José Leon Machado

Literatura


FLUVIAIS

de José Leon Machado

As vidas são como rios que nascem na montanha, percorrem o espaço e o tempo entre duas margens e terminam no grande mar que tudo dissolve em água salgada. Cada personagem deste livro traz em si um rio. As águas do seu caudal transportam o amor irrecuperável da adolescência, a recordação do paraíso perdido, a loucura, a solidão e o abandono, a doença e a morte, o ódio e a vingança, a violência, a mentira, a alegria, o perdão e a bondade. Gente simples, são rios de pouca água, em vias de extinção como todos os rios do mundo. Quando o olhar se perde na folhagem dos salgueiros de uma margem, poderá entrever um corpo nu de mulher salpicado de raios de sol.

  • Recensão crítica
  • Ensaio sobre a obra

    capa de 'O Guerreiro Decapitado'
    Título: Fluviais
    Autor: José Leon Machado
    Género: contos
    4ª edição revista
    Edições Vercial, 2001-2019
    N.º de páginas: 298
    ISBN: 978-989-8392-08-4
    Suporte: papel e ebook

    Disponível na Amazon



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    Recensões críticas e opiniões sobre a obra:

    Se há justificação para um título como Fluviais, que reúne 37 narrativas, ela só pode ter relação com o que é a suposta vida de cada personagem, um corredor que, desde o nascimento à foz, é povoado por intrigas e problemas. Fluviais (Porto: Campo das Letras, 2001), de José Leon Machado, congrega, assim, quase quatro dezenas de caudais, uns mais tempestuosos do que outros – camilianos alguns deles –, mas todos no encalço de personagens mais ou menos misteriosas e detentoras de um segredo que a escrita vai desvendando.

    Os contos estão divididos por dois grupos – "À sombra sob as parras", com 21 histórias, e "Ao sol sobre as fragas", com 16. O que separa uma e outra é a geografia em que as personagens se movem – no Minho, a primeira, em Trás-os-Montes, a segunda, ambas as regiões metonimicamente apresentadas por cenários como as "parras" ou as "fragas", que as identificam; na primeira, girando as vidas na proximidade de Braga; na segunda, circulando entre Valpaços e a raia, com entradas na Galiza.

    Por estes contos passam figuras que são os heróis das suas próprias vidas, por vezes com finais infelizes, num ambiente rural, em que a tasca é, frequentemente, centro – a do Canhoto, na primeira parte, a do Riqueto, na segunda – e em que convivem as infidelidades, as vinganças, as experiências de vida difíceis, a embriaguez, os amores contrariados, o contrabando, a emigração, as relações de vizinhança, a solidão.

    Há personagens que se aproximam dos mitos – "De pé à ré, o pau como remo, em gestos lentos de quem está senhor do rio e do barco, parecia um deus", referindo o tio Né, barqueiro, no conto "A Máscara da Ninfa" – e outras que vão construindo os seus próprios ditados, formulados à medida das suas necessidades e vícios – "Sem vinho não há alegria e antes alegria que tristeza; (…) tristeza bastava a que carregamos no lombo desde o berço", pensava o Farra, no conto a que dá nome. Há personagens que se confrontam com questões intensas, como a descoberta da morte, no conto "O Armador" e há crítica de práticas habituais – "O que mais o espantava é que as pessoas, à frente de uma imagem por pintar, dificilmente se ajoelhariam e pronunciariam uma prece. Mas perante uma imagem pintada, imaginavam-se perante uma encarnação do santo", reflecte Mestre Paulo em "Lascas de Cal". E há o amor, curiosamente a determinar a abertura e o fecho do livro – idealizado, no início, em "A Máscara da Ninfa", sugerindo a descoberta de uma ilha dos amores, e instintivo e realizado, no último conto, "A Professora Nova", com o apelo do corpo a determinar a relação.

    Contos breves são estes de Fluviais, que nos apresentam um modo de viver e de pensar longe de toda a globalização e constroem uma quase arqueologia do sentir humano, em que o instinto e a reacção a quente vencem, muitas vezes deixando o leitor desarmado perante finais inesperados ou rumos das histórias subitamente alterados.

    João Reis Ribeiro, Blog Nesta Hora, 4 de setembro de 2011



    Abri Fluviais ao acaso e li o conto "O emigrante". É exatamente o que se espera de um bom conto: narrativa rápida, suspense e final aberto, deixando a cargo do leitor inventar-lhe um desfecho. A trama psicológica está muito bem desenvolvida, começando com o ensimesmamento do Macedo - "Passaram junto da Torre Eiffel... e ele nada viu." E a seguir: "A cunhada. A puta da cunhada..." E o que aconteceu depois? perguntaria um leitor ingênuo. Bom, eu cá proponho um finalzinho: "pediu para ele contar o que lhe tinha acontecido, reservando para depois a triste notícia do falecimento da cunhada, vítima de um infarto fulminante, razão pela qual, dois dias depois da partida do Macedo, o seu irmão chegara precipitadamente." O bom da boa literatura, inter alia, é que estimula a imaginação. Prevejo momentos muito agradáveis com os contos restantes.

    De vez em quando, retomo Fluviais e leio um conto. Devagar, degustando aos poucos, senão o livro acaba antes da hora. Tropeçando aqui e ali com o vocabulário - cangosta, sediela, barbo, engodou, zaragatas... Enfim, vai-se aprendendo. E sorrindo com o humor que aparece nos rinc;ões, tipo "limpava copos esbeiçado a um pano imundo". A narrativa tem muita garra, o ritmo se mantém de ponta a ponta, junto com a tens;ão, seja com o Farra, cuja tragédia se pressente, seja com o sr. Adérito com os seus misteriosos artefatos, e algum conselho de vida, tipo "elas não mereciam anto desvelo, assim como um burro que escoiceia o dono não merece os seus carinhos" - nada como um bom símile para revelar uma verdade eterna. Benza Deus!

    Milton Azevedo, 27 de novembro de 2023


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