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Incidência da obra e da acção de Antero na mutação da mentalidade portuguesa

O tema proposto, para quem estiver minimamente informado sobre os problemas que ele implica, é demasiadamente ambicioso, exigindo uma alta dose de coragem. Um tema a Que foram concedidos alguns meses para reflexão, quando seria necessária, possivelmente, uma vida inteira. Esta comunicação, portanto, nunca deverá ser entendida como um ensaio exaustivo, com a extensão, a análise e a impessoalidade que tal exigiria.

Obra e acção não são linearmente coincidentes. Mutação da mentalidade une dois conceitos de compreensão dialéctica, variáveis no tempo e no espaço, sujeitos às componentes históricas e, portanto, às diversas focagens. Quer isto dizer que o nosso contributo, se de alguma maneira o é, não passa, nem pode passar, de algumas achegas, possíveis pistas, que eventualmente poderão ser de alguma utilidade para quem a estes problemas se entregue, ainda que o seja para desencadear opiniões contrárias e assim aprofundar uma matéria que o opiniões contrárias e assim aprofundar uma matéria que o merece, por nos ser necessária à cultura e à nação, dada a personalidade em causa, Antero de Quental, na verdade, o que quer que dele se pense nunca deixará de ser um dos maiores pensadores de um país cheio de paradoxos, de complexos e temeridades.

Tudo isto nos obriga, antes de mais, a definir o espaço, quanto possível, da nossa reflexão. Da obra e da acção de Antero não nos ocuparemos, a não ser eventualmente, ou implicitamente, por implicação com o percurso que vamos seguir: mutação da mentalidade, por influência delas, da obra e da acção. Podemos, no entanto, como ponto de partida, afirmar que Antero de Quental, em termos genéricos, escalou três vertentes: a do lírico, a do activista intervencionista e a do pensador. E sobre estas três vertentes, achamos pertinente dizer que em qualquer uma delas Antero teve sempre uma atitude dinâmica, isto é, uma crítica constante sobre os seus produtos acabados, o que o levava a rectificações, obrigando-nos a ver no seu percurso conclusões sempre provisórias. É um Antero assim, batedor de problemas, sempre insatisfeito pela exigência que em si era imperativa, que deve ser estudado, pois de contrário, parcelando-o, pela selecção de citações, corre-se o risco da deformação, o que se verifica na sua bibliografia passiva, onde encontramos pistas diferentes e até apostas. De facto, Antero dá para quase tudo, se não o encararmos na sua mobilidade pensante, de homem exaustivamente livre dentro de si mesmo, perante toda a natureza de problemas, propostos pelo país ou pela modernidade estrangeira. Vincular Antero a uma filosofia, a uma ideologia ou a uma prática, estamos convencidos que é uma deformação da personalidade e da dignidade que, quanto a nós, marcaram, fundamentalmente, uma atitude de reflexão, que nos parece ser o seu maior contributo para uma mentalidade, qualquer que seja a sua natureza.

Para darmos continuidade à nossa reflexão, impõe-se, antes de mais, esclarecer o que entendemos por mentalidade, no contexto «Mutação da Mentalidade Portuguesa. Na história das nossas letras, encontramos, entre os pensadores mais conscientes e mais preocupados, a chamada de atenção para a mudança da mentalidade portuguesa, como uma necessidade inadiável. Mas esta chamada de atenção tem passado desapercebida, ou .então tem provocado desvios da matriz semântica desse apelo. E estes desvios têm sido provocados por razões étnicas, por razões políticas ou por ignorância. A alteração da mentalidade não põe em causa a especificidade do povo português, ou uma possível paideia portuguesa, defendida por António Quadros, nem implica uma absorção da nossa etnia por qualquer cultura estrangeira. Nem tão pouco pode servir de cobertura à importação ou imposição de qualquer ideologia, pois estas podem acontecer, substituindo o recheio da memória sem mexer com os comportamentos mentais. A mentalidade, que tem sido motivo de apelos angustiantes, tem a ver, precisamente, com os comportamentos mentais: com o estatismo genérico dos portugueses, isto é, com o seu passivismo mental, com a ausência de crítica reflexiva, com a generalizada utilização de conhecimentos modelados por institucionalização ou tradições. Quaisquer que sejam os valores que poderão conceptualizar um povo e que, respeitando-os, o poderão tornar maior e consequentemente menos carente, material e espiritualmente, a atitude dinâmica mental é que é requerida, como imprescindivelmente necessária, ainda que não suficiente. O estímulo para tal atitude, tanto pode partir do nosso espaço geográfico como do estrangeiro, sem que, partindo de um ou de outro lado, signifique que passemos a ser mais ou menos portugueses.

