Projecto Vercial

Maria do Pilar Figueiredo


Maria do Pilar Figueiredo nasceu em Cambeses, Barcelos, em 5 de Janeiro de 1930. A sua infância e adolescência são passadas nesta região minhota, cuja ambiência marcará fortemente a obra da escritora. Fez os seus primeiros estudos em Braga (Curso Elementar do Comércio) na então denominada Escola Comercial e Industrial Frei Bartolomeu dos Mártires. Aos dezanove anos consegue um emprego na secretaria de um hospital, em Vila Nova de Gaia. Mais tarde, obtida transferência para o Porto, passou por diversos departamentos do mesmo Ministério.

 Já depois de casada prossegue estudos secundários, o que lhe permite concorrer à Câmara Municipal do Porto. Em 1973, após terminar o Curso Complementar dos Liceus, faz o exame de admissão à Faculdade de Letras da Universidade do Porto, e passa a frequentar o Curso de Filologia Românica. Após a obtenção do Bacharelato em 1976, abandona as funções que exerce na C.M.P., para iniciar uma carreira docente. Faz Estágio Pedagógico em 1978, tendo terminado a Licenciatura nesse mesmo ano.

Continuou a leccionar em diversas escolas do Porto, tendo requerido a aposentação em 1991, situação que lhe permitiu dedicar-se mais intensamente à produção literária.

Apesar de continuar viver no Porto, mantém estreitos laços com Barcelos, sobretudo Cambeses onde permanece, intacta, a casa de família.

Estreou-se como contista em 1972, com o livro O Vento e as Raízes – Histórias de Emigração, Prémio Nacional de Revelação 1971 da então denominada SEIT, seguindo-se-lhe, dentro da mesma temática outro conjunto de contos intitulado Horizontes de Bruma (Novas Histórias de Emigração), em 1974.

Durante um interregno de dez anos, no que diz respeito a publicação de obras suas, continuou a escrever privilegiando nos seus contos a temática rural minhota, onde, na construção da linguagem narrativa, sobretudo no que diz respeito à estruturação espácio-temporal, é visível uma certa sabedoria telúrica e ancestral, transmitida através de uma escrita aparentemente simples, linear.

O tema "emigração" (contos) é, através de um novo olhar, retomado em 1993 no livro Uma Terra, Outra Terra.

Como romancista estreou-se em 1988 com o livro Tempo Matinal, privilegiando desde então este género literário, embora se tenha dedicado também, à poesia, ensaio, monografia e biografia.

Tem sido convidada a participar em diversos congressos e encontros literários, nomeadamente Encontro de Escritores, I Congresso Português de Literatura Brasileira, I Encontro Internacional de Queirosianos, Congresso Internazionale Portogallo e Mari: Un Incontro Tra Culture – Nápoles.

Tem colaborado em diversas publicações e encontra-se representada em várias antologias.

Fez parte da Direcção da Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto, durante dois mandatos. É membro, entre outras, da Associação Portuguesa de Escritores, Associação de Escritores de Gaia e Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Alto Minho.

Obras publicadas: O Vento e as Raízes – (Histórias de Emigração) – contos; (Prémio Nacional de Revelação da SEIT – 1972); Horizontes de Bruma – (Novas Histórias de emigração) – contos – 1974; Rosa Rosae – (Histórias de Mulheres) – contos – 1984; Juliana e Luísa – Duas Personagens Queirosianas – Ensaio – 1986; Tempo Matinal – romance – 1988; Recta Final – romance – 1991; Telha Mourisca – contos – 1992; Uma Terra, Outra Terra – contos (Histórias de Emigração) – 1993; Goa, a Terra e o Mito – narrativa de viagens – 1994; Pedra Angular – romance – 1996; Latitude Zero – romance – 1999; Cambeses e o seu Couto – monografia – 2000; Compasso Ternário – romance – 2001; Alfredo Carvalhaes – Biografia – 2002; Tempo de Névoas – romance – 2002

