Projecto Vercial

José Leon Machado


José Leon Machado, 2004

José Leon Machado nasceu em Braga no dia 25 de Novembro de 1965. Estudou na Escola Secundária Sá de Miranda e licenciou-se em Humanidades pela Faculdade de Filosofia de Braga. Frequentou o mestrado na Universidade do Minho, tendo-o concluído com uma dissertação sobre literatura comparada. Actualmente, é Professor Auxiliar do Departamento de Letras da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, onde se doutorou em Linguística Portuguesa. Tem colaborado em vários jornais e revistas com crónicas, contos e artigos de crítica literária. A par do seu trabalho de investigação e ensino, tem-se dedicado à escrita literária, especialmente à ficção. Influenciado pelos autores clássicos greco-latinos e pelos autores anglo-saxónicos, a sua escrita é simples e concisa, afastando-se em larga medida da escrita de grande parte dos autores portugueses actuais, que considera, segundo uma entrevista recente, «na sua maioria ou barrocamente ilegíveis com um público constituído por meia dúzia de iluminados, ou bacocamente amorfos com um público mal formado por um analfabetismo de séculos.»

Ganhou vários prémios literários, de que se destacam o Prémio Edmundo Bettencourt 2001 da Câmara Municipal do Funchal com a obra Os Incompatíveis (contos, Campo das Letras, 2002) e o Grande Prémio de Literatura DST 2002 com a obra Fluviais (contos, Campo das Letras, 2001).




OBRAS EM LIVRO

O Dr. Leonel, médico de clínica geral, tinha como passatempos preferidos o ténis e o aeroclube. Piloto amador, era com prazer que levantava voo na avioneta que lhe estava atribuída e sobrevoava a cidade. Porém, numa tarde de tempestade, o aparelho acabou por se despenhar. Leonel sobreviveu com alguns arranhões e depressa se deu conta de que o tempo e o lugar não coincidiam com o seu: estava algures no passado. Ajudado por um carvoeiro, consegue hospedagem num convento de frades. As desconfianças, fruto dos preconceitos, instalam-se, e ele, com receio de ser preso, acaba por fugir. Acompanha-o Cremilde, a formosa filha do carvoeiro. Encontrará o termo das suas penas, quando, do fundo do mar, vem à superfície. Um estranho desígnio, que ele nunca chegou a compreender, estava na base de toda aquela aventura.
Capa do livro 'Vórtice'

 

A Planta Carnívora é a continuação do romance O Cavaleiro da Torre Inclinada do mesmo autor. Nesta segunda parte, Marco Túlio Ferreira, professor universitário, abandona a família e vai viver sozinho. A ex-esposa reconhece que a separação, baseada num adultério de que não tem provas, foi precipitada e procura convencê-lo a regressar a casa. Ele, no entanto, vai adiando a decisão. Além da amiga brasileira Dulce Nara que aparece na primeira parte, envolve-se com uma jovem austríaca especialista em plantas carnívoras, uma professora de História Medieval que gosta de heavy metal, duas novaiorquinas que praticam o swing e uma freira com dúvidas. A obra é mais uma hilariante coleção de cenas da vida académica.
Capa do livro 'A Planta Carnívora'

 

O padre da Gralheira aparece morto na cama em Dezembro de 1943. O sacristão chama o regedor, autoridade policial da freguesia, que toma conta da ocorrência. Este procede a uma série de averiguações que vão fazê-lo ponderar na hipótese de se tratar de um crime. Vem a saber que o clérigo tinha como amante uma mulher casada. O marido, um rico proprietário que frequentava amiúde um bordel, poderia tê-lo mandado matar por despeito. Tudo se complica, porém, quando o regedor descobre que o clérigo era receptador do volfrâmio roubado da mina explorada por uma companhia alemã e suspeita que o crime, se o houve, não fora cometido por questões de honra, mas por dinheiro. Entretanto, luzes estranhas vistas durante a noite adensam um mistério que vai sendo mal interpretado. Sobre a aldeia, retrato de um país atrasado e rude, paira a ameaça da guerra. A ela se devia a periclitante situação económica vivida pelos mais pobres, com o racionamento dos produtos essenciais, as requisições obrigatórias das colheitas pelo Grémio, a revolta das populações e a repressão do governo. A ex-amante do padre, carioca transplantada para os nevoeiros da Gralheira, dá um ar de graça à história, vivendo amores, incentivando-os e protegendo-os. É ela a verdadeira heroína, que contrapõe o amor à guerra e aos interesses mesquinhos dos homens. Este é um romance de mistério, onde afinal o único mistério, num confronto directo com a literatura da moda, é não haver mistério nenhum.
Capa do livro 'A Vendedora de Cupidos'

