Projecto Vercial

Carlos Lopes Pires


Carlos Lopes Pires nasceu a 7 de Agosto de 1956 em Quadrazais, aldeia situada perto da Serra de Malcata, junto ao rio Côa. Passou a residir em Leiria a partir dos cinco anos de idade. Licenciou-se em Psicologia pela Universidade de Coimbra onde lecciona na mesma área. Obras publicadas: A Invenção do Tempo e Outros Poemas (Átrio, 1993), Falar às Aves (1993), O Livro de Pó (Poemas de Terra e Adeus) (1994), O Livro dos Salmos (Poemas de Redenção e Nada) (1994), O Caminho do País Lilás (Editorial Notícias, 1995), Viver (1995; 2ª ed. revista em 1997 pela Editorial Diferença), O Livro dos Cânticos (Poemas de Amor e ausência) (Editorial Notícias, 1995), A Poeira dos Dias (Editorial Notícias, 1996), A Última Ceia (Editorial Diferença, 1996; 2ª ed. revista em 1997), O Perfume da Flor (romance, Editorial Diferença, 1996), A Fuga das Cidades (Editorial Diferença, 1997), De Immenso (Editorial Diferença, 1997), Todas as Estrelas do Mundo (em co-autoria com Maria Rosa Colaço; Editorial Diferença, 1997), Alguém que tu Conheces (Editorial Diferença, 1998), Imensitude (poesia, Editorial Diferença, 1999; com fotos de Saul Neves de Jesus).



FALAR ÀS AVES


Soneto a Luís Vaz de Camões

Incerto amor, tempos duros e sangrentos,
preso num tempo que o teu peito recusou,
e onde padeceste soldado na vida e no amor;
pobre em vida, e na morte tão cheio de honrarias.

Andaste por terras de muito estranhos ventos,
sofrendo de amores que a vida dura separou,
desterrado por paragens de ódio e terror,
desmerecido de uma sorte que imerecias.

Sincero amor que por barcos e países repartiste,
numa dor tão humana e brutalmente imensa,
foi rodeado de inveja e torpeza que te viste.

Saberás agora tu, se onde estiveres existe,
que a poesia que amaste de forma tão extensa,
é só a alegria da vida, que a vida tornou triste.


Falar às Aves, p. 45


DE IMMENSO


Teoria sobre as coisas felizes

Conheço as coisas pelos olhos.
Seus olhos redondos e leves,
que levam as mãos de orvalho
até ao fundo do coração.

Coração de lágrimas, coração de rosas.

E sinto-as. Sinto-as quando sobem
pela pele como se fossem navios
a unir todo o mar. O mar que move
o mundo e o sustenta
com suas traves de água imensa.

O mar das coisas felizes.


De Immenso, p. 34



O regresso dos dias

Embalado pelo ar da tarde
ouço o paciente coaxar das rãs,
o vento pousando calmo sobre os ramos
das cerejeiras,
a noite vindo por estradas
de silêncio.
Um amigo veio de carro
e trouxe-me os dias. juntos ao crepitar da lareira
saudamos a noite neste país sem ruas de cidade,
enquanto uma aranha tece devagar as horas.

Lá longe,
o mar está calmo noutra terra,
noutro chão onde as árvores dormem
o sono calmo dos peixes.

No Gafanhão
Castro D'Aire
.


De Immenso, p. 44


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