Almeida Faria

Almeida Faria - pintura de L. M. Gaspar

Almeida Faria nasceu em Montemor-o-Novo (Alentejo), a 6 de Maio de 1943. Em Lisboa frequentou as Faculdades de Direito e de Letras, sendo licenciado em Filosofia, e é actualmente professor de Estética na Universidade Nova de Lisboa. Viveu como escritor residente (1968-69) nos Estados Unidos (International Writing Program, Iowa City) e em Berlim, onde fez parte do Berliner Künstlerprogram no qual participaram, entre outros, Gombrowicz, Michel Butor, Peter Handke e Mario Vargas Llosa. Tem colaborado em diversas publicações colectivas, nomeadamente em revistas alemãs, brasileiras, francesas, holandesas, italianas, suecas e norte-americanas. Os seus romances foram objecto de várias teses universitárias em Itália, Holanda, Brasil, França e, mais recentemente, também em Portugal. Em 1979 seleccionou e traduziu Poemas Políticos de Hans Magnus Enzensberger.

Ficcionista e ensaísta, Almeida Faria obteve o Prémio Revelação de Romance da Sociedade Portuguesa de Escritores com o livro Rumor Branco (1962), confirmando depois a sua maturidade literária com A Paixão (1965), primeiro romance de uma «Tetralogia Lusitana» de que fazem parte Cortes (1978) – Prémio Aquilino Ribeiro da Academia das Ciências de Lisboa, Lusitânia (1980) – Prémio Dom Dinis da Fundação da Casa de Mateus, e Cavaleiro Andante (1983) Prémio Originais de Ficção da Associação Portuguesa de Escritores. Os seus livros estão traduzidos em várias línguas.

Almeida Faria publicou ainda o conto Os Passeios do Sonhador Solitário (1982) e o ensaio Do Poeta-Pintor ao Pintor-Poeta (1988). O seu último romance, O Conquistador, foi dado à estampa em 1990. Em 1997 adaptou ao teatro o romance A Paixão, sob o título Vozes da Paixão (1998), peça que não pretende ser subsidiária do romance, até por ter sido escrita em verso livre. Nesse mesmo ano, foi estreada em Lisboa no Centro Cultural de Belém. Em 1999, na colecção "Caminho de Abril", publicou a peça intitulada A Reviravolta.

Alguns ensaios e artigos dispersos: "Finnegan's Wake I 3", O Tempo e o Modo 60/61, Lisboa 1968; "Peregrinação aos Lugares Selectos", Edições Afrodite, Lisboa, 1971; "O Romance Português Contemporâneo", Studies in Portuguese Literature, New Orleans, 1971; "Relato de Curiosa Ocorrência Presenciada Hoje, Dia 31 de Julho de 1977, no Jardim Zoológico desta Cidade de Lisboa", Edição & Etc, Lisboa, 1977; "Pessoa che pensa Campos che sente", Quaderni Portoghesi, Pisa, 1977; "Balanço de um centenário", Ibidem, 1980; "Tante Vite Contemporaneamente", L'Illustrazione Italiana 1, Milano 1981; "Portugal, meine Reue", Jahresring 82/83, Stuttgart, 1982; "O Super-Português Estrangeirado", Prelo, número especial, Lisboa, 1984; "O Doktor Faustus de Thomas Mann", Apáginastantas, Lisboa 1984; "Det filmade ordet", Chaplin, Estocolmo, 1986; "Do Poeta-Pintor ao Pintor-Poeta", Lisboa 1988; "Kefzereien über eine modische Frage", Literaturmagazin, Hamburgo 1988; "Manoel de Oliveira: Filmare la parola", Instituto Italiano, Lisboa, 1990; "Comment peut-on étre moderne?", Poitiers, 1990; "Ach Portugal!", Raster, número 52, Amsterdam 1991; "Sacré Portugal!", Lettre Internationale, Paris, 1991; "Rilke/Pessoa: L'ère du soupçon", Magazine Litteraire, Paris, 1991; "La Ruptura y el riesgo", La Página, número 7, La Laguna (Tenerife), 1992.

Outras páginas sobre o autor:

  • Entrevista a Almeida Faria
  • Vanitas: 51 Avenue D'Iéna
  • Nota biográfica sobre o autor em inglês
  • Transgressão e Conquista: O Conquistador
  • Paródia, solidão e o não-dito: a Tetralogia Lusitana de Almeida Faria



    Opinião de Eduardo Lourenço acerca do conto Vanitas de Almeida Faria publicado na revista Colóquio/Letras, nº 140/141:

    Desde o título ao formato – sem falar do sonho gulbenkiânico digno do quadro onírico onde se desenrola com um luxo de referências icónicas que me deixaram boquiaberto – tudo me parece réussi. Foi a primeira impressão que recebi lendo-o como outrora lia o venerável Poe e que confirmei com segunda leitura. Excelente e excitante texto, com suplementar ironia e delícia para quem já acordou naquela mansão à espera de quem lhe descrevesse o insólito óbvio, sem ter os seus dons para no-lo restituir. A Fundação deve-lhe, só por isso, uma fière chandelle. E os seus leitores um texto ao mesmo tempo extravagante e clássico. É um «conto» imerso apenas no prazer da própria construção, arrastado pela curiosidade sempre um pouco perversa pelos abjectos não menos perversos que nós chamamos «arte». E que integra as suas réveries ou as suas preferências – às vezes provocações – em tão diabólica realidade, com uma exaltação fria que me encantou. Creio que Vanitas é o texto em que a sua ironia e ambíguo fascínio diante da ficção como o nada de tudo – a não ser que seja ao contrário – encontrou o tom mais justo. E eficaz.


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