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Notas de apresentação


António Feijó e Camilo Pessanha no Panorama do Orientalismo Português

Os Descobrimentos portugueses de Quinhentos e a nossa posterior presença por terras do Oriente, de Macau à China, marcou definitivamente um dos traços singulares da Literatura Portuguesa: Ex Oriente Lux. Da riquíssima literatura de viagens de Quinhentos ao exotismo oitocentista ou aos escritores do séc. XX, que o Orientalismo ganhou foros de mito literário, ciclicamente retomado e reescrito. É justamente neste contexto, e lançando mão de fecundas perspectivas oriundas da crítica cultural e comparativista, que se insere o interessante trabalho de Manuela Delgado Leão Ramos.

Com efeito, desde os inveterados viajantes aos orientalizados, de João de Barros, Diogo do Couto, Fernão Mendes Pinto ou Camões até Eça de Queirós, António Feijó Camilo Pessanha ou Wesceslau de Moraes, “o homem que trocou a sua alma” (nas acertadas palavras de Fidelino de Figueiredo), que o longínquo Oriente se transformou num tema recorrente da nossa criação literária, com contornos de verdadeiro mito histórico, como analisado já por vários autores, com destaque para Álvaro Manuel Machado em O Mito do Oriente na Literatura Portuguesa (1983).

Apresentada originalmente como dissertação de Mestrado à Universidade do Minho, esta tese debruça-se sobre as manifestações de orientalismo e sinologia dos dois autores mencionados no seu título – António Feijó, o autor do Cancioneiro Chinês, poeta injustamente esquecido; e Camilo Pessanha, o influente poeta finissecular da Clepsydra. Com o importante apoio da Fundação Oriente, o confessado interesse de Manuela Delgado Leão Ramos pela cultura oriental levou-a a escolher estes dois nomes maiores da tradição orientalista que singulariza a moderna Literatura Portuguesa, nomeadamente nas suas tendências parnasiana e simbolista. Um dos grandes desafios que se colocava à autora era o do conhecimento da língua e cultura chinesas, já que a sua opção metodológica era justamente a de uma inquiridora viagem pela sinologia.

Ao longo dos seis capítulos do seu trabalho, e de um modo articulado, Manuela Delgado Leão Ramos convida-nos, por exemplo, a reflectir sobre o conceito de orientalismo nos estudos literários e culturais (Cap. 1). Aborda a configuração imagético-temática da China pelos ocidentais, no séc. XIX, quer a nível religioso quer laico (Cap. 2). Contextualiza o orientalismo português com a defesa ou a crítica do colonialismo, a partir de autores como Oliveira Martins ou João Feliciano Marques Pereira (Cap. 3). Destaca as contribuições portuguesas ao X Congresso Internacional dos Orientalistas (Cap. 4). Particulariza o orientalismo, de contornos simbolistas, da obra de Camilo Pessanha (Cap. 5). E, finalmente, estuda a génese e significado da “mais bela jóia orientalista da poesia Portuguesa : o Cancioneiro Chinês (1890) de António Feijó”, a partir de relevantes elementos de pesquisa, como as cartas do poeta a Luís de Magalhães (Cap. 6).

Estudo relevante, alicerçado numa criteriosa bibliografia e em epistolografia inédita, demonstrador sobretudo da renovação teórico-metodológica do orientalismo, com a prestigiante chancela editorial da Fundação Oriente.

Cândido Martins

Manuela Delgado Leão Ramos, António Feijó e Camilo Pessanha no Panorama do Orientalismo Português, Lisboa, Fundação Oriente, 216 págs. (Col. Orientalia, 5).


Centenário do Nascimento de Mário de Sá-Carneiro (1890-1916)

Este pequeno volume recolhe um interessante conjunto de textos breves e de imagens com que a “Missão Permanente de Portugal junto da Unesco” assinalou, no Palácio da Unesco (em Paris), o I Centenário do Nascimento de um dos maiores poetas da Literatura Portuguesa, Mário de Sá Carneiro, a quem se aplica o conhecido verso de Fernando Pessoa: “Morre jovem o que os Deuses Amam”. Com a prestigiante chancela editorial da Fundação Eng. António de Almeida, o volume tem ainda a particularidade de esses textos estarem em português e em francês, podendo assim chegar a um público mais vasto.

Inicia-se com um texto de “Evocação de Mário de Sá-Carneiro”, da autoria de José Augusto Seabra, professor, crítico e também poeta. Seguem-se outros especialistas, como a breve apresentação crítica de um conhecido crítico francês, François Castex, “1990. Centenário do Nascimento do Poeta Mário de Sá-Carneiro”. De Maria Aliete Galhoz, o artigo “’Mimo’ e Agonia, o trajecto final da poesia de Mário de Sá-Carneiro”. Finalmente, o texto de apresentação da “Exposição Iconográfica de Mário de Sá-Carneiro. Um Percurso de Imagens”, assinado por Marina Tavares Dias.

Além de uma interessante iconografia e da reprodução de alguns manuscritos do poeta, esta edição tem ainda o interesse de reproduzir, em fac-simile, as provas de página dos Poemas de Paris, de Mário de Sá-Carneiro, enviadas para a revista “Orpheu” e já antes reproduzidas pelas “Edições Nova Renascença” (Porto, 1985). Também este conjunto de poemas é traduzido para francês. Além do “Itinerário” da referida exposição parisiense, a obra encerra com uma oportuna “Cronologia da Vida e Obra” do poeta celebrado nesta efeméride.

Cândido Martins

AA. VV., Centenário do Nascimento de Mário de Sá-Carneiro (1890-1916), Porto, Fundação Eng. António de Almeida, 1990 (74 págs).


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