos. Fecundar a exegese da escrita poética seniana com dialéctica filosófico-metodológica de um Edmund Husserl (sem esquecer a dialéctica hegeliana e o paradigma marxista) não se apresenta como caminho fácil, ao alcance de qualquer crítico. Pressupõe assinalável bagagem filosófica e, ao mesmo tempo, maturidade teórico-crítica, condições indispensáveis para Luís Adriano Carlos se abalançar na análise de uma das mais inovadoras e desafiantes obras do panorama literário do séc. XX.

Cândido Martins

Luís Adriano Carlos, Fenomenologia do Discurso Poético (Ensaio sobre Jorge de Sena), Porto, Campo das Letras, 1999, 418 págs. (Campo da Literatura/Ensaio, 34).


Voltar à página inicial das Notas de Apresentação

Colaboradores | Coordenação | Contactos | © 1997-2015 Letras & Letras