Convém também esclarecer o que entendemos por mutação, isto é, mudança. Esta palavra não pode ser tomada em sentido absoluto. As mudanças não se fazem por decreto, nem na sua totalidade. Com exemplos inequívocos, a história mostra-nos que nem a força de um grupo, nem a força de uma revolução, são capazes de determinar uma mudança, só porque ela é necessária e porque surge oportunidade para isso. A mudança de uma mentalidade, estimulada por uma necessidade evidente, passa pela educação, pela cultura, pelo poder político, sem esquecer que a sua possibilidade está dependente da adesão voluntária do indivíduo, sem imposição, sem dogmatismos massificantes. A mudança tem de ser sentida como necessária para ser aceite, isto é, tem de ser desejada. A intervenção grupal ou estatal, interessada numa mudança, não pode ignorar estes pressupostos. Isto não significa que uma intervenção possa ser inócua. Apenas, e só, que a dimensão projectiva de Antero terá de ter em linha de conta todos estes considerados, para evitar desfocagens, que adulterem a verdade de um pensador, que, sobretudo, se preocupou com a verdade e dela fez o percurso das suas reflexões e das suas actividades, nunca fechadas, mas sempre sob a mira de uma crítica que a si próprio exigia, pelo seu carácter e pala sua consciência dialecticamente insatisfeita.

O confronto nacional, bipolarizado por Antero e Castilho, e que ficou conhecido por Questão Coimbrã, não pode ser encarado numa perspectiva clubista, como um encontro entre uma equipa nacional e uma equipa estrangeira, nem tão pouco, para não dizer muito menos, entre uma sentimentalidade portuguesa e uma racionalidade positivista importada. Uma leitura intertextual de Antero, não nos permite responsabilizá-lo como comerciante de uma cultura estranha empacotada. Antero foi o maior receptor do seu tempo da cultura europeia, com mais precisão, das filosofias e das ideologias da Europa, mas também foi aquele que foi mais longe nas suas críticas, tendo sempre presente a realidade portuguesa, o que não implica a ausência de dificuldades e de erros, num contexto reflexivo tão complexo. Antero de Quental não foi um iconoclasta do sentimento português se entendermos por tal a natureza étnica do português, ou, se se quiser ir mais longe, a paideia portuguesa, ainda que mais complexa, apontada por António Quadros. Antero de Quental foi, sobretudo, contra os hábitos mentais do povo português, passivos, acríticos, improdutivos, acriativos, abúlicos, em oposição, aliás, com os momentos mais altos de Portugal. O confronto verbal entre o exército de Castilho e o exército de Antero, que começou com uma simples crítica, Bom Senso e Bom Gosto, acabou por misturar o trigo e o joio, o essencial e o acessório. O que estava fundamentalmente em causa era um sentimentalismo alienante, impeditivo da evolução de um povo, e não o sentimento de uma raça, se é que a somos. Foi contra esse sentimentalismo doentio, inoperante, que Antero lutou, em defesa de uma atitude mental, sem a qual não era possível qualquer progresso. As suas opções políticas e ideológicas não podem ser encaradas como adesão ortodoxa a importações, mas como adesão, e só, ao espírito humanista, inerente ao idealismo mais puro dessas políticas e dessas ideologias. É verdade que o seu entusiasmo, aceso por uma esperança de concretização imediata, o levou a atitudes, a compromissos, que, isolados de toda a sue evolução, poderão contrariar o que se afirma. Mas achamos um desrespeito por Antero não penetrar na sua autenticidade, pelo seu estudo global, pela sua evolução, onde, subjacente, permanece sempre humano, sempre português, em perseguição de si e do seu povo, procurando o seu progresso em correlação com a sua alma.

Uma mutação, ou mudança, implica ruptura. Antero provoca, de facto, essa ruptura? Essa ruptura é embrionariamente nacional? Essa ruptura admite uma análise conceptual? A ruptura, como é sabido, implica o desabamento de uma estabilidade aceite e cultivada, a perda das referências judicativas, o surto do fragmentário, do diverso, da mobilidade dialéctica, da substituição das certezas pelas probabilidades, da estagnação pelas iniciativas. Por outro lado, essa ruptura é transnacionalista, é uma clivagem, entre outras, que mais claramente nos revela a natureza evolutiva da história. E por outro lado, ainda, por estes pressupostos, não admite uma análise conceptual para além da ruptura em si, como movimento iconoclasta e projectivo.

Ao pensarmos Portugal, não podemos esquecer que ele faz parte integrante do chamado Ocidente, ou, se quiserem, mais restritamente, da Europa, sendo nela, até, geograficamente, o país mais antigo. O que não nos permite falar de uma ruptura nacional isoladamente da nossa integração cultural europeia. Podemos, isso sim, considerar o nosso particularmente, mas como um segmento dessa ruptura global.