Participação em colectâneas: A Emigração na Literatura Portuguesa – Uma colectânea de Textos – 1985; Memória de Um Rio (Poesia) -1986; Viagem ao Sonho – Histórias para crianças – 1989; Contoário – 17 Autores – 1993; Pedras no Rio do Tempo – Contos – 1994; Simbólica – 125 anos do Ateneu Comercial do Porto – 1994; Contos e Ditos – Contos – 1994; Contoário 100 – 1996; Antologia de Contos – 1997; 100 Anos – Frederico Garcia Lorca – Poesia 1998; Antologia da Poesia Erótica – 1999; Contos do Minho – 2002

Textos publicados em livros de actas de Congressos: Actas do Colóquio Manuel Boaventura – Esposende – 1987; Actas do 1º Encontro Internacional de Queirosianos – 1988; Actas do 1º Congresso de Escritores de Língua Portuguesa – 1989; Actas das Jornadas de Estudo – Marco de Canaveses – 1991; Actas do Congresso M. D. Noroeste Peninsular – 1992; Actas do Colóquio Ana Plácido – 1993; Actas do Congresso – IL POTOGALO E I MARI (Nápoles) 1994; Actas do Congresso – Barcelos Terra Condal – 1997

Separatas: Escritores do Minho – 1987; Sobre este Rio que vai – 1988; Os Chapéus de Palha de Cambeses – 1990; Barcelos na vida e Obra de Camilo – 1991; António Fogaça – Poeta de Barcelos – 1992; Jaime de Séguier – Poeta de Alegros e Adágios – 1994; Goa, Hoje – Um breve olhar – 1994; Carvalhais, Camilo e Barcelos – 1999

Colaboração em vários Jornais e Revistas: Jornal de Notícias; Jornal de Barcelos; Revista Sempre da Ass. de Jornalistas e H. L. do Porto; Barcelos Revista; Revista Ibis, da Ass. de Jornalistas e H. L. do Alto Minho


Sobre a obra

O Vento e as Raízes1972

Horizontes de Bruma1974

De facto o Vento e as Raízes e Horizontes de Bruma estão ligados pelo mesmo cordão umbilical (passe o lugar comum), isto é pelo mesmo destino de uma pobre sociedade que recorre à emigração como solução económica. São as dores, as saudades, os problemas daqueles que partem e daqueles que ficam, ou simples tranches de vie que a autora nos propõe com o maior conhecimento, o mais profundo sentir solidário.

 Manuela Azevedo,  In Diário de Notícias – Agosto 1987

 Rosa Rosae

 É um livro de emoção elevada acima da realidade ou da experiência aparente. (...) Além de um estilo são, por vezes subtil e ritmado tem o conhecimento do peso e do volume das palavras.

Manuela Azevedo,  In Diário de Notícias – Agosto 1987

 É constituído por treze histórias de mulheres de forte conteúdo psicológico sem contudo abandonar aquele estilo poético de obras anteriores. (...)Trata-se sem dúvida de obra de muito interesse e fino recorte literário.

  in Primeiro de Janeiro 11/5/87

A propósito de Tempo Matinal

Uma escrita fluída, mais depurada, que apesar do particularismo de algumas situações chega por vezes a prender demoradamente o leitor pelo seu poder evocativo em casos como: apreensão do imaginário rural, aspectos da vida aldeã durante a 2ª Guerra Mundial, a importância e os papeis que especificamente a mulher rural do Norte assume nas comunidades social e familiar.

 F. M.,  in Letras & Letras de 5/4/89

Depois de três livros de contos e de um ensaio sobre personagens queirosianas, a autora evoca a sua infância minhota nos tempos duros da guerra além fronteiras. Destes episódios simples contados numa linguagem directa e fluente, ressaltam dotes de observação e de compreensão da humanidade que não se compadecem com os limites estreitos do termo de Barcelos.

 in Jornal de Letras de 9/8/88

(...) a autora dá-nos numa escrita sem sobressaltos, suavizante mesmo, numa altura em que a clareza parece ter deixado de ser essencial da escrita, a vivência dos seis aos dez anos de uma rapariguinha de província inquieta e deslumbrada perante duas realidades circunscrevendo-a: a família e a terra.

 António Rebordão Navarro,  In Jornal de Notícias de 6/9/88

Se tivesse de resumir em duas palavras o seu Tempo Matinal diria que há nele, sobretudo, ternura, nitidez e (curiosanente) justiça! As paisagens, os lugares e sobretudo as pessoas são evocadas ao natural – apesar da distância do tempo, ou talvez por isso mesmo – sem atenuantes nem tintas falsas, nem metáforas supérfluas.

