Carlos Queirós

Carlos Queirós

José Carlos Queirós Nunes Ribeiro (1907-1949) nasceu em Lisboa e faleceu em Paris. Frequentou a Faculdade de Direito de Coimbra, tendo colaborado em várias revistas, tais como Presença, e Contemporânea, com poesias e artigos de crítica literária. Recebeu em 1935 o Prémio Antero de Quental do Secretariado de Propaganda Nacional com a obra Desaparecido. Foi director das revistas Panorama (1941) e Litoral (1944). A amizade de Carlos Queirós com Fernando Pessoa levou a que este último tivesse uma relação amorosa com sua irma, Ofélia Queirós. Obras: Desaparecido (1935), Breve Tratado de Não-Versificação (1948), Homenagem a Fernando Pessoa (ensaio-1936). Toda a sua poesia se encontra no volume póstumo Poesia de Carlos Queirós (1966).

Outras páginas do autor:

  • Carta à memória de Fernando Pessoa



  • POESIA DE CARLOS QUEIRÓS

    APELO À POESIA

    Porque vieste? - Não chamei por ti!
    Era tão natural o que eu pensava,
    (Nem triste, nem alegre, de maneira
    Que pudesse sentir a tua falta...)
    E tu vieste,
    Como se fosses necessária!

    Poesia! nunca mais venhas assim:
    Pé ante pé, cobardemente oculta
    Nas ideias mais simples,
    Nos mais ingénuos sentimentos:
    Um sorriso, um olhar, uma lembrança...
    – Não sejas como o Amor!

    É verdade que vens, como se fosses
    uma parte de mim que vive longe,
    Presa ao meu coração
    Por um elo invisível;
    Mas não regresses mais sem que eu te chame,
    – Não sejas como a Saudade!

    De súbito, arrebatas-me, através
    De zonas espectrais, de ignotos climas;
    E, quando desço à vida, já não sei
    Onde era o meu lugar...
    Poesia! nunca mais venhas assim
    – Não sejas como a Loucura!

    Embora a dor me fira, de tal modo
    Que só as tuas mãos saibam curar-me,
    Ou ninguém, se não tu, possa entender
    O meu contentamento...
    Não venhas nunca mais sem que eu te chame,
    – Não sejas como a Morte!

    Poesia de Carlos Queirós



    NA CIDADE NASCI

    Na cidade, quem olha para o céu?
    É preciso que passe o avião...
    Quem me dera o silêncio, a solidão,
    Onde pudesse, alguma vez, ser eu!

    Na cidade nasci; nela nasceu
    A minha dispersiva inquietação;
    E o meu tumultuoso coração
    Tem o pulsar caótico do seu.

    A! Quem me dera, em vez de gasolina,
    O cheiro da terra húmida, a resina,
    A flores do campo, a leite, a maresia!
    Em vez da fria luz que me alumia,

    O luar sobre o mar, em tremulina...
    – Divina mão compondo uma poesia.

    Poesia de Carlos Queirós

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