 

O Cavaleiro da Torre Inclinada, com o subtítulo de "Cenas da Vida Académica", conta as aventuras de um professor a trabalhar numa hipotética universidade portuguesa. Os académicos são, como ele próprio refere, os novos cavaleiros da era moderna. «Assim como os cavaleiros da Idade Média, paladinos da virtude, andavam de terra em terra castigando pelo fio da espada os vilões e os arrogantes, assim nós, paladinos da ciência, andamos de congresso em congresso divulgando o conhecimento e denunciando os charlatães», diz ele a um dos seus colegas. O professor, especialista na história do adultério, vai implementando na sua vida de novo cavaleiro andante os conhecimentos adquiridos. O relacionamento que mantém com colegas espanholas, belgas e brasileiras leva, de uma forma profícua e salutar, ao intercâmbio do saber e ao avanço da ciência. Escrito num tom divertido, mas bastante realista, O Cavaleiro da Torre Inclinada é um romance que retrata a universidade portuguesa, ou pelo menos uma parte dela, e denuncia a praxis de tradição medieval e inquisitorial que faz dela uma das mais retrógradas da Europa.
Capa do livro 'O Cavaleiro da Torre Inclinada'

 

Na Memória das Estrelas sem Brilho conta-se a história de um estudante universitário que é obrigado a interromper o curso para comandar um grupo de expedicionários que o governo português em 1917 enviou para as trincheiras da Flandres. A sua trajectória e a dos homens que comanda, nas pequenas e grandes misérias de que foram vítimas e na ligação ao que deixaram e ao que perderam, resulta num retrato emocionante e autêntico de um dos períodos mais conturbados da sociedade portuguesa. Romance de guerra, mas também romance de amor, Memória das Estrelas sem Brilho relata a tão inútil quanto obstinada busca da paz e da felicidade através de um caminho de escombros e flores cortadas, capacho do tempo e dos seus caprichos.
Capa do livro 'Memória das Estrelas sem Brilho'

 

Jardim sem Muro é uma colectânea de dezanove contos. As personagens baseiam-se nalguns dos tipos da sociedade portuguesa actual, aparecendo vendedores de automóveis em segunda mão, comerciantes de tintas e vernizes, empreiteiros, serralheiros, canalizadores, carpinteiros, electricistas, professores do ensino secundário, funcionários das Finanças, estudantes de Psicologia, reformados, emigrantes, agentes de segurança, viciados na Internet, coleccionadores de selos e moedas, especialistas em ciências ocultas, frequentadores de casas de alterne e respectivas funcionárias. Os políticos, por evidente falta de utilidade na sociedade, são das poucas figuras com que o autor não perdeu tempo nem gastou papel. Os contos, escritos num tom divertido, deixam transparecer o sorriso sarcástico de Eça de Queirós e o piscar de olho malandro de David Lodge.
Capa do livro 'Jardim sem Muro'

 

Quero Cortejar o Sol é o diário de um jovem que frequentou o Seminário entre 1981 e 1986. Além de ser um testemunho pessoal e íntimo da sua própria vida, é também um retrato da época, do ponto de vista social, cultural, religioso e político. Nele perpassam, além do dia-a-dia do autor como estudante de Teologia, a sociedade portuguesa e muitas das personalidades públicas que a marcaram. O livro apresenta-se como um percurso eclesial, que inicialmente entusiasma o autor, e que paulatinamente vai descambando numa grande desilusão que termina com a sua saída do Seminário. Como ele próprio diz na introdução, a determinada altura do percurso o jovem seminarista acordou "para as realidades nem sempre celestiais, nem sempre de amor e caridade que lia e ouvia tantas vezes e via tão pouco na Igreja que se dizia seguidora de Cristo. Atravessou-o um grande pessimismo. O Seminário, a Igreja, não eram bem aquilo em que ele tinha acreditado, um lugar de concórdia, um paraíso de paz e harmonia. As intrigas, as invejas e as brutalidades entre colegas, o mau exemplo dos padres, o egoísmo de cada um decepcionaram-no."
Capa do livro 'Quero Cortejar o Sol'

 

Neste livro conta-se a história de um estudante universitário que vai passar um mês a um campo de férias na França com um grupo de jovens de vários países. É um retrato de uma juventude que não sabe bem por que razão há fronteiras políticas, sociais, linguísticas e religiosas, as quais, apesar de tudo, não são impedimento para partilhar a alegria, o amor e a amizade. O autor, ora pela sua própria voz, ora pela voz da personagem principal, aproveita para descrever de um modo divertido o campo de férias e as relações entre as várias personagens.
Capa do livro 'A Forma de Olhar'

 

