José Leon Machado

Literatura


MEMÓRIA DAS ESTRELAS SEM BRILHO

No Centenário da Primeira Grande Guerra

de José Leon Machado

Na Memória das Estrelas sem Brilho, conta-se a história de um estudante universitário que é obrigado a interromper o curso para comandar um grupo de expedicionários que o governo português em 1917 enviou para as trincheiras da Flandres. A sua trajectória e a dos homens que comanda, nas pequenas e grandes misérias de que foram vítimas e na ligação ao que deixaram e ao que perderam, resulta num retrato emocionante e autêntico de um dos períodos mais conturbados da sociedade portuguesa.

Romance de guerra, mas também romance de amor, Memória das Estrelas sem Brilho relata a tão inútil quanto obstinada busca da paz e da felicidade através de um caminho de escombros e flores cortadas, capacho do tempo e dos seus caprichos.

Afirma o crítico Milton Azevedo que, «além de seu valor literário como narrativa de ficção propriamente dita, constatável à primeira leitura, o romance tem grande interesse como retrato da sociedade portuguesa, que forma o background da narrativa. O narrador, homem de seu tempo (ou tempos) e classe social, tem uma visão tão nítida da sua sociedade quanto é possível esperar de alguém que nunca pôde sair dela para observá-la de fora. É, portanto, uma visão naïve, informada apenas por elementos colhidos dentro daquela sociedade. Mas é uma visão arguta, porque o narrador é um indivíduo inteligente e lúcido. E complementada, é claro, pela visão, indirectamente transmitida ao leitor, do Rato, que é um verdadeiro co-protagonista (e não apenas um sidekick) - um pouco, mutatis mudantis, como Sancho Pança, sem o qual o Quixote ficaria impensável.»


  • Pré-publicação de Memória das Estrelas sem Brilho
  • A Escrita de José Leon Machado: o caso das obras Memória das Estrelas sem Brilho e A Vendedora de Cupidos
  • Portugal em Memória das Estrelas sem Brilho de José Leon Machado
  • Estudo crítico na revista Rua-L
  • Tradução inglesa: Darkening Stars – A Novel of the Great War




    capa de 'Memória das Estrelas sem Brilho' Título: Memória das Estrelas sem Brilho
    Género: romance
    Autor: José Leon Machado
    Edições Vercial, 2008-2019
    N.º de páginas: 462
    Tamanho: 150 mm x 230 mm
    ISBN: 978-972-99038-7-8
    Suporte: papel e ebook

    Disponível na Amazon



    Recensões críticas e opiniões sobre a obra:

    Além de seu valor literário como narrativa de ficção propriamente dita, constatável à primeira leitura, o romance tem grande interesse como retrato da sociedade portuguesa, que forma o background da narrativa. O narrador, homem de seu tempo (ou tempos) e classe social, tem uma visão tão nítida da sua sociedade quanto é possível esperar de alguém que nunca pôde sair dela para observá-la de fora. É, portanto, uma visão naïve, informada apenas por elementos colhidos dentro daquela sociedade. Mas é uma visão arguta, porque o narrador é um indivíduo inteligente e lúcido. E complementada, é claro, pela visão, indiretamente transmitida ao leitor, do Rato, que é um verdadeiro co-protagonista (e não apenas um sidekick) - um pouco, mutatis mudantis, como Sancho Pança, sem o qual o Quijote ficaria impensável.

    Milton Azevedo, janeiro de 2009


    A obra tem um muito bom ritmo narrativo. Aguenta o leitor até ao fim, mesmo com um elevado número de páginas. Revela aturada investigação sobre a guerra, ou pelo menos a presença portuguesa nela. Eu não sabia nada daquilo além do que se lia no livrito de história na escola primária. Falava-se da batalha, mas nem se dizia que a perdemos. Eram heróis apenas. Um cenário nacional muito triste e um belo exemplo de insensatez e mau exemplo de orgulho patriótico em querer mandar tropas e apoiar os aliados sem ter calças nem botas. Excelente (mau) retrato do país. Bom entremear das estórias de vida pessoal do protagonista e personagens secundários com a narrativa da guerra. Linguagem quase depurada de metáforas, mas concisa e apropriada.

