Alexandre Parafita
As Três Touquinhas Brancas
Lisboa, Plátano Editora, 2000
de Alexandre Parafita
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Quem não gosta de ouvir uma boa história de fadas, bruxas, gigantes, lobisomens ou mouras encantadas? Figuras míticas que povoam o imaginário de todos os tempos e especialmente o das crianças, e por isso fazem parte do Maravilhoso Infantil...
Olhadas, noutros tempos, com "desconfiança" pela instituição educativa, estas histórias são hoje um aliado de peso da escola moderna. Aliás, é hoje consensual que a relação da criança com o maravilhoso dos contos, das lendas e dos mitos, "contribui para que ela cresça saudavelmente, ajudando-a a estabelecer os limites do imaginário e do real".
Seguramente com esta motivação, o escritor Alexandre Parafita acaba de lançar mais um livro de Literatura Infantil, As Três Touquinhas Brancas, sob a chancela da Plátano Editora. A obra integra-se na colecção "O Maravilhoso Infantil", concebida "para trazer às crianças de hoje as histórias que encantaram muitas gerações e andavam 'perdidas' na memória dos mais idosos dos vales e planaltos transmontanos, onde foram colhidas". E porque são histórias do maravilhoso, não falta nelas a presença dos seres míticos rurais: as fadas, as bruxas, as madrastas, os gigantes, etc.
Três irmãos, um lenhador e um lobisomem...
O livro "As três touquinhas brancas", com ilustração, excelente e muito sugestiva, de Jorge Miguel, é composto por quatro histórias, qual delas a mais bela, recontadas a partir da riquíssima tradição oral transmontana.
A história que dá título ao livro é apenas uma. Conta a aventura de três irmãozinhos que passavam necessidade em sua casa e decidiram ir correr mundo em busca de "um sítio onde houvesse fartura". Anoiteceu entretanto e eles perderam-se no meio do bosque. Foram ter à casa de um lobisomem, que nessa altura andava "a correr fado". A mulher do lobisomem dá-lhes de comer e deita-os junto dos seus três filhos, que dormiam com as suas touquinhas na cabeça. O lobisomem quando regressa descobre que há gente estranha em casa, vai ao quarto dos filhos e come os três que estavam sem as touquinhas. Só que, durante a noite, os três pequenos hóspedes haviam trocado as touquinhas, pelo que o lobisomem comeu os seus próprios filhos. Descoberto o engano os três irmãozinhos têm de fugir. O lobisomem persegue-os. São depois salvos por um lenhador. Este fere o lobisomem que se transforma num homem normal. Os três irmãozinhos acabam por regressar a casa, e prometem nunca mais ir sozinhos correr mundo.
Uma mitologia popular para as crianças
Por se tratar de uma história que emana da tradição transmontana, e que percorreu na oralidade muitas gerações, simboliza muito da cultura popular, e dá-la a conhecer às novas gerações pode constituir um desafio interessante. Um desafio reforçado também pela circunstância de ajudar a perceber um pouco do papel da mitologia popular, neste caso através da presença da figura do lobisomem, que sobrevive "entre o desespero, a fatalidade e a esperança". Pelo tipo de personagens que apresenta e pelo alcance pedagógico do seu conteúdo, considera-se este conto, tal como os demais que compõem o livro, de grande interesse para o público infantil.
Alexandre Parafita, natural de Sabrosa, lecciona no ensino superior e é também investigador de literatura oral tradicional do Centro de Tradições Populares Portuguesas da Universidade de Lisboa. É autor de um conjunto de obras muito significativas de literatura infantil e de obras ensaísticas no domínio dos estudos de literatura oral (adoptadas em programas de disciplinas em várias Universidades). De referir também que ainda não passaram três meses sobre a publicação do seu anterior livro, "Histórias de Natal Contadas em Verso", da Âncora Editora, cuja qualidade nos mereceu então a devida referência. Saudamos, por isso, tão fecunda produtividade cultural.
Armindo Mesquita