Nesta perspectiva, Antero é o agente número um da ruptura em Portugal. E, quando dizemos em Portugal, queremos dizer que implica a dinâmica europeia sem colidir com a diferença específica que nos permite distinguir os povos ou as raças. E então, feitos os devidos esclarecimentos, podemos afirmar que houve uma ruptura nacional, sem que isso implique o grau da sua extensão e a dimensão da sua incidência na mentalidade portuguesa. Mas essa ruptura, que aceitamos ter existido, não se identificou com uma mudança absoluta. De Antero até hoje, a mudança da mentalidades portuguesa tem-se caracterizado por avanços e recuos, através de forças divergentes e opostas, impondo-se, nuns casos, a energia dos agentes culturais, noutros, o pulso do poder. Mudança, portanto, não houve, mas, no entanto, parafraseando Galileu, houve. Isto é, abriu-se a porta à mudança. E ela continua aberta actualmente, e acreditamos, com forte esperança, na efectivação dessa mudança. A estabilidade e a democracia, necessárias a uma mudança da mentalidade, ainda que não suficientes, nunca existiu em toda a história de Portugal como hoje.

Como dissemos, não está no âmbito desta nossa reflexão a análise dos conteúdos da obra de Antero, ainda que obrigatoriamente subjacentes. Essa análise encontrámo-la já feita por todas as personalidades mais destacadas da nossa cultura e nas inúmeras comunicações que estão a ser feitas neste centenário pelos nossos maiores valores, mais próximos de Antero de Quental. No entanto, o respeito pelo terreno dos outros e a vinculação ao tema que nos foi proposto obrigam-nos a uma linguagem de afirmações secas, aparentemente dogmáticas. Porque falar da INCIDÊNCIA DA OBRA E DA ACÇÃO DE ANTERO NA MUTAÇÃO DA MENTALIDADE PORTUGUESA implica a análise dessa obra, para então se poder determinar a sua repercussão. Pois repercussão é de alguma coisa. Temos necessidade, portanto, de afirmar sem documentar, quer com análises, quer com citações.

Antes de mais, é ponto assente para nós que Antero não foi político, nem filósofo, nem doutrinador, de aceitarmos estes conceitos definidos pela teoria e pela prática que lhes são inerentes. Como político, Antero foi um idealista nunca acabado, movido por um humanismo profundamente sincero, muito pessoal, muito à flor da pele, o que explica as suas decepções e frustrações. Como filósofo, não nos deixou mais do que as suas reflexões sobre outros filósofos, acutilantes e severamente críticas, e a construção de uma síntese inacabada, que seria possivelmente original, portuguesa e, então, uma filosofia. Como doutrinador, não deixou uma carreira consequente, não por falta de ideias e acções, que teve em abundância, mas pela sua natureza circunstancial, própria de uma insatisfação constante, perante uma complexidade crescente dos problemas, resultante de um espírito operatoriamente dialéctico que o obrigava a procurar as relações e correlações no interior da totalidade dinâmica, desde a física à metafísica, do nosso passado ao nosso futuro, da nossa actualidade à actualidade das outras nações. Evitando citações, como afirmámos, não podemos, contudo, pela sua pertinência, deixar de apresentar uma ou outra. E como vem lapidarmente na linha do que vimos afirmando, aqui associamos algumas palavras do jesuíta Lúcio Craveira da Silva, do seu livro Antero de Quental – Evolução do seu pensamento filosófico: «Se ele, buscando incessantemente, parece ter encontrado pouco; se, traçando e recomeçando plantas de construção majestosas, as abandonou em meio; se, em batalhas fatigantes, lutou pela síntese das ideias e soluções paradoxais; se passou a vida a duvidar, a pôr-se problemas, que muitas vezes se tornaram dolorosas incógnitas; se, depois de uma extenuante peregrinação através de mil ideias, sentimos a nítida impressão de qualquer coisa que ficou incompleta, dum princípio que não teve fim, tudo isto deve ter um sentido e uma explicação».

Sobre o político, Joaquim de Carvalho, in Estudos sobre a Cultura Portuguesa do séc. XIX, depois de analisar as relações de Antero com Marx e Proudhon, conclui: «Na essência, o revolucionarismo de Antero traduzia a aspiração do conservador de uma ordem social mais justa e equitativa, a instaurar».

Sobre o filósofo, diz Manuel da Silva Gaio, citado por Ruy Galvão de Carvalho: «Filósofo – não, propriamente, na acepção de criador de definitivos conceitos genéricos, de autor de uma Obra de sistemática construção intelectiva, na qual houvessem ficado tratados e de certo modo resolvidos todos os problemas fundamentais propostos à nossa curiosidade investigadora no vasto domínio da Filosofia».

Estas citações não negam a existência de outras opiniões fundamentadas, nem denunciam, de forma alguma, premissas das nossas afirmações. Aliás, na maior parte dos estudos feitos sobre a obra de Antero, as divergências são pontuais, raras vezes profundas, justificadas mais pela compreensão dos conceitos utilizados do que pela interpretação dos textos e pela atitude e formação mentais de Antero.

