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Recensões


Boletim da Casa de Camilo
IV Série, nº 1 (1999)
Ed. da Câmara Municipal de V. N. de Famalicão

Boletim da Casa de Camilo

Depois de 35 anos de publicação e da interrupção que se seguiu à III Série (1983-1988), qualquer leitor atento, e de bom gosto, é agradavelmente surpreendido pela edição do mais recente volume do Boletim da Casa de Camilo, número inaugural da nova série. Trata-se de um interessante conjunto de textos críticos, perfazendo cerca de duas centenas de páginas e tendo, naturalmente, como figura central o escritor de S. Miguel de Seide. Como se isto não bastasse, a tradicional e sóbria revista famalicense mudou de cara. De facto, estamos diante de um belo volume, cujo esmero gráfico (tipo de papel, paginação, design gráfico, fotografia, etc.) também contribui para o prazer de folhear e ler este novo volume da já conhecida publicação camiliana. Por este rico e agradável, estão especialmente de parabéns a entidade patrocinadora, a Câmara Municipal de V. N. de Famalicão, e sobretudo as pessoas dos seus dinamizadores, o Prof. Doutor Aníbal Pinto de Castro (Director) e o Dr. José Manuel de Oliveira (Secretário). Com outro entusiasmo e qualidade, capazes de atrair novos leitores e colaboradores, simples interessados ou especialistas, reafirmam-se os objectivos de conhecimento e divulgação da obra camiliana, bem como da fomentação dos Estudos Camilianos, como se deixa expresso no Editorial assinado pelo Director.

Entre os vários motivos de interesse do renovado Boletim da Casa de Camilo, a cuja qualidade já estamos habituados, destacaria em primeiro lugar a sentida e merecidíssima homenagem dedicada à figura de Manuel Simões (1924-1995), professor da Faculdade de Filosofia (Braga), da Universidade Católica Portuguesa, e antigo Director da Casa-Museu de Camilo e do Centro de Estudos Camilianos. A justa e louvável iniciativa é concretizada em alguns textos in memoriam que abrem a publicação. Primeiro, de Aníbal P. de Castro («À memória do Pe. Manuel Simões, S. J., Antigo Director do Boletim da Casa de Camilo», pp. 9-13), que evoca a vida e obra desta singular e multifacetada figura de padre, professor, músico, poeta e ensaísta. Depois, o gesto de gratidão continua na pena de João Bigotte Chorão («Lembrança e Louvor do Padre Manuel Simões», pp. 15-21), contextualizando a devotada dedicação camiliana na senda de outros ilustres camilianos como o Pe. Sena de Freitas. Por fim, é ainda incluído neste número um estudo inédito do próprio Manuel Simões, intitulado «Nossa Senhora na Obra de Camilo» (pp. 23-43), apresentado originalmente em forma de conferência. Tal como é anunciado por Aníbal P. Castro, aguarda-se na Colecção de Estudos Camilianos a reunião em livro de vários ensaios deste professor jesuíta e devotado estudioso da obra do escritor de Seide.

Outros motivos de não menor interesse são os vários estudos que integram o corpo central deste Boletim da Casa de Camilo. É o caso do artigo de Lélia Parreira Duarte, «Reversibilidade, sátira e ironia na obra de Camilo Castelo Branco» (pp. 45-71), incidindo sobre uma importante faceta da linguagem camiliana. Segue-se o extenso e relevante estudo de Maria da Natividade Carvalho Pires, «O Pecado e a culpa. Alguns subsídios da leitura de Chateaubriand para a diegese da novela camiliana» (pp. 73-131), desenvolvendo uma importante reflexão de natureza religiosa e antropológica, tendo como objectivo salientar a recepção do autor de Génio do Cristianismo, que Camilo conheceu bem e até traduziu para português. Sobre «A Casa de Camilo» (pp. 134-161), escreve José Manuel de Oliveira um importante e bem informado estudo histórico, traçando uma panorâmica das vicissitudes por que foi passando esta Casa-Museu. De Sérgio Paulo Guimarães de Sousa, o leitor depara-se com o texto «Entre Ciprieano e Caçarelhos: com Camilo, sem Camilo» (pp. 163-177), um breve artigo sobre algumas pertinentes questões que se levantam a uma actualizada hermenêutica da obra camiliana.

A terminar, uma secção de teor mais informativo. Primeiro, o oportuno apartado da Recensão Crítica, que neste número se fica pela apresentação do volume das Actas do Congresso Internacional de Estudos Camilianos, por João Bigotte Chorão, extensa e valiosa publicação de quase oito centenas e meia de páginas, que assinala uma das muitas iniciativas concretizadas para comemorar o I Centenário da Morte do escritor. Já para registar as publicações camilianas e os eventos culturais ocorridos durante a interrupção editorial do Boletim, o já referido José Manuel de Oliveira elabora um oportuno e praticamente exaustivo inventário, estruturado em várias secções que tomo a liberdade de reproduzir: prémios atribuídos, encontros científicos, exposições (bibliográficas e documentais, artísticas), comunicações e conferências, teatro, emissões radiofónicas, televisão, cinema, música e outras realizações culturais e recriativas, edições ( bibliografia activa, traduções, bibliografia passiva, audiovisuais e publicações periódicas, em números comemorativos, e, por fim, outras edições de natureza camiliana.

J. Cândido Martins, Março de 2000

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