    Onésimo Teotónio Almeida, março de 2009


    Julgando conhecer relativamente bem os aspetos militares ligados à presença do CEP na Flandres, surpreendeu-me o rigor factual da narrativa, que mais me pareceu um documento histórico que um romance. E igualmente me surpreendeu a semelhança das situações vividas pelos ex-combatentes dessa já longínqua guerra e da mais próxima guerra colonial – e eu fui um destes últimos. Ao acompanhar as recordações do alferes Luís, compreendi melhor os fantasmas que perseguem os que fizeram a guerra colonial – eu próprio me reencontrei em algumas das suas vivências e observações. De facto, também penso que «não se pode falar da guerra a quem nunca lá esteve», do mesmo modo que «tenho guardado para mim próprio as recordações». Por isso, a leitura da obra mexeu, e ainda mexe, muito comigo. 

    Augusto José Monteiro Valente, julho de 2009


    Considero excelente esta obra de José Leon Machado. Um trabalho que, na senda do que li anteriormente, consegue chegar mais longe na perfeição da escrita e na construção da narrativa. Escusado será dizer que esta obra não tem nada a ver com outros livros que se escrevem neste mundo, neste momento. De uma qualidade intocável a nível literário, e com a tal informação histórica precisa, que passa na narrativa, lentamente, suavemente, facilmente absorvida, resultando dessa riqueza que o leitor fique preso à história ficcional, a qual nunca se desprende da nossa própria história, enquanto país e enquanto povo.

    Florbela L.S. Gomes, outubro de 2009


    La lectura de Memória das Estrelas sem Brilho ha sido una experiencia muy interesante y enriquecedora, no solo desde el punto de vista literario sino también cultural e histórico. El aspecto más interesante para mí ha sido la creación de un personaje como Luís Vasques, dotado de un comportamiento burgués, racional y honesto, pero inserto en un contexto de fanatismo e ignorancia absoluta. Luís Vasques se comporta como una persona que quiere el equilibrio, la felicidad y la justicia sin heroicismos. Este caminar por la vida se produce en un entorno patético en todos los sentidos: por la ignorancia de las personas, por la avaricia de los políticos, y por la insensatez y la estupidez de los militares. La propia debilidad del protagonista narrador dificulta su equilibrio: la novela empieza con una aventurita con la criada, una aventura no querida conscientemente, pero tampoco evitada. En todo caso, es esta contradicción, tan humana y tan real, lo que convierte en creíble una personalidad poco abundante en su época. También la búsqueda de una visión no maniqueísta de la historia por parte del narrador facilita, en mi opinión, la inclusión de un personaje con las características apuntadas más arriba. Se podría comparar con "el señorito" de Los Santos Inocentes (Miguel Delibes, 1981), y ver un contraste absoluto, ya que en esta segunda novela lo que se retrata, con un cierto realismo tremendista, es la desproporción de la injusticia sobre los criados de un cortijo, reducidos a la miseria económica y moral. En el caso de Luís Vasques no hay desprecio por las clases bajas y sí un ejercicio de "misericordia laica" en un mundo de fanatismo generalizado.

    Francisco Javier Ochoa Fernández, dezembro de 2009


    Considero este livro um registo de considerável valor para o património e cultura portuguesas, e um complemento importante para o conhecimento das nossas raízes. Na Memória das Estrelas sem Brilho há mensagens que convergem na direcção de uma reflexão mais universalista sobre a natureza humana, descrita com grande franqueza e frontalidade e sob um olhar de espírito nobre. Adorei este livro, não só pela forma como está escrito, mas também pelos aspectos que salienta, pelos pormenores, pela junção da riqueza histórica com a profundidade humana que toca a todos nós, não se limitando a uma visão nacionalista, mas abrangendo uma reflexão psicológica sobre a guerra e as pessoas a um nível universal. Foi dos livros mais bonitos que já li até hoje e por isso recomendo a sua leitura.

    Susana Pereira, janeiro de 2010


    Memórias das Estrelas sem Brilho, de entre muitos livros que já li, é um dos que me ficará gravado na memória. É um romance histórico de que muito gostei. Relata-nos como os políticos caem tão baixo para mostrarem grandezas que não têm. No livro há três personagens fortes: Luís, Rato e Aninhas, não pondo de lado Libaninha. Fala-nos do sofrimento humano. A guerra nada constrói, mas tudo devora. Roubou o amor de muita gente; provocou a indiferença entre as pessoas e a rejeição por parte de algumas; deu outro sentido ao caminho traçado pelas pessoas. A personagem do Sr. José Domingues (o Rato) é muito interessante. É um homem cheio de humor, com a resposta e perguntas para tudo. Dá muita graça à leitura. Devo confessar que me fartei de rir sempre que o Rato intervinha. Para mim é uma figura brilhante. Até me fez lembrar o Eça quando dá as suas ferroadas. Notei que havia naquela época uma enorme superioridade das classes mais favorecidas em relação às menos amparadas, a ponto de deixarem morrer uma criança, fruto do seu sangue. Nota-se um grande deficit de humanismo. Este é um grande livro que não terei hesitação em recomendar seja a quem for.

