Amadeu Baptista nasceu no Porto a 6 de Maio de 1953. Frequentou a Faculdade de Letras da Universidade do Porto. É membro da Associação Portuguesa de Escritores e do Pen Clube Português. Colaboração dispersa em jornais, revistas, livros colectivos e antologias nos seguintes países: Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, E.U. A., Espanha, França, Grã-Bretanha, Itália, México, Portugal, Roménia e Uruguai. Poemas seus foram traduzidos para alemão, castelhano, catalão, francês, hebraico, italiano, inglês e romeno. É divulgador em Portugal de poetas espanhóis e hispano-americanos. Fundou e co-dirigiu (com Álvaro Holstein Ferreira e Vergílio Alberto Vieira) a publicação Babel fascículos de poesia, e co-organizou (com Egito Gonçalves) a revista Orfeu 4. Organização de antologias: Quanta Terra!!! - Poesia e Prosa Brasileira Contemporânea, 2001; Álbum de Acenos Antologia de Poesia e Fotografia, 2001; Poesia Digital 7 poetas dos anos 80, em col. com José Emílio-Nelson, Porto, 2003. Integrou o Júri do Grande Prémio de Poesia APE/CTT relativo ao ano editorial de 1993, 1997 e 2003; o Júri do Grande Prémio de Literatura Biográfica APE/C.M. do Porto relativo ao ano editorial de 1997 e o Júri do Grande Prémio do Conto APE/Câmara de Vila Nova de Famalicão, relativo ao ano editorial de 1999. Obras publicadas: As Passagens Secretas, Coimbra, 1982; Green Man & French Horn (in A Jovem Poesia Portuguesa/2, em col.), Porto, 1985; Maçã [Prémio José Silvério de Andrade Foz Côa Cultural, 1985], Porto, 1986; Kefiah, Viana do Castelo, 1988; O Sossego da Luz, Porto, 1989; Desenho de Luzes (edição galaico-portuguesa), Corunha, Galiza, Espanha, 1997; Arte do Regresso (pelo primeiro capítulo deste livro, Cúmplices, recebeu o Prémio Pedro Mir, na categoria de Língua Portuguesa, promovido pela revista Plural, da Cidade do México, em 1993), Porto, 1999; As Tentações, Santarém, 1999; A Sombra Iluminada (in Douro: Um Percurso de Segredos, em col.), s/l, 2000; A Noite Ismaelita, Guimarães, 2000; A Construção de Nínive, Porto, 2001; Paixão (Prémio Vítor Matos e Sá, da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, 2001 e Prémio Teixeira de Pascoaes, 2004), Porto, 2003; Sal Negro (in Sal Negro Sal Branco com 25 fotografias de Rosa Reis) Almada, 2003; O Som do Vermelho tríptico poético sobre pintura de Rogério Ribeiro, Porto, 2003; O Claro Interior [Prémio de Poesia e Ficção de Almada 2000 / poesia], Almada, 2004; Salmo (com a reprodução de um desenho de Rogério Ribeiro), Porto, 2004; Negrume (com desenhos de Ana Biscaia), Lisboa, 2006; Antecedentes Criminais (Antologia Pessoal 1982-2007), Vila Nova de Famalicão, 2007; O Bosque Cintilante [Prémio Nacional de Poesia Sebastião da Gama, 2007], Vila Nova de Azeitão, 2007 (ed. fora do mercado); Balada da Neve e Outros Poemas, Maputo, Moçambique; Outros Domínios (Clamor por Florbela Espanca) [Prémio Literário Florbela Espanca, 2007], Vila Viçosa, 2008; O Bosque Cintilante [id.], Porto, 2008. A publicar: Estrela de Bizâncio [Prémio de Poesia e Ficção de Almada 2000 / prosa]; Poemas de Caravaggio [Prémio Nacional de Poesia Natércia Freire, 2007]; Sobre as Imagens [Prémio Internacional de Poesia Palavra Ibérica, 2008].
Extractos:
O universo poético de Amadeu Baptista vive da presença ardente do Outro, do cruzamento de olhares e significações, da circulação indefinida entre o Eu, o Tu e o Mundo. Esta dinâmica esconde contudo um movimento mais subtil: o olhar que pousa sobre o Outro revela-se essencialmente a si mesmo na angústia do vazio, no espaço da ausência, da morte. A ordem relacional, da abertura que define a temática sensível dos poemas transforma-se em projecção ideal de caminhos de esperança, utópicos movimentos de fascínio (...).
Maria Graciete Besse
Amadeu Baptista, autor de poesia ao mesmo tempo amarga, satírica e erótica, exprime a dilaceração tumultuosa da consciência face à contradição quotidiana de quem habita níveis existenciais não comunicantes. Dividido entre o peso da realidade e o furor do desejo, cultiva desde o primeiro livro um exigente tom de indignação ética, ora pessimista e desesperado, ora sarcástico e cruel, que fundamenta uma crítica corrosiva da violência pseudofeminista no mundo doméstico, mistificada pelas falsas evidências do senso comum, e do sofrimento humano mais infame no trabalho e na guerra. A sua poesia, sem recuar perante o pensamento politicamente correcto dos tempos que correm e sem abdicar de uma função transgressora essencial, tomando a maçã como símbolo da perdição mas jamais caindo num maniqueísmo misógino, desconstrói com grande originalidade satírica o mito da mulher divina idealizado pela lírica tradicional e expõe com explosiva brutalidade a sordidez da vida suburbana, a solidão desesperada e o desalento niilista de toda uma geração em ruína. Mas, num outro nível de representação temática, assistimos a um descentramento tópico que aspira à heteropia, a «uma passagem para outro lugar», onde o poeta possa aceder ao sentido mais íntimo do ser que limita a sua exterioridade radical, imagem que na ordem do desejo recupera a figura feminina. É neste movimento dialéctico recorrente que Amadeu Baptista realiza o que poderíamos designar por efeitos especiais, numa expressão turbulenta que atinge níveis de grande dignidade estética graças à volúpia de uma sugestividade erótica obtida mediante sobreposições de imagens, em estilo cinematográfico, que geram densas metabolizações passionais do discurso. Um dos aspectos técnicos mais singulares desta poesia reside justamente na capacidade de transformar a retórica da imagem numa fenomenologia da imagem, fazendo render a seu favor a torrencialidade não raro prosaica que à partida tenderia a provocar processos de diluição analítica pela combinação hábil do discursivismo e do associativismo metafórico, num jogo de anáforas, elipses e acumulações barroquizantes que liberta poderosos efeitos impressionistas. Este trabalho sobre a palavra evidencia uma consciência apurada dos segredos da linguagem em estado poético, que Amadeu Baptista nem sempre deixa ver com a facilidade que a leitura superficial requer mas que ganha uma visibilidade nítida no seu entendimento da escrita como revelação de um saber inominado, «infinito exercício de adivinhação».
Luís Adriano Carlos