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João de Mancelos


João de Mancelos

Joaquim João Cunha Braamcamp de Mancelos – conhecido literariamente por João de Mancelos – nasceu em Coimbra, em 26 de Novembro de 1968.

Em 1991, publica o primeiro livro de poemas, Entre Ausência e Esquecimento (Aveiro, Estante Editora, 1991), ilustrado pelo artista plástico Artur Fino. A crítica classifica o seu trabalho como «novo e importante livro» (Litoral, Janeiro de 1992), e considera o autor como «um poeta a ter em atenção» (Artes & Letras, Setembro de 1992).

Em 1992, surge novo livro de poemas, A Oeste deste Céu (Aveiro, Estante Editora, 1993), com fotografias de Carlos Duarte. As recensões confirmam-no como uma vocação poética emergente: «Há uma perfeita harmonia entre os poemas de Mancelos e as ilustrações de Carlos Duarte, com a natureza como tema dominante, à qual se conjugam [...] o amor, o silêncio, o tempo na sucessão dos meses, das estações, das noites, e sempre, sempre o Verão» (Associação 25 A, Dezembro de 1992). Nesta obra estão patentes as suas influências literárias, uma mistura de autores nacionais e estrangeiros, da imagística ocidental com a forma concisa do oriente, da lírica europeia com a poesia de carácter mais narrativo norte-americana.

Em 1994, o opúsculo Ausentes para Amor Incerto (Aveiro, Ed. de Autor, 1994) confirma as temáticas do autor: a adolescência, a desumanização, a fragilidade dos paraísos perdidos, os rituais de passagem, as solidões partilhadas. Os ensinamentos dos portugueses Torga, Andresen, Andrade e O'Neill; de diversos poetas do mundo francês; dos norte-americanos T. S. Eliot e Hart Crane; e dos orientais Gibran, Bashô e Khayam misturam-se na poética de Mancelos. Vasco Branco comenta: «Dizer os teus versos, ou dizer dos teus versos é sentir fundo todo o nosso cosmos estupefacto» (Jornal da Bairrada, Maio de 1995). enquanto Ana Tribuzi resume «A poesia de João de Mancelos é a expressão da vida humana, exaltada no sonho fértil da aventura do amor» (O Aveiro, Maio de 1994).

O Labor das Marés (Aveiro, Estante Editora, 1995) inclui a generalidade dos poemas do opúsculo anterior, e onde se ampliam as temáticas do autor. O oceano e o litoral são uma referência constante, prova da importância que têm, na vida de Mancelos, as suas frequentes estadas em Aveiro, e as férias que ainda passa na Figueira da Foz e nas praias mediterrâneas. A propósito deste novo volume, Sara Augusto referiu: «Sentida e reflectida, harmoniosa e bela, assim é a poesia de João de Mancelos. Um bom livro, que vale a pena ler e pensar, que dialoga e estabelece pontes com a solidão que existe em cada um de nós» (O Aveiro, Fevereiro de 1995). Por sua vez, Artur Fino classificou O Labor das Marés como uma «obra de elevada qualidade» (Litoral, Fevereiro de 1995).

A primeira edição do livro de contos As Fadas Não Usam Baton é publicado em 1998, pela editora A Mar Arte (actualmente Alma Azul). Vasco Branco definiu esta obra como «um pequeno grande livro [que nos] deixa siderados pela mestria e desenvoltura com que aborda motivos à partida tidos como insólitos» (semanário Litoral); Sara Augusto recomendou-o como «Um livro muito bem escrito, entre o insólito e o fantástico. Contos que recuperam lendas e medos, motivos fechados, abordados pelo autor da forma que lhe é tão peculiar»; por seu turno, Baptista-Bastos qualifica-o como um «belíssimo livro». Foi vídeo-livro da semana no programa Acontece da TV2 (Natal de 1998), e inclui contos premiados em concursos diversos (Prémio Literário Joaquim Namorado e Concurso Literário Sol XXI). A obra tem sido motivo de diversos estudos da autoria de Rosa Lídia Coimbra, Maria José Veiga, Sara Augusto, Filomena Capucho, etc.

Em 1999, é publicado pela Editora Vega o livro Foi Amanhã. Nesta obra, o leitor trava contacto com um assassino extraterrestre, um par de gémeos ligados para além da vida ou dois arqueólogos que descobrem a fonte da eterna juventude, a milhões de quilómetros do nosso planeta. Conhece um mundo onde os terrestres são caçados como animais, uma lenda sobre um rei muçulmano casado com uma princesa vinda de outra galáxia e medita sobre os inconvenientes da eternidade, as consequências de uma guerra bacteriológica e os efeitos do encontro de culturas.

