ZECA AFONSO

Tecto do mendigo

Num lugar ermo
Só no meu abrigo
Aí terei meu tecto
E meu postigo

De longe em longe
À luz das madrugadas
Duas camisas
Quem não tem lavadas?

Aí serei meu dono
E companheiro
Dizei amigos
Se não sou solteiro

E se eu morrer
O tecto que não caia
Porque um mendigo
Dorme de atalaia
    De quando em quando
    Chamo o perdigueiro
    Dizei amigos
    Quem chega primeiro

    Aí terei meu poiso
    À luz da veia
    Aí verei o sol
    Duma janela

    Tenho uma trompa
    Tenho uma cascata
    Tenho uma estrela
    No bairro da lata

    Olha o mar alto
    Olha a maresia
    Olha a montanha
    Vem rompendo o dia