    Ângelo Melo, janeiro de 2011


    Portugal participou na guerra de 1914-1918 em duas frentes militares, a europeia e a africana. Cerca de 55000 homens partiram de Alcântara para a Flandres onde lutaram mais de dois anos, entrincheirados, por metros ou quilómetros de terreno, em nome da Liberdade, da Justiça e do Direito. Em 1916, depois de o governo ter apressado os barcos alemães ancorados na barra do Tejo, a Alemanha declarou guerra a Portugal. O Corpo Expedicionário Português partiu em Janeiro de 1917, a maior parte sem saber o porquê desta ida, para terras estranhas da Flandres e por lá permaneceram até 1919, vivendo a guerra internacional, a guerra da república portuguesa e a guerra privada de cada um e dos grupos de camaradas em que se inseriram. Estes soldados lidaram com a dor, com o medo, indo ao encontro do desconhecido e, os que regressaram, voltaram feridos e doentes.

    Na obra, A Memória das Estrelas sem Brilho, Luís Vasques é a personagem principal. O mesmo vê-se forçado a interromper os seus estudos académicos na Faculdade de Coimbra para frequentar uma Escola de Oficiais no Porto, onde fora graduado Alferes. A redução dos Cursos da Escola de Guerra e o aumento das turmas da Escola Preparatória de Oficiais Milicianos não permitia formar muitos bons oficiais, em tempo útil. Na altura, Portugal não possuía os recursos suficientes para a guerra. As fábricas nacionais não produziam armamento e munições suficientes e adequadas. Em 1917, Portugal vivia tecnologicamente no século passado e mentalmente no século XVII. Recorda-se que, na altura, Portugal era o país menos mecanizado da Europa.

    Luís Vasques é um não sonhador e refere: "A Guerra, depois de a vivermos, desfaz os sonhos e as ambições"; "Não se pode falar de guerra a quem nunca a viveu", contudo, é inteligente e lúcido. Ele busca a paz e a felicidade, mas as memórias da guerra perseguem-no. Culpabiliza os republicanos pela sua gestão danosa do país, considerando os monárquicos retrógrados e bacocos. A sua alcunha é "O Infeliz". Joaquim Domingues, o Rato é o seu melhor amigo. Tinha essa alcunha, pois em miúdo era um perito no assalto à fruta. Foi seu companheiro de guerra e salvou Luís Vasques de uma tragédia, da morte. Quando ambos regressam à sua terra, esta continua na miséria. Luís Vasques termina a sua licenciatura em Direito, seguindo a advocacia. Mais tarde, casa-se com Aninhas e desse casamento têm três filhos: Afonso, o filho mais velho, Pedro e Inês, a filha mais nova. O Rato, após ter regressado de França, volta sem nenhum tostão e tudo perdera.

    Este romance retrata, de uma forma apaixonante, a I Guerra Mundial. A ignorância estrangeira sobre a actuação do Corpo Expedicionário Português, nome dado à organização militar enviada para o sector português, em França, é flagrante. Tal facto deve-se a uma falta de estudo em estudar esse momento da História de Portugal.

    Cristina Teixeira Pinto, maio de 2011


    Em Memórias das Estrelas sem Brilho vive-se uma história de guerra com tudo o que ela tem de temeroso, emocionante e de vivência de homens que nem sabiam para o que iam e porquê. Este é um livro que nos relata a vida em tempos de angústia criada pelos caprichos do homem daquela época. Guerra, medo, angústia, amizade, amor e... desejo! Adorei! No final da leitura ficou-me o sentimento de..."pena que acabou!".

    Maria Helena Magalhães Barroso, junho de 2012


    Num dia quente de julho, quando tinha muito em mente, resolvi ir relaxar para a Fnac do Chiado. Nada melhor do um sítio fechado, quente e apinhado de gente para relaxar. Enfim, pelo menos livros não faltam, pensei eu. Foi naquele momento, enquanto passava o casaco de um braço para o outro, que me deparei com a capa de Memórias das Estrelas sem Brilho. Um soldado português durante a primeira grande guerra desenhado a preto e branco. Os olhos vítreos daquele homem e a sua expressão perdida deixaram-me hipnotizado. Foi amor à primeira vista. Tinha que comprar o livro.

