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Tomás Ribeiro


Tomás António Ribeiro Ferreira nasceu em Parada de Gonta, Tondela, a 1 de Julho de 1831, e faleceu em Lisboa a 6 de Fevereiro de 1901. Formou-se em Direito pela Universidade de Coimbra, exercendo advocacia durante pouco tempo, pois decidiu enveredar pela carreira política. Como membro do Partido Regenerador, exerceu os cargos de presidente da Câmara Municipal de Tondela, deputado, par do Reino, Ministro da Marinha, Ministro das Obras Públicas e Governador Civil dos distritos de Braga e do Porto. Foi também secretário-geral do governo da Índia Portuguesa e embaixador de Portugal no Brasil. Na literatura, tornou-se conhecido como poeta, partilhando da estética ultra-romântica. Acerca da sua obra D. Jaime, diz Camilo no Cancioneiro Alegre: «D. Jaime teve um êxito de prodígio; agitou as cabeças sonolentas de milhares de leitores. Espertou o gosto entorpecido dos versos e os brios do patriotismo. Fez tempestades no mar morto da literatura. "Aqui d’el-rei que ele não é melhor que o Camões, e o D. Jaime não pode medir-se com Os Lusíadas, como quer o Castilho!"» E acrescenta: «O certo é que todos vão passando, e D. Jaime ficou de boas avenças com D. Vasco da Gama. Pelas idades fora, se ainda houver portugueses, o poema de Tomás Ribeiro será um grito de alarme; se os não houver, será uma saudade para os netos dos que ainda conheceram pátria.»

Obras: D. Jaime ou a dominação de Castela (1862); A Delfina do Mal (poesia, 1868); Sons que Passam (poesia, 1868); A Indiana (entreato em verso, 1873); Vésperas (1880); Jornadas (dois vols. de narrativas de viagens pelo Oriente: 1.ª parte – Do Tejo ao Mandovi; 2.ª parte – Entre Palmeiras; 3.ª parte – Entre Primores; 1873); Dissonâncias (1890); História da Legislação Liberal Portuguesa (ensaio, 1891-1892); Empréstimo de D. Miguel (ensaio histórico, 1880); Carta de Alforria (poema em homenagem a Dom Pedro II, Imperador do Brasil); O Mensageiro de Fez (poema a Nossa Senhora de Carnaxide, 1900).




FAÇO IDEIA

(NUM ÁLBUM)

– «A proprietária do livro
que te aqui deixo, Tomás,
é minha amiga; e verás
que não tem nada de feia.»
– «Faço ideia.»

– «É Beatriz!»
– «O nome é lindo!»
– «E o corpo? airoso e gentil!...
e aquele nobre perfil!...
e a fronte que o orgulho alteia!...
– «Faço ideia!»

– «E vai fugir-nos, poeta!...
cansada já de festins,
troca os salões por jardins,
a capital pela aldeia!...
– «Faço ideia.»

– «Não fazes ideia! enganas-te!
não pode haver fantasia
que sonhe inteira a magia
de que a beatriz se rodeia!»
– «Faço ideia!»

– «Ai fazes?!... pois nesse caso
descreve-a assim – tal e qual.»
– «Mas... sem ver o original?!...»
– «Amigo, não se arreceia
quem faz ideia!»

O meu amigo, senhora,
que a verdade não falseia,
fez assim vosso elogio,
e eu fiquei... fazendo ideia!


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