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Notas de apresentação


O Mundo dos Sentidos em Português: Polissemia, Semântica e Cognição, de Augusto Soares da Silva

Aparentemente simples, a polissemia ou associação de dois ou mais sentidos relacionados numa única forma linguística coloca muitos problemas conceptuais e metodológicos que têm que ver com a identificação e diferenciação de sentidos, o modo como eles estão relacionados e mentalmente representados, a natureza do significado, o funcionamento da linguagem e da mente. Fenómeno endémico das línguas, o seu estudo é de importância fundamental para qualquer estudo semântico da linguagem e para a compreensão da cognição e da cultura. Este livro, situado no quadro da Linguística Cognitiva e no contexto interdisciplinar das ciências cognitivas, examina as várias questões da polissemia (algumas ainda sem resposta), propõe elementos para uma teoria da polissemia e do significado, mostra que a pluralidade de sentidos é propriedade não só das palavras como de quase todas as outras unidades linguísticas e analisa diversas categorias complexas e ricas da língua portuguesa, nomeadamente o verbo deixar, o marcador discursivo pronto, o diminutivo, o objecto indirecto, a construção ditransitiva, a entoação descendente e ascendente. O estudo evidencia a flexibilidade do significado, a sua natureza perspectivista, enciclopédica e experiencial, a sua eficácia cognitiva e comunicativa, a estrutura multidimensional das categorias conceptuais e linguísticas e o poder de determinados mecanismos cognitivos de geração de sentidos (metáfora, metonímia, protótipos, transformações de esquemas imagéticos, subjectivização), associados a estratégias pragmáticas de interacção social e convencionalização. Para além dos contributos para a semântica das línguas, encontram-se aqui também sugestões para a construção de dicionários, a tradução e o tratamento computacional das línguas e implicações filosóficas e outras para o estudo das relações entre linguagem e cognição.

Augusto Soares da Silva, O Mundo dos Sentidos em Português: Polissemia, Semântica e Cognição, Coimbra: Almedina, 2006.


Novos Horizontes para as Humanidades, AA. VV.

A presente obra reúne grande parte das conferências apresentadas no Colóquio Novos Horizontes das Humanidades, promovido e organizado pelo Centro de Estudos Humanísticos da Faculdade de Filosofia da Universidade Católica Portuguesa, em Braga, e realizado nos dias 27 e 28 de Abril de 2006. O Colóquio celebrou os 25 anos da Licenciatura em Humanidades desta Faculdade.

Tendo como pano de fundo a actual crise das Humanidades, expressa na menor procura dos respectivos cursos universitários e no desprestígio social da formação humanística e desinteresse do mercado de trabalho pelos seus licenciados, este colóquio comemorativo pretendeu analisar e debater, com académicos e empresários, caminhos de afirmação e renovação das Humanidades ou Ciências Humanas e de transformação de modelos de formação superior de acordo com as orientações do Processo de Bolonha.

AA. VV., Novos Horizontes para as Humanidades, Braga, Faculdade de Filosofia, 2006 (159 págs.)



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As Pequenas Memórias, de José Saramago

"A criança que eu fui não viu a paisagem tal como o adulto em que se tornou seria tentado a imaginá-la desde a sua altura de homem. A criança, durante o tempo que o foi, estava simplesmente na paisagem, fazia parte dela, não a interrogava, não dizia nem pensava, por estas ou outras palavras: "Que bela paisagem, que magnífico panorama, que deslumbrante ponto de vista!" Naturalmente, quando subia ao campanário da igreja ou trepava ao topo de um freixo de vinte metros de altura, os seus jovens olhos eram capazes de apreciar e registar os grandes espaços abertos diante de si, mas há que dizer que a sua atenção sempre preferiu distinguir e fixar-se em coisas e seres que se encontrassem perto, naquilo que pudesse tocar com as mãos, naquilo também que se lhe oferecesse como algo que, sem disso ter consciência, urgia compreender e incorporar ao espírito (escusado será lembrar que a criança não sabia que levava dentro de si semelhante jóia), fosse uma cobra rastejando, uma formiga levantando ao ar uma pragana de trigo, um porco a comer do cocho, um sapo bamboleando sobre as pernas tortas, ou então uma pedra, uma teia de aranha, a leiva de terra levantada pelo ferro do arado, um ninho abandonado, a lágrima de resina escorrida no tronco do pessegueiro, a geada brilhando sobre as ervas rasteiras." (pp. 15-16)

José Saramago, As Pequenas Memórias, Lisboa, Editorial Caminho, 2006.



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