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A Estética do Romantismo
Paolo d'Angelo
Lisboa, Editorial Estampa, 1998

A Estética do Romantismo
de Paolo d'Angelo

Integrando uma colecção mais alargada de oito pequenos volumes, consagrados às ideias estéticas das grandes épocas culturais e literárias (da Antiguidade Clássica ao Séc. XX), este pequeno livro de Paolo d’Angelo constitui uma recomendável introdução ao pensamento estético do Romantismo europeu. Não é, por conseguinte, um livro para especialistas, pois "foi pensado para quem do romantismo e da sua estética sabe muito pouco ou nada", salienta o autor em nota preambular, prevendo alguma crítica da parte de parte de leitores muito informados.

O livro inicia-se com uma panorâmica Introdução (pp. 11-34), consagrada a uma "Cronologia e Geografia da Estética Romântica". Relaciona-se, desde logo, o nascimento da consciência e sensibilidade do Romantismo, como categoria histórica, com uma estética autónoma, mais precisamente com o desenvolvimento da filosofia do idealismo alemão (dos irmãos Schlegel e de Schiller, de Fichte e Schelling, ou de Hegel), em estreita ligação com o pensamentos de alguns criadores (como Novalis, Jean Paul, Holderlin, Wordsworth ou Coleridge, entre outros) e também com o influente com o pensamento kantiano. O esforço é no sentido de precisar a enorme difusão de um termo e um conceito em múltiplas e correntes acepções, sendo igualmente necessário balizar, cronologicamente, o fenómeno romântico na primeira metade do séc. XIX, grosso modo, embora com significativos gérmenes nas últimas décadas da centúria precedente.

Partindo de círculos filosóficos restritos da Alemanha, e difundindo-se em ritmos diferenciados por vários países europeus, o Romantismo constituiu-se como profunda e alargada revolução de toda a cultura europeia, como uma transformadora cosmovisão que coincide com o início da Idade Moderna. A uma nova teoria da Arte e da Literatura correspondia também, por ex., uma nova filosofia política ou da religião. No centro do pensamento estético romântico, está o conceito de génio criador individual. No novo gosto sublime, a imaginação do artista ou escritor transcende os tradicionais limites da razão e sua a capacidade de expressão contraria os classicizantes ditames da imitação.

O Cap. I, "A Arte entre História e Absoluto" (pp. 35-92), salienta aspectos como: a historização da poesia e da arte neste período, concepção impeditiva de qualquer estética de regras canónicas; o significado das oposições conceptuais antigo/moderno, ingénuo/sentimental e clássico/romântico; o impacto do medievalismo e do orientalismo; a beleza da Poesia como realização da verdade da natureza; a concepção da Arte como intuição ou revelação do Absoluto; e ainda a configuração de uma nova mitologia, filosófica e pedagógica.

Seguidamente, no Cap. II, "Categorias Estéticas" (pp. 93-140), analisam-se, entre outros conceitos fundamentais da moderna estética: a crise das clássicas teorias miméticas da Arte, em favor da ideia de criação; a ironia romântica, de cunho filosófico e natureza paradoxal, e não apenas retórico-linguístico; a argúcia (Witz) e a cognição de analogias inesperadas da plenitude infinita, dada em fragmentos instantâneos; o termo e conceito de génio, concebido como força divina, instintiva e criadora; a concepção da Arte como expressão ou livre projecção subjectiva do sentir de um sujeito criador; reinterpretação do conceito de Beleza através da reabilitação do grotesco, colocado ao lado do sublime, do pitoresco ou do maravilhoso cristão.

O derradeiro Cap. III, "Poética e Crítica" (pp. 141-197), entre outros temas, aborda: o romance como o grande género moderno que revolucionou a rígida poética classicista dos géneros; o singular estatuto da crítica e da teoria literária, equiparadas à própria criação pelo seu insubstituível trabalho reflexivo; ou a polémica anti-classicista, denegadora dos velhos princípios canónicos, particularmente os que regulavam o modo dramático. Sublinha o interesse que a estética romântica dedicava às artes da Pintura e da Música, bem como à poesia popular. Consagra ainda atenção às Histórias da Literatura e das artes figurativas, que conheceram um enormíssimo incremento na época romântica, configuradora de um modelo historiscista que vigorou por longo tempo.

A obra encerra-se com uma Bibliografia fundamental e comentada (pp. 199-207), dividida em dois apartados: no primeiro, indicação das "Fontes" ou literatura primária (textos da estética romântica); no segundo, "Estudos sobre estética romântica". Não se pense que é tarefa fácil a elaboração deste tipo de introduções, sobretudo quando o assunto da breve exposição tem a complexidade do tema em análise. A creditar, por conseguinte, no haver do ensaísta italiano está, entre outras qualidades, o facto de privilegiar as fontes primárias do fenómeno romântico (literatura activa ou teorização estético-doutrinária), secundarizando a extensíssima bibliografia passiva.

Cândido Martins, Setembro de 2000

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