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Wenceslau de Moraes


Wenceslau com C. Pessanha em Hong Kong (1895)

Moraes, Wenceslau de: Wenceslau José de Sousa de Moraes (1854-1929) nasceu em Lisboa, a 30 de maio de 1854, e faleceu em Tokushima, Japão, a 1 de julho de 1929. Frequentou a Escola Naval, tendo feito várias viagens como oficial da Marinha de Guerra pela América, África e Ásia. Fixa-se em Macau em 1891, depois de nomeado imediato da capitania do porto, inspetor do ópio e professor, convivendo com Camilo Pessanha, seu amigo. É nomeado em 1899 cônsul no Japão. Após a morte da gueixa com quem passou a viver, pede exoneração do cargo (1913) e radica-se definitivamente em Tokushima, entregando-se aí à atividade literária e convertendo-se ao budismo. É um dos mais importantes autores portugueses que trataram literariamente assuntos ligados ao Oriente, em especial o Japão.

Obras: Traços do Extremo Oriente – Sião, China e Japão (Lisboa, 1895); Dai-Nippon (Lisboa, 1897); Serões no Japão (Lisboa, 1905); O Culto do Chã (Kobe, 1905); Paisagens da China e do Japão (Lisboa, 1906); O Bon-Odori em Tocushima (Lisboa, 1916); Ko-Haru (1917); Fernão Mendes Pinto no Japão (1920); Ó-Yoné e Ko-Haru (Porto, 1923); Relance da História do Japão (Porto, 1924); Os Serões no Japão (Lisboa, 1925); Os Mistérios de um Telhado; Relance da Alma Japonesa (Lisboa, 1926); Relance da Alma Japonesa (1928); Osoroshi (1933); Cartas Íntimas (1944); Notícias do Exílio Nipónico (Macau, 1994).




OS MISTÉRIOS DE UM TELHADO

(extracto)

Tanta gente! tantos os que nos falam e nos apertam as mãos; tantos os que nos segredam uma palavra inútil, uma frase lisonjeira... e nem uma amizade sincera, nem um raio dessa outra amizade sublime, a que chamam o amor!

Amor, sim! Amor, que é a alma da nossa alma, a vida da nossa vida, flor maravilhosa, que a terra roubou ao Paraíso. Eu creio em duas alavancas que movem todos os interesses e que miram todas as aspirações: O dinheiro e o amor. Dinheiro! ideal dos ambiciosos da matéria... Amor! ideal dos ambiciosos do sentimento...

E eu amo as mulheres. Amo essas existências franzinas, delicadas como a haste do lírio, que uma brisa vivifica, e que o sol fenece. Amo-as pelos seus cabelos sedosos, pelas suas faces pálidas, pelos seus belos olhos, pelas suas mãos pequeninas, pelos seus requebros languescentes... Adoro-as!

Mas, Pelletan, ao defender a mulher, receia por inimiga a sua própria cliente. Diz que os chineses, para darem às sua beldades os pés mais pequeninos de todas as Evas, tiveram de persuadi-las de andariam tanto melhor quanto menos pudessem andar. Paulo Féval compara as mulheres às borboletas: se todas as chamas se extinguissem, as borboletas criariam uma chama.

As mulheres não amam quem as adora.



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