Um Antero assim, diversificado, flexível pela apetência nata pela verdade, que incidência teve na mentalidade portuguesa?

Esta incidência, para nós a mais significativa, verificou-se em três sentidos: o da lírica, o do pensador, e o da etnologia. O mais, com a marca da importação, não consideramos relevantes, pois, se contribuíram para a amplitude do seu pensamento, pouco contribuíram para um seguidismo filosófico ou político.

Com Antero de Quental há uma viragem, na lírica portuguesa. Pela primeira vez a língua é penetrada até à sua secreta beleza, tendo por conteúdo a profundidade da reflexão filosófica ou ideológica. Esta lírica conceptual não existe antes de Antero, a não ser em Herculano, mas, neste, num âmbito estritamente religioso. Dados os primeiros passos poéticos, com Raios de Extinta Luz e Primaveras Românticas, Antero corta radicalmente com a tradição, com Odes Modernas, e toma-se o nosso maior poeta depois de Camões, com Sonetos e outros poemas dispersos. Joaquim de Carvalho, na obra já citada, diz do poeta: «A sua musa, desperta e sensível, não se extasiou perante a Natureza nem se deteve apenas nas vivências puramente subjectivas, não se prendeu a escolas nem se confinou em temas de âmbito murado. A filosofia da vida humana foi o seu alvo, o universalismo, a lei do seu pensamento; por isso as suas poesias, especialmente os Sonetos, exprimem o drama de uma consciência reflectida que busca ardentemente o sentido último da existência, isto é, como disse finamente Eça de Queirós, são "o sumo poético de uma agonia filosófica". A esta luz, Antero é um caso único na história da sensibilidade poética». Não são menos relevantes as palavras de Jaime Cortesão, in Glória de Antero: «Ninguém como ele realizou na poesia a síntese das emoções mais estranhamente opostas, pela superação puramente estética dos contrastes. Mais do que poeta do desespero, ele soube dar forma a esse estado de alma infinitamente incerto e pungente, de quem oscila entre a dúvida racionalista – vinco psicológico do século em que nasceu – e o misticismo que lhe vinha das profundidades da consciência. As interrogações ansiosas do pensamento fixam-se pendularmente ora na descrença pessimista, ora na fé confiante».

Esta lírica conceptual não teve influências literárias estrangeiras. Antero é o criador da sua própria lírica. As influências detectáveis são do âmbito da filosofia e não da poética. Sabemos da interferência no pensamento de Antero da filosofia germânica, com destaque para Hegel e, sobretudo, Hartmann.

A dimensão da lírica anteriana não tem sido devidamente respeitada nas perspectivas traçadas nos estudos da nossa contemporaneidade. A preocupação com as afinidades próximas, nacionais ou estrangeiras, tem levado os ensaístas a supervalorizar o acessório e a subestimar o fundamental. Se falamos em correntes, ou escolas literárias, elas devem basear-se no fundamental e não no acessório. E há razões para falarmos numa corrente poética portuguesa que, com outras possíveis influências, ou criações, como Pascoaes e Fernando Pessoa, não deixam de ser um eco da ruptura de Antero com o passado, de uma lírica conceptual que poderíamos designar por filosofia poética.

Nesta perspectiva, aceitamos uma incidência na cultura literária portuguesa e, implicitamente, um contributo para a mutação da mentalidade. Não nos esqueçamos que a célebre Questão Coimbrã, que tanto agitou os espíritos, teve como campo de batalha das mentalidades precisamente a lírica. E todos sabemos das potencialidades desta arte numa intervenção na mutação de mentalidades. Na história deste país, isto pode ser constatado, quer pela repressão, quer pela manipulação.

A outra possível incidência terá sido a de Antero como pensador. Por uma questão estrutural da escrita assim o designamos, pois Antero, não só em tudo o que escreveu como na própria comunicação oral com os outros, nunca deixou de ser um pensador. Antero é um paradigma de cabeça civilizada, altamente consciente, por natureza, que a fala e a palavra devem ser sempre precedidas da reflexão. Postura comunicativa que contrasta com a tradicional cavaqueira popular ou intelectual, de frases feitas, de pensamentos feitos e de argumentos viciados, à rebeldia do espírito crítico que modela a personalidade e que torna o homem verdadeiramente livre.

