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A Chama Emprestada /La Llama Prestada
Carlos Oroza
Lisboa, Edições Tema, Outubro/1998

A Chama Emprestada / La Llama Prestada
de Carlos Oroza

A Chama Emprestada de Carlos Oroza é o 18ª título publicado pelas Edições Tema. Este projecto editorial, cuja gestação e maturação se situa, geograficamente, na linha que vai da Madragoa até Campolide, atravessando a zona do Jardim da Estrela, apresenta dois atributos surpreendentes no panorama editorial português.

Em primeiro lugar, o notável ritmo de publicação. Do primeiro número, Rota ao Interior do Ollo de Luisa Villalta até a este número 18 das Edições Tema, medeiam cerca de três anos. O que dá uma média de seis títulos por ano!

Em segundo lugar, as Edições Tema têm cumprido com uma fidelidade merecedora de registo o objectivo programático de, não recusando abrir-se a outros horizontes literários, aproximar o universo literário-cultural da Galiza e de Portugal. Para que não se desuna o que unido está, parece ser a máxima que tem norteado a actividade das Edições Tema.

Ora, é neste contexto que mais uma vez a Tema nos surpreende com a publicação deste A Chama Emprestada de Carlos Oroza. Com tradução do castelhano para o português de Carlos Bernardez, prestigiado crítico e investigador da literatura galego-portuguesa, A Chama Emprestada é o ultimo título de uma produção literária que remonta ao ano de 1974 com a publicação de Eléncar, primeiro livro de Carlos Oroza.

Na introdução ao A Chama Emprestada, Carlos Bernardez identifica os traços dominantes presentes nesta poesia: apurada construção rítmica e uma abertura pensada à musicalidade das palavras. Com efeito, o itinerário poético que Carlos Oroza traça neste seu último livro apela à inteligência sensibilizada pela emoção poética: «Do azul febril que projecta/do olho que me persegue imagino a flauta/a chama emprestada» (p.21). E logo de seguida: «os reflexos/a cadência na acção/o ritmo./Na visão crescente a beleza a actuar silábica/a fazer o que eu fiz tantas vezes em tanto papel concluso/é o verbo talvez a tristeza?/Na luz a matéria também se avilta» (p.22).

Se a musicalidade das palavras e a estrutura rítmica dos versos são duas das características que sobressaem nesta poesia, também não é menos certo que nunca a poesia de A Chama Emprestada se deixa abismar pela sedução da música que as palavras transportam. A segurança desta escrita procura outra coisa: a fundura indagadora da existência humana a que só a síntese do conceito e da palavra poética podem aceder: «Libertado de si próprio – do seu eu impreciso – /o sujeito exilado do seu território canta e deduz/que dum conjunto de sons se forma o harpejo/a memória

perante o branco acode com prontidão e corrige o/compasso/na beira a linha divisória» (p.21).

Com a publicação de A Chama Emprestada, as Edições Tema cumprem aquilo que Carlos Bernardez atribui à escrita de Carlos Oroza: a luminosa síntese da inteligência com a sensibilidade poética.

Fernando Martinho Guimarães, Outubro de 1998

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