Em 2001, Mancelos publica a obra de poesia e de prosa poética Línguas de Fogo (Coimbra, Minerva-Coimbra Editora). Esta é entusiasticamente saudada pela crítica como «uma poesia epigonal, no seu sentido mais rigoroso e mais nobre, em que os maiores se destacam. Entenda-se, portanto, epigonismo, como a foz de um rio de muitas nascentes, o resultado da assimilação de uma cultura milenar que de um rosto vai modelando outros rostos, numa criatividade sem fim» (Joaquim Matos, Letras e Letras Online). Por seu turno, Maria José Veiga salienta: «Línguas de Fogo nasce desta audácia verbal, inspirada no fogo que a ilumina, arrancando da escuridão as palavras que adquirem uma textura clara e pura, e uma forma física complexa, mas não hermética, nas quais nos (re)vemos e com as quais inevitavelmente nos identificamos» (texto de apresentação da obra). Por seu turno, a revista Entreletras comenta: «São textos de uma grande limpidez e rigor, de um forte poder evocativo, quase fotográfico [...]».

Em Julho de 2004, João de Mancelos publica a segunda edição de As Fadas Não Usam Batom (Lisboa: Veja, 2004), revista e com seis narrativas inéditas, entre as quais se incluem «Chocolate Amargo», «Como Beijar uma Rapariga com Aparelho nos Dentes» e «Água Quente, Água Fria». Ao longo destas páginas, o leitor ficará saber por que não usam as fadas batom, aprenderá a beijar uma rapariga com aparelho nos dentes, conhecerá dois gémeos com um segredo inefável, e descobrirá como cortejar duas irmãs ao mesmo tempo (sem ser descoberto). São enfim, histórias de personagens que procuram o sentido da existência, no mundo contemporâneo, onde o estranho parece normal, e o normal cada vez mais invulgar. O escritor Baptista-Bastos, que já se debruçara sobre a primeira edição, saudou este regresso com as seguintes palavras: «De novo me encontro com a ironia cáustica e com a ternura calorosa de histórias onde o humor sobreleva, sempre, a circunstância fortuita».

Exactamente dois anos depois surge um novo conjunto de narrativas, intitulado O que sentes quando a chuva cai? (Lisboa: Vega, 2006), que inclui vários contos que Mancelos publicara no suplemento Clip do Diário de Aveiro. O texto da contracapa apresenta o livro nestes termos: "Voyeurismo: desejo, fantasia, pecado? Quem nunca espreitou alguém pelo buraco da fechadura, folheou uma revista ousada, ou assistiu a um filme erótico? Nestes contos, João de Mancelos explora um tema controverso, salientando a deliciosa perversidade inerente a ver sem ser visto. São treze narrativas escritas num estilo imaginativo e cuidado, que se expõem ao olhar do leitor — ele próprio também um voyeur e um cúmplice. Um livro surpreendente, de um contista a descobrir" (texto da contracapa). Armor Mota comenta: "O jovem escritor João de Mancelos (...) acaba de publicar mais um livro de contos, sempre com o sal da ironia, sempre com notável qualidade (...). As narrativas, de estrutura sóbria, mas muito bem delineada, por vezes questionam o leitor, interiorizam problemas, carregam-nos nos ombros de viajantes, na maioria com uma tendência nata: espreitar o outro, nem que seja por um binóculo, um telescópio, uma janelinha, o buraco da fechadura... Tudo serve de ponto de partida e de écran para o desenrolar de muitas histórias, com o narrador a esconder-se por detrás de uma cortina onde mora uma certa cumplicidade, uma certa perversidade, duas características deste livro de contos, editado pela Nova Vega. Tudo em tintas leves, coloridas de palavras quanto baste, tocadas, de quando em vez, por rendas poéticas." (Jornal da Bairrada. 19 de Julho de 2006).

Mancelos tem trabalhos dispersos por várias antologias de prosa e poesia, e participa regularmente em encontros de escritores, e em conferências nacionais e internacionais.

Licenciado em Estudos Portugueses e Ingleses pela Universidade de Aveiro, mestre em Estudos Anglo-Americanos pela Universidade de Coimbra, e doutorado em Estudos Americanos pela Universidade Católica, João de Mancelos é actualmente professor na UCP, em Viseu.

Outras páginas sobre o autor:

  • Encontro com João de Mancelos (entrevista)
  • Entrevista a João de Mancelos - 1
  • Entrevista a João de Mancelos - 2
  • Recensão ao livro O Labor das Marés
  • Recensão ao livro As Fadas Não Usam Baton
  • Apresentação do livro As Fadas Não Usam Baton - 1
  • Apresentação do livro As Fadas Não Usam Baton - 2
  • Recensão ao livro Línguas de Fogo
  • Memória dos Dias Eléctricos (crónicas)


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