É também o momento de estabelecer a distinção entre pensador e filósofo. Achamos que Antero de Quental é um pensador e não um filósofo. E, com mais audácia, achamos que nunca tivemos um filósofo em Portugal. Temos tido excelentes pensadores, de longa data. Cada um à dimensão do seu tempo. Não é difícil, sem fazer grandes pesquisas, citar nomes como D. Duarte, Camões, Sá de Miranda, D. Francisco Manuel de Melo, Padre António Vieira, Verney, Herculano, Teixeira de Pascoaes, Jaime Cortesão, Leonardo Coimbra, Fernando Pessoa, Álvaro Ribeiro, José Marinho, Sant'Anna Dionísio, António Sérgio, Miguel Torga, etc. Mas filósofos, não. Distinguimos pensar filosófico, ou pensamento filosófico, de filósofo. Uma coisa é a qualidade e a natureza dos comportamentos mentais, o seu grau de intervenção nos problemas, e até as sínteses ou as ideias inovadoras avulsas que daí podem derivar, e outra é a construção de um sistema filosófico. A teoria da Saudade, de Pascoaes, ou a teoria do Criacionismo, de Leonardo Coimbra, ou outra, que devem participar num sistema da nossa identidade, não podem constituir sistemas filosóficos. Se houve alguém, que esteve próximo de ser filósofo, esse foi precisamente Antero de Quental. É muito provável que o nosso açoriano, se tivesse vivido mais trinta anos sem as perturbações psico-somáticas que o perseguiram, tivesse conseguido um sistema filosófico com marca portuguesa. Mas não viveu, nada concluiu, e, portanto, ficou-nos apenas o pensador. Esta é a nossa posição, perante a questão levantada por Ruy Galvão de Carvalho, no seu ensaio Antero Vivo: «Saber se tudo aquilo que o autor genial dos Sonetos pensou e escreveu terá matéria suficiente para se poder imediatamente concluir pela existência de uma filosofa da sua lavra, quer dizer, essencialmente original». Os melhores especialistas de Antero de Quental, e mais cuidadosos na utilização dos conceitos, quer se inclinem para o sim, quer se inclinem para o não, têm a preocupação de explicar em que sentido empregam esses conceitos, tal como nós acabamos de o fazer. A partir daqui, podemos voltar ao nosso tema.

Na carta autobiogáfica dirigida a G. Storck, diz Antero, poucos anos antes da sua morte: «Ao mesmo tempo que percebia que a voz da consciência moral não podia ser a única voz sem significado no meio das vozes inúmeras do universo, refundindo a minha educação filosófica, achava, quer nas doutrinas, quer na história, a confirmação neste ponto de vista. Voltei a ler muito os filósofos, Hartmann, Lange, Du Bois-Raymond, e, indo às origens do pensamento alemão, Leibnitz e Kant. Li ainda os moralistas e místicos antigos e modernos, entre todos a Teologia Germânica e os livros budistas, achei que o misticismo, sendo a última palavra do desenvolvimento psicológico, deve corresponder, a não ser a consciência humana uma extravagância no meio do universo, à essência mais funda das coisas. O naturalismo apareceu-me, não já como a explicação das coisas, mas apenas como o sistema exterior, a lei das aparências e a fenomenologia do Ser».

Estas palavras de Antero, na altura em que foram confiadas a Stock, permitem-nos tirar várias conclusões: Antero põe em evidência a sua «educação filosófica» e não a sua filosofia; essa sua educação encontrava-se numa fase de «refundição»; o possível sistema filosófico que procurava exigia-lhe uma nova leitura mais profunda das obras que já tinham sido objecto do seu estudo; o seu leque de leituras era vastíssimo; a procura de soluções para uma possível síntese levou-o a estudar a cultura oriental, para além da cultura europeia; não foi convertido ao naturalismo. Em face destas conclusões, não só podemos afirmar que Antero não tinha uma filosofia, nem tão pouco tinha adoptado um sistema filosófico. A dúvida, ou, se quiserem, a reflexão contínua em busca de uma síntese, acompanhou-o até ao fim, ou melhor, interceptou-a com a morte.

A única herança que nos deixou, acabada, bem definida, foi, portanto a de pensador. E, quanto a nós, mais importante que uma filosofa pessoal e sistematizada.

Antero de Quental não tem sempre a mesma posição, quer ao longo da sua obra, quer nas suas intervenções activas. Não concretizaremos esta afirmação, pois já terá sido, ou virá a ser, objecto de análise detalhada de outros conferencistas, neste ciclo. A maleabilidade de posicionamento de Antero, face às ideias e face às atitudes, reforçam precisamente o conceito de pensador: espírito analítico e crítico perante os problemas postos pelo nosso povo e pelos outros povos, perante a realidade e o que a transcende. Para Antero de Quental, viver é sentir e pensar, no enquadramento social e espiritual próximo e distante, no espaço e . no tempo. Qual a incidência deste Antero na mutação da mentalidade portuguesa?

Podemos admitir duas áreas de incidência: a da intelectualidade portuguesa e a da sociedade global portuguesa.

A partir de uma listagem obtida na Universidade dos Açores, podemos traçar um quadro cronológico das obras publicadas sobre Antero de Quental, isto é, da sua bibliografia passiva. Na última década do século, portanto, logo após a sua morte, foram publicados 9 títulos. Na primeira década deste século, 5. Na segunda década, 2. Na terceira, 1 l. Na quarta, 19. Na quinta,13. Na sexta, 12. Na sétima, 3. Na década de oitenta, 28. Mais de cem títulos, com dezenas de autores, podendo-se afirmar, para evitar uma extensa enumeração, que todos os grandes ensaístas portugueses estão aí incluídos.

