EPIGRAMAS
O pai enfermo e o doutor
Um velho caiu na cama;
Tinha um filho esculapino,
Que para adivinhações
Campava de ter bom tino.
O pulso paterno apalpa,
E receitar depois vai;
Diz-lhe o velho, suspirando:
"Repara que sou teu pai."
A moléstia e a receita
Para curar febres podres
Um doutor se foi chamar,
Que feitas as cerimónias,
Começou a receitar.
A cada penada sua
O enfermo arrancava um ai!
"Não se assuste (diz Galeno),
Que inda desta se não vai."
Ah! senhor! (torna o coitado,
Como quem seu fado espreita)
Da moléstia não me assusto,
"Assusto-me da receita."
Conselho a um impaciente
Homem de génio impaciente,
Tendo uma dor infernal,
Pedia, para matar-se,
Um veneno, ou um punhal.
"Não há (lhe disse um vizinho
Velho que pensava bem),
Não há punhal, nem veneno;
Mas o médico aí vem."
A parca e o médico
"Morte! (Clamava o doente)
Este mísero socorre."
Surge a Parca de repente,
E diz de longe: "Recorre
Ao teu médico assistente."
Vingança do médico
Um médico ressentido
De certo seu ofensor,
Ante um amigo exclamava,
Todo abrasado em furor:
"Para punir este indigno,
Este vil, tomara um raio."
Acode o outro: "Há um meio
Muito mais fácil; curai-o".
O récipe
Pôs-se médico eminente
Em voz alta a receitar.
"Récipe" (diz)... de repente
Grita da cama o doente:
"Basta, que mais é matar."
O adeus do doutor
Um médico receitou:
Súbito o récipe veio.
Do qual no bucho do enfermo
Logo embutiu copo e meio,
"Adeus até à manhã"
(Diz o fofo professor).
Responde o doente: "Adeus
Para sempre meu doutor".
O letrado
Inda novel demandista
Um letrado consultou,
Que, depois de cem perguntas,
Tal resposta lhe tornou:
"Em Cujácios, em Monóquios,
Em Pegas e Ordenação
Em Reinícolas e Estranhos
(Textos digitalizados por Gonzalo Navaza, 1997.)
Voltar à página de Bocage