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Luís Serrano


Luís Serrano nasceu em Évora em 1938. Licenciado em Ciências Geológicas (UC). Estudos especializados na Universidade de Bordéus e em Madrid (CSIC). Assistente da Faculdade de Ciências da UC (1967-1970), geólogo da Direcção-Geral de Minas (Porto, 1970-1975) e Investigador da Universidade de Aveiro (1975-2001). Entre 1996 e 2001, responsável pela coordenação cultural desta Universidade.

Cerca de uma centena de artigos de crítica literária publicados em diversos suplementos literários. Está representado em várias antologias poéticas e foi um dos fundadores da revista de poesia Êxodo (1961).

Obras publicadas: A Taça e o Brinde in Êxodo (Coimbra, 1961), Poemas do Tempo Incerto (Vértice, Coimbra, 1983), Entre Sono e Abandono (Estante Editora, Aveiro, 1990), As Casas Pressentidas (edição de autor, Aveiro, 1999, uma das obras premiadas com o Prémio Nacional Guerra Junqueiro), Nas Colinas do Esquecimento (Campo das Letras, Porto, 2004) e Quando se Apagam as Cerejeiras (Chiado Editora, Lisboa, 2012). É ainda autor da tradução de Dieu Face à la Science de Claude Allègre (Gradiva/Universidade de Aveiro, 1998).


Algumas opiniões críticas sobre a obra:

«As Casas Pressentidas é o título, belíssimo, deste livro de Luís Serrano […]. É um extraordinário livro de maturidade de um notável poeta que acende, nas casas que lhe habitam o imaginário, um fogo que nos aquece (ou nelas deixa, por vezes, a suspeita de um frio que nos arrefece.»

Eugénio Lisboa, LER, n.º 47, Outubro 1999

«Como Luís Serrano, poucos poetas há que cultivem uma atenta e riquíssima experiência poética publicando uma obra de visibilidade aparentemente mínima.»

Rosa Maria Oliveira, Diário de Aveiro, 02.06.2003

«Um livro [Nas Colinas do Esquecimento] onde a extrema beleza estilística – admirável em toda a sua interioridade e contenção – e a melancolia que facilmente se identifica, não são um estado ou condição, mas sim o próprio acto de consciência perfazendo-se no mais puro sentido da sua totalidade. Nas quais, aliás, se tentarmos definir o acto poético (e seja qual for a definição) encontraremos implícitas a razão aberta e vigilante, o espírito de comunhão com o mundo e uma chocante e lúcida fraternidade carregada de tristeza, bem definida no poema sobre a guerra: “matéria de sombras / que gostaria de esquecer / para sempre

Ascêncio de Freitas, O Ilhavense, 10.01.2005

«Nas Colinas do Esquecimento é o último livro publicado por Luís Serrano. […] A poesia que escreve caracteriza-se pelo equilíbrio, pelo bem conseguido rigor, pela contenção: Este livro fala do esquecimento […], hálito inevitável e nocturno / óxido corrosivo que se instala / sobre o véu translúcido da lembrança. […] Não te iludas: / são apenas palavras.

O registo dominante corresponde à lisura das coisas, ao espaço aberto ou, como nos diz, à música ázima. Daí uma visão especial da realidade, tendendo para uma construção de índole elíptica, nela parecendo estar ausente qualquer desenvolvimento sentimental. Mas não é bem assim. Há também uma visão emocionada, embora se revele como se fosse uma palavra ferida / pelo silêncio.»

Fernando Guimarães, JL nº 895 (Jan-Fev 2005).

«Na viagem sem termo de LS, neste caminho que os seus poemas percorrem, é visível o traço daquilo que foi e que permanece – poeticamente permanece – uma inquietude, uma interrogação, uma perda, mas também uma alegria, um prazer como o que deriva da fruição de uma peça musical, um filme, um quadro ou um poema, isto é, da arte, como se o ponto de partida da viagem poética de Quando se apagam as cerejeiras se convertesse no seu próprio ponto de chegada, ou seja, como se a sua verdadeira origem fosse o seu único objectivo. Por uma razão simples: é que esta é a única forma de impedir que a viagem termine.»

Abílio Hernandez, palavras extraídas da apresentação da obra em 12.06.2012 na Universidade de Aveiro

Na sua poética, […] revela uma perfeita geometria rítmica e a «projecção metafórica de uma realidade em decomposição, sujeita a um processo degenerativo, da fragmentação de um mundo do qual nos fica a memória através da palavra» (como noutro lugar já tive ocasião de salientar), o discurso inscreve também aqui um tempo balizado por cicatrizes, pela inquietação e pelo medo […]»

Manuel Simões, As Artes Entre as Letras, 11 de Julho 2012.

«Com efeito, Luís Serrano é sob uma forma implícita que no seu livro por vezes se refere à morte; o último poema, porém, intitula-se Escrevi sobre a morte: “escrevi sobre a morte / sobre as neblinas que a precedem / […] encostei o ouvido à terra”. O diferimento advém do facto dos poemas serem […] “uma reflexão sobre a morte filtrada através de grandes obras de arte […]. E, sendo assim, talvez pudéssemos falar de novo no “eros produtivo”, isto é, na possibilidade do homem se metamorfosear nas suas próprias criações…

Fernando Guimarães, JL, nº 1093 de 22.08 a 04.09.2012.


TRÊS POEMAS BREVES

 

Se o oiro cessa

 

Se o oiro cessa

sobre as folhas

agora que os violinos

morrem

tão lentamente

sobre as árvores

 

se as águas perduram

ou escrevem sobre a terra

a pequena morte

de um nome

de uma flor esquecida

entre os lábios

 

é que o inverno

está próximo

 

próximo

esse rasto infindável

de lanternas acesas

sobre a neve

in Nas Colinas do Esquecimento, 2004

 

Requiem

 

Nada é maior do que o silêncio

que sobra da missa dos mortos

Inédito, 2010

 

Há um tempo perdido

 

Há um tempo perdido

uma rosa dissimulada

uma dor um rosto antigo

o espelho que faz da morte

uma coisa de nada

Inédito, 2010



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