    O autor é José Leon Machado e confesso que nunca tinha ouvido falar, mas a verdade é que li o livro numa noite. Fiquei completamente envolvido na sua escrita simples e ingénua e nas memórias e aventuras descritas no romance.

    O livro conta-nos a história de um jovem português destacado para a Flandres em 1914, diretamente para as trincheiras. As amizades e a camaradagem ímpar em tempos de guerra e a realidade dos veteranos do Corpo Expedicionário Português.

    Miguel Marques, Cemitério dos Livros Perdidos, 3 de outubro de 2012


    Há livros que têm a capacidade de nos surpreender. Livros cujo título nos é completamente desconhecido mas que, fruto de acasos, nos chegam às mãos e que, quer pela história que narram, quer pela qualidade da escrita, nos surpreendem pela positiva, deixando, no fim, uma sensação de tristeza e alegria. Alegria porque tivemos a sorte de o ler, tristeza, por vermos partir personagens que conviveram connosco durante dias, semanas, tornando-se amigos, quase família.

    Memória das Estrelas Sem Brilho é um destes livros. Provavelmente o melhor livro que li em 2016 (sinceramente já nem aponto o que leio), foi um livro que li devagar porque comecei a gostar tanto que não queria que terminasse. Dessa forma li-o devagar, saboreando a narrativa letra por letra, palavra por palavra. Adorei conhecer os seus vários personagens encabeçados pelo Alferes Luis Vasques que, com a sua narrativa, nos dá uma imagem clara e real do Portugal dos anos da Primeira Grande Guerra e sobretudo a intervenção portuguesa na Guerra ao lado dos Aliados.

    O livro é um relato de memórias que intervala entre esse período e o pós Guerra, no entanto sobressai as difíceis condições da Guerra da de trincheiras e sobretudo a hipocrisia que esteve por detrás do envio do CEP para França. Um exército mal preparado, sem motivação nenhuma que descamba no desastre do dia 09 de Abril de 1918 na Batalha de La Lys. É surreal, em 2017 e quase a completar cem anos, nós lermos sobre a matança que foi essa guerra e no que o exercito português estava lá a fazer.

    O livro tem um ritmo estonteante. Agarra-nos logo desde o inicio e nunca esmorece esse ritmo, denotando igualmente uma apurada investigação sobre os factos.

    Este livro faz parte de uma trilogia que se pode ler de uma forma independente e que tem como objectivo centrar-se nos vários conflitos militares onde Portugal participou, directa ou indiretamente no Século XX.

    Miguel Chaica, Blog nLivros, 4 de janeiro de 2017


    O romance Memória das Estrelas sem Brilho, de José Leon Machado (Braga: Vercial, 2008), recupera o tema da participação portuguesa na Primeira Grande Guerra, urdindo uma história em torno da personagem Luís Vasques, que foi combatente pelo Corpo Expedicionário Português e que, vinte anos depois do fim do conflito (e quando se preparava o início da Segunda Grande Guerra), decide escrever o seu trajecto.

    Vasques, narrador de si mesmo, em jeito de memórias, reconstrói o seu percurso em capítulos que intervalam a narrativa do vivido na guerra e a vida depois da guerra, quando tem 44 anos (em 1938), justificando-se: "Escrevermos sobre uma coisa que nos aflige ou incomoda é uma forma de exorcizá-la, tornando-a inofensiva." Esta justificação confirma o que se passa no primeiro contacto do leitor com a personagem, logo no início da história, um Luís Vasques que, vinte anos depois de a guerra ter acabado, ainda tem "pesadelos da guerra".

    No percurso de Vasques, há lugar para a história de Rato, seu vizinho, soldado, impedido, aventureiro e amigo, e para a de Aninhas, que, de beleza avistada no cais de uma estação, chegou a esposa do ex-combatente.

    Ao mesmo tempo que quer contar a guerra, o narrador não esconde o seu ressentimento com essa mesma guerra, até ao ponto de ter arrumado no sótão os escritos memorialísticos que outros produziram sobre esse tempo, decisão que não esconde espírito crítico quanto ao valor desses testemunhos - "O meu contacto com a guerra, depois que regressei, têm sido os livros de memórias que colecciono e que vão sendo publicados por um ou outro veterano. Tenho algumas dezenas e são de valor irregular, quer literário, quer de fidelidade aos acontecimentos. Uns são mais patrioteiros, louvando a coragem, a determinação e o valor dos soldados portugueses. Outros são mais críticos, quer ao desempenho do CEP na Flandres, quer à decisão dos políticos portugueses em arrastar o país para a guerra. Alguns livros, escritos por oficiais subalternos, limitam-se a descrever os acontecimentos do dia-a-dia nas trincheiras. Estes últimos, li-os com interesse e senti que havia algures alguém que sofria como eu. Acabei por perder o interesse por esses livros e guardei-os no sótão da casa dentro de um caixote. Fi-lo, não por receio de que me desse a tentação de novamente os folhear, mas para evitar que alguma visita da casa desse com eles na biblioteca e se pusesse a falar do assunto."

