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Notas de apresentação


A Praga de Franz Kafka de Klaus Wagenbach

Um livro lindíssimo que deixa o crítico em apuros: acontece que este fica sem saber o que deverá elogiar e admirar em primeiro lugar. As fotografias antigas talvez sejam a parte mais bela – até à data, nunca foram apresentadas de uma forma tão fundada e comentadas com tanto carinho...

A precisão com que se conjugam o texto, as imagens e as plantas da cidade e a minúcia com que Wagenbach preparou e executou a sua viagem urbana são o que este livro tem de melhor, elevando – o muito acima da generalidade dos livros de viagens.

Frankfurter Allgemeine Zeitung

Klaus Wagenbach, A Praga de Franz Kafka, Lisboa, Fenda Edições, 2001.


JESUS – The Last Adventure of Franz Kafka

Praga, 1920. Kafka, que sabe que tem poucos anos de vida diante dele, encontra um dia na Grande Praça da Cidade Velha o vagabundo Til, a quem ele vai chamar "Meu Filho". Este velho é extremamente cómico e juntos vão semear o riso e a confusão por toda a cidade. Uma noite, nas suas errâncias, encontram numa velha taberna da Praga Antiga o hermafrodita português Jesus, que trabalha num circo europeu. Kafka que pela primeira vez é feliz, apaixona-se imediatamente por ele.

Este livro, que é o hino de amor de dois excluídos, trata também os temas da Identidade, da Linguagem e da impossível felicidade que existe sobre a terra.

JESUS – The Last Adventure of Franz Kafka é também uma narrativa sobre a tragédia dos artistas que têm que sacrificar a sua vida para que a sua Obra se realize.

O resto são obrazinhas do Diabo e uma extraordinária descida aos infernos duma cidade fascinante feita por um escritor no melhor da sua forma e que se colocou no centro da sua aventura literária.

Manuel da Silva Ramos, JESUS – The Last Adventure of Franz Kafka, Lisboa, Fenda Edições, 2002 (Ficção).


Filosofia da Comunicação de Jean-Marc Ferry

Dir-se-ia que entrámos, não sem equívocos, na era das filosofias da comunicação, que pretendem superar os paradigmas da consciência, da reflexão e da linguagem. Na primeira parte de Filosofia da Comunicação, Jean-Marc Ferry – autor, nomeadamente, de uma tese fundamental intitulada Habermas, l’éthique de la communication; Les Puissances de lexpérience (I e II); L'Allocation universelle.  Pour un revenu de citoyenneté, e L'Éthique reconstructive – interroga-se sobre o problema da verdade, tal como deve empenhar-se em levantá-lo um "pensamento pós-metafísico" que entende, porém, não renunciar a "uma certa forma de transcendência", tido por inseparável do exercício da reflexão crítica. Na segunda parte, a questão central diz respeito à «justiça política» e às suas relações com a «democracia processual», sustentando Jean-Marc Ferry que uma e outra se pressupõem e que a sua articulação corresponde à exigência argumentativa e prática de conjugação do "razoável" com o "racional".

Jean-Marc Ferry, Filosofia da Comunicação, Lisboa, Fenda Edições, 2001 (Ensaio).


Crónicas Portuguesas de Charles Reeve

À distância, por vezes, observam-se com agudeza maior os particularismos de uma dada sociedade. No habituado contacto com as suas taras estruturais, quem nela vive acaba amiúde por as legitimar sem disso se aperceber. Charles Reeve, que vive entre Paris e Nova Iorque (com poisos em Tavira), tem a vantagem do olhar cosmopolita que, num relance, lhe permite apreender cm Portugal aquilo que um nacional facilmente não vê. Mas tem ainda outro trunfo: nascido em Lisboa em 1945, banhou desde sempre na história social deste país, a que já dedicou vários estudos.

Charles Reeve, Crónicas Portuguesas, Lisboa, Fenda Edições, 2001 (Crónicas).


Entre o Sonho e a Dor de Jean-Bertrand Pontalis

Jean-Bertrand Pontalis (n. 1924) é, de há largos anos a esta parte, um dos protagonistas principais daquilo a que poderíamos chamar a permanência e a actualidade da «revolução psicanalítica». Tendo recebido inicialmente uma formação filosófica, psicanalista, ficcionista, ensaísta, tradutor (nomeadamente de Winnicott) e responsável editorial, é autor com Jean Laplanche de um Vocabulário da Psicanálise que se tornou um clássico e continua a ser regularmente reeditado em diversas línguas, sendo-lhe devida também a criação, em 1970, da Nouvelle Revue de Psychanalyse, que animou durante os seus vinte e cinco anos de existência. Entre os seus escritos psicanalíticos, destacam-se, além do presente volume, Perdre de vue, La Force d'attraction e Ce temps qui ne passe pas – todos eles exemplarmente marcados pelas encruzilhadas que, para preservar na sua essência mais própria, a psicanálise deve ousar abrir, repetindo a sua origem, com esses outros exercícios de invenção e crítica que são a filosofia, a literatura, as ciências sociais em geral e, em última análise, a reflexão, sempre aplicada mas nunca deduzida ou simplesmente transcrita a partir da teoria, de ordem cultural e política. Dos seus textos literários, ainda por editar em Portugal, citemos aqui a narrativa autobiográfica L'Amour des commencements, a par de Loin e de Un homme disparait.

Jean-Bertrand Pontalis, Entre o Sonho e a Dor, Lisboa, Fenda Edições, 2001 (Ensaio).


Ensaio sobre a Intoxicação Voluntária de Peter Sloterdijk

Foi Nietzsche quem inventou a fórmula do filósofo como médico da cultura. Assim, hoje, quando alguém exprime uma opinião sobre o tempo presente evolui necessariamente num terreno que Nietzsche explorou. Para se poder formular um diagnóstico sobre uma época é necessário ser intoxicado por ela.

O pensamento filosófico não é uma pura reflexão nem a expressão de qualquer sabedoria: trata-se principalmente duma febre reagindo à inoculação duma espécie de curare. Se a filosofia é uma intoxicação voluntária, ela é o fermento dum veneno graças ao qual – por uma lenta alquimia – o espírito consegue recuperar uma parte da sua liberdade.

Peter Sloterdijk, Ensaio sobre a Intoxicação Voluntária, Lisboa, Fenda Edições, 2001 (Ensaio).


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