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António Sardinha


António Maria de Sousa Sardinha nasceu em Monforte Alentejo, no dia 9 de Setembro de 1887, e faleceu em Elvas, no dia 10 de Janeiro de 1925. Formou-se em Direito na Universidade de Coimbra. Com Alberto de Monsaraz e Hipólito Raposo, fundou em 1914 a Nação Portuguesa, revista de cariz nacionalista que viria a dar origem ao Integralismo Lusitano. António Sardinha torna-se diretor em 1922 do diário A Monarquia, defendendo o nacionalismo monárquico. Exilou-se em Espanha após o fracasso do movimento da Monarquia do Norte.

Obras: Poesia – Tronco Reverdecido (1910); Epopeia da Planície (1915); Quando as Nascentes Despertam (1821); Na Corte da Saudade (1922); Chuva da Tarde (1923); Era uma Vez um Menino (1926); O Roubo da Europa (1931). Outras – O Valor da Raça (1915); Ao Princípio Era o Verbo (1924); A Aliança Peninsular (1924); A Teoria das Cortes Gerais (1924); Ao Ritmo da Ampulheta (1925); A Aliança Peninsular (1925).




CHUVA DA TARDE


VELHO MOTIVO

Soneto de Jacob, pastor antigo,
– soneto de Raquel, serrana bela...
Oh! quantas vezes o relembro e digo,
pensando em ti, como se foras Ela!

O que eu servira para viver contigo,
– tão doce, tão airosa e tão singela!
Assim, distante do teu rosto amigo,
em torturar-me a ausência se desvela!

E vou sofrendo a minha pena amarga,
– pena que não me deixa nem me larga,
bem mais cruel que a de Jacob pastor!

Raquel não era dele, e sempre a via,
enquanto que eu não vejo, noite e dia,
aquela que me tem por seu senhor!


Chuva da Tarde




NO DESERTO

Chegaram os camelos junto ao poço,
Quando Rebeca tinha a urna cheia.
Foram momentos esses de alvoroço,
Bem raros de encontrar em terra alheia.

Também meu coração, menino moço,
Nos cardos do caminho se golpeia.
Ouço-te os passos, dentro de alma eu ouço
O eco dos teus passos sobre a areia.

Busquei-te no deserto longamente...
Como Rebeca outrora, condoída,
Surgiste, calma, na poeira ardente.

De ânfora baixa, à boca da cisterna,
Ficaste assim, para toda a tua vida,
Matando a minha sede, que é eterna!


Chuva da Tarde


A EPOPEIA DA PLANÍCIE


LETREIRO

Tudo o que sou o sou por obra e graça
da comoção rural que está comigo.
Foi a virtude lírica da Raça
a herança que eu herdei do sangue antigo.

Foi esta voz que em minhas veias passa
e atrás da qual, maravilhado eu sigo.
Como um licor de encanto numa taça,
assim se quer esse condão comigo.

Olhai-me: – Eu vim de honrados lavradores.
De avós e netos, sempre os meus Maiores
fitaram o horizonte que hoje eu fito.

«O que estaria além da curva estreita?»
– E da pergunta, a cada instante Feita.
nasceu em mim a ânsia prò Infinito.


A Epopeia da Planície


NA CORTE DA SAUDADE


MEMÓRIA

Meu coração de lusitano antigo
bateu às portas de Toledo, a estranha.
Mais roto e ensanguentado que um mendigo.
só a saudade as passos lhe acompanha.

Pois a saudade ali me deu abrigo.
ao pé do Tejo que a Toledo banha.
Levava os dias a falar comigo,
como um pastor com outro na montanha.

Em todo o mundo há terra portuguesa,
desde que a alma a tenha na lembrança
e a sirva sempre com fervor igual.

Talvez por isso, em horas de tristeza,
eu pude à sua amada semelhança
criar pra mim um novo Portugal!


Na Corte da Saudade

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