O Construtor de Cidades descreve em primeira pessoa o quotidiano de um professor de Biologia a trabalhar numa escola pública. As dificuldades, as desilusões e a desmotivação que advêm da sua relação com os alunos e com os colegas, tão ou mais desmotivados do que ele próprio, as alterações constantes à legislação educativa e aos programas de ensino que sucessivos governos vão impondo a um ritmo impossível de assimilar e de pôr em prática com sucesso, levam-no a um estado de prostração e de desânimo. É esse estado que permitirá à personagem refletir no seu papel numa sociedade em crise que se desmorona diante dos seus olhos. O único refúgio possível é o passado, tempo mítico de amores, de ilusões e de felicidade.
Capa do livro 'O Construtor de Cidades'

 

Braços Quebrados conta a história de um jovem que fugiu de Timor após a invasão indonésia e se refugiou em Portugal. As recordações da família, do cheiro a sândalo e a tamarindo, a eucalipto branco e a maresia, levam-no a escrever um diário. Esse diário depressa ultrapassa a intenção inicial para se tornar num companheiro a quem o autor confia os sentimentos mais íntimos, os pesadelos que o perseguem, a relação com os outros, os amores e as desilusões, a angústia, o medo e a alegria. Retrato de Timor pós-colonial, por ele perpassam a guerra civil, a invasão, a luta da Resistência nas montanhas, a prisão de Xanana, o massacre no cemitério de Santa Cruz, o referendo, a reacção das milícias e do exército indonésio, a força de paz da ONU e a vitória da esperança.
Capa do livro 'Braços Quebrados'

 

«Embora Deus tenha feito o homem e a mulher como complemento um do outro e para viver em harmonia, a vida tem demonstrado que, ou por erro de concepção, ou por defeito de fabrico, a maior parte das vezes a relação entre um e outro se apresenta problemática, parecendo esse facto resultar de uma divergência de feitios a que um mecânico chamaria deformação de encaixes ou um técnico informático incompatibilidade de versões. Este livro apresenta um conjunto de histórias de homens e mulheres com os seus conflitos que, sendo embora antigos, são, graças à emancipação e à amoralização progressiva da sociedade, os conflitos que caracterizam grande parte das relações actuais.» (Da contracapa.)
Capa do livro 'Os Incompatíveis'

 

«As vidas são como rios que nascem na montanha, percorrem o espaço e o tempo entre duas margens e terminam no grande mar que tudo dissolve em água salgada. Cada personagem deste livro traz em si um rio. As águas do seu caudal transportam o amor irrecuperável da adolescência, a recordação do paraíso perdido, a loucura, a solidão e o abandono, a doença e a morte, o ódio e a vingança, a violência, a mentira, a alegria, o perdão e a bondade. Gente simples, são rios de pouca água, em vias de extinção como todos os rios do mundo. Quando o olhar se perde na folhagem dos salgueiros de uma margem, poderá entrever um corpo nu de mulher salpicado de raios de sol.» (Da contracapa.)
Capa do livro 'Fluviais'

 

«Século I da nossa era. Um jovem desce do seu povoado e vai trabalhar para uma vila perto de Brácara Augusta, a cidade que os Romanos construíam num outeiro. Na vila, o senhor lia Cícero nos intervalos da sesta, a senhora passava horas ao espelho a disfarçar as rugas com unguentos fenícios, o filho ia para os lados do Catavo encontrar-se com a amada – uma nutrida indígena que conhecia as artes de encantar bois –, e a filha dava passeios com o jovem brácaro pelos limites da vila, os cães atrás a cheirar toca de coelho. Poderia um Brácaro aprender latim, namorar a filha de um Romano e servir nas legiões do imperador sem esquecer a sua origem? História de amor, história de desespero pontuada de condescendentes sorrisos às coisas que o céu cobre sob o impassível olhar dos deuses.» (Da contracapa.)
Capa do livro 'O Guerreiro Decapitado'

 

A Sombra Sorridente – «Fora agente secreto de Salazar em Luanda. Todas as semanas enviava ao presidente do Conselho um extenso relatório das atividades subversivas dos oficiais do Exército Português. Graças a ele, conseguiram evitar-se conspirações de arrepiar. O seu lema: Destruir os inimigos da pátria. Uns dias após o 25 de Abril, "essa revolução vergonhosa para a nação", foi encarcerado e dado como louco por um médico do MFA. Meteram-no em Rilhafoles à força como se isso fosse paga digna para um cidadão que dedicara toda a sua vida em defesa da terra onde nascera. Graças à família, conseguira transferência para o Telhal, onde era tratado com deferência devido à sua posição. Embora inativo, continuava afinal a ser inspector da DGS... E tinha a certeza de que, quando o senhor presidente do Conselho recuperasse da queda que sofrera, tudo voltaria à normalidade e esses bandidos do MFA seriam exilados para o Tarrafal.»
Capa do livro 'A Sombra Sorridente'

