QUERO CORTEJAR O SOL
de José Leon Machado
Quero Cortejar o Sol é o diário de um jovem que frequentou o Seminário entre 1981 e 1986. Além de ser um testemunho pessoal e íntimo da sua própria vida, é também um retrato da época, do ponto de vista social, cultural, religioso e político. Nele perpassam, além do dia a dia do autor como estudante de Teologia, a sociedade portuguesa e muitas das personalidades públicas que a marcaram. A obra apresenta-se como um percurso eclesial, que inicialmente entusiasma o autor, e que paulatinamente vai descambando numa grande desilusão que termina com a sua saída do Seminário. Como ele próprio diz na introdução, a determinada altura do percurso o jovem seminarista acordou «para as realidades nem sempre celestiais, nem sempre de amor e caridade que lia e ouvia tantas vezes e via tão pouco na Igreja que se dizia seguidora de Cristo. Atravessou-o um grande pessimismo. O Seminário, a Igreja, não eram bem aquilo em que ele tinha acreditado, um lugar de concórdia, um paraíso de paz e harmonia. As intrigas, as invejas e as brutalidades entre colegas, o mau exemplo dos padres, o egoísmo de cada um decepcionaram-no».
Título: Quero Cortejar o SolAutor: José Leon Machado
Género: diário
2ª edição revista
Edições Vercial, 2006-2019
N.º de páginas: 244
ISBN: 978-989-8392-11-4
Suporte: papel e ebook
Disponível na Amazon
Recensões críticas e opiniões sobre a obra:
A riqueza (nos acontecimentos e peripécias) da vida no seminário não teve (até eu conhecer Quero Cortejar o Sol de José Leon Machado) quem as trouxesse ao conhecimento público, de forma literária e surpreendente. Feliz a hora quando o autor decidiu escrever sobre isto. Houve momentos que senti a felicidade pura e inicial do amor sugerido num olhar, num toque, no encosto e numa trança de cabelo, ou apenas num desejo pueril. Não são os amores e os encantos ou grandes propósitos de uma vida, de serviço a Deus ou aos outros, tão fortes e nunca mais iguais, como os que se sentem naquela idade de descoberta? Vivi também, como seminarista, todos aqueles paraísos (alguns infernos, também), onde a experiência de singularizar um afeto ao extremo, como se o mundo acabasse nuns segundos impensáveis, depois de sentirmos a plenitude. Talvez tenham sido estes os momentos mais raros e poéticos da nossa vida: aqueles em que personagens femininas se cruzaram connosco, na rua, no café, na visita pascal, numas férias, etc. Olhavam-nos como personagens de um outro reino, salvadores das suas expectativas de um amor sem igual. Quantas cartas, quantas conversas de apoio, de confidências, tivemos, num trapézio de emoções, onde não entendíamos outras possibilidades, senão o propósito das nossas vidas! Quantos beijos ficaram pelo caminho, quanto corpo delicioso ficou por abraçar e sentir, quanta descoberta não partiu de portos medrosos e inconsequentes. Que vivas e imortais essas experiências!
Álvaro Campelo, julho de 2024
Admiro a forma como o autor de Quero Cortejar o Sol se despe da sua intimidade e nos revela os sonhos e desejos mais caros da sua adolescência e juventude. Acompanhei com muito interesse, ao longo de todo o livro, as suas lutas e dificuldades, as interrogações, alegrias e decepções na sua busca por um ideal que pensava ser o seu. Admiro a forma como revela, sem pudor, as suas ingenuidades e o desabrochar da sua sexualidade. Não se inibe de descobrir os sentimentos que experimenta perante a reciprocidade dos outros. Não se coíbe de exprimir o que lhe vai na alma por amar. Não teme perder a imagem que porventura terão dele ao pôr a nu as suas necessidades mais íntimas. E quando não se descobre uno com o caminho que antes considerava seu, enfrenta com frontalidade e coragem a necessidade de ser sincero. Um livro a ser lido.
Maria Antonieta Costa, janeiro de 2015
Achei o diário de muito valor, quer como texto literário, quer como documento biográfico e histórico. Para além da dimensão catártica que pudesse ter, ficou-me sobretudo o relato clarividente de um tempo e de um ambiente em que talvez tivesse precisado de ouvir melhor essa voz para acordar de tanto mau juízo, preconceito e presunção. Julgo que, como seminarista, passei ao lado de algumas coisas, que todos passámos ao lado de algumas coisas. Nem sequer nos apercebíamos dos dilemas e angústias que os colegas viviam e que um sorriso nosso teria aliviado. Cada um debatia-se com os seus próprios conflitos e dúvidas. De uma forma ou de outra, o tempo e as circunstâncias fizeram-nos crescer, caminhar, descobrir. E é bom ver a intensidade e a lucidez com que isso aconteceu. Fico sempre feliz por ver um homem livre - mormente quando ele próprio foi construindo, com denodo e ousadia, a sua liberdade.
Jorge Tinoco, Fevereiro de 2010