Manuel Simões  (Director da Casa de Camilo) 7/8/88

Recta Final

Romance de ficção contemporânea que privilegia a estrutura e composição em sentido lato.(...) O factor tempo foi sobreposto neste romance pelo espaço presente das diversas personagens. Não há na estrutura do romance preocupações cronológicas e tudo se desenrola do ponto de vista da personagem principal em função do presente cujos vazios procura preencher.

 Romance que foi classificado de inovador e que confirma as qualidades da escritora no contexto da obra já realizada.

 S.M., In Comércio do Porto – Dez. 1991

Romance sobre a terceira idade? (...) Não, se considerarmos a forma como a escritora as anima fornecendo-lhes uma energia que, se de todo as não transfigura, as agita o suficiente para conhecermos as suas revoltas, carências e destemperos que lhes advém do passado em que se afirmaram com específicas individualidades as quais procuram, noutra ordem de valores, ainda afirmar. (...) É bem provável que parte importante do que aqui celebramos advenha justamente desta facilidade empolgante que a escritora exibe neste romance. Facilidade que não advém somente da postura das personagens (...) mas principalmente pela estilística invulgar, onde a sinceridade e simplicidade adquirem notáveis contornos de beleza formal aliadas à justeza e verosimilhança das evocações.

 Ramiro Teixeira, In Primeiro de Janeiro – Dez.1991

Telha Mourisca

 (...) Segue a linha admirável de legar à posteridade o retrato minucioso das nossas aldeias onde estão fixadas as belas e por vezes severas e rudes paisagens, e também a humanidade que as povoa e lhes dá vida, sendo de salientar as tradições e costumes em vias de extinção acelerada.

Alexandre Cabral – 25-7-92

Este livro de contos prima por nos mostrar comportamentos não muito comuns na "província urbana", no que podem ser tomados como uma magnífica descrição de história social, aliciante e extremamente bem narrada, dado que a narração curta concisa, sintetizada, parece-nos ser a forma preferida da autora.

 Alfredo de Sousa,  Notícias de Penafiel – 26/11/93

Uma Terra, Outra Terra

Depois de Telha Mourisca        dado à estampa em 1992 e considerado um dos melhores livros de contos de temática rural, eis que a escritora barcelense nos surge agora com um dos livros mais valiosos sobre as diásporas portuguesas na nossa literatura.

 J. A.,  in Jornal de Barcelos 1993

(Uma Terra, Outra Terra). Histórias de emigração, são também histórias exemplares de situações que por aí abundam desde que os homens e mulheres deste país de há uns trinta ou quarenta anos para cá se meteram pelos caminhos da Europa não à descoberta desta, mas do pão para a boca. (...) Na sobriedade do seu discurso falam os dramas e aspirações de um povo que de olhos postos no mar , com os adamastores à vista, sempre buscou na terra (numa terra, noutra terra) os frutos apetecidos de que se sustentam o corpo e a alma.

 Albano Martins,  Revista da Sol XXI – Agosto de 94

O que a autora chama "Contos" para mim é um autêntico romance da Emigração, onde encontramos registadas todas as ambições, sofrimentos, saudades e velhacarias – nas suas múltiplas variantes – de quem sonha com um futuro próspero e livre de inquietações. (...) há um estreito relacionamento entre o enredo propriamente dito (a emigração) e o pensamento mais recôndito e íntimo das personagens. Das que ficam um grande apego às tradições; das que regressam um estrambótico comportamento inovador. (...) cada episódio sempre poético (ou contado em termos poéticos) é o relato de um instante que se alarga, cada vez mais, até ocupar um espaço imenso.

  Alexandre Cabral,  Letras & Letras – Maio/94

 Uma Terra, Outra Terra é uma memória alternada a dois espaços: o espaço da viagem para o exterior e o espaço do regresso. (...) Para todos os efeitos tudo acontece por causa da "terra" do "voltar para a terra", do "ir para a terra". (...) Uma alteridade de: Uma voz, outra voz; uma lei, outra lei; um hábito, outro hábito; um amigo, outro amigo; mas uma única e insuportável saudade.

