PoemasReinaldo Ferreira |
No que a Moçambique diz respeito, o problema situa-se de um modo um
pouco diferente: profundamente admirado por um reduzido número de
amigos ou simples conhecidos, os seus poemas circulavam há muito de mão
em mão, aqui e acolá publicados em jornais e revistas de ocasião,
republicados, modificados, retomados, com aquela admiração e veneração
sempre vivas que só as coisas realmente belas costumam motivar. Nenhum
livro editado. Também nenhuma pressa por aí além de o fazer. Há pouco
morto, com a idade de 37 anos, autor de alguns dos mais expressivamente
belos de quantos poemas conta a Literatura Portuguesa, orgulhosamente
consciente do quilate, do rigor e da extrema pureza da língua em que
moldava a angústia que em si vivia, o seu orgulho só era igualado pela
modéstia do seu retiro. Literalmente retirado - é como, em boa verdade,
se pode dizer que Reinaldo Ferreira vivia. Se alguma vez o habitara a
ânsia de se ver publicado, depressa a sufocara.
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