    A narrativa ganha verosimilhança com os cruzamentos havidos entre as personagens e personalidades que tiveram responsabilidade na história portuguesa, seja através de opiniões exaradas, seja pelo facto de algumas dessas personalidades se transformarem também em personagens - além de Oliveira Salazar, professor de Vasques em Coimbra, há referências aos nomes de Norton de Matos, Afonso Costa, Gomes da Costa, Tamagnini, Simas Machado, João Chagas, Sidónio Pais. Mas, tratando-se de uma obra de ficção, há também indicadores que a acentuam, como a referência a convívio de um antepassado de Vasques com João da Ega e Carlos da Maia, personagens queirosianas…

    Depois de 34 capítulos em que Vasques conta a sua história - passada entre o nascimento, em 1894, e 1938 - e em que o leitor pensa assistir ao final da narração, volve meio século e o romance entra no "epílogo". É ainda o mesmo Vasques, já com 93 anos (em final da década de 80), que escreve, rabiscando em papel almaço o seu encontro com o bisneto do Rato (Joaquim Domingues), estudante na Universidade do Porto, que pretendera ouvi-lo a testemunhar sobre a participação na Grande Guerra, com vista a um trabalho académico para a disciplina de Cultura Portuguesa. Nessa altura, Vasques reabre a arca do sótão, alegoria de um caminhar pelas memórias, de onde tira o seu manuscrito e regista: "Amanhã entregarei tudo ao rapaz. Talvez ele encontre nestas páginas o que procura, ou talvez encontre o que não procura, e que é aquilo que a vida, o pó e a cinza a que todas as coisas se reduzem lhe reservaram." Ainda não é, contudo, o final do romance. Uma "nota do editor", escrita duas décadas depois, apresenta um outro narrador - o bisneto do Rato, na casa que fora de Luís Vasques, a preparar a edição das memórias que lhe tinham sido ofertadas e a dar conta do destino de várias personagens que o tempo foi devorando, assim se fazendo a ponte entre uma das linhas temáticas fortes deste romance (a participação lusa na Primeira Grande Guerra) e a actualidade.

    (...) Este é também um romance que permite aos portugueses do século XXI saberem o que foi a participação de Portugal no conflito mundial de 1914-1918, para cuja construção foram naturalmente indispensáveis as informações contidas nas memórias dos combatentes publicadas ao longo dos anos. Muito embora a escrita memorialística portuguesa da Grande Guerra possa enfermar dos defeitos que Luís Vasques lhe aponta, certo é que umas dezenas de combatentes deixaram o seu contributo testemunhal em livro ou em periódicos, forma de não se esquecer essa participação, bem como as causas e as condições que a determinaram e em que ela foi feita (na área da ficção, a literatura portuguesa foi bem parca na abordagem deste tema). Este livro é um bom exercício dessa reconstrução, ao mesmo tempo que nos fala do que foi o Portugal do século XX, possibilitando mesmo alguma leitura sociológica desse tempo.

    João Reis Ribeiro, Blog Nesta Hora, 6 de setembro de 2008


    Memória das Estrelas sem Brilho é um romance de leitura agradável e viciante. Não sendo um manual de História, espelha fielmente um período controverso e problemático da História de Portugal. A linguagem fluida, a erudição e a profundidade cultural do autor, associadas à ironia e ao sarcasmo que fazem lembrar alguns dos mais importantes autores, fazem deste romance uma obra de leitura imprescindível para a compreensão e da sociedade portuguesa das duas primeiras décadas do século XX.

    Adriano Fernandes, março de 2008



    Esta Memória das Estrelas sem Brilho &éacute; uma das obras que eu usaria para demonstrar as potencialidades da literatura para compor a paleta de uma época história, com graça e com paixão, sem erudições vãs e fraseado rebuscado. É muito agradável a fluência natural da escrita de José Leon Machado, pautada por uma vaga pilhéria, ao mesmo tempo eciana e popular, e uma certa visão minhota (bracarense) das coisas.

    José Campinho, abril de 2020


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