Abílio Adriano de Campos Monteiro (1876-1934) nasceu e faleceu em Moncorvo, Trás-os-Montes. Formou-se em Medicina, tendo, com Ferreira de Castro, fundado no Porto a revista Civilização, Grande Magazine Mensal, publicado entre 1928 e 1937. Colaboraram nesta revista, entre outros, Aquilino Ribeiro, Florbela Espanca e Teixeira de Pascoaes. Campos Monteiro notabilizou-se como romancista, cultivando o romance de pendor popular e regionalista influenciado por Camilo. As suas obras de ficção foram um êxito de vendas nos anos 20-30. Dedicou-se também à poesia e ao teatro. Obras de ficção: Miss Esfinge (romance, 1920), Camilo Alcoforado (romance, 1925), As Duas Paixões de Sabino Arruda (romance, 1929), Ares da Minha Serra - Novelas Transmontanas (1933). Poesia: O Raio Verde. Sátira política: Saúde e Freternidade (1923).
REVOLVENDO PAPÉIS VELHOS
Esta carta que surge, desbotada,
Entre outras cartas e papéis diversos,
Traçou-a a mão ebúrnea e delicada
Da que inspirou os meus primeiros versos.
Abro-a e releio: «Nunca mais! Se amei,
Mudou-se em ódio o meu Amor por ti».
Uma nódoa... Que admira, se chorei
Tanto sobre ela quando a recebi?
Rio-me agora do pueril desgosto.
Era então um fedelho, bem se vê,
Mas sinto que me desce pelo rosto
E tomba no papel não sei o quê...
E lá ficaram, num abraço estreito,
Aquelas duas pobres gotas de água:
Uma dizendo a dor do Amor desfeito,
Outra a saudade de essa antiga mágoa...
É tão triste a velhice, e tão pequena
A distância do berço à eternidade,
Que o nosso coração chega a ter pena
Das penas que sofreu na mocidade!
O Raio Verde