 Maria Antónia Jardim,  Revista Sol XXI – Maio de l994

 Acabo de ler um dos livros mais valiosos sobre a diáspora portuguesa (...) à transparência da prosa alia a espontaneidade da cultura de uma gente com raízes de gente a quem a terra restitui a paz quando por vezes a perde.

Victor de Sá

 Só agora li e reli este notabilíssimo romance (...) É uma obra de coração de coração e de memória.

Fernando Dacosta

 (...) um estilo apanhado nas boas fontes populares e coloquiais que tanto enriquecem os Contos em que (a autora) sem complexo de modernismo enfastiado e já ultrapassado não tem medo de contar com graça e espontaneidade.

 Prof. Doutor Ferreira de Brito, Fac. de Letras do Porto

 Estes contos da autora merecem leitura sem favor. Não li os seus outros sete livros. Dou assim apenas nota deste. Os quatro de contos, os dois romances e o de ensaio, talvez venha a lê-los. Este deixou-me vontade disso. (...) Estes contos interpenetram-se. No conjunto das vidas descritas, aquelas personagens constituiriam um romance. 8...) As vidas entrecruzam-se. Núpcias e casamentos. Dramas da separação. Ciúmes e amizade. Traições e vinganças. Heranças e crimes. (...) turbilhaão de sonhos, de vida e de morte.

 Hernâni Silva, Jornal Terras de Monção

 Goa, a Terra e o Mito

(...) Trata-se de um itinerário minuciosamente escrito e com o sabor especial de quem transmite imagens ao vivo daquilo que atentamente observou. (...) De salientar o capítulo X o qual abrange uma área de riqueza vocabular exemplar.

Alexandre Cabral, 18/12/94

 Nesta quase reportagem, como lhe chamou a autora, derrama-se na sua escrita uma torrente de perfumes-sons-imagens que se movem em caleidoscópio, seja na descrição de uma paisagem seja no simples olhar sobre uma criatura.

 (...) A autora fez desta visita a Goa um memorial de onde extravasa a beleza de uma região remota e o imenso e secular vínculo que a une a Portugal.

 Fernando Melim, Foz do Lima /Março/95

 Parece-nos pela leitura e reflexão que fizemos que, para além da descrição de tudo quanto a autora presenciou, há o brotar das emoções (...) perante o reviver de um passado longínquo. (...) Ó capítulo XI é para nós um dos mais belos na medida em que o silêncio fala da saudade, da nostalgia e do mistério que se vive neste lugar onde parece escutar-se um coro invocador e primitivo de vozes entre o Rio Sal e o Mar Arábico.

 Turma 2º C – Escola Sec.. Alcaides de Faria,  Barcelos l995

 Estão aqui os perfumes, as exóticas palmeiras de leque, o voo negro das gralhas o salitre das pedras(...) o desenho sinuoso das praias, dos monumentos dos troncos dos coqueiros desgrenhados, a atmosfera de fornalha a simpatia e a afabilidade das gentes, as multiplicidades da História. É uma prosa também ela perfumada e colorida com algumas tintas de poesia.

 Albano Martins, 27/2/95

Pedra Angular

 A narradora ao longo de uma solitária viagem de comboio "viaja" à sua infância e adolescência (...) A memória traz-lhe lembranças dos seus amores e desamores na busca do Amor e dos diferentes homens com quem conviveu. (...) A vida mentalmente vivida e recordada durante essa viagem (...) vai-nos revelando a construção de uma Mulher, a sua coragem, a sua determinação, os seus sacrifícios e a sua vitória.

 Teresa Mesquita,  Jornal de Barcelos – Fev. 99

 O livro tem uma qualidade estupenda: que é prender o leitor da primeira à última página e "leva-o" a viajar com todos aqueles professores e a entrar naqueles romances que tão magistralmente descreve.

 Idalécio Cação, Universidade de Aveiro. 1/200

 Achei muito curiosa a ideia da partida – transformar em romance uma experiência de viagem de grupo – e conseguida a sua concretização.

 Cristina Ribeiro, Prof. Fac. Letras Univ. Lisboa – Dez. 99



Voltar à página inicial

Site apoiado pelo Alfarrábio da Universidade do Minho | © 1996-2015 Projecto Vercial