Deste quadro podemos concluir que Antero de Quental esteve sempre vivo no pensamento dos nossos maiores. Que há dois períodos em que Antero foi menos estudado: as 3 primeiras décadas deste século, que abrangem o fim da monarquia e toda a primeira República, e a década de 70, que coincide com os últimos anos do fascismo importado e os 5 primeiros anos da democracia actual, iniciada em 25 de Abril. E ainda que na década de 80 se regista o maior número de publicações: nem mais nem menos que 28. A leitura deste quadro não pode ser quantitativa. Explicar as suas oscilações ultrapassaria o âmbito do nosso tema. Diga-se, no entanto, que elas reflectem, ou pela positiva ou pela negativa, o peso da personalidade de Antero na nossa cultura. Significa isto que Antero de Quental é de reflexão obrigatória em qualquer estudo do desenvolvimento do pensamento português e que, por inerência, é evidente a sua incidência na área da intelectualidade. Esta incidência, no entanto, não veicula um sistema, um ideário. Dos estudos feitos sobre Antero conclui-se que os seus autores se preocuparam sobretudo com aspectos da exegese, da relação da obra com a vida, com uma hipotética síntese da complexidade anteriana. O que, inevitavelmente, implica uma contaminação intelectual, não obrigatoriamente de conteúdos, mas de atitude mental. Daqui se pode concluir que, mais quantitativamente ou menos, mais ou menos qualitativamente, nos interstícios dessas reflexões ter-se-ão produzido algumas mutações. Registe-se isto: há um antes de Antero e um depois. E acreditamos que os seus estudiosos, isentos de opções pessoais, não poderão deixar de concordar com a nossa posição: Antero provocou uma clivagem na mentalidade portuguesa, sem que isso implique, repetimos, uma mutação horizontal, isto é, a nível social, com manifestações pragmáticas significativas.

Referimo-nos à bibliografia passiva, por nos parecer mais significativa, neste enfoque. Podemos, no entanto, acrescentar, a título de curiosidade, que houve, entre edições e reedições, da sua bibliografia activa, 25 publicações em português e 5 em línguas estrangeiras: alemão, inglês e italiano. Mas quer a bibliografia activa, quer a passiva, que no seu conjunto andam à volta de 150 títulos, correspondem às entradas que possuímos, e não ao seu correcto número, pois estamos convencidos que a sua listagem é mais extensa.

Vamos ao segundo aspecto, na linha do pensador: a sua incidência na sociedade global portuguesa. Antero provocou uma ruptura na mentalidade portuguesa, uma ruptura qualitativa? Não provocou, mas contribuiu para ela?

A mentalidade de um povo não se pode medir pelos valores de ponta desse povo. Terá de ser analisada a nível das suas vertentes qualitativamente e quantitativamente significativas, que são: a política, a educação, a economia, a finança e a cultura. E esta análise obriga a uma passagem comparativa por outros estados. Não podemos, orgulhosamente sós, medir a nossa mentalidade. Estamos em Portugal, mas também estamos na Europa, e também estamos no mundo. Isto significa que a curto prazo teremos de ser mais Europa e a médio ou a longo prazo mais mundo. E significa ainda, do nosso ponto de vista, que teremos de ser, nesta escalada, cada vez mais portugueses. Uma coisa é a mudança da mentalidade, repetimos, e outra é a definição e o fortalecimento da nossa identidade. Seremos mais Europa e mais mundo, quanto mais portugueses formos. Mas isto passa pela tal mudança de mentalidade.

Voltando a Antero, insistimos: qual o seu peso neste capítulo?

Antero como pensador e activista que foi, tal como um Jaime Cortesão, também paradigmático, nunca teve o poder que lhe permitia accionar a educação e a cultura, que são correlativas da economia e da finança, todas elas dependentes de uma definição política. Antero teve três intervenções públicas, que poderemos, numa perspectiva do particular, considerar relevantes: a Questão coimbrã, as Conferências do Casino e a reacção ao Ultimatum inglês, um ano antes da sua morte. Com muita pertinência, escreveu Joaquim de Carvalho: «Embora escrito, Antero não viveu nunca para o público, preferindo à notoriedade as delícias do convívio e as doçuras da amizade.» Sem a força do Poder e sem a força de uma acção pública sistemática e apoiada, a única parcela de incidência na mutação da mentalidade só poderia ser pelo contacto da sua obra com o público. Mas este contacto, como se sabe, está limitado aos leitores que, no caso de Portugal, em especial no século passado com o alto índice de analfabetismo, são uma percentagem mínima da população portuguesa. Diga-se de passagem que actualmante, apesar do reduzido grau de analfabetismo, a percentagem de leitores é reduzidíssima, mesmo entre aqueles que possuem um curso superior de letras. Temos a certeza, portanto, que por este lado a interferência de Antero é irrelevante.

