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Recensões

A Intenção Criminosa
de Robin Cook

Na sequência do seu primeiro best seller, Em Coma, Robin Cook traz-nos agora Intenção Criminosa. Este novo opus é urdido com as habituais receitas de que os livros de acção são pródigos e se temperam. Porém, não deixa de haver subversão a um certo convencionalismo. Mais ambicioso que o banal thriller, Intenção Criminosa consegue, na verdade, ser algo inovador. De facto, a estória centra-se na complexa área da medicina, bem conhecida do autor.

De estilo desembaraçado e sem pretensões a floreados literários, o volume não prima, diga-se, por um registo trabalhado. Busca, antes, uma coloquialidade arreigada num discurso sóbrio e sem detenções - que nisto do thriller, a acção é que monopoliza a avidez do leitor.

E os condimentos, carregados de uma inverosimilhança recambolesca, cá estão: o mistério de um enfermeiro frustrado que se dedica a adulterar drogas médicas; a carreira de dois anestesistas injustamente arruinada; um suicídio que só agora se explica; arrepiantes perseguições em q.b.. Uma paixão flamejante, um happy end, – e pode o leitor respirar de alívio e fechar a contra-capa.

O mérito de Intenção Criminosa não se resume apenas à eficácia com que nos obriga a consumi-lo página após página. Tem o seu quê de desconcertante: o leitor sabe, quase ab initio, a identidade do energúmeno. Uma técnica, afinal, oposta à dos mestres Agatha Christie e Rex Stout. Segue-se antes a ideia de Hitchcock: deixar o leitor tudo conhecer, e as personagens tudo ignorar. Daqui resulta uma fecunda tensão, a fruir até ao fim, sem os truques que tantos autores (ab)usam.

Outra das estratégias de Cook é recorrer à ironia velada, pendente às vezes para os subúrbios do humor negro e combinada com certa paranóia, perversidade, numa miscelânea quase psicótica. Não sendo nenhum dos criminosos mentalmente saudáveis, os seus comportamentos emergem inesperados, plenos de requintada maldade. Um pouco como no filme O Silêncio dos Inocentes.

O desfecho é, também ele, inesperado. O leitor revolve-se, incomodado, no seu sofá: «Então, afinal, só o enfermeiro foi apanhado? E os seus acólitos? Continuam em liberdade?». Receio bem que apenas Robin Cock, talvez num próximo e desejado livro, nos possa fechar o fim. Até lá, consuma-se Intenção Criminosa. Com apetite.

João de Mancelos

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