Gregório de Matos (1623/1633-1696) nasceu na cidade da Baía, Brasil, entrou para o Colégio dos Jesuítas da Baía com catorze anos e, revelando grande arguição nos estudos, os pais mandam-no estudar Direito em Coimbra. Tornou-se bacharel e exerceu a advocacia em Lisboa. Regressou ao Brasil em 1678, depois de um desentendimento com o rei, e trabalhou como advogado na Baía. O seu pendor satírico, aliado a uma conduta desregrada, valeram-lhe, além da alcunha de «Boca do Inferno», o desterro em Angola. Após o cumprimento da pena, regressou definitivamente ao Brasil com 47 anos de idade, tendo vivido na Baía e depois no Recife. As suas composições poéticas denotam um ódio verrinoso com alternância de religiosidade e arrependimento. As suas Obras Poéticas foram publicadas em seis volumes.
Outras páginas sobre o autor:
Dois sonetos de Gregório de Matos (ensaio)
ALGUNS POEMAS
Pintura admirável de uma beleza
Vês esse Sol de luzes coroado?
Em pérolas a Aurora convertida?
Vês a Lua de estrelas guarnecida?
Vês o Céu de Planetas adorado?
O Céu deixemos; vês naquele prado
A Rosa com razão desvanecida?
A Açucena por alva presumida?
O Cravo por galã lisonjeado?
Deixa o prado; vem cá, minha adorada,
Vês de esse mar a esfera cristalina
Em sucessivo aljôfar desatada?
Parece aos olhos ser de prata fina?
Vês tudo isto bem? Pois tudo é nada
À vista do teu rosto, Caterina.
Agradecimento de uns doces a sua freira
Senhora minha, se de tais clausuras
Tantos doces mandais a uma formiga,
Que esperais vós agora que eu vos diga
Se não forem muchíssimas doçuras?
Eu esperei de Amor outras venturas,
Mas ei-lo vai, tudo o que é dar obriga,
Ou já ceia de amor, ou já da figa,
Da vossa mão são tudo ambrósias puras.
O vosso doce a todos diz: comei-me,
De cheiroso, perfeito e asseado;
Eu por gosto lhe dar comi e fartei-me.
Em este se acabando irá recado,
E se vos parecer glutão, sofrei-me
Enquanto vos não peço outro bocado.
Epitáfio para o Marquês de Marialva
Em três partes enterrado
está o corpo do Marquês
de Marialva: porque em dez
mil seu nome é venerado:
e foi destino acertado,
que em tanta parte estivesse,
para que o mundo soubesse,
que este valeroso Marte
morto assiste em qualquer parte,
como se ainda vivesse.
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