 

Na Ilha de Circe – «Ficou só, no meio do passeio. Em vez de atravessar para a margem do rio, naquele local coberta com armazéns e barracões, seguiu uma rua cercada de velhos edifícios e foi dar, algumas ruas mais tarde, ao Terreiro do Paço. Esteve cerca de uma hora sentado no cais, ora a olhar a escuridão das águas, ora a estudar a configuração difusa da praça. Desembocava ali a sua vida, ou aquilo que fora até então. Percebia que algo mais estaria para diante, semelhante ao voo de uma gaivota em tempo de chuva. Diáfano o que pressentia e não via nos contornos da luz porque ou cego ou excessivamente apegado ao real que escolhera como estado de ser. As arcadas trouxeram-lhe a dúvida do tempo. Irrepetíveis os instantes, inatingível o que foi, ou a circularidade de uma ilha, do mostrador de um relógio? Não passavam os ponteiros pelos mesmos números doze em doze horas? Talvez o mundo não fosse mais do que uma ilha no universo imenso de estrelas e pulsares.»
Capa do livro 'Na Ilha de Circe'

 

Prosa Versificada – I – «Os nossos poetas escabujam palavras, amontoam-nas, uma lixeira de detritos onde a variedade de colorido, de odores é colossal. Para os compreender, um esforço inaudito pedido à sensibilidade e à inteligência. A mescla de sensações e pensamentos não destoa num poema. O que destoa é não haver sensação nenhuma e o pensamento estar ausente como a água no deserto. Borram-se páginas inteiras de linhas que não significam absolutamente nada. Ou, então, às vezes um verso perdido no fundo da página branca.»
Capa do livro 'Prosa Versificada – I'

 

Prosa Versificada – II – «O agonismo, sendo uma escrita pós-moderna, está para além do pós-modernismo, no sentido de o ter ultrapassado. Num mundo onde todos os caminhos são conhecidos e portanto redundantes como o dialelo escolástico, a linguagem agonista abre um que apenas existe virtualmente, à maneira de um jogo informático em que o jogador vai, em sucessivas tentativas, abatendo monstros e abrindo caminho pelo desconhecido. Este desconhecido revela uma realidade em três dimensões que é, no entanto, outra realidade, mais irregular, onde todos os ângulos se esbatem em curvas de texturas rugosas.»
Capa do livro 'Prosa Versificada – II'

 

O Empreiteiro é uma colectânea de dez textos dramáticos. No primeiro, que dá o título ao livro, um jovem estudante que fazia uma corrida de manutenção confronta-se verbalmente com um empreiteiro que pretende construir uma fábrica de papel num pinhal. O estudante, com uma forte consciência ecológica, procura dissuadi-lo com vários argumentos. O empreiteiro, muito terra-a-terra, diz-lhe: «Olha, rapaz, vai dar a tua corridinha e não voltes a incomodar-me com filosofias que não enchem a barriga. Tenho muito que fazer. Em vez de andares por aí a defender teorias bonitas e tolas, arranja um emprego e pensa na vida. Faz o que eu te digo e serás feliz.»
Capa do livro 'O Empreiteiro'

 

A Margem – «Ao lado do cemitério, descia um caminho de terra em direcção ao rio. O Rocha encaminhou-se para aí e a Sandra acompanhou-o. Ele não levou muito a sério ela ter-lhe metido a mão no braço e o percurso foi ocupado com pequenos ditos inócuos. Em cinco minutos chegaram à margem e sentaram-se num tufo de erva que crescia entre os carvalhos e a água. Foi então que ele lhe pegou na mão, a puxou para si e a beijou. O beijo não foi grande coisa. A rapariga, ou não sabia beijar, ou nunca tinha beijado nenhum rapaz. Apertava os lábios com força num chilreio pouco natural. O Rocha largou-a e pôs-se a olhar o rio com o sol a dar-lhe de oriente em tons de prata.»
Capa do livro 'A Margem'

 

A Bruxa e o Caldeirão é uma pequena história que se destina às crianças entre os três e os dez anos de idade. Nela se conta o caso de a uma bruxa se lhe ter furado o caldeirão onde fazia as poções mágicas. Bastante agastada com o percalço, decidiu ir à feira protestar junto do mercador que lho tinha vendido. Mas este há muito que havia falecido e o neto que lhe herdou o negócio recomendou à bruxa que comprasse um novo, pois o velho já estava fora da garantia.
Capa do livro 'A Bruxa e o Caldeirão'

 


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