José Blanc de Portugal

José Bernardino Blanc de Portugal nasceu em Lisboa em 8 de Março de 1914 e faleceu em 2001. Licenciou-se em Ciências Geológicas pela Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa que lhe concedeu o título de Assistente-extraordinário. Cursou História da Música e Língua e Literatura Árabe, frequentando também cadeiras de Psicologia. Meteorologista da Pan American Airwais passou ao Serviço Meteorológico Nacional onde desempenhou cargos directivos na Sede, Açores, Cabo Verde, Angola e Moçambique. Representou o país em reuniões técnicas da Organização Mundial de Aviação Civil e da Organização Meteorológica Mundial em que foi vice-presidente da Associação Regional I (África). Nomeado Adido Cultural junto da Embaixada de Portugal em Brasília, pediu exoneração do cargo para assumir a vice-presidência do Instituto da Cultura Portuguesa. Desde os quinze anos que leccionou particularmente todas as cadeiras do curso liceal e algumas universitárias. Foi professor de Integração Cultural e Sociologia da Informação nos cursos de Formação Artística da Sociedade Nacional de Belas Artes. Desde os vinte anos que exerce crítica musical, eventualmente de bailado, sendo actualmente crítico musical do Diário de Notícias. É membro do Conselho das Ordens Nacionais, do Conselho Português da Música e do Conselho Português da Dança filiados nos respectivos Conselhos Internacionais da UNESCO. Comendador da Ordem do Infante D. Henrique e medalha Oskar Nobiling da Sociedade Brasileira de Língua e Literatura (Mérito Linguístico e Filológico). Fundador dos Cadernos de Poesia, com Rui Cinatti e Tomaz Kim, aos quais, mais tarde, se associaram Jorge de Sena e José Augusto França.

Obras – Poesia: Parva Naturalia (Prémio Fernando Pessoa), 1960; O Espaço Prometido, 1960; Odes Pedestres, (Prémio Casa da Imprensa), 1965; Descompasso, 1986; Enéadas, 1959. Prémio do P.E.N. Club Português, pelo livro e pelo conjunto da obra. Ensaio: Anticrítico, 1960; Quatro Novíssimos da Música Actual, 1962. Traduções: de Shakespeare; T.S. Eliot, Christopher Fry, (Teatro); Pratolini, Coccioli, Truman Capote e Fernado Pessoa (The Mad Fiddler). Tem poemas seus traduzidos em (por ordem de publicação) francês, espanhol, inglês, alemão e sueco.


DESCOMPASSO

CAMÕES

Passaste fome,
Dizem alguns que de tua vida comem
Vermes parasitas que vivem de inventar as tuas histórias...
Talvez um dia neles a mutação se opere
Quando os bichos mudem de alimentação e
Passem a roer a tua obra
E não a tua morta vida terreal.

Ah Camões! Luís Vaz, se visses
Como os vermes pastam tua glória!
Por um que ame apenas tua obra
Quantos te inventam a vida passada
P'ra explicar versos que não sentem
Ou sentem tão à epiderme
Que precisam de outra história
Que não a das palavras que escreveste!

Também eu li demais a tua inventada vida:
Tudo quero esquecer p'ra mais lembrar
Que poesia é só a tua glória
Eterna vida é só tua Poesia
E a vida que viveste é morta história.

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