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Poemas

Reinaldo Ferreira



Poemas


Introdução

A Obra que hoje se publica, com tudo quanto tenha de inacabado e fragmentário, é a Obra de um grande Poeta. Rigorosamente desconhecido na Metrópole, supomos que a sua Poesia, ao aparecer quase integralmente incluída neste volume, sem quaisquer antecedentes que a tenham anunciado, irá provocar, nos leitores metropolitanos, qualquer coisa parecido com um choque. Como supomos tal choque inevitável e talvez salutar, nada faremos para tentar atenuá-lo. A verdade é que não é realmente vulgar a aparição brusca de uma Obra deste quilate, assim brutalmente surgida de um anonimato quase perfeito (referimo-nos à Metrópole), com o autor já morto e enterrado. Quanto à glória, inteirinha por fazer.

No que a Moçambique diz respeito, o problema situa-se de um modo um pouco diferente: profundamente admirado por um reduzido número de amigos ou simples conhecidos, os seus poemas circulavam há muito de mão em mão, aqui e acolá publicados em jornais e revistas de ocasião, republicados, modificados, retomados, com aquela admiração e veneração sempre vivas que só as coisas realmente belas costumam motivar. Nenhum livro editado. Também nenhuma pressa por aí além de o fazer. Há pouco morto, com a idade de 37 anos, autor de alguns dos mais expressivamente belos de quantos poemas conta a Literatura Portuguesa, orgulhosamente consciente do quilate, do rigor e da extrema pureza da língua em que moldava a angústia que em si vivia, o seu orgulho só era igualado pela modéstia do seu retiro. Literalmente retirado - é como, em boa verdade, se pode dizer que Reinaldo Ferreira vivia. Se alguma vez o habitara a ânsia de se ver publicado, depressa a sufocara.
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