A mutação da mentalidade portuguesa terá de passar forçosamente pelo poder. E esse poder só poderá ser eficaz se decorrer de uma verdadeira democracia, isto é, capaz de criar apetências na população, o sentido de autonomia, que exige o hábito de espírito crítico.

Então, todos os pensadores, desde Antero, para não fugirmos do nosso âmbito cronológico, nada contribuíram para a mudança da mentalidade? De maneira nenhuma. Esses pensadores desempenharam um papel relevante na evolução dos acontecimentos nacionais. Contribuíram para a instauração do Poder democrático, criando, portanto, condições para a mutação da mentalidade portuguesa. Nesta perspectiva, e tendo em conta a contaminação dos diversos níveis culturais entre si, podemos dizer que Antero de Quental foi o mais claro ponto de partida para essa mutação e continua e continuará a exercer a sua influência, pois o seu pensamento e a sua acção já foram absorvidos pelo colectivo cultural, com repercussões inevitáveis em toda a sociedade.

O terceiro aspecto por nós considerados diz respeito à etnologia. Distintos analistas têm-se debruçado sobre a Moral anteriana. Este conceito, Moral, é corrente entre os filósofos. Há, no entanto, quem distinga Moral de Ética. A Moral, de natureza religiosa, e a Ética, de natureza civil. Em Antero, as duas são pertinentes. Aliás, a conciliação de ambas foi uma das suas grandes preocupações e que mais o arrastou por leituras e angústias. É que o problema da moral religiosa, em que tinha sido criado, não fora totalmente banido com a sua rebeldia na fase da Sociedade do Raio, quando fora arrastado pela avalanche de leituras estrangeiras, positivistas e materialistas. Isto, por um lado. Por outro, a sua sensibilidade e o seu carácter, à medida que ia amadurecendo, iam-lhe exigindo um suporte interior para o qual a metafísica era requerida. As suas cogitações passam por sistemas filosóficos e por credos religiosos diversos. Detecta-se em Antero a procura de uma síntese que não destrua a essência da identidade portuguesa, mas que a reformule. Por essa razão, achámos mais adequado encará-lo numa perspectiva mais vasta, que é a da etnologia, onde Moral e Étnica estão absorvidas.

A pertinência deste último aspecto das nossas considerações vem do facto de Antero já ter sido considerado um estrangeiro, em contraste com os principais homens da Renascença Portuguesa, que se lhe seguiu, praticamente com o advento da primeira República. Neste ponto , estamos contra gregos e contra troianos. Nem consideramos Antero de Quental um estrangeiro, nem desvirtuamos, como António Sérgio, o espírito da Renascença Portuguesa, cujas personalidades mais representativas terão sido Teixeira de Pascoaes, Leonardo Coimbra e Jaime Cortesão.

A Renascença Portuguesa lutou pela identidade do povo português, expurgando-a de todos os seus males atrofiantes e refrescando-a com as directrizes históricas do seu tempo. Isto é, o futuro e o progresso estavam nas suas preocupações sem prescindirem das características tradicionais próximas e remotas que definem a natureza do português, nas suas sensibilidades, nos seus sentimentos e nas suas potencialidades. Em termos simples, tínhamos de exercitar as pernas, musculá-las, mas as pernas teriam de ser as nossas, pois não podemos andar com as pernas dos outros.

Convém lembrar que esta palestra está condicionada pelo seu tema. Não nos diz respeito, uma vez mais o afirmamos, a análise dos conteúdos da obra de Antero, ainda que subjacentes ä linha em que tivemos de nos colocar e, mesmo esta, condicionada pelas profundas e vastas implicações que nos obrigaram a uma selecção de focagens, certamente as que nos pareceram mais aliciantes, por alguma originalidade, ou por posições pessoais, face ao que se tem escrito sobre Antero, que, do nosso ponto de vista, nem sempre o projecta com o valor que lhe atribuímos na história do pensamento português e, consequentemente, da sua repercussão. A cuidada reflexão que exigimos para este texto prescindiria de qualquer abonação. No entanto, achamos oportunas as palavras de Joaquim de Carvalho, neste momento da exposição: «Dos grandes espíritos do século XIX, Antero de Quental é o que menos padece de desgaste do tempo. Descobre-se, sem dúvida, o vinco indelével da contemporaneidade em muitas páginas da sua obra, porém da consciência das antíteses morais e pelas vicissitudes do pensamento, Antero conquistou, como nenhum outro escritor da grande centúria, um sentido profundo de actualidade». Isto foi publicado, é pertinente que se diga, em 1955, in Estudos sobre Cultura Portuguesa do século XÍX.

Antero de Quental deambulou de reflexão em reflexão, pelos campos mais variados do saber, pelas mais diversas realidades, à margem das fronteiras geográficas, em busca, precisamente, da modelação de uma nacionalidade bem identificada, mas restaurada pela sua inserção numa perspectiva universal. A sua luta com as sínteses mostram-nos precisamente isso. As suas dúvidas não significam fraqueza do pensamento, mas força e profundidade que lhe vêm da exigência de um espírito crítico singularmente exemplar. E, pela razão acima já apresentada, voltamos a citar Joaquim de Carvalho, que preferimos a uma similar de António Sérgio, por andar mais próxima do nosso ponto de vista: «Esta síntese, conjuga, a seu ver, "as duas tendências divergentes da inteligência moderna" e ao mesmo tempo é "conciliação", porque todas as grandes correntes do pensamento filosófico do nosso século se acharão igualmente representa das nela, cada uma por aquilo que tem de legítimo: o positivismo, pela coordenação lógica dos dados científicos numa ordem de evolução formal: o idealismo dos alemães, pela afirmação fundamental da "identidade do ser e do saber" e pela concepção de uma evolução dialéctica da realidade; o espiritualismo, pelos elementos psíquicos fornecidos à especulação, pela ideia capital de força, que só na consciência tem a sua origem, e pela redução da finalidade, em última análise, à lei moral, que é a solução da antítese determinismo-liberdade; o criticismo, finalmente, pela verificação severa dos princípios, pela dúvida sistemática, estímulo contínuo da razão, que representa aquela parte salutar do cepticismo, sem a qual a inteligência, enlevada na própria contemplação, esquece o que há de contingente e relativo em toda a verdade e se esteriliza, imobilizando-se naquela espécie de fanatismo intelectual, que é dogmatismo».

Estas citações não nos devem desviar da focagem que pretendemos. Devem constituir um pequeno suporte para as nossas conclusões, ou melhor, que a defesa de uma linha anteriana que necessita de ser avivada, pelo que ela implica na incidência de Antero nas gerações posteriores, tão marginalizada.

Toda esta filosofia tem a ver, como já afirmámos, com a descoberta do verdadeiro Antero e da sua repercussão. Toda ela é accionada por uma personalidade integral, onde se repercutem todas as fontes da sua existência: religiosas, éticas, filosóficas, científicas e históricas. A exigência do carácter, da inteligência e da sensibilidade, não permitia a Antero virar as costas a uma dúvida, a um problema, a um hiato, Exigência, sem dúvida, que denuncia um perfeccionismo e uma apetência pelo absoluto, mas, sobretudo, uma integridade rara em toda a história dos portugueses.

É nesta linha que devemos encarar a obra e a acção de Antero de Quental. Antero nunca foi, esteve sempre a ser. Mas, colocadas bem as várias peças nos seus devidos espaços e nos seus devidos tempos, não podemos deixar de concluir que, sobretudo, subjacente ao seu olhar universalista, o movia a força interior do português, com os pés nas raízes étnicas e os braços abertos para o progresso. Isto significa que a Moral e a Praxis, aparentemente separadas por acidentes sucessivos do seu percurso, bem lá no fundo nunca estiveram separadas. Ou, por outras palavras, a espiritualidade, com todas as suas implicações, nunca esteve separada dos problemas materiais humanos, com todas as suas implicações, nem o seu estrangeirismo da sua portugalidade.

Colocando-nos nesta focagem, torna-se visível a incidência de Antero nos objectivos que foram a preocupação dos homens da Renascença Portuguesa e de outros que, em vias diferentes, com ela têm pontos de contacto. Mas o mais curioso é que, no momento histórico em que vivemos, se esboça, já com certas concretizações, o homem português e o país que Antero procurava. Ipso facto, Antero não mudou a mentalidade do povo português, mas está à cabeça da linha de uma mudança que ainda não se efectivou, mas que está em curso.

Do exposto, não há conclusões a tirar, pois elas foram sendo semeadas ao longo deste texto. Terminamos, portanto, com um soneto, daquele que um dia pôs fim aos seus pensamentos e às suas preocupações, junto ao Convento da Esperança: Antero de Quental.

Força é pois ir buscar outro caminho!
Lançar o arco de outra nova ponte
Por onde a alma passe – e um alto monte
Aonde se abra à luz o nosso ninho.

Se nos negam aqui o pão e o vinho,
Avante! é largo, imenso, esse horizonte...
Não, não se fecha o Mundo! e além, defronte,
E em toda a parte há luz, vida e carinho!

Avante! os mortos ficarão sepultos...
Mas os vivos que sigam, sacudindo
Como o pó da estrada os velhos cultos!

Doce e brando era o seio de Jesus...
Que importa! havemos de passar, seguindo,
Se além do seio dele houver